Braga...
Ergo meu punho, observando silenciosamente no ponteiro do rolex as horas exatas. Faziam apenas minutos desde a chegada da filha do German, e mais alguns desde que ela saiu do QG.
Canário: Em que mundo o German mandaria a preciosa filha dele pra cá? pro Brasil? — A sua pergunta era a que rondava a cabeça de todos que estavam presentes. — Não é ela quem resolve tudo lá no México pra ele?
Gomes: Não é como se ela tivesse vindo outras vezes, e outra... — Ele levanta da cadeira com um copo de whisky na mão. — Ela é gostosa pra caralho, e sabe administrar bem os bagulhos do pai dela...
Costa: Tu não é casado? — Pergunta como quem não quer nada, me fazendo respirar fundo e pra não me estressar, eu sabia onde iria parar essas faíscas deles.
Gomes: Sou casado mas eu sou homem, e tenho olhos. Não é como se vocês também não tivessem achado ela uma gost...
— Chega caralho. — Me intrometo, estressado. — Não estamos interrogando ninguém aqui para saber quem achou ou não a filha de um trasportador uma gostosa. — Vou até a bancada onde está as bebidas e pego um copo, colocando whisky. — Mais alguém tem dúvidas sobre o que vai rolar daqui em diante?
Canário: Era pra ter entendido alguma coisa? — Antes de colocar o copo de bebida na boca eu me viro pra ele, o olhando. Não é possível.
— Que merda você tá fazendo na porra do tráfico? — Eu escuto na sala a risada alta dos caras, logo dando um gole do meu whisky.
Costa: Por cima. — Estreito os olhos para ele. — Eu entendi por cima, essa mulher cuida de tudo pro pai dela, eles já vieram juntos e outras vezes ele trouxe a mercadoria sozinho, mas por que ele mandou ela sozinha dessa vez?
— Ele me ligou há uns dias, mudou de ideia em cima da hora. Como eu disse. — Caminho até a cadeira, sentando. — Tinha um mês que eu conversei com ele sobre toda a burocracia, com quem iria chegar minha mercadoria e tudo mais. — Bato no meu bolso e tiro um baseado já bolado, acendendo com um isqueiro que também estava no meu bolso. — Ontem ele me confirmou que quem traria era a Estela, então não tenho com o que me preocupar, só confirmar se está tudo certo.
Costa: Eu posso fazer isso. — Confirmo, mas eu também irei ver se tudo veio nos conformes, por mais que eu trabalhe com o German a muito tempo. Dou um trago no meu baseado e fecho meus olhos, prendendo por uns segundos. — Eu preciso conversar á sós com o Braga.
Sentindo o líquido do whisky descer pela minha garganta ao dar um gole longo, afasto minha mão, com o baseado entre os meus dedos. Sua voz ecoa tensa, e eu encaro-o fixamente.
— Podem vazar. — Antes que todos vão embora, eu dou mais um recado. — E outra, eu tô palmeando cada passo de todos vocês que estão presentes aqui. — Aponto para eles com a mão que estou segurando meu copo. — A Estela é filha do meu maior aliado do México em questão de transportar todos os meus produtos, não achem que o desejo de vocês por uma carne nova vai atrapalhar os meus negócios.
Minha voz rouca reverbera pelo QG, emitindo a seriedade do meu papo. E com isso, todos eles saem do cômodo.
Costa: Pode mandar a real pra mim agora, eu tô ligado que tu tá escondendo alguma coisa. — Eu nego com a cabeça e acabo com o líquido do meu copo num gole.
— Ele pretende expandir com os produtos dele, não vai ficar só no México. — Falo e ele escuta calado, analisando minhas informações. — Como a própria disse que pretende ficar por um tempo, ele mandou ela vim pro Brasil por que talvez pode não dar certo a expansão, caso algo dê errado, ela não se fere.
Costa: Caralho. — Observo o nervosismo dele, passando as mãos no rosto. — Você tá com uma bomba minada na sua cola Braga, esse cara tem inimigos na merma proporção que tem aliados, tanto fora como no Brasil. — Ele levanta e chega perto de mim. — Ela quem resolve todas as merdas do pai, tem noção?
— Ninguém sabe que ela tá aqui. — Falo calmo. — E se descobrir eu vou saber concertar as coisas, a reunião que eu tinha que ter com os caras é sobre isso. Mas hoje não, ela não trouxe nenhum problema ainda.
Todos que estavam aqui provavelmente vão ficar putos com a ideia de que vão me ajudar caso aconteça algo com essa mulher, todos eles tem um pacto com a facção de que é um ajudando o outro, o chefe aqui sou eu. Mas nos morros que eles lideram, a hierarquia é deles, os soldados são deles, mas mesmo assim, se eu precisar vão ter que me ajudar.
Costa: Se um dia der merda, eu vou entender os caras ficarem putos com você. — Ele aponta pra mim, me olhando sério. — Ela não vai trazer riscos só pra você, é pra todos nós! E talvez você não tenha noção, mas a merda vai ser grande. Sua mercadoria não é nada, carga forte é a que ele te mandou.
***
Já era noite, eu estava saindo da boca depois de ver que estava tudo certo com a mercadoria enviada do México.
Costa: Espero que ocorra tudo como o planejado, eu odiaria ter que jogar na sua cara que eu te avisei. — Eu reviro meus olhos e não rebato, não adiantaria muita coisa.
— Com essa tua energia pesada não vai dar certo nem a paciência que eu tô me forçando a ter contigo dar certo. — Passo a mão no nariz, olhando por alto como está a movimentação aqui na quebrada.
A noite é muita movimentação, som, gritaria e briga. Briga ultimamente é o que mais tá tendo, ontem mesmo eu tive que brotar na casa de um dos moradores porque os que se dizem pai de família não conseguem ficar só com uma mulher, tem que trair, e ainda por cima não segurar a responsa. A esposa e a amante se trufando no pau, no meio da rua. Bagulho mó de gente sem classe.
Dentro do meu comando eu deixo as coisas claras, tanto pra morador como pra quem trampa comigo. Sou um cara que acima de tudo, eu tenho postura. Eu sei entrar e sair dos lugares, não é só por ser quem eu sou, mas porque dentro da minha cabeça eu tenho a ideia de que nada se conquista sendo um cara de pouca mentalidade, tem que saber o que faz. Tem que ter no mínimo noventa porcento da mente aberta.
Os caras que entram pro mundo do crime acham que é um morango, um doce gostoso que você vai comer e no fim do dia não vai te dar dor de barriga. Não dá mermo não, mas te trás prejuízos, cobranças, muitas mortes de aliados seus, família e tudo que um dia pra você foi importante, acaba que você tem que afastar, por sua segurança e segurança de quem você ama.
Foi assim comigo, eu tenho mãe, tenho irmã e um sobrinho. Mas moram comigo? que nada, tudo longe. A vida que eu levo, eu tenho que seguir sozinho, muita gente importante comigo do meu lado significa cabeça doer e segurança dobrada. Sigo firme do jeito que eu tô, a cada quatro meses eles vem me visitar, não morro de saudade não.
Costa: Ae, eu vou colar na casa da Lorenna, preciso mermo trocar um papo dahora com ela. — Tiro meus pensamentos da minha cabeça e olho pra ele, que faz um toque firme comigo. — Valeu irmão.
— Firmeza. Vai pela sombra meu bom.
Costa: Nem tá sol. — Ele grita pra mim já afastado e eu nego com a cabeça.
Redireciono meus passos e busco na memória os traços finos do seu rosto na minha memória... Hora de ver como vai andar a vida da Gringa do German.