Observo ao longe o carro que girou três vezes na pista antes de rolar morro abaixo, meu corpo está gelado como se o próprio cadáver fosse eu.
Estou longe, mas é como se minha visão fosse ampliada e consigo ver a gasolina escorrendo. O carro vai explodir.
De repente, tudo para. Como se eu tivesse pausado um filme. Meu corpo fica ainda mais gelado e sinto um arrepio percorrer minha nuca.
A sensação é que a própria morte que carrega uma foice e veste preto está do meu lado, só esperando eu desviar meu olhar para o lado.
Mas essa não é a visão que eu tenho. É uma mulher, ironicamente, vestindo branco com uma aparência inocente e angelical.
Seu rosto expressa medo. Pior que isso, expressa terror.
A moça não está olhando para mim, seu olhar está fixado no carro que eu estava olhando segundos atrás. Ela aponta para frente e lágrimas escorrem dos seus olhos.
Eu olho na direção que aponta e tenho que colocar minhas mãos na minha boca para abafar um grito, ainda assim um grito abafado escapa dentre meus dedos, sendo carregados pelo vento e ecoando por todo o cenário. É, então, que percebo, ela não está me vendo.
Ela nunca me notou ali.
Olho para o carro e seu corpo está lá. Seus olhos abertos e opacos, sem vida, direcionados a nós. Estirado e deprimente, metade dentro do carro, metade para fora.
A sua forma fantasmagórica se vira para meu lado e o vestido branco começa a ficar vermelho. Sua boca está escarlate e pinga vermelho como flores que não irá receber em seu funeral.
Meu corpo inteiro se arrepia. Seu corpo está virado na minha direção, mas seu olhar está distante, como se estivesse olhando para algo além de mim.
Viro, pausadamente, meu corpo para trás, tão lentamente que é possível uma árvore completar seu ciclo de vida enquanto ainda me viro, e vejo uma sombra, um pouco mais distante, não consigo reconhecer quem é.
A moça estica sua mão e sussurra: precisa nos salvar.
Meus olhos enchem de lágrimas e sinto uma dor insuportável no peito, a sensação de afogamento me dilacerando de dentro para fora.
O carro explode, sem deixar nenhuma prova para trás.
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Submersão de Fênix
AcakO zéfiro enquanto observa o mar é uma sensação de outro mundo, uma tarde tranquila, um sorvete em mãos e amigos ao redor: tudo perfeito. Até surgir uma tempestade e tudo virar de cabeça para baixo. A sensação é de afogamento, distanciamento, quanto...