Braga
Circulo com a língua entre meus lábios, engolindo a saliva, sentindo o gosto docinho do café que tomei antes de sair de casa invadindo meu paladar. Do lado de fora da boca, encostado aqui enquanto varro meu olhar pela rua deserta, só com meu carro e as motos dos caras da contenção que estão em seus postos, escuto a conversa breve dos outros enquanto tão no corre cá dentro.
Troco o peso da perna sentindo o volume do coldre na cintura com minha arma e radinho preso nele, perpasso minha palma por trás, ajeitando, sentindo o celular tocar no meu bolso traseiro. Movimento calado com o impacto breve dos meus músculos dando uma leve contraída assim que pego o aparelho sobrepondo em minha palma que cobre o iPhone.
Minha visão fixa no único nome exposto na tela, com o olhar meio estreito pela luminosidade da luz do sol das três da tarde batendo sobre minha pele, assim que desbloqueio, ergo minha mão passando meu dedo indicador e o do meio pela testa, sol quente pra caralho, calorão absurdo. Deslizo o dedo pela tela, atendendo a ligação.
— Fala, mãe. - minha voz rouca ressurge inebriando minha auditiva, assim que meus lábios se separam e eu escuto sua respiração ao outro lado da linha. - Tá tudo bem?
Lúcia: Oi, filho. Eu preciso conversar com você. - franzo minha testa, respirando fundo. - E não é por ligação, quero ter uma conversa séria, sobre isso o que tu fez, Caio.
— Eu faço tanta coisa, mãe, tanta coisa que eu nem sei do que a senhora tá falando. - piso firme no chão caminhando calmo até o outro lado da rua. - É sobre o que?
Lúcia: Quando você estiver livre, vem pra casa e eu converso com você, já disse que não é por ligação. - a voz séria me deixa em alerta. - Depois a gente se fala.
Nego com a cabeça, estranhando. No instante que ela desliga, eu guardo novamente no meu bolso traseiro. Tô por cá pela Vila Cruzeiro desde cedo, vim ver como anda as paradas por esse lado, palmeando calminho meu corre.
Já tem umas semanas que caiu no meu ouvido sobre uns moleque que queriam entrar no corre, por vontade própria e são maiores, mas o que pesa são as mães que não aceitam de maneira alguma, dia desses Costa me deixou a par da mãe que veio buscar um deles e saiu daqui batendo pra geral ver. Costa tá pela gerência daqui, mas ele não tem controle dos menor que querem entrar pro crime, se vier e pedir pra entrar ele vai negar? se ele negar aqui, o menor já obstinado no que quer, vai pra outra boca de fumo e garante o lugar dele lá.
Parado, puxo a corrente no puro maciço jogando no meu peitoral, minhas mãos ásperas com as veias grossas saltadas relutam, ajeitando sobre a camiseta vermelha. No instante seguinte minha auditiva capta o ruído barulhento do ronco da moto, que entra na rua esvaindo sobre os quatro canto junto com o grito irritante, me fazendo erguer o tronco e analisar bem a face do sujeito branco que sorri em cima da moto, sem capacete, deixando o cabelo preto e traços fortes a vista. Seu corpo sem camiseta, a bandoleira do fuzil jogado pelo ombro.
Cruzo meus braços na altura do peito, deslizando a língua sobre meus lábios, quieto. Minha estrutura corporal se aflige e eu ajeito a postura, trincando meu maxilar.
Canário: Boa notícia, papito! - estaciona com a moto a poucos centímetros de mim, quando a outra moto entra na merma rua sendo seguida por mais duas, logo eu despio a respiração entre os lábios, não entendendo porra nenhuma. - Tô felizão!
Costa: Vocês são pais de pet, eu sou pai do meu pequeno, que minha preta tá gerando na barriguinha dela. - passa a mão pelo cabelo, sorrindo pra caralho enquanto se aproxima ao estacionar a moto pouco atrás da do Canário. - Fala, se eu não vou ser o pai mais babão que você já viu!