33. Minha queda/minha perspectiva

6 2 2
                                    

Acabamos de chegar na quarta semana em que eu não vejo e nem falo com a Denise, por medo, por culpa, por... tudo.

O melhor para ela é manter distância de mim.

Onde eu estava com a cabeça quando entrei – sem controle – no seu sonho e ainda a toquei e se isso fosse perigoso e se nossa existência estivesse corrompida ou acabada por causa desse meu erro?

Sem contar as outras tragédias que cometi. Como ter ficado com Yan – algo que não me arrependo – depois dela ter se declarado para mim.

Eu sou Ícaro.

Ou Narciso.

Fui gananciosa, cheguei perto demais do Sol e estou assistindo minha queda em câmera lenta de orgulho ferido e coração em pedaços?

Fui egoísta demais vendo só minha perspectiva da história e de tanto olhar para esse reflexo ele me devorou?

Que desculpas eu tenho?

Quem eu sou depois daquela garotinha de treze anos que pode entrar no sonho das outras pessoas e entende tudo e nada ao mesmo tempo?

Eu preciso de tempo e espaço, mas isso é o que mais estou perdendo a cada segundo que passa.

Desvio meu olhar da máquina de sorvete para o Ivan, minha mão já está no avental, meu pé já está direcionado para onde quero ir.

— Ivan, vou precisar sair- minha respiração já está alterada. Ele sabe o que vai acontecer a seguir.

Por mais que eu tente evitar ou até mesmo disfarçar, eles ainda assim notam.

— Tudo bem. Está tudo bem ir sozinha?- concordo com a cabeça.

Já saio desamarrando o avental. Yan me nota passando pelo corredor da cozinha.

— Daki?- eu já estou no fim do corredor, tenho que virar meu corpo para olhá-lo.

— Sim?- minhas mãos estão tremendo e estou eufórica.

— Você não está bem. Quer companhia?- sua primeira afirmação me deixa um pouco incomodada.

Eu sei que não estou bem, apontar isso para mim me deixa ainda mais ansiosa.

— Está tudo bem. Só preciso de espaço- e me acalmar.

Se não me acalmar o suficiente não posso pegar o carro e ir até onde preciso, que é o que está me causando ansiedade.

É tão difícil.

Respiro devagar, como a terapeuta ensinou.

Reparo nas coisas ao meu redor e vou me acalmando até chegar perto do meu carro. Ainda estou de uniforme, mas sem o avental fica bem mais apresentável.

Entro no carro e só me dou conta que estou mais calma quando estaciono em segurança do outro lado da cidade.

No pub da Denise.

Eu entro por aquela mesma porta de fundos no tom de azul horroroso. Meu coração batendo acelerado, não sei se é pelo nervosismo ou se ele só está acompanhando o ritmo da música.

Eu não sei o que está me guiando, mas cada passo dado é como um raio de Zeus em fúria.

Finalmente eu chego até o balcão do bar que Danny atende, ela está de costas para mim. Agitando uma coqueteleira enquanto dança e passa ele pelos seus braços, está rindo, posso ouvir sua risada. Seu cabelo está um pouco mais curto e repicado, também há mechas lilás.

Ela se vira.

O mundo para. A música se encaixa nesse momento e eu quase reviro os olhos pela forma que o universo é irônico.

Submersão de FênixOnde histórias criam vida. Descubra agora