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Bruna...

Deixo meus ombros relaxados, enquanto seguro nas minhas mãos o potinho de sorvete, observando de longe o meu menino jogando bola com seus colegas. O Filipe é o ser humano mais puro e feliz que eu conheço, a paz que ele me transmite com apenas seu olhar doce de criança, me dá a certeza que em momento nenhum da minha vida eu mudaria a minha decisão que eu tive no passado.

Passei por altos e baixos, tropecei e cai em armadilhas feitas por pessoas que só tinham o dever de me dar amor, nada além. Mas eu consegui passar por tudo, e tô aqui, observando de longe o meu filho correndo atrás de uma bola com mais cinco amigos. Eu sou forte por tudo que passei e carrego comigo até hoje, mas eu também sei que se não fosse pela minha família, a barra que eu passei, talvez eu não aguentaria.

Vivi anos num relacionamento que me fez questionar por uns momentos o que se passava na minha cabeça por aceitar tão pouco, as migalhas jogadas no meu peito, os surtos, xingamentos, agressões... Eu até hoje não encontrei uma resposta, mas eu sei que tudo tem um propósito, o Filipe é o meu. Eu passei por tudo que passei pra que eu encontrasse o meu filho, ter ele nos meus braços na sala de maternidade tão pequeno, um serzinho inocente que não tinha culpa de nada, não era responsável pelo que eu tinha passado.

Fecho os olhos, inspirando fundo e deixando que os pensamentos de coisas passadas sumissem da minha mente, não vagassem por ela. Oro toda noite pra que Deus me guarde e livre o meu pequeno de todo o mal, ele é tudo que eu tenho...

Abro meus olhos prendendo minha visão nele, que pula e grita no meio da quadra, apontando o dedo pequeno no rosto do amigo, rindo mais que tudo.

Filipe: Meu tio me ensina ser sempre o melhor, a bola entrou! eu ganhei o gol. — Grita novamente, logo sendo abraçado pelos outros do seu time. — Mamãe! — Ele vem correndo na minha direção depois de vibrar com os meninos.

— Fala meu amor. — Sorrio, deixando o pote vazio em cima do banco, ao meu lado.

Filipe: Eu ganhei, meu tio Caio me ensinou, ele me disse como fazia pro gol sair perfeito! — Fala com todo o entusiasmo que uma criança alegre teria em momentos assim. — Agora eu quero o sorvete que você me prometeu.

— Muito bem, você vai fazer muitos gols ainda. A mamãe vai assistir de camarote todos eles. — Me levanto e ajeito seu cabelo que estava todo suado, o suor pingando na testa, pelo sol e a forma como ele estava correndo por ali. — Agora vamos tomar o seu sorvete que a mamãe prometeu. — Ironizo, erguendo minha mão pra ele segurar.

O som estava alto por aqui, o sábado do pessoal é animado. As crianças corriam pela quadra e em frente suas casas ficavam as avós e as mães, com os pequenos que não podiam ainda seguir o caminho dos maiores. Sem contar na realidade paralela que é os homens juntos no bar, jogando sinuca enquanto enchiam a cara de bebida. E não era nem duas da tarde ainda.

Ando tranquila atravessando a rua com a mão pequena do Filipe grudada na minha, enquanto íamos em direção a sorveteria da dona Roberta. O espaço era pequeno, mas na frente chamava bastante atenção pelo nome roxo enorme que estava ali, Sorveteria da Beta.

— Corre lá e pede pra tia o que você sempre pede. — Me abaixo falando no seu ouvido, que sorri sapeca e corre pra dentro do lugar.

Eu fico aqui parada, observando ele todo cheio de si, fazendo o seu pedido. Passo a mão no meu braço, sentindo um arrepio estranho enquanto vejo essa cena diante dos meus olhos. Loucura.

Pisco algumas vezes, desviando o meu olhar para o meu lado direito, onde na esquina se aproxima o homem com os cabelos curtos e bem arrumados, a barba perfeitamente aparada indicando que acabou de ser feita, a camiseta branca se destacando em seu corpo e pele clara.

Os traços do rosto do Lion são lindos, eu fácil fácil sentaria pra esse homem e mostraria pra ele o poder do meu chá de buceta.

Lion: Bem que sua mãe me avisou que vocês estariam por aqui. — Ele se aproxima sorrindo, e eu levo meu olhar pra sua orelha onde só a esquerda tinha um furo, o brinco eu percebi que ele nunca muda, tá sempre com o mesmo. — Vim ver vocês.

— Ele tá aí dentro. — Sorrio fraco, conversando normalmente com ele como se minha mente não fantasiase diversas putarias com ele somente com esse olhar cabuloso dele.

Lion: A mãe dele tá muito gata hoje, sabe quem é ela? — Me lança um olhar sério, apoiando seu ombro na parede próxima, olhando cada parte do meu rosto. — Gata pra caralho.

— Quem é essa? talvez eu queira conhecer, até porque se é bonita, eu facilmente teria uma amizade. — Entro na brincadeira dele, esboçando um sorriso de canto no meu rosto.

Ficamos nos encarando por breves minutos, até escutarmos a voz do pequeno.

Filipe: Mãe, esse de creme é muito gostoso. — Olho pra ele, ajeitando a postura. — Experimenta.. — Ele ergue o copo na minha direção, ele nem se quer percebeu a presença do Lion.

— Eu já tomei amor, obrigada. Não vai falar com o tio Lion? — Aponto com a cabeça pra onde ele estava.

O Filipe alarga o sorriso no rosto, já que gostava muito dele. O Lion ao perceber faz o mesmo, se aproximando do corpo do meu filho, dando um beijo no topo da sua cabeça.

Lion: Fez uma boa escolha, esse de creme é o melhor mesmo!

Filipe: A minha mãe diz que o de chocolate ganha de todos os outros, tio. Ainda bem que você concorda comigo nisso. — Coloca uma colher do sorvete na boca.

Lion: A gata não sabe o que é bom de verdade. — Me olha, sorrindo fraco.

— Ah, tá bom. Agora vão se juntar contra mim. — Nós começamos a conversar e caminhos pro mesmo banco que eu estava há poucos minutos com o meu filho.

Eu gosto da forma como ele e os outros dois se deram bem com o Filipe, ele ama todos os três, e ele não se apega facilmente assim em qualquer pessoa. Digo porque eu o conheço, é tão ranzinza nesse quesito quanto o tio dele.

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