20. Mental

5 3 7
                                    

A pior parte da vida que tenho é quando preciso viver a realidade como se não tivesse passado por tudo o que já passei.

E, agora mesmo, estar dentro de um escritório lendo manuscritos como se minha vida não corresse perigo é um desses momentos.

Fingir que aqui perto não tem um carro espionando quem entra e quem sai do prédio, fingir que meu passado não existe, fingir que não vi na noite passada o sonho bizarro do rapaz da sala ao lado.

Fingir. Fingir e fingir.

É só isso que sei fazer nas últimas três semanas.

O exato tempo em que não vejo mais a Denise, porque estamos todos a todo vapor investigando o caso e trabalhando, sem tempo para qualquer outra coisa.

Mais uma vez a sensação de afogamento está me preenchendo.

Não consigo respirar, como se a sensação que estivesse só no mental começasse a ser física.

Meu peito aperta e preciso me levantar.

Tiro meu sobretudo e coloco na cadeira.

Uma crise de pânico.

Tento controlar minha respiração, mas minha mente não para de pensar e toda a sala começa a girar. Aperto a cadeira com força e fecho meus olhos.

Meu corpo está formigando, minhas pernas bambas. Quero falar, mas minha voz não sai.

A porta é a aberta, pressentindo o que estava acontecendo, Jennie corre até mim para me ajudar.

— Daki, estou aqui. Calma, respira- ela olha nos meus olhos.

Jennie já viu isso acontecendo várias vezes, ela sabe o que fazer.

Me dá espaço e me ajuda com minha respiração.

Odeio quando ela me vê nessa situação, não por ficar vulnerável na sua frente, mas por causa da dor que consigo enxergar em seu olhar.

Demora alguns minutos, mas eu finalmente me acalmo e Jennie me entrega um copo d'água, enquanto eu me sento na minha cadeira.

— Você está melhor?- balanço a cabeça concordando.

— Estou sim, Jen. Obrigada por me ajudar- Jennie se senta na cadeira de frente para minha mesa.

— Eu vi a Catrina- desvio o olhar de Jennie e encaro o fundo da minha caneca que acabei de tomar toda a água.

— Hoje?- ela concorda com a cabeça, mesmo sem eu estar a olhando.

— O que ela te disse?- Jennie encolhe os ombros, como se não ligasse.

— O mesmo de sempre- ela ri, descontraída.

— Ela disse que vai fazer bolo de maçã com castanhas, não é?- Jennie me encara e dá uma gargalhada.

— Isso mesmo, ela disse que vai na sorveteria. Já avisei o Ivan, por isso vim falar com você- sorrio para ela.

— Obrigada, Jen- minha melhor amiga encolhe os ombros de novo, sua forma de dizer que "não foi nada'.

— Você anda vendo a Danny?- arqueio a sobrancelha e Jennie revira os olhos.

— Ela disse que podemos chamar ela de "Danny", nem adianta me olhar desse jeito- dou risada e nego com a cabeça.

— Não estamos nos vendo, a última vez que nos vimos foi quando meus pais pediram para ela e irmã se retirarem da minha casa- Jennie revira os olhos, já sabendo minha opinião sobre isso.

Submersão de FênixOnde histórias criam vida. Descubra agora