Braga...
Uns minutos depois que eu deixei a Estela no carro com o Samuel, fechei toda a casa e piei pra esquina da rua, onde o Nando estava fazendo a segurança junto com mais alguns. Aqui por essa parte eu prefiro que seja assim, uma semana eu deixo que o Costa faça o que foi mandado, vindo aqui pra deixar tudo a par, já que ele quer vir pra cá de vez morar pra esse lado com a mulher dele. E embora eu confie no meu irmão, eu também confiava no Gomes e ele me mostrou que não é uma boa ideia confiar demais, então, prefiro sempre ver com os meus próprios olhos como andam os bagulhos.
Ajeito a camiseta no meu ombro, sol do caralho, estava com a cabeça nas neurose que ele iria soltar pra mim, tô ciente que boa coisa não é. Concentro toda minha atenção pra o cara que estava a poucos passos, cabelo preto e com apenas uma tatuagem no antebraço direito onde o sol destacava bem, já que o próprio estava com ele erguido enquanto segurava o fuzil sobre o corpo.
Chego junto, passando o olhar rapidão pelos outros.
— Todo mundo na atividade? — Pergunto, cruzando os braços e lançando um olhar sério para cada um deles. Com a pressão que eu coloquei nos braços sinto meu coldre balançar levemente, onde minha arma está guardada de forma solta.
Nando: Sempre, patrão. — Analiso bem seus olhos na cor verde, desviando o olhar para os outros que me encaravam com seriedade.
Cicatriz: No papo. — Escuto ele falar, e deixo novamente minha atenção no Nando.
— Qual foi do papo que tu queria trocar comigo? — Respiro fundo, descruzando meus braços, estreitando os olhos nele.
Nando: Eu queria falar sobre isso com o Costa, mas eu tô ligado que o patrão mermo é tu, e já quis aproveitar que cê tava por aqui, entendeu? — O sotaque mineiro soa dos seus lábios, enquanto ele gesticulava com as mãos.
— Da teu papo, Nando. Sem enrolação pô.
Nando: Bagulho é que aqui pela VC o Gomes deixou a mercê dos bota, tá ligado? sempre uma picuinha em baile, confusão entre moradores, e era daí pra pior. Eu tô aqui desde quando era tu no comando lá na Rocinha e aqui, as coisas ficaram diferentes quando cê colocou o Gomes na gerência geral.
Trinco meu maxilar, escutando calado o que ele tava querendo me dizer, o papo que queria me dar. As falas dele me fez relembrar de todas as vezes que eu vinha pra cá e o Gomes tentava passar pano para as atitudes erradas dele, tentando me convencer de que de alguma maneira a probabilidade de ele errar na gerência, era pouca. E eu coloquei a irmandade que só existia na minha cabeça, na frente dos vacilos dele.
Nando: Depois que o Costa veio pra cá essas semanas, as coisas tão andando bem, pô. Só que o bagulho é o seguinte, depois do baile que rolou. — Ele se aproxima de mim e tira um bagulho do bolso traseiro da bermuda, segurando o fuzil no corpo, colocando pra trás com a ajuda da bandoleira. — Achei isso aqui na quadra do baile, tu acha que é algum infiltrado?
Observo atentamente o emblema que repousa em suas palmas, enquanto com minha mão esquerda aperto forte o meu pescoço, tentando não ficar puto pra caralho. Logo em seguida, com habilidade, seguro com minha mão direita o símbolo de uma caveira entrelaçada com uma faca apontando para baixo, flanqueada por duas armas em suas laterais. E, para completar, a palavra BOPE escrita logo acima.
Isso é pra testar todo o meu alto controle, pra ver se eu ainda tô aguentando a porra de mais um estresse na mente.
O barulho do ronco do motor da moto conhececida por mim e pelos demais daqui, entra nos meus ouvidos me tirando a atenção do que estava na minha mão, me fazendo virar levemente pro lado o pescoço, cravando minha atenção no Costa. O momento que boto meu olhar nele, ele tira o capacete da cabeça, laçando teu sorriso de cafajeste pra cá, apoiando o capacete no tanque da Xre azul.