Olho para meus amigos em volta da mesa enquanto bebo meu suco de uva. Eles estão se preparando para sair dar uma volta pela ilha.
Mas eu, Carol e Yan decidimos ficar, cada um por seus motivos.
Danny me dá um selinho antes de sair com eles.
Pego o queijo e a goiabada que estão na mesa e puxo para meu lado cortando um pedaço grosso de cada, juntando e dando uma mordida.
Corto mais um pedaço de goiabada e dessa vez como sem queijo.
Corto mais dois pedaços da goiabada e coloco um no meu prato e dou uma mordida no outro.
Carla se senta ao meu lado e pega o pedaço de goiabada do meu prato.
— Está ficando pior, não é?!- minha prima dá uma mordida no doce enquanto me olha com a sobrancelha arqueada.
— Do que você está falando?- ela revira os olhos. Eu termino de comer meu doce.
— Não se faça, Dakota. Você não é de comer doces, mas está comendo um atrás do outro
— Não conta para o Tom- eu peço com sinceridade e ela me dá um olhar preocupado. Dá para ver só por esse olhar que Carla quer me abraçar e tentar me ajudar de alguma forma.
— E você acha que ele já não percebeu?- desvio o olhar de Lina e olho pela janela.
O tempo está fechando, logo todos eles estão de volta em casa.
— Ainda assim é melhor continuarmos fingindo que esse assunto não existe- escuto um som de reprovação, mas não é de Carla.
Yan está encostado de braços cruzados no batente da porta da cozinha.
— Tenho experiência o suficiente para dizer que essa não é a melhor ideia, prepara ele para tudo, Daki- ele se aproxima da gente enquanto fala e se senta na cadeira da mesa que fica de frente para a Lina.
— Okay, vou resolver isso outra hora. Mas agora, me diz, o que você ia me dizer aquele dia? O que você descobriu que nos fez ser perseguidos?- Yan nega com a cabeça e dá um sorriso fraco, tentando me consolar antes mesmo de contar.
— Já adianto que você não vai gostar de saber- olho dele para Carla, de Carla para ele.
— Fala logo, Yan- Lina pede por mim.
— Eu fui atrás de alguns daqueles nomes que você me passou a lista- Carla o interrompe.
— Que lista?- ela arqueia sua sobrancelha e encara nós dois.
— Do dia do galpão- Carla continua com a expressão séria, claramente não gostou da resposta.
— Pode prosseguir- Yan assente.
— Daki... alguns daqueles nomes- ele faz uma pausa, ainda hesitando.
— Yan, fala logo- eu começo a me sentir ansiosa.
— Alguns daqueles nomes... são os mesmos do atentado no shopping- eu agradeço mentalmente por estar sentada, caso contrário, eu teria caído.
Eu não sei o que pensar.
Se precisávamos de uma certeza de que os casos estão interligados e que meus pais estão envolvidos nisso, essa é a certeza.
— Yan, isso é muito sério- ele revira os olhos e encara a Carla.
— Eu sei, não sei se você sabe, mas fomos perseguidos por causa disso, Carla, estamos presos aqui por isso- ele declara, sua voz pigando sarcasmo.
Os dois trocam olhares um pouco conflituosos, mas não consigo intervir, porque minha mente está vagando em muitas coisas.
E, por esse motivo, tenho uma ideia completamente arriscada e perigosa que só a Danny pode me ajudar.
Preciso esperar ela voltar.
∞∞∞
— Posso falar um pouco com você, só nós duas?- sussurro para Danny enquanto todos estão distraídos com o filme, depois de verificar no celular que horas são.
Irei contar qual é meu plano para Denise.
— Claro- eu me levanto e Danny me segue até o quarto.
Tranco a porta após nós duas entrarmos.
— Eu preciso da sua ajuda, você não pode me julgar e nem ficar contra minha ideia- Denise fica séria como nunca a vi ficar antes.
