Braga...
Eu estava na Vila Cruzeiro tem no mínimo duas horas junto com o Costa, arrumando toda a bagunça que o Gomes tinha feito durante todo o tempo da sua gerência. Eu evitei e fiquei longe dessa bagunça durante duas semanas, deixei que o Bracelete ficasse a mercê de tudo, e me passasse a visão se algo saísse fora do planejado.
Bracelete: Não tem condições, nada bate. - Presto atenção no que ele fala, olhando alguns papéis que estavam na sua mão e alguns na mesa. - As vendas abaixaram, mas mesmo assim até a semana passada tudo estava certinho, o pagamento dos caras tinha que ser feito com o dinheiro que eu contei, mas sumiu.
— Sumiu? só sumiu? - Pergunto puto, cruzando os braços e olhando diretamente nos olhos dele. - Não enche minha cabeça de lorota, pô. Dinheiro não some assim com tanta facilidade, caralho.
Bracelete: E não adianta você me olhar com esse olhar de julgamento, eu não tenho culpa de nada que acontece aqui, Braga. - Solta os papéis que estavam na sua mão, em cima da mesa. - Quer escutar um bagulho? o Gomes também sumiu, evaporou. Quer saber de mais uma coisa? ele meteu o pé e no mesmo dia o dinheiro misteriosamente não estava mais no lugar que ele sabia que estaria.
Travo meu maxilar e passo as mãos no rosto.
— Que porra você tem na cabeça? não me contou isso no dia que aconteceu por que caralho foi? - Sinto minhas veias do pescoço se alterarem, junto com a minha voz. - A porra da responsa eu joguei nos teus peitos, te passei a visão que se acontecesse qualquer deslize com o Gomes, você tinha que me acionar. Agora você quer o que? que eu não jogue a culpa em você?
Ele fica calado, escutando tudo que eu falo olhando nos meus olhos.
— Isso aqui tá virando um circo, vocês estão achando eu sou algum palhaço. - Pego um papel que estava escrito a quantia certa que estava guardada. - Tá vendo isso aqui? se eu fosse um filho da puta, eu te faria pagar tudo, cada centavo. Mas eu vou ser bonzinho, eu vou te afastar dessa porra até você aprender que na porra do meu comando não tem que existir erro. Tu tá acostumado com a vagabundagem e a boa vida do Gomes, mas comigo não funciona assim não. - Jogo o papel na mesa, apontando meu dedo na sua direção.
Bracelete: Tu vai jogar essa porra no meu colo? eu tenho família que depende de mim, na minha casa só eu trabalho, porra! - Abre os braços aumentando o tom de voz.
— Abaixa a porra do tom, fala baixo. - Aponto pra ele, só pra mostrar que ele ainda estava falando comigo, e quem manda aqui sou eu. - Qual foi? tá esquecendo com quem tu tá falando caralho?
Bracelete: Esquece quem manda por um segundo, eu tô falando um bagulho sério. Eu não tenho um porcento de culpa das pilantragens que o Gomes faz, se a gerência daqui está baixa é por culpa dele! Qual é, Braga. - Analiso o rosto dele ficar vermelho, talvez de raiva. - Desde que eu passei a ser braço direito do Gomes eu quem recebo teus xingamentos, cai sempre no meu cu as merdas que ele faz, porque ele some. Eu não achei que seria assim não, na humildade.
Durante anos, e quando eu falo anos é papo de dez a doze. Eu sempre coloquei pessoas de confiança para cuidar dos meus negócios quando eu não posso tá presente, eu confiei no Gomes e deixei a critério dele quem ele colocaria como seu braço direito. Eu cresci na Vila Cruzeiro, quem comandava na minha época de moleque era o meu pai, mas ele morreu em uma trocação de tiro com um policial miliciano que armou uma pra ele, jurando que no local que eles iriam se encontrar, só ele estaria lá.
Depois da morte dele o comando veio pra mim, eu tinha só dozoito anos, minha mãe não aceitou muito bem no início, na verdade até hoje ela é preocupada comigo em questão de eu ser dono de dois morros. Mas depois de ver de perto, sentir o poder e saber que eu manuseava bem pra caralho, eu senti vontade de sair mais, nem passar para outro uma responsabilidade que era minha, cuidar do que o meu pai deixou.
— Pra tu entender que quando eu falei que no momento que tu entra pro crime isso vira tua prioridade, eu não estava de brincadeirinha. - Dou uma última olhada para ele, saindo dali.
Eu estava puto, bolado mermo. E nem era só com ele, até porque eu esperava mais do Gomes. O cara tem trinta anos nas costas, e age feito um moleque na puberdade. Vai se foder porra, eu não sou pai de ninguém pra tá passando a mão na cabeça sempre que comete um erro. Virou um jogo isso, ele faz merda e eu perdoou, faz outra pior e eu aceito. Isso também tem uma parcela de culpa minha, por confiar demais naquele zé buceta.
Fico ali por uns minutos esperando o Costa chegar, ele tinha ido conversar com uma moradora que disse que precisava falar com a gente sobre algum bagulho, mas eu fiquei por aqui e ele foi. Sinto meu celular vibrar no meu bolso e pego, lendo o nome da Bruna na tela do celular.
Costa: Braga, a casa de uma moradora foi roubada ontem a noite. - Escuto sua voz guardando meu celular outra vez, e olho para ele, sorrindo, sem acreditar. - Pô, isso aqui tá uma bagunça. Cadê o Gomes, caralho?
— Não me pergunta desse filho da puta, porque no momento que eu ver ele, eu desconto todo meu ódio. - Respondo sério, sentindo meu sangue ferver. - Tenho pra mim que alguma merda ele tá aprontando, eu vou colar na casa da Isadora.
Costa: Eu já fui, passei por lá mas ela disse que tem uma semana que ele não aparece em casa, deixou celular e tudo, só sumiu.
— Não tem condições que é isso mermo que tá acontecendo, como eu permiti que chegasse nesse ponto? bagulho é eu mermo tomar conta dos meus caôs, só assim sai do meu jeito, sem erro.
Meu celular começa tocar sem parar, me fazendo respirar fundo, estressado. Eu pego e leio o nome da Bruna ali, numa ligação.
— Qual foi? tô ocupado, caralho. - Esbravejo depois de atender.
Bruna: Caio, a Estela sumiu. - Entra nos meus ouvidos sua voz de choro, assustada.