17. Me ver

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O sonho mais bonito que já vi com certeza é esse. Um campo.

Se eu pudesse definir um lugar como paraíso e onde sempre quis estar, esse é o lugar.

Tem minhas flores favoritas. Hortênsias.

Um lago e uma casa de campo.

Pela primeira vez, em anos, esse se parece com um sonho meu e não um que minha mente invadiu.

Sem outras pessoas, sem me sentir como uma sombra.

Mas não é verdade, porque tem alguém na varanda da casa.

E, esse "alguém", é Denise.

Pensei estar vivendo, finalmente, meu próprio sonho, mas seria o dela?

Normalmente, não me aproximo tanto dos donos dos sonhos, mesmo sabendo que eles não conseguem me ver.

Porém, dessa vez, eu não resisto e paro em frente a varanda.

— Perdida?- meu corpo se arrepia por completo.

Olho para trás para me certificar se não há alguém atrás de mim e se foi um erro imaginar que ela está falando comigo.

Não há ninguém. Não foi um erro.

— Está procurando quem? Foi com você mesma que eu falei- Denise ri, o famoso riso de sempre.

— Você está me vendo?- ela arqueia a sobrancelha e ri.

— É claro que estou te vendo, Brotinho. Por que eu não veria?- meu coração aquece e dispara. Nunca me senti tão abraçada sem toque, como estou me sentindo agora.

Nunca, em treze anos, me notaram. Por que com ela seria diferente?

Esse sonho é meu ou dela?

— Eu não sei. Estou acostumada com as pessoas não me notando- sou sincera e me sento em um degrau da escada do hall.

— Eu notei você, desde o primeiro dia. Um segredo? Sempre quando faço os shows, os lugares já são reservados para cada tipo de peça. Aquele dia, eu mudei. Era para ter sido a cadeira treze, eu escolhi a vinte e cinco, você- sinto meu coração se agitar ainda mais.

Não estava esperando ouvir isso, nem imaginava uma coisa dessas.

Me viro na escada para olhá-la, mas Denise não está mais no banco da varanda, porque está vindo se sentar ao meu lado.

— Você mudou o espetáculo só para falar comigo?- Danny sorri. O sorriso que sou encantada.

— Exatamente isso- não sei como reagir.

Mas me sinto feliz, muito feliz. Não estou acostumada a ter esse tipo de atenção. Eu nunca gostei de ninguém, tudo o que sei sobre esse sentimento vem das experiências dos meus amigos, da mesma forma, nunca sei quando alguém gosta de mim, mas pelo que conheço... isso é um sinal.

— Eu gosto do seu cabelo na luz do sol, ele fica avermelhado. É muito bonito, não me recordo de já ter visto de dia- nós duas rimos.

— Agora que você comentou, me recordo que sempre que nos vemos é de noite ou dia nublado-Denise ri.

— Acho que é porque você é o meu sol- seu tom é de brincadeira, mas seu olhar é como chamas prestes a engolir o que quer que esteja na sua frente.


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