36. Minha irmã

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Abro a porta de casa, está silenciosa. Voltei de dia e a essa hora todos eles estão trabalhando. A conversa com Diana foi essencial para ajeitar os pensamentos na minha mente. Agora tudo ficou um pouco mais leve.

Ainda sinto a pressão no meu peito como se eu fosse morrer afogada a qualquer momento, mas pelo menos dessa vez eu sinto que o salva-vidas está vindo na minha direção para me ajudar, porque tem alguém na praia gritando por mim.

Sou surpreendia e pago com minha própria língua, tem sim alguém em casa, não alguém que eu estava esperando.

— Triny me emprestou a chave- largo minhas malas na poltrona.

Arqueio minha sobrancelha e mantenho distância, eu nem mesmo fui avisada sobre essa visita.

— O que você quer?- Rodrigo não faz menção de se levantar, nem de se mexer.

— Aconteceram algumas coisas enquanto você esteve fora- sinto meu corpo inteiro arrepiar com uma sensação ruim, minhas pernas fraquejam e eu me apoio na poltrona para não cair.

— Do que você está falando? Espero que minha família esteja bem- ele sabe que quando falo família não é sobre a Odette e o Isac.

— Eles estão bem, a questão é que vocês são muito teimosos e continuaram a se envolver com o caso que não deveriam. Seu irmão recebeu uma mensagem quando você estava fora, outra ameaça e é só por isso que estou aqui, me certificar que você estaria em segurança quando chegasse em casa- concordo com a cabeça para ele saber que estou prestando atenção.

— O que tinha na mensagem?- Rodrigo se levanta, mas não se aproxima de mim, ele dá a volta pelo outro lado do sofá.

— Algo sobre devolver alguns pertences. Você sabe sobre isso?- nego com a cabeça, mas eu sei sobre o que ele está falando.

Com certeza é sobre a lista, a lista que tem o nome das duas irmãs que foram assassinadas. Eu não acredito mais em suicídio da mais nova, muito menos no "acidente" da mais velha.

Eu analisei aquela lista e são na maioria ex-funcionários de algumas indústrias pela cidade, a grande maioria já está morta.

— Não sei sobre o que eles estão falando, é melhor ficarem longe da minha família- é a única coisa que respondo antes de ir para cozinha.

Encho meu copo de suco de uva e me apoio na pia enquanto bebo.

— Sei que foi atrás da sua avó- engulo o suco sentindo-o rasgar minha garganta, mas não demonstro nenhuma reação a Rodrigo.

Como ele ficou sabendo disso? Eles não contariam, certo?

— E no que isso é um problema? Faz tempo que não a via, precisava esfriar a cabeça e nada melhor do que um campo e passar um tempo com quem fala de crochê e faz café da tarde com bolos e bolachinhas frescas, você não acha?- Rodrigo pega minha caixa de suco de uva e enche seu copo.

Mando apenas um olhar para ele que coloca o copo intocável em cima da mesa, cheio de suco.

— Esse manto não funciona comigo, Dakota. Tudo o que você aprendeu, eu também aprendi, tivemos a mesma professora, a diferença é que eu aprendi anos antes de você- seguro minha vontade de revirar os olhos e tomo meu suco de uva de uma vez.

— Isso não é uma competição, Rodrigo. Tem vidas em jogo, eu nem sei por onde começar a citar o caos que essa cadeia desencadeou- estico minha mão e pego o copo de suco que está à frente dele.

— E o que você sabe? Você e o Tom foram afastados disso o máximo que foi possível, sempre mimados e protegidos- aperto o copo com força, aparentemente raiva ainda é um sentimento que não consigo disfarçar.

