1. Manga com Café

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A pior parte do meu dia é acordar sabendo que estive na mente de alguém- essa pessoa podendo ser conhecida ou não, ainda não sei identificar qual dos dois é pior.

Mas hoje, e, especificamente, hoje, parece que essa não foi, nem será, a pior parte do meu dia.

Tom tirou o meu dia de folga para me perturbar. Eu queria ler meu livro e comer algumas besteiras, principalmente as com muito açúcar, em paz, mas tudo foi por água abaixo quando nem deu sete horas e ele bateu na porta do meu quarto, me chamando.

— Você quer ir ao parque comigo hoje? Tenho uma sessão lá- É isso, ele sabe como jogar. Porque sabe que amo fotos da natureza, ainda mais fotos que irão proporcionar em uma oportunidade incrível de trabalho para ele.

— É para a seleção daquele livro?- eu sei tudo sobre o livro, de trás para frente, já que essa proposta saiu diretamente da empresa em que trabalho.

Não que tenha algum dedo meu ele estar interessado e participando desse processo seletivo, porque não tem, foi pura coincidência, embora eu tenha dificuldade em acreditar que "coincidências" são reais.

A empresa quer vários fotógrafos para analisar seus portfólios e escolher qual será mais adequado para o tipo de serviço que estão solicitando, confirmei se não teria problema meu irmão participar e só depois de me afirmarem duas vezes que estava tudo bem e que nós não teríamos problema que contei para Tom sobre a proposta.

— Isso mesmo. Uma sessão naquele parque seria perfeito- concordo com a cabeça, sem muito humor matinal, estar ativa no horário da manhã não é muito meu forte.

Muito menos depois de estar dentro do sonho da vizinha onde ela perseguiu o tempo inteiro seu ex-marido que não dava um único dia de paz para a vizinhança.

Já se passaram quase treze anos desde a primeira vez que estive dentro do sonho de alguém, mas ainda é estranho.

Primeiro: porque eu não controlo, nunca sei quem será a pessoa.

Segundo: alguns sonhos e algumas pessoas me assustam ao ponto de acordar no meio da noite, suando e com falta de ar.

Tommy olha para mim com uma expressão que me indica que deixei passar alguma coisa, aparentemente me desliguei da realidade e deixei ele falando sozinho.

— Você conseguiu prestar atenção em alguma coisa que eu disse agora?- tento buscar no fundo da minha mente algum resquício do que meus ouvidos podem ter ouvido ele comentar e reverberado no meu crânio completamente oco.

— Sei que foi algo sobre o Ivan e o Yan, mas não tenho certeza, realmente me desconcentrei- Tom revira os olhos, mas está sorrindo, então não levo a sério.

— Você sempre pensa neles como um conjunto?- encolho meus ombros e dou risada. Eles mesmos se consideram dessa forma.

— Eles são um conjunto. Não por serem gêmeos, por isso também, mas estou sendo mais específica sobre eles não se desgrudarem nunca, você sabe disso- continuo deitada na cama sem menção de levantar e Tom não se demonstra nenhum pouco preocupado com isso.

— Você tem razão, mas enfim, Ivan falou que vai fechar a sorveteria mais cedo para a gente ir lá. Eles estão com um sabor novo de sorvete, andaram inventando por esses dias - tenho certeza de que meus olhos brilharam ao ouvir essa frase. Sorvete é o único doce que eu não recuso, mesmo se me oferecerem milhares de vezes.

Isso sim era motivo o suficiente para me tirar da cama o dia todo, já que todos os meus planos consistiam em acompanhar o Tom e depois ficar o resto do dia deitada lendo algum livro.

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