28. Mortos

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Eu me lembro como se fosse hoje do cheiro peculiar que só shoppings conseguem ter, do dia mais quente do verão, o sorvete que quase derretia na minha mão, pessoas andando tranquilamente de um lado para o outro, sorrisos nos rostos, algumas famílias reunidas.

Até não estar mais assim.

Até que o som que mais escutamos serem de disparos, pessoas correndo, no lugar dos sorrisos, lágrimas e desespero.

Meu sorvete no chão, Tom preocupado comigo e com sua namorada que ia nos encontrar nesse shopping.

Catrina aparecendo do nada e nos escoltando junto com mais quatro seguranças que Tom e eu nunca tínhamos visto na vida. Eles carregavam armas grandes e falavam gritando, não pareciam se importar com as outras pessoas, só com Tom e eu.

Mas eu queria defender todas aquelas pessoas, eu queria que elas ficassem vivas. Eu estava preocupada com a Larissa, eu gostava da namorada do meu irmão.

Tinha idade suficiente para me lembrar de tudo. Estava com doze anos, na semana em que eu iria fazer treze.

Então eu notei o que eles estavam falando nos rádios.

"Protejam as crianças"

"Eles querem as crianças"

"Já identifiquei cinco mortos"

E a gritaria não parava. O desespero só aumentava. Ninguém falava conosco, meu irmão estava chorando, já não tinha mais certeza se veria a Larissa.

Triny nos colocou em uma sala equipada com segurança, nem sabia que existia esse tipo de coisa em um shopping.

Ela segurou meu pequeno rosto em suas mãos e olhou nos meus olhos.

— Vai ficar tudo bem, vamos fazer de tudo para proteger vocês. Darei minha vida se for necessário. Aguardem só um pouco, eu volto logo- Triny deu um beijo na minha testa e na do Tom e saiu nos deixando trancados com dois seguranças do lado de dentro da sala e dois do lado de fora.

Tom segurou minha mão e tentou não chorar na minha frente.

Mas eu sabia que depois disso nada seria igual e normal.

Porque quando saímos daquela sala...

Não eram mais cinco mortos, eram vinte e sete.

Catrina não foi nos buscar, porque ela tinha levado um tiro e estava no hospital.

Nunca mais vimos Larissa, porque no dia seguinte foi seu enterro em um caixão fechado.

Eu não chorei nesse dia, nem no dia seguinte, eu nunca mais chorei na minha vida e nem comemorei mais meus aniversários.


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