— Daki- a voz grave me chama, me acordando do meu pesadelo.
Sinto meu corpo tremendo e as mãos suadas. O olhar de Yan para mim me faz lembrar do porquê eu nunca durmo com ninguém.
Não gosto de correr o risco de me verem assim, frágil e assustada, após meus sonhos. Eles estão ficando cada vez piores.
Eu não respondo pelo chamamento e Yan continua me olhando. Já dá para ver a claridade causada pelo sol entrando pela casa, o que indica que logo já é hora de levantar para irmos embora.
— Dakota- Yan me chama de novo e dessa vez eu forço um sorriso só para confortá-lo.
— Está tudo bem, estou aqui. Foi só um pesadelo- eu queria acreditar muito nas minhas próprias palavras.
Yan começa a fazer carinho no meu cabelo e me permito sentir um pouco mais do seu carinho antes de sairmos daqui e fingirmos que nada aconteceu.
— Você tem pesadelos com frequência?- eu queria tanto ser honesta. Eu quero tanto contar para alguém...
— Às vezes sim, mas é só o cansaço do dia a dia- solto um suspiro cansado e me sento no sofá.
Mas eu não posso contar. Isso arruinaria tudo. Eu os perderia e isso me arruinaria.
Yan também se senta, ele parece ainda mais disposto do que eu, para fingir que nada do que aconteceu mais cedo foi real.
— Já que a gente acordou uma hora mais cedo que o despertador, vou te levar para tomar café- ele termina de falar e se levanta.
Entrego a coberta para Yan guardar e vou para o banheiro.
∞∞∞
Desço da moto em frente a padaria que Yan nos trouxe. Espero ele descer da moto para entrarmos juntos.
Escolhemos um lugar perto da janela para observar o movimento na rua. Uma garçonete se aproxima.
— Bom dia! O que gostariam para hoje?- ela sorri e balança a caneta entre seus dedos, girando de um dedo para outro igual personagens de anime costumam fazer.
— Bom dia! Eu vou querer um misto-quente com refrigerante, por gentileza- Yan pede e ela anota e em seguida olha pra mim.
— Eu quero um salgado de queijo e suco de uva, por favor- a moça sorri a anota o meu pedido.
— Podem deixar! Daqui alguns minutos eu volto com seus pedidos. Fiquem à vontade- a atendente se afasta e eu olho para Yan que já está me olhando.
— Se quiser falar alguma coisa sobre ontem, o momento é agora, porque depois não iremos falar nunca mais sobre isso- o homem de cabelos vermelhos ri, uma risada gostosa de ouvir, tanto que chama a atenção de algumas pessoas a nossa volta.
A risada dele me faz rir também e eu reviro os olhos por sermos tão bobos.
— Seu beijo foi um dos melhores que já experimentei- eu sei que ele fala mais para me provocar do que qualquer outra coisa, mesmo sabendo que ele não mentiu, se ele mentisse, eu saberia.
— Obrigada?- nós voltamos a rir.
— Sério, Yan. Obrigada por tudo, por me ajudar a ter espaço ontem e poder escapar um pouco- ele me dá um sorriso reconfortante, mas não tem tempo de responder, porque os nossos pedidos chegam.
— Licença. Aqui. Um refrigerante com misto-quente e um salgado de queijo com suco de uva- a moça deixa nossos pedidos em cima da mesa.
— Obrigada.
— Obrigado- Yan e eu respondemos ao mesmo tempo e esperamos a garçonete se afastar para começarmos a comer.
Nós comemos falando sobre várias coisas, menos sobre o acontecimento, demos o assunto por encerrado.
Deixo meu tênis ao lado da porta e entro em casa. Tom está deitado no sofá, assistindo filme, dessa vez ele está sozinho.
Meu irmão me olha e faz sinal para eu ir até ele. Vou até a sala e me sento no sofá ao seu lado, já que ele se sentou quando me aproximei.
— Oi- ele sorri em resposta.
Tom está animado, diferente do meu sonho, mas eu ainda não consigo esquecer a dor que eu vi em seus olhos.
Balanço minha cabeça em negativa para colocar meus pensamentos em ordem.
— Eu recebi o E-mail ontem. Eu fui selecionado- ele está sorrindo, isso faz eu me sentir um pouco mais aliviada. Ele está bem.
— Eu sabia que iria conseguir. Vamos comemorar?- Tom concorda com a cabeça, sem estar mais tão interessado no filme de super-heróis que já assistiu milhões de vezes.
— Vamos sim, já falei com a galera. Hoje a sorveteria fecha mais cedo, mas não vamos comemorar lá. Falando em comemorar, um assunto leva ao outro, ontem a Charlote estava aqui para comemorar comigo- ele para de olhar para rir da careta que eu faço. Esse é o tipo de informação que eu não ligo de não receber.
— E, hoje, a comemoração vai ser no bar onde a irmã dela trabalha- concordo com a cabeça, sorrindo.
— Que legal. Então a comemoração vai ser em um bar?- ele balança a cabeça concordando.
Vejo a hora no meu celular e me levanto, pronta para enfrentar o meu dia e obrigações.
— Vai ser que horas? Hoje saio do trabalho às dezoito horas e quero me arrumar- eu aviso enquanto caminho até a escada.
— O bar abre às dezenove, então nós vamos às vinte e trinta, para dar tempo de os meninos fecharem a sorveteria e se arrumarem também- concordo com a cabeça e sorrio sem muita vontade.
Essa já vai ser a o meu primeiro encontro com Yan depois do que aconteceu durante essa madrugada.
— Pode deixar, estarei pronta às vinte- Tom volta a assistir a Tv e eu subo para meu quarto para tomar meu banho.
∞∞∞
Entro no meu escritório no horário que a Jennie está saindo, já que hoje nossos horários sçao diferentes.
— Te vejo mais tarde, beijos. Deixei torta de limão para você na geladeira- ela me dá um beijo e um abraço rápido antes mesmo de eu conseguir responder e some pelo corredor.
Vou até minha cadeira e me sento. Ligo meu computador e arrumo minha mesa para começar a trabalhar.
Observo os novos três manuscritos em cima da minha mesa e solto um suspiro antes de ver pelo E-mail quanto tempo eu tenho para escolher um desses manuscritos. Só de segurar eu já consigo chutar que eles têm por volta de 500 páginas cada um.
Abro meu minha Caixa de Entrada e vejo que me deram o prazo de um mês para ler os três. É um tempo bom, mas eu poderia ganhar uma semaninha de extensão.
Respiro fundo e começo a responder as mensagens que recebi. O último manuscrito que escolhi já está na fase de correção ortográfica.
Abro o primeiro manuscrito e começo a ler, mas paro na primeira folha, ainda na primeira linha. Uma dedicatória.
"Cara, Dakota Martinez Nickeson Sánchez, esse livro é para você"
Meu corpo inteiro se arrepia ao ler essa frase, porque esse não é apenas meu nome, mas sim meu nome completo. Uma mensagem direta de alguém que claramente me conhece.
Eu sinto me sinto apreensiva, mas me sinto, também, encorajada e instigada a ler.
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Submersão de Fênix
RandomO zéfiro enquanto observa o mar é uma sensação de outro mundo, uma tarde tranquila, um sorvete em mãos e amigos ao redor: tudo perfeito. Até surgir uma tempestade e tudo virar de cabeça para baixo. A sensação é de afogamento, distanciamento, quanto...