29. Me expressar

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— Na verdade, eu não sei por onde começar. Então como a viagem é longa, não preciso resumir. Meus pais são advogados, tenho uma tia delegada, um tio investigador e, para completar, tenho um tio que já foi vice-prefeito. Por causa disso minha família sempre foi alvo de holofotes, brigas, investigações e outras coisas- eu desvio meu olhar de Denise para frente, observando a rua.

— Tommy é mais velho, por isso percebeu as coisas um pouco antes de mim. Não tínhamos uma vida normal, nunca tivemos. Fomos criados para não esboçar nossos sentimentos, estudamos em escolas de elite, mas, o universo foi gentil com a gente e colocou nossos amigos na nossa vida. A Carla já estava com a gente desde o começo, ela sempre fez parte disso que chamávamos de vida- sinto minhas pernas começarem a tremer em sinal de nervosismo, Danny coloca sua mão na minha coxa e isso me faz soltar um suspiro, me livrando um pouco desse peso que comecei a sentir.

Nem sabia que estava tão nervosa até receber atenção e ajuda. Saber que ela está me ouvindo e me reconfortando ajuda bastante.

— Ivan e Yan foram os primeiros a chegar. Eram nossos vizinhos, seus pais tinham acabado de chegar da França com eles, viramos amigos. Amo a tia Susie, a propósito. Ela que foi atrás dos meus pais para começar a amizade. Jennie veio um ano depois, estudamos na mesma sala- Denise sorri e dá um leve aperto na minha coxa demonstrando que está prestando atenção no que eu digo mesmo que também esteja prestando atenção na estrada.

— Aí eu fiz oito anos, ano que meu tio se tornou vice-prefeito. Algumas coisas começaram a ficarem estranhas e meus pais contrataram seguranças. A segurança imediata era a Catrina, só ela podia interagir comigo e o Tom, porque éramos crianças e não queriam que estranhássemos tantas pessoas a nossa volta e nem pessoas estranhas ao nosso redor. Triny nos treinava, defesa e inteligência em circunstância de risco. Ela foi da marinha. Catrina é a única pessoa que não faz parte da nossa família de sangue que meus pais mais confiam- é a primeira vez que Denise desvia o olhar da rua para mim, seu olhar cheio de perguntas, sorrio fraco.

— Então eu já estava com doze anos. Um dia normal do verão, tinha ido ao parque com o Tom e Triny, mais tarde fomos ao shopping, Tom ia se encontrar com sua namorada. Eu estava tomando meu sorvete e os tiros começaram. O shopping ficou um caos, fomos escoltados em uma sala. Triny levou um tiro, a namorada de Tom foi morta. Estavam atrás de nós- eu sinto quando o aperto da Denise fraqueja na minha coxa, mas ganha ainda mais força em seguida.

— Eu sinto muito...- a voz dela sai quase como um sussurro. Olho pela janela. Não sinto mais vontade de chorar por isso, porque mesmo se eu quisesse, não sairia nenhuma lágrima.

— Na semana seguinte tinham seguranças cuidando até dos gêmeos e da Jennie, tive que explicar para eles o que aconteceu, enquanto meus pais explicavam para seus pais. Meu tio foi reeleito, então ficamos anos sob proteção e também tem esse caso de investigação secreto da minha família, descobri sobre ele no mesmo ano do atentado- eu termino toda a história com um suspiro frustrado.

— Eu nunca iria imaginar que vocês passaram por tanta coisa- eu fico com vergonha de olhar para Denise, porque sei que agora eu a arrastei para isso também.

Nunca senti tanta vontade de chorar como estou sentindo agora. O nó na minha garganta parece cortar e sufocar, deixa minha língua dormente.

— Eu não queria ter envolvido ninguém nisso- mordo a parte interna da minha bochecha esquerda.

— Daki... não fala isso. Não é sua culpa, você e seu irmão eram apenas crianças, tudo o que passaram e as consequências foram decisões de adultos que infelizmente atingiu vocês, mas não se culpa por isso. Nunca foi sua culpa- olho para Denise e ela está sorrindo para mim, seu sorriso é quase como um abraço.

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