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Estela...

Quatro horas antes | 19:30pm

Bruna: Tem certeza que não quer ir? — Repete a mesma pergunta pela terceira vez na noite. — Amiga, não precisa ficar aqui, sai com a gente...

— Eu tô ficando aqui porque eu realmente não quero sair, não é por nada. Vão tranquilas, é logo ali do lado, se eu sentir vontade eu carrego o Filipe comigo.

Bruna: Deixa meu filho com a minha mãe, não inventa de levar ele pra bar não, doida. — Eu sorrio e ela vem até mim, beijando minha testa. — Se cuida, qualquer coisa me dá um toque.

Lorenna: O trio não pode se separar, você tá muito chata hoje. — Me olha feio, fazendo chantagem. — Não vamos demorar muito não, você fica aí fazendo doce.

— Vou acabar batendo em vocês, saiam daqui logo. — Aponto pra porta do quarto, pegando um travesseiro e armando na direção delas que sairam dando uma corridinha. — Se divirtam. — Grito para elas escutarem.

As meninas queriam sair, decidiram que iriam passar a noite de sexta-feira num barzinho. Eu me prontifiquei de ficar como babá essa noite, já que o Filipe estava dormindo e eu achei que seria uma boa dar um descanso para a Lúcia, que fica com ele sempre que eu e as meninas decidimos sair um pouco de casa.

Coloquei uma série que eu estava maratonando na Netflix, e me enfiei debaixo das cobertas junho com o Filipe. Fico ali quase uma hora, até escutar umas batidas na porta e olhar, curiosa para saber quem era. Desligo o celular e analiso o homem moreno que estava ali, escorado na porta.

Ferreira: Tá bem? — Pergunta com a voz grossa. — Vim ver como estão as coisas.

Eu me sento na cama e faço perna de índio. Batendo com a mão num lugarzinho na cama, chamando ele.

— Vem cá. — Digo. — Tá tudo bem comigo.

Ferreira: Encontrei as meninas no bar, disseram pra eu vim aqui te convencer a ir comigo encontrar elas. — Sorri mostrando seus dentes branquinhos. — Tá desanimada hoje?

— Talvez, eu só não quero mesmo sair de casa hoje. — Deito olhando pro teto.

Sinto a mão dele ir de encontro com o meu pé, que estava fora da coberta. Ele pega e começa a fazer uma massagem gostosa, eu fico imóvel. Paradinha, só esperando ouvir o que ele iria dizer.

Ferreira: Senti sua falta por lá. — Fecho os olhos.. — Você sabe que eu não tenho nem sanidade pra ficar muito tempo longe de você depois do que aconteceu da última vez. — Suas mãos vão subindo, apoiando meu pé na sua coxa, enquanto faz massagem dessa vez na minha perna.

— Eu senti saudades de vocês também. — Falo dos meninos, pra ele não confundir achando que eu senti saudades só dele.

Ferreira: Não precisa envolver os caras nisso, e nem entrar na defensiva. — Eu olho pra ele dessa vez, encarando seus pares de olhos castanhos claros, que analisava meu rosto. — Eu sei que você não quer mais nada, entendo. Eu gosto de você e da pessoa que você é, Estela. Não precisa agir assim.

— Não tô entrando na defensiva, só tenho medo de acabar te dando esperanças de que um dia a gente volte a ser como era antes. — Puxo meu pé da sua mão, me sentando. — Você sabe.

Ferreira: Calma, não vamos fazer como antes, nem vamos entrar nesse assunto de novo. — Respiro fundo e junto meu cabelo nas mãos, fazendo um coque. — Vim aqui pra outras coisas, te envolve, mas não é sobre nós dois.

Eu e o Ferreira nos conhecemos a muito tempo, desde os meus dezesseis. Nunca tivemos nada sério, nem ao menos tentamos isso. Só que de um tempo pra cá, começamos a ficar, depois de algumas festas ou encontros com alguns amigos, a noite acabava pra gente numa cama. Juntos.

Depois do caso passado, ele achou que por ter acontecido da gente sempre se envolver assim, teríamos alguma coisa. Uma parte da culpa é minha, porque sem perceber eu dei esperanças para ele e não deixei tão claro minhas expectativas para aquilo, não passaria da amizade colorida que estávamos tendo. Ele é um cara de ouro, com ele eu tive os melhores momentos, os três sempre estão presentes em muitos momentos bons da minha vida. Só que ele foi o único que eu fui pra cama.

E pra não acabar perdendo sua amizade, eu decidi parar e voltarmos a ser normalmente como antes.

Ferreira: Mas é isso, você tá bem, eu só vim saber disso mesmo. — Ele levanta da cama e da a volta, puxando minha cabeça e depositando um beijo na mesma. — Me liga se precisar de alguma, meu celular tá comigo.

Ele sai logo depois, deixando a porta entreaberta.

Me deito outra vez, olhando se o Filipe estava dormindo ainda, mas ele estava me olhando com os olhos observadores de uma criança.

Filipe: Tia, eu tô com fome. — A voz de sono dele me faz sorrir. — Cadê a minha mãe?

— Você tá só com a sua tia aqui, sua mãe saiu pra se divertir um pouco. Você quer comer o que?

Filipe: Qualquer coisa? — Pergunta entusiasmado. Concordo. — Então eu quero um lanche!

Depois disso eu levanto e desço as escadas depois de pegar um dinheiro na minha bolsa. Queria ficar em casa, mas de qualquer maneira vou ter que sair.

Sai pra fora da casa olhando os caras do Braga na esquina. Um deles ao me ver sair pega o radinho na cintura levando até a boca, falando alguma coisa.. Não me deixaria surpresa se ele estivesse avisando pro Braga, já que é assim, eu saio eles abrem a boca.

Dou meia volta e ando tranquila pela rua, tinha uma lanchonete duas quadras daqui, e como não tinha ninguém para quem eu pedisse para ir comprar para o Filipe, eu inventei eu tenho que ir. Dobro a esquina e abaixo meu short, começando sentir uma coisa entrando no peito.

A rua estava escura, o poste estava sem luz. Eu passo a mão no pescoço, tentando esquecer a sensação ruim repentina.

O barulho irreconhecível do ronco do motor de um carro entra nos meus ouvidos, me fazendo virar a cabeça para o lado e ver o carro preto se aproximar de mim em alta velocidade, dobrando a esquina. Eu engulo a saliva e por instinto minhas pernas travam, sem saber como agir eu tento passar despercebida e dar meia volta, mas é momento certo em que o automóvel para do meu lado, a porta de trás do carro é aberta e uma pessoa toda vestida de preto, sai do banco traseiro segurando meu braço com uma força de um homem.

Eu começo a respirar errado, sendo puxada pelo cabelo e jogada com tamanha brutalidade dentro do carro, dando oportunidade para que o motorista saia em alta velocidade. Eu ia gritar, tentar agir já que o momento de medo tinha passado na hora errada, mas sou impedida com uma coronhada na minha cabeça, me fazendo perder a consciência.

[...]

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