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Estela

Sofia: Sua vez, é regra, se veio tem que subir lá em cima! — A sua voz chega aos meus ouvidos me fazendo virar o pescoço na sua direção, onde ela descia do palco sendo recebida de aplausos. — Solta a dançarina que existe em você, Estelita.

Desviando brevemente o olhar dela, observo ambiente que estava completamente animado, o som ecoava forte a música mexicana deixando pairar no local a energia que habitava dentro de todas nós da rodinha, e as outras mulheres presentes. A gente sempre vem nessa casa de festa por sermos amigas do proprietário, dançamos só pra divertir. É aqui o lugar que eu comparei com os bailes do Brasil, lá é bom, não minto! Mas, aqui no México eu não largo essa casa e as minhas danças nunca.

Eu estava aqui com as meninas à quase uma hora, não quis beber muito, então só estava acompanhando a animação delas. Tinha se passado umas semanas desde a reunião que eu tive com os contatos do meu pai, em menos tempo que o esperado, eu consegui realinhar tudo, e o meu pai recebeu alta. Os médicos só não podem sonhar que ele já está ativo nas suas atividades normais do dia a dia como se não tivesse beirado a morte.

Andreza: Ou, terra chamando. — Ela estala o dedo na minha direção, e os meus pensamentos aos poucos vão sumindo. Meu olhar para na preta que tem os cabelos lisos e curto, que me olha sorrindo. — Vai, arrasa!

Nina: Mostra como é que se faz. — Sua entonação animada acaba me fazendo dar uma risada.

— Vocês são de outro mundo. — Eu coloco minha bolsinha encima da mesa e me levanto ajeitando o vestido preto e longo, era aberto na perna direita, os detalhes eram transparentes e as costas completamente nua. — Só uma música.

Ando tranquila passando por algumas pessoas segundo pelo mesmo caminho que a Sofia tinha ido poucos minutos atrás, subindo no palco. Olho pra todos eles e percebo o Maurinho, dono daqui, bater palmas e sorrir pra mim, lanço um sorriso calmo pra ele.

O som começa a tocar no momento em que eu balanço meu quadril em ritmo lento, dou dois passos na mesma sintonia, sincronizando perfeitamente meu corpo na batida certa da música. Rebolo e viro de costas puxando a fenda lateral do meu vestido, sorrindo, mesmo que eles não vissem, pelas pessoas que estavam assobiando me dando mais motivo pra começar a mexer meu quadril num ritmo mais rápido.

Andreza: Estelita gostosa! — Grita, me fazendo virar novamente meu corpo e deixar a suavidade e sensualidade conduzir meus próximos movimentos.

Passado alguns minutos no palco, sinto uma onda elétrica por todo meu corpo, meu coração aos poucos acelera e a vibração do meu sangue fica forte, meu pé do pescoço arrepia descendo os arrepios por toda partezinha minha. Procuro o motivo por ter tido essa reação, só uma pessoa consegue me fazer sentir como se o olhar dele me analisasse por completo, só ele me olha como se eu estivesse nua.

Meu olhar varre todo o local, mas meus movimentos e o sorriso no rosto não cessam.

E de longe, avisto suas íris castanhas varrendo cada movimento meu, a postura completamente rígida e o semblante sério não me deixava o ler por completo pra então saber o que estava passando na sua cabeça nesse momento. Todo o lugar que estava coberto pelo barulho da música aos poucos foi ficando em total silêncio e, pra mim só existia nós dois aqui. O olhar do Braga está conectado ao meu, passamos um bom tempo nos encarando enquanto eu ainda continuava também conectada na dança.

Ele dá um sorriso de canto, levando o cigarro de maconha até os lábios e prende a fumaça por uns segundos, aos poucos ele solta ainda me olhando. O que passa na cabeça desse homem?

A dança acaba, e então sinto todo o meu corpo numa vibração forte com o olhar dele preso em mim, me analisando assim. Eu não sabia que ele estava por aqui, não sabia que ele viria me encontrar aqui, engulo em seco e desvio meu olhar dele procurando um dos seus, ele não viria sozinho. Pelas cabeças presentes eu vejo um pouco distante do Braga, o cabelo verde do Carioca dentre as outras pessoas, ele estava bebendo ao lado do Nego, é óbvio que ele não iria vim só.

Sofia: Muy talentosa! — Sorrio, passando a mão no pescoço e olho pra ela e para as meninas. — Estava com saudades disso!

