Estela...
"Tá tentando fugir de mim, garotinha? eu pensei que você fosse menos medrosa..."
Eu respiro fundo, sentada numa cadeira no alto da laje. Os meus olhos estavam presos no meu celular, eu estava nervosa e com um medo irreconhecível dentro de mim. Não tem muito tempo que eu estou aqui, no máximo dez minutos, com as meninas, já que elas decidiram que iam tomar sol. Elas estão no maior papo, mas eu não tiro o olho da mensagem que eu venho recebendo outras diversas iguais, ultimamente.
Eu já tinha bloqueado outros dois números que me mandaram mensagem, o primeiro eu não liguei tanto, não dei importância. Só apaguei a mensagem e bloqueei, mas teve outro, e mais esse.
"Fica esperta, lindinha. As vezes a gente pensa que está com o controle de tudo nas mãos, só que tem alguém mais esperto que você na jogada. Te vejo em breve."
Eu estava com medo, sem saber o que fazer. Contava para o Braga ou não contava? ligava para o meu pai ou não ligava? Eu não sei mais como agir, o que fazer. Esse medo está me travando.
Lorenna: Amiga, você tá bem? — Disfarço, melhorando a minha cara. — Ih, tá tentando esconder o que? tá tudo bem?
Bruna: Que foi? — Fala enquanto se aproxima, me fazendo respirar fundo.
— Eu não sei se eu deveria contar isso pra vocês. — Essas mensagens não é atoa, não é.
Lorenna: Conta logo, Estela. — Fica do lado da Bruna, me olhando. — Ta me deixando nervosa.
— Ta. — Me ajeito na cadeira, pensando. — Quando eu completei quinze anos, o meu pai começou a me treinar para me proteger, ele só falava isso, que era pra mim me proteger. — Explico. — Eu nunca soube o porque, o motivo para aquilo. Mas assim que eu fiz dezoito anos, ele me propôs entrar para esse mundo que ele vive, e durante os três anos de treinamento, eu comecei a gostar da adrenalina, do sentimento que eu sentia com aquilo.
Bruna: Tu vive uma novela menina. — Sorri junto com a Lorenna.
— Esse tipo de novela na maioria das vezes, a principal morre, viu. — Falo sem pensar, fazendo elas me olharem estranho. — Continuando, eu aceitei e não é atoa que eu tô aqui. Mas, como nada na vida é uma maravilha, meu pai na mesma semana que eu comecei a trabalhar com ele, me disse que alguns inimigos dele já estavam sabendo que eu tinha entrado para esse meio, eu não tinha ideia da proporção que os trabalhos do meu pai tinha tomado, dos inimigos que ele conquistou. Depois de um mês que ele me disse isso, eu comecei a receber muitas mensagens, ameaças.
Lorenna: Os inimigos do seu pai? — Pergunta.
— Sim. — Engulo em seco. — Eu lembro que naquela época eu vivia com medo, até porque eu não tinha metade da coragem que eu tenho hoje, eu só sabia fazer o que o meu pai me ensinou durante anos, usar uma arma.
Bruna: Seu pai não fez nada? você não avisou pra ele não? — Eu só concordo com a cabeça.
— Meu pai resolveu. — Falo. — Resolveu da forma dele, por ser recente minha mãe não queria que ele contasse o que ele fez. — Falo, lembrando das discussões que eles tinham, pelo medo que minha mãe sentia de eu ser atingida de alguma forma. — Mas, depois de um ano, eu descobri que ele matou o homem, eu vi fotos, vídeos. Não sei se foi com as próprias mãos, ou se ele mandou fazerem por ele.
Bruna: Porra...
— Durante essa semana que comecei a receber outras diversas mensagens iguais. — Conto logo, observando as expressões no rosto delas mudarem. — Eu não sei quem é, não faço ideia. Mas eu sei que são um dos inimigos do meu pai, ou, pode não ser só um. Eu não faço ideia do que fazer, eu tô nervosa, não tô perto do meu pai, não estou no México. Aqui eu me sinto desprotegida, longe do meu pai eu me sinto assim. — Levanto da cadeira, meu corpo estava trêmulo.
Lorenna: Você contou isso pra ele? — Eu nego. — Como não, Estela? Você sabe que eles já estão de olho em você, que tipo de mensagem é essa?
Eu não falo, só dou meu celular aberto na mensagem. Tinha outro número, eu também mostrei para que elas vissem.
Bruna: Você vai falar isso pro meu irmão. — A Bruna estava mais nervosa que eu, ela parecia saber de alguma coisa que eu não estava sabendo. Estreito meus olhos para ela. — Eu gosto muito de você, Estela. Mas não contar para o meu irmão, não é uma opção pra você cogitar.
— Por que?
Bruna: Porque sim. — Tenta sair, mas eu seguro seu braço. Ela me olha e eu olho nos seus olhos.
— O que vocês estão me escondendo? Eu tô pedindo, me conta logo o que é.
Bruna: Olha, eu não quero fazer isso. — Ela passa as mãos no rosto, impaciente. Olho de relance para as escadas e vejo a Lúcia subir, parando no primeiro degrau. — Meu irmão contou pra mim e minha mãe, ele disse que não era pra te contar, não até o seu pai conversar com você, Estela.
Lúcia: O que tá acontecendo aqui? — Se aproxima da gente. Meus olhos não saem da Bruna. — Podem me dizer?
Eu desvio o olhar, vendo a Lorenna mostrar o celular para a Lúcia, na mensagem.
Lúcia: Meu deus... Quem sabe disso? — Eu deixo que as meninas respondam, e assim elas fazem. — Eu vou ligar pro Caio. — Ela sai e vai em direção as escadas novamente.
— Não é possível que só eu esteja enganada aqui. — Sorrio sem ânimo. — Você sabe Lorenna? — Ela não fala nada. — Vete a la mierda.
Bruna: Não é culpa minha, me desculpa. — Tenta se explicar. — Se o seu pai não te contou ainda, talvez ele não queria que você soubesse ag...
— Não, não adianta. — Esbravejo. — Eu já tô cogitando o que seja, não tenho certeza. Mas se é algo que envolva a minha segurança eu preciso saber! Não adianta, eu não sou uma criança, as coisas não funcionam assim.
Lorenna: Amiga, só tenta entender...
— Vocês falam isso porque não estão no meu lugar, não é vocês!