Estela
Sinto o carinho da mão dele nas minhas costas, num movimento devagar seus dedos perpassam pelo tecido do meu vestido na região e eu me encolho no seu colo sentindo o aperto firme na minha cintura.
Braga: Tá quieta demais. - aproxima sua boca falando pertinho do meu ouvido para tentar abafar o som que ecoa forte pelo baile. - Que foi? - desvio meu olhar do nosso pessoal que conversam na nossa frente e lanço meus olhos nos dele, que me encara do seu jeito que percebe tudo, até o que não devia. - Hum?
— Tá tudo bem. — sorrio fraco, aproximando meu rosto do seu, segurando entre minhas mãos. Raspo devagarinho minha boca pela sua, quando seus lábios se separam pude sentir meu olfato ser invadido com o cheiro do whisky que está tomando.
Braga: Não mente pra mim. — a mão na qual está livre do copo de bebida, ele faz encontrar com minha nuca, segurando forte meu cabelo em suas mãos. — Qual foi da sensação estranha que você estava sentindo mais cedo? tá quieta, toda assustada desde que subimos pra cá. — desvio meus olhos do seu, tentando me afastar. — Não faz isso, tu tá ligada que eu descubro.
Meus ombros encolhem, eu sinto minha barriga formigar com os olhos dele presos em mim querendo tirar alguma informação da minha boca. Eu sei que faria diferença contar para ele desde que eu cheguei do shopping, contar que por mais feliz que eu tenha ficado com a surpresinha repentina que ele fez pra mim, a sensação é que eu estava sendo perseguida.
Aprendi minha vida toda, até agora nos meus vinte e três anos, que nunca deve se deixar enganar, a intuição grita dentro da gente feito um vulcão desgovernado e na maioria das vezes descartamos. Na vida que eu sou acostumada enxergar de perto, ter ciência de onde se pisa e ver os quatro cantos só para ter certeza se está rodeada de pessoas confiáveis, é o mínimo.
— Só não surta por não ter te contado antes, pra mim não era nada demais, eu só tentei não me importar. — sua mão grande intensifica o aperto na minha nuca, sua pupila dilata e o maxilar fica trancadinho no mesmo instante. — Aí, doeu. — levo minha mão até a sua, tirando ela dali. — Não me olha assim.
Braga: Então fala. — observo ele elevar a mão com o copo de bebida até a boca, tomando um gole. — Não tô gostando disso.
Passo a mão na minha coxa, apertando a carne, sentindo ficar quente na minha mão por segundos.
— Lá no shopping, quando eu e Bru estávamos lá, desde que chegamos eu senti todo meu corpo numa sensação diferente, como se um olhar me analisasse de longe. — explico. — Olhar de maldade, eu senti. Ai quando estávamos vindo embora eu vi um homem, vestido de preto da cabeça aos pés, com um boné que só me impedia de ver o rosto.
Seguro seu cordão banhado a ouro na minha mão, dedilhando os dedos com calma. Ele não fala nada então eu continuo.
— Não contei porque eu estava feliz pelo que você fez por mim mais cedo, aliviou muito. — encaro seus olhos, o semblante fechado e completamente sério toma posse da sua face, seus olhos castanhos escurecem e eu entendo o sentimento dele.
Braga: Você mais que ninguém sabe que essas coisas não podem deixar passar, gringa. — de primeira, o barulho do copo de bebida sendo lançado ao chão invade minha auditiva e todos os outros sons, da música e as vozes espalhadas parecem ser sugadas e impedidas de alcançarem minha cavidade auditiva quando ele segura meu rosto em suas mãos, olhando no fundo dos meus olhos e, sua voz grossa soa do fundo da sua garganta — Não acha que só de me esconder isso é perigoso? não faz assim.
— ãm. — resmungo baixo, encolhidinha no seu colo, sentindo meu coração palpitar como se eu fosse ser engolida com seus olhos sérios cravados em mim. — Desculpa, amor.