16. Mãos Frias

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— Daki? Daki, acorda!- meu corpo é balançado me fazendo acordar.

Minha respiração está irregular, minhas mãos frias e meu corpo ensopado de suor.

Que tipo de sonho foi esse? Por que eles estão ficando piores?

Sinto falta de ar. Uma crise de pânico. O corpo no carro. O carro explodindo. A mulher que iríamos investigar. A sombra. O pedido de ajuda.

Tom segura minha mão e me olha com o olhar amedrontado. Lembro do sonho que vi ele sentado sozinho e triste na cama.

Não quero que esse sonho se torne realidade.

Só quero que tudo isso acabe.

Seco o suor que pinga da minha testa com as mãos tremendo, Tom não me espera dizer mais nada, apenas me abraça, como sempre foi, ele já está acostumado, são treze anos passando por isso ao meu lado.

Meu irmão nunca entendeu por que eu tenho tantos pesadelos, ele queria entender, porque ele se importa, porque quer que eu não passe mais por isso, porque sempre é ele que vem até meu quarto me dar apoio.

Mas eu não posso contar o motivo dos pesadelos, eu não posso contar que eu sonho o sonho das pessoas. Eu ainda nem sei como formular isso para contar a alguém.

Olho para meu irmão e dou o melhor sorriso reconfortante que tenho por hora, ele não consegue fazer o mesmo, seu olhar está cansado e triste. Acho que eu não gritei no sonho, mas aquele grito foi reverberado na vida real.

Como Tom deve ter se sentido?

Seguro a mão do meu irmão, mas ainda não consigo dizer nada, como se minha voz não tivesse voltado para meu corpo.

O silêncio é necessário, porque eu sinto minha garganta arder e porque eu sei que não importa o que eu diga irei desatar a chorar.

Tom se ajeita na cama e se deita ao meu lado, ele se cobre e faz carinho no meu cabelo.

— Está tudo bem, Daki. Eu estou com você, eu vou te proteger- Tom sussurra para me acalmar, igual sempre fez desde quando eu tinha treze anos.

Eu sorrio, pela nostalgia, pelo carinho, por ter Tom comigo, mas meu coração se aperta, porque eu sinto que dessa vez não tem mais volta, eu estou afogando.

∞∞∞

Acordo com a claridade que vem do lado de fora, Tom ainda está comigo, antes ele sempre acordava antes de mim e ia preparar o café, mas acho que o impacto de ontem foi ainda maior, não quero perguntar o que aconteceu enquanto eu dormia, eu nunca perguntei, mas Tom sempre demonstrou ser mais do que só eu gritando ou chorando.

Uma vez sonhei que um assassino estava atrás de mim. O sonho era da Carla, ela tinha assistido um filme de terror e seus sonhos sempre foram em primeira pessoa. O sonho dela foi o mais estranho que já estive.

Porque eu não sentia que estava dentro do sonho de alguém, parecia que o sonho era meu, parecia que quem estava sendo perseguida era eu, mas eu sentia a presença da Carla. O assassino segurou nossos braços, ele agarrou nosso pescoço e nos arremessou contra uma parede de vidro. Como mecanismo de defesa nosso cérebro finaliza o sonho em perigo de morte, mas não foi o mesmo com ela.

Pude sentir a sensação do caco perfurando minha pele, pude sentir o sangue quente escorrendo e se tornando frio, eu queria gritar, mas não tinha fôlego. O assassino veio até nós, seus passos pareciam em câmera lenta e foi ainda mais aterrorizante do que ser arremessada contra o vidro da loja.

Cada passo que ele dava era um batimento meu que acelerava, ele puxou meu tornozelo, se ajoelhou perto do meu corpo e tentou me enforcar. Carla ainda não acordava, mas eu queria sair dali imediatamente, eu conseguia sentir os cinco dedos em volta do meu pescoço, a pressão nos pulmões, mas também sentia a calmaria de Carla, ela estava disposta a se deixar partir.

Submersão de FênixOnde histórias criam vida. Descubra agora