41. Monstro

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Carla sempre tem sonhos onde está sendo perseguida, pelo menos todas às vezes que estive em seus sonhos, era com esse tipo de coisa que ela estava sonhando.

Uma sombra alta e assustadora em forma humana, mas nunca com um rosto. Um bicho papão, um monstro que você sabe que existe, mas não sabe sua aparência.

Nunca identifiquei o motivo, nem as pessoas por trás dessas perseguições. Todas as vezes imaginava que Carla ficaria desesperada, mas chegou um tempo em que ela se acostumou.

Os sonhos são quase sempre iguais, alguém que não dá para ver o rosto a persegue praticamente o sonho inteiro e sua aura é esmagadora, uma sensação de que a sombra vai crescer por cima de você e o engolir sem deixar rastros para trás.

Eu mesma sinto meus pulmões se apertarem todas as vezes que a sombra está por perto, mas Carla não, até seus batimentos estão controlados, mesmo quando essa escuridão devoradora a encontra.

E, apesar de ser recorrente, o último sonho em que estive em sua mente foi o pior de todos. Não havia pessoas na rua, apenas alguns postes de luz alaranjados, algumas vozes de algumas casas e bares, mas a movimentação era bem pouca.

Do outro lado da rua, lá estava ele. Encostado em um poste, uma energia ruim ao redor, as pessoas não o viam, passavam reto, sem olhar, sem xingar, sem gritar, nenhum medo, nenhum sinal.

Mas a dor no meu peito era paralisante, enquanto para Carol era normal. Seus batimentos estavam estabilizados, seus pensamentos calmos.

Minha prima atravessou a rua e caminhou em direção a sombra. Ele continuou parado, como uma fera esperando a isca cair em sua armadilha em câmera lenta, eu queria atravessar com a Carol e segurar em seu braço, impedi-la, mas eu não podia tocar nada dos sonhos, nem mesmo salvá-la de si mesma.


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