50. Máscara

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O porto está vazio, parecendo que erramos o endereço.

O crepúsculo já começou, um pouco mais tarde do que o normal. Se eu acreditasse em presságios diria que esse ato foi um deles.

— Vamos entrar no galpão- concordo com a cabeça e tomo a frente.

Sou a primeira a entrar no lugar e há várias caixas enormes empilhadas uma em cima da outra, indicando que a carga ainda não saiu da cidade.

— O que será que tem nas caixas?- Yan dá um passo para frente e um alarme começa a soar.

Tom e eu somos os primeiros a ficar em alerta, em posição de luta, prontos para qualquer coisa.

Entram homens de todos os lados, nos provando que estávamos errados e esse tempo todo tínhamos companhia.

Todos os homens estão de máscara, segurando armas enormes, mas dá a impressão de que ao ver nossos rostos eles hesitam.

O que está no meio, indicando ser o líder, abaixa sua arma e os outros imitam seu movimento.

Dou passos devagar para trás tentando enxergar uma saída de canto de olho, mas minhas costas batem contra algo duro.

O peito de alguém. Um dos homens, mas por alguma razão eu sinto que conheço esse aqui.

Abro minha boca para gritar seu nome, mas o homem é mais rápido e coloca sua mão na minha boca, me impedindo de gritar.

Tom nota e avança, mas outro homem o agarra pelos braços, o impedindo, e pela força do movimento tanto do homem, quanto pela impulsividade de Tom, é possível ouvir o ombro do meu irmão saindo do lugar.

Em poucos segundos estamos todos imobilizados por esses homens. O que mais me irrita é que eu reconheço o que está me prendendo e nem posso gritar.

Tenho certeza de que se fosse a Jennie no meu lugar, ela também iria reconhecê-lo, até porque ela transou com esse homem em cima da minha cômoda.

Rodrigo dá um tranco no meu corpo, me prendendo com mais força, esse movimento dele faz com que eu deixe um grito escapar da minha boca que é reprimido pela sua mão.

A ação de Rodrigo faz com que Yan, Tom e Danny tentem avançar, mas eles também estão presos. Eu quero gritar para eles pararem de se mexer, porque essa é uma técnica que quanto mais a vítima se mexe, mais fica presa, mas não consigo nem respirar direito com a mão contra meu rosto e minha respiração irregular.

Triny me treinou tanto e mesmo assim eu estou perdendo a cabeça.

Tenho que desligar meus sentimentos. Fecho meus olhos.

Esquece Tom.

Esquece seus amigos.

Esquece sua família.

Esquece a Danny...

Eu grito para meu cérebro.

Abro meus olhos de novo e mando um olhar de relance para Rodrigo que afrouxa o aperto por alguns segundos, sem perceber.

Eu não estou entendendo.

Rodrigo é um traidor? Por que ele está aqui se trabalha para minha família?

Eu não quero pensar no pior. Eu não posso ser emocional.

Mas meu estômago embrulha e eu quase vomito o salgadinho que comi na estrada.

Catrina entra pela porta principal do galpão, sem máscara. Se antes Tom não havia percebido, agora tem certeza.

— Falei para ficarem fora disso, mas vocês nunca aprendem- Triny dá um olhar geral por todo o local.

— Tira a mão da boca dela. Deixa-a falar- Flinn tira sua mão da minha boca, eu faço uma careta de ódio, mas não falo.

Minha família está me olhando, também estão esperando o que irei falar.

— Vai se foder!- grito olhando nos olhos da Triny.

— Dakota, não faça isso- reviro meus olhos, sentindo nojo.

— Você não decide mais por mim, Catrina- Rodrigo dá um aperto no meu ombro.

— Dakota, você não está entenden..- ela não termina de falar, porque outra voz conhecida por mim a interrompe.

— Chega, Catrina! Não diga mais nada- eu olho na direção de onde vem a voz e consigo sentir o momento que meu coração falha uma batida.

Como se eu tivesse engolido veneno e sangue escorresse pela minha boca. O gosto da verdade é amargo, cruel e dilacerante.


Submersão de FênixOnde histórias criam vida. Descubra agora