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Braga...

German: Ela disse o dia exato que começou essas ameaças? — Escuto sua voz carregada do outro lado da linha, eu estava na boca esperando um carinha chegar aqui. — Mandei ela pra sua casa porque sei que você tem capacidade de proteger minha filha...

— E tenho. — Interrompo ele, olhando pra mesa na minha frente, pegando minha arma, passando o dedo por cima dela. — Só que tu tá ciente de que eu, Braga, não tenho controle de tudo, tá ciente?

German: É por isso que eu te liguei, seu Hijo de puta, espera eu terminar de falar. — Nego com a cabeça. — Tudo bem pra você alguns soldados meus ir pro Brasil? eu preciso dormir e acordar tranquilo, você não é o suficiente para me trazer certeza que minha filha está segura. E eu tenho uns por aqui que ela conhece, tem intimidade, talvez ela se sinta melhor tendo algum do convívio dela por aí.

— Minha favela é grande o suficiente para acomodar todo mundo. — Largo a arma na mesa outra vez, e passo a mão no pescoço. — Mas ae, aconteceu uns bagulhos com ela por aqui, você vai ter que dar esse aviso pra ela, tá conversando comigo não. Ela só trocou um papo comigo hoje pra me esculachar.

German: Que tipo de coisa? — A voz fica mais rígida. — Teus caras não tentaram nada com minha filha não, né?

— Se fosse isso... — Passo a língua nos lábios.. — Ela quis atirar numa moradora daqui.

German: Mi princesa é diferente do que você está acostumado, meu irmão...  — Ele fala com a voz carregada de um espanhol e o seu português. Dando risada. — Me desculpa pelo alvoroço que ela está causando, eu sei como as coisas funcionam com você, e se eu bem te conheço, sua paciência não tá das melhores.

Se ele soubesse como eu me senti vendo a cena...

— Tô bolado com ela mermo. — Minto. — Mas isso é uma questão que eu vou resolver com ela, fica suave...

Fico uns minutos com ele na ligação até que eu vejo o moleque que eu pedi pro Canário chamar, entrando na boca. Eu desligo a ligação e me levanto, pegando minha arma encima da mesa e ajeitando ela no meu coldre. Respiro fundo e vou até o cara moreno, que está com um computador na mão, me olhando.

Zeca: Qual foi, patrão. — Eu ergo a mão e faço um toque com ele. — Me disseram que tu queria um trabalho meu.

— É mermo. — Coloco a mão no meu bolso e tiro de lá o celular da Estela, colocando a senha que ela me disse, eu entro no WhatsApp e vou no número das mensagens que ela vem recebendo. Erguendo ele pro Zeca. — Descobre de onde essas mensagens estão sendo enviadas, o nome do dono do celular, tudo. Eu quero toda informação que você conseguir tirar, pra ontem.

Zeca: Porra. — Ele passa o olho no celular. — Isso é moleza, até amanhã eu te entrego, pô. Não tem erro.

— Era isso que eu queria ouvir. — Falo sério.

Zeca: Só que eu vou ter que levar pra casa, tá ligado que lá eu tenho meus aparelhos, as coisas que eu vou precisar pra conectar no celular estão tudo por lá. — Explica. — Se eu conseguir antes, até a noite ele tá nas suas mãos. No papo.

— Não quero saber como tu vai fazer não, pô. Só quero o que eu te pedi na minha mão o mais rápido possível. — Dou as costas e pego na bancada um dinheiro que eu separei já pra isso. Volto pra perto dele e entrego nas suas mãos. — Metade, só vai ver o dinheiro todo se fazer tudo nos conformes e suas informações servirem pra alguma coisa.

Zeca: Tu tá desqualificando meu trabalho é? eu sei que consigo, porra. — Fala cheio das certezas. — Vou lá, era só isso?

— Se quiser ficar mais um pouco pra tomar um café. — Ironizo, observando ele me olhar sem entender. — Claro que era só isso, caralho.

Ele nega com a cabeça e dá as costas.

Zeca: Ignorante do caralho. — Fala já afastado, pensando que eu não iria escutar. Vacilão.

Fico por mais algum tempo na boca, ajeitando umas coisas e ficando por dentro de como estava minha comunidade. Saio dali tendo a certeza de que estava tudo da forma que eu gosto, organizado. Passo pela rua da boca, vendo de longe a contenção na esquina, essa rua é a única que eu não deixou as crianças passarem muito, eu evito e já conversei com algumas mães. O bagulho aqui é fuzil nas mãos dos caras, drogas, eles fumam e fazem o que estão sendo pago para fazerem, cuidar do meu negócio.

Bato a mão no meu bolso e pego meu baseado e um isqueiro, acendendo. Viro a esquina tranquilo, sentindo a brisa do meu verdinho surgir aos poucos.

Nego: Ae patrão... — Escuto a voz dele me gritar, me fazendo parar e estreitar os olhos na sua direção. — Posso na moral trocar uma ideia com tu?

— Já me parou, só fala. — Falo logo depois de dar outro trago.

Nego: É sobre meu pagamento, tá ligado que agora eu tô com um filho recém-nascido em casa, a mulher tá no puerpério e não tá trampando. — Pela sua expressão corporal eu percebi que ele estava nervoso. — Ela não tá conseguindo dar mama, o leite pra minha cria, tá ligado? eu só queria saber se tu não conseguia me pagar adiantado pra mim comprar leite, meu filho tá chorando muito de fome lá em casa. Eu como pai tô agoniadão vendo isso. — Eu olho pra ele que está impaciente, falando rápido.

— Demorô, é só tu falar com o Costa, ele te passa a grana, sem problema. — Balança o baseado entre meus dedos, deixando as cinzas cair no chão. — Eu até poderia passar agora pra você, só que o dinheiro que eu tava na mão foi pra pagar um trampo que o Zeca vai fazer pra mim, vai atrás do Costa que seu pagamento vai ser feito.

Nego: O patrão, valeu mermo. Não sabe como eu tô grato por tu agora. — Ele sorri em agradecimento e eu só balança a cabeça. — Vou lá, brigadão aí.

Ele sai na direção oposta, e eu sigo meu caminho pra casa. Nego é um dos meus soldados, tá na escolta sempre que eu preciso, em qualquer circunstância ele tá presente pra me proteger quando rola invasão desses bostas, querendo tomar meu império, me ver na vala. Eles tentam mas não conseguem, que isso? eu lá vim pra esse mundo pra ser morto por um merdinha que só porque usa farda e é aliado do estado, se achar melhor que eu? Nunca caralho.

Depois de uns minutos eu entro dentro de casa, depois de fechar o portão atrás de mim.

— Tem alguém nessa casa? — Pergunto assim que eu abro a porta, um silêncio na sala.

Depois de ver que não tinha ninguém aqui embaixo, eu subo as escadas e vou em direção ao meu quarto, passando pelo corredor, eu vejo a porta do quarto da Estela aberta, quando eu penso em seguir meu caminho pro meu, a porta do banheiro do meu lado é aberta, ela aparece na minha visão só de toalha com os cabelos molhados.

Eu engulo em seco e passo o olhar pelo teu corpo, a toalha é minúscula e deixava suas coxas grossas a mostra, eu não mereço isso...

Carga Forte Onde histórias criam vida. Descubra agora