Eu dou a volta e desço do palco, recebendo as palmas e assobios das pessoas presentes. Ia para o lado onde as meninas estavam, mas sou interrompida por uma espécie de homem barbudo e baixo, encontro seu olhar e posso notar o semblante fechado, as íris avermelhadas me deixando crer que ele não está são e que bêbado e drogado obviamente ele está.

Tento desviar dele, sem dizer nada, mas ele me prende ali, abrindo um sorriso sujo nos lábios, eu pude sentir meu estômago revirando com o olhar que ele está me dando, deixando sua atenção nos meus seios.

Era lo que faltaba. — Minha voz sai baixa e eu respiro fundo, impaciente.

Xx: Tu eres muy gostosa. — Leva as mãos até a barba enorme que desenha todo o seu rosto, sorrindo, a sensação é como se eu fosse um simples pedaço de carne. Aos poucos ele se aproxima de mim e eu dou um passo pra trás.

— Da licença, eu não lembro de em nenhum momento ter te dado liberdade. — Lanço o pior dos meus olhares pra ele, mas só consigo ver a raiva no seu olhar, talvez por ter sido rejeitado e notar que eu não iria jogar o jogo dele.

Sua mão vem de encontro ao meu braço, apertando com toda a força que ele conseguia, sua aproximação me deu ânsia, o cheiro insuportável de bebida misturado com o cheiro impregnante dos piores dos cigarros possíveis chega até o meu olfato, me deixando com uma vontade incontrolável de vomitar.

De repente sinto minha pele arrepiar como alguns minutos antes, eu engulo em seco o bolo de saliva que se acumula na minha garganta ajeitando minha postura assim que meu olfato detecta um perfume masculino que eu estava acostumada sentir, o mesmo que me deixa impregnada pelo cheio toda vez que estamos juntos.

Xx: Eu quero você essa noite, eu quero você pra mim! dançando do jeitinho que... — Ele não tem oportunidade de terminar o que iria falar, já que é interrompido pelo soco que chega até o seu maxilar, acertando em cheio.

O ato rápido me faz tomar um susto, me afastando pra trás enquanto minhas amigas se aproximam de mim e param do meu lado observando a mesma cena que eu. O Braga estava deixando o rosto do homem irreconhecível de tantos socos que estava acertando no mesmo, o porte de homem alto estava de costas pra mim, as costas definidas coberta por uma camiseta azul escura desenhavam seus músculos se movimentar no mesmo ritmo dos socos que ele depositava no hijo de puta barbudo.

Carioca: Porra, tu não consegue ficar um segundo perto dessa gringa sem querer matar um que pensa em encostar nela.

Sua voz chega até mim, eu o olho observando ele se aproximar do patrão que solta o homem que cambaleia pra trás, sem forças.

Braga: Tu é um fudido, filho da puta! chega perto dela na merma intenção que tu tava, eu quero ver se tu consegue ser tão machão e ter a merma coragem que mostrava ter. Encosta nela e eu te mando direto pro inferno!

Andreza: Então ele é o Braga? — Pergunta baixinho no meu ouvido. Eu só balanço a cabeça.

Sofia: Tem meu apoio. Depois disso. — Aponta pra ele. — Por mim, você casa com ele.

O homem baixo olha pro Braga passando as mãos no maxilar, acho que pelo fato dele estar bêbado e saber que não aguentaria mais nada e que se tentasse, não ia acabar bem, ele só dá uma última olhada para o dono de quem deixou sua cara arrebentada e vira as costas.

Meu coração que eu pensei não estar mais acelerado começa a bombar dentro do meu peito, pude notar que ele está com as batidas mais frenéticas que o normal quando ele vira de frente pra mim, me lançando seu olhar sério que me deixa molinha. Prendo meus olhos nos seus, o que antes eu não conseguia decifrar, agora eu consigo ver o sentimento que seu olhar transmite; raiva e desejo.

Braga se aproxima de mim com seus olhos presos aos meus, tocando no meu braço avermelhado com todo o cuidado do mundo.

Braga: Ele te machucou muito? — O timbre de voz rouco me deixa em êxtase, eu só nego com a cabeça. — Tá vermelho, pô.

— Tá tudo bem. — Deixo claro. — Sentiu tanta saudades que não conseguiu ficar longe?

Sorrio de lado, vendo ele também sorrir, mostrando os dentes branquinhos. Não consigo entender como eu esqueço completamente das pessoas ao meu redor quando estou com ele, na presença dele.

Braga: Seu lugar é comigo, gringa. — A certeza na sua voz me faz revirar os olhos no mesmo instante, ainda sorrindo.

***

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