— Dakota...- eu dou um sorriso fraco para ela.
— Quando eu fui visitar minha avó, ela me contou sobre os sonhos. Fui atrás de uma coisa, mas descobri outra- Danny concorda com a cabeça e se senta na cama.
— E então?- ela me incentiva a continuar falando.
— É uma maldição de família que sempre pula uma geração e é sempre com mulheres e começa aos treze anos. Minha avó tem, minha mãe não, eu sim e caso eu tivesse filha, ela não teria, mas a filha dela sim, enfim, óbvio que eu perguntei como eu poderia controlar- faço mais uma pausa antes de responder- preciso passar por uma experiência de quase morte, mas meu coração tem que parar- Danny se levanta em um sobressalto.
— Você não vai fazer isso, Dakota!- ela se altera, sua voz ficando alguns tons mais alto por causa do desespero.
Imagino que se eu tivesse contado da lenda sobre o "amor da sua vida" teria sido mais fácil.
— Denise, não temos tempo. Vou entrar no sonho da minha mãe, se nada mudou, então ela vai tirar um cochilo daqui poucos minutos, irei fazer meu coração parar com os comprimidos que comprei após uma pesquisa e você vai me ressuscitar com isso. É adrenalina- pego o frasco e a seringa da mesa e estendo a mão para Danny pegar.
Denise dá um passo para trás, se recusando a aceitar meu pedido.
— Daki, você não vai forjar sua própria morte...- olho para ela, súplica no meu olhar.
— Eu preciso, Danny! Não vai durar muito tempo. Eu tomo os comprimidos, em poucos minutos apago, você conta treze minutos após eu apagar, olhando o relógio e injeta a adrenalina no momento certo. Temos exatos treze minutos, não pode passar disso. Vai dar certo- Danny nega com a cabeça.
— Não há maneira de te fazer parar, não é?!- eu nego com a cabeça e é verdade.
Caso Denise não aceite já tenho um plano de como convencer Carla a me ajudar.
— Tá. Merda! Eu não sei por que estou aceitando isso, Daki. Você é a única que eu quero, por favor, não me deixa- olho nos seus olhos, seguro seu rosto e selo nossos lábios, um beijo calmo.
Tento passar todos meus sentimentos para Denise através desse simples beijo.
— Eu vou voltar, tenho que voltar. Estou fazendo isso porque há pessoas que dependem de mim- Danny concorda com a cabeça.
Ela aceita pegar o frasco e a seringa da minha mão. Pego o frasco de comprimidos, vou até a cama e me sento preparada para me deitar.
— Está com o celular em mãos?- Danny concorda com a cabeça.
Eu verifico mais uma vez a hora, minha mãe já está no seu cochilo.
— Estou- dou um sorriso para acalmá-la.
— Estou pronta- pego os cinco comprimidos e coloco na minha mão, vou colocar na boca, mas Danny me impede.
— Daki, espera!- eu paro minha mão no meio do caminho e a olho.
— Eu...- estendo minha mão para frente fazendo sinal para ela não terminar de dizer.
— Não diz, por favor. Não diga. Não quero que seja dito nessas circunstâncias, haverá outros momentos, confie em mim. Porque eu confio minha vida a você- eu vejo os olhos de Danny se encherem de lágrimas e ela concorda com a cabeça.
— Tudo bem, volta pra mim, minha Antarium Dakota- sorrio para Denise.
— Eu vou- engulo os cinco comprimidos de uma vez, sem água e me deito.
Não percebo quando apago, mas só consigo pensar em três coisas.
Mãe. Sonho. Segredo.
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Submersão de Fênix
RandomO zéfiro enquanto observa o mar é uma sensação de outro mundo, uma tarde tranquila, um sorvete em mãos e amigos ao redor: tudo perfeito. Até surgir uma tempestade e tudo virar de cabeça para baixo. A sensação é de afogamento, distanciamento, quanto...