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Braga...

Zeca: Não tem nada errado não, pô. Eu achei estranho pelo tipo de mensagem que é, mas eu fiz, refiz os bagulhos e cai sempre no mesmo lugar. — Volta a me explicar, pela segunda vez. — Sinistro isso, mas é um negócio que cabe a você resolver agora. Minha parte eu fiz.

Braga: Porra. — Xingo, sentindo o estresse tomar conta de mim. — Que porra é essa.

Zeca: Aqui, olha. — Ele mostra a tela do notebook preto, deixando eu ver as informações que ele trouxe. — As datas, horários, tudo certinho. Começou a mandar na terça da semana passada, ela só visualizava depois de uma hora, tem tudo aqui.

Canário: Irmão, tu tem que fazer alguma coisa... — Escuto sua voz, já eu chamei ele e o Costa pra virem comigo.

Braga: É claro que eu vou fazer alguma coisa, mas não entra na minha cabeça como isso pode tá acontecendo. A segurança aqui na quebrada é dobrada, quem entra e sai de estranho, eu fico sabendo. — Puxo na memória uma única vez que uma pessoa desconhecida entrou aqui e eu não fui acionado, mas não lembro. — Isso é pra fuder a minha vida.

Costa: Ela tem que tomar cuidado, mostra a foto do cara pra geral daqui, se ele ainda estiver por aqui não tem como ninguém não ver. — Engulo a saliva e pego um baseado já bolado no bolso, acendendo com o isqueiro. Eu precisava relaxar.— Passa a visão pro Carioca imprimir fotos dele, e espalhar pela quebrada com o restante.

Do que adianta transar pra caralho, sentir o estresse da semana indo embora, se quando você menos espera vem uma bomba pro teu colo? eu não tenho paz, pô. É um carma que eu carrego, não ter paz na vida.

— Assim é fácil, o desgraçado vai ficar sabendo logo que a gente já sabe que ele tá aqui. — Nego com a cabeça, trincando meu maxilar. — Vai fugir.

Canário: Ou vai agir. — Olho pra ele. — É, pô. Ele sabendo que a gente descobriu que ele tá pela quebrada, pode tentar fazer alguma coisa com ela... A segurança dobrada que tu tem que colocar, é nela dessa vez.

— Faz o seguinte, Zeca. — Olho pra ele, ficando na sua frente. — Vai você, faz o bagulho que o Costa falou, imprime essas fotos e trás elas pra mim, ainda hoje. — Pego o celular da Estela da mão dele.

Zeca: Jaé. — Dá as costas saindo da boca, depois de fechar a tela do notebook dele e colocar nos braços.

Tem no mínimo uma hora que eu tô aqui com os caras, descobri pelo Zeca que as mensagens enviadas pro celular da Estela, estão sendo enviadas daqui. O desgraçado que está ameaçando ela, entrou na minha favela passando despercebido, conseguimos foto dele, já estamos cientes de quem é. Eu só preciso saber se a ela o conhece.

O que não entra na minha cabeça é como os incompetentes que eu deixo na escolta de quem entra e quem sai, não viu uma pessoa estranha, que ninguém nunca viu subir esse morro, passar por eles. Eu pensei que estava com tudo nas mãos, controlando tudo na minha quebrada, mas pelo jeito eu tô é fodido mermo.

Canário: Chega aqui, paizão. — Ele se aproxima de mim, colocando meu pescoço pro lado. — Ih, quem foi a gata que te arranhou, porra? — Passa a mão por cima do arranhado do meu pescoço, que tá ardendo inclusive.

— Desenconsta, seu inconveniente. — Me afasto dele, bolado. — Me erra, caralho.

Canário: Qual foi? a Fernanda não teve pena em.

Costa: Tirou os dias de atraso do maluco. — Os dois começam a rir, gastando com minha cara.

— Porra de Fernanda, quer saber de uma? — Falo. — Vão tomar no cu de vocês, vão trabalhar ou procurar uma sarna pra coçar. — Viro e saio da boca, tentando ter sanidade. Perto deles eu não consigo isso.

Passo pela contenção, observando de longe o Kaká e o Carioca na esquina, com o fuzil no corpo. Pensei que tinha me livrado dos dois, mas escuto a voz do Costa atrás de mim.

Costa: Tá feião, irmão. — Respiro fundo, começando a perder a paciência. — De longe da pra ver essas marcas, da próxima pede pra ela ir com calma, viado.

Canário: Tu não percebe que ele deixou, só pra mostrar pra gente que transou depois de quase um ano sem dar uma foda? — Incrédulo, eu me viro na direção dele, que para de andar, me olhando assustado. — Ih, tô brincando, tô brincando....

— Não confunde as bola não, Samuel. Tô perdendo a paciência com vocês, demorô?

Os dois me olham sério, depois se olham, começando rir sem parar. Eu nego com a cabeça e saio dali, esses caras quando querem, consegue tirar a porra da minha brisa.

Costa: O irmão, a gente tá te zuando caralho. — Escuto ele gritar, mas eu nem dei trela, segui meu caminho.

Sinto meu celular vibrar no meu bolso, eu pego, lendo o nome do German na tela. Atendo rápido.

German: Fala Braga. — Escuto sua voz. — Meus soldados já estão a caminho.

— Jaé.  — Engulo seco, passando minha mão na boca. — Quem são?

German: Ferreira, Nico e o Lion. — Diz os três nomes. — Só não acho que a Estela vá gostar que o Ferreira esteja indo, mas esses são uns dos melhores que eu tenho aqui, não tem muito o que fazer não. — Começo a andar, tranquilo. — Eu converso com ela sobre isso mais tarde. Como ela tá?

— Bem. — Sorrio involuntariamente, lembrando de algumas horas atrás. — Tá suave.

German: Liguei só pra avisar, já que você vai ter que disponibilizar um dos seus pra ir buscar eles. — Escuto teu papo, franzindo a sobrancelha.

— E não existe Uber nessa porra não? Meus caras não podem ficar dando sopa pela pista não, German. — Na quadra eu vejo uns moleques jogando bola, cheio de criança. — Nenhum tem a ficha muito limpa não.

German: Daqui 10 horas manda alguém buscar eles... — Fala cheio de deboche, eu não dou importância.

— Você escutou o que eu falei seu velho do cacete? — Escuto sua risada grossa do outro lado da linha, me fazendo respirar fundo. — Tudo conspirando pra tirar minha paz, eu estava tão maneiro a uma hora atrás, não tem noção.

German: Isso tem cara de que tem alguma dama no meio... — Eu passo a língua nos lábios, sorrindo. — Quem é?

— Vai se fuder, pô. Eu lá vou tá conversando das minhas intimidade com você. — Desligo na cara dele, sem me importar.

Porra. Nunca que eu posso ficar tranquilo, sem a porra de um estresse na mente.

Carga Forte Onde histórias criam vida. Descubra agora