— O que você sabe? Eu passei por coisas que você nem imagina! E vem me dizer que fui mimada e protegida? Aconteceu um massacre no shopping por causa da nossa família, pessoas morreram naquele dia por nossa causa, tinham pessoas atrás de mim e do meu irmão! Eu ainda vejo aquele pânico quando vou dormir! Como vocês querem fingir que nada disso é loucura? Não me diga o que fazer, Rodrigo, muito menos como eu devo me sentir, não venha pagar de herói e o senhor perfeito quando você nem sabe da metade do que eu vivi- despejo tudo em cima dele e mais uma vez bebo todo meu suco em um único gole. Preciso de uma bebida mais forte.

— Já te falaram o quanto você é egoísta? Porra, você vive numa bolha! Eu estava lá, você sabia disso? Eu tinha a merda de vinte anos, Dakota! Mas eu estava lá, sabe quem morreu aquele dia? Minha irmã! Então não venha você me dizer coisas como se só você sofresse no mundo- as suas palavras são como um golpe direto em meu peito.

A sensação é que estão pisando no meu peito, o ar esvaindo dos meus pulmões. Eu tento tossir para ajudar, mas o ar não volta.

— Dakota?- a expressão é de terror em seu olhar.

Rodrigo dá a volta na mesa e vem até mim.

— Dakota, respira!- ele segura meu rosto entre suas mãos, mas eu não consigo raciocinar direito.

— Ou, ou, ou! Que porra está acontecendo aqui?- é a voz de Tom, mas não consigo virar para olhá-lo, está tudo girando.

— Fica longe dela!- Danny?

Sim, essa é a voz da Danny.

Rodrigo não está mais perto de mim, agora tudo o que vejo é uma imensidão escura que parece com a galáxia.

É Denise, estou olhando em seus olhos.

— Daki, respira devagar. Estou aqui. Olha, acompanha minha respiração- eu repito o que ela faz.

— O que você falou para ela?- a voz de Tom está grave, eu só o ouvi falar desse jeito umas três vezes antes dessa.

— Ela está tendo uma crise de pânico, não crie alvoroço perto dela- eu consigo notar a mão de Tom fechada em punho pronta para golpear.

— Vai a merda! Você que a deixou desse jeito, sai daqui!- sou surpreendida.

Porque dessa vez quem está me defendendo tem a voz feminina. É a Charly.

Minha respiração estabiliza e eu consigo me concentrar na ambientação.

— Está melhor?- concordo com a cabeça voltando a olhar em seus olhos.

Denise sorri para mim e coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. Me sinto tão vulnerável e insegura, me afasto um pouco dela e olho para Rodrigo que ainda está na cozinha.

— Sinto muito pela sua irmã- abaixo a cabeça e saio da cozinha, Danny me acompanha e é bom não estar sozinha nesse momento.

Consigo ouvir a voz de Tom ao fundo, mas não identifico sobre o que ele está falando. Entramos em silêncio no meu quarto e nos sentamos na cama.

— Desculpa o atraso para vir te ver. Charly e Tom descobriram que eu viria e queriam vir juntos- dou um leve sorriso.

— Está tudo bem, nada saiu como o planejado de qualquer forma- encosto minha cabeça em seu ombro.

— Victor estará na cidade, meu pai vai fazer um jantar em família. Eba!- arqueio a sobrancelha.

— Victor?- Denise balança a cabeça concordando.

— Nunca comentei o nome dele né?! Victor é o meu meio-irmão só por parte de pai que eu comentei aquele dia. Ele mora no exterior, administra a empresa do outro lado do mundo. Victor, sempre vem duas vezes por ano e meu pai faz esse almoço, é só nesse dia que fingimos ser uma família normal. Quer me acompanhar? - levanto minha cabeça e foco meu olhar na parede

— Conhecer sua família? Uau, tão sério- Danny ri e apesar de eu mesma ter falado soando como uma piada, é estranho para mim.

Não sou do tipo que se apresenta para família e não estamos em um relacionamento. Espero que por estarmos mais tempo juntas as coisas não tenham se misturado na cabeça da Denise. Eu não tenho relacionamentos, porque eu nem sei o que é esse tipo de sentimento.

Só não suporto o fato de machucá-la, isso me destruiria.


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