24. Música/meus batimentos

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Estamos dentro do carro, a música Summer Bummer da Lana Del Rey tocando em um volume razoável no rádio, depois de três rounds resolvemos entrar para o carro e agora estamos descansando.

— Essa música dá um ar de que o Drácula pode aparecer a qualquer momento- Denise ri.

— Está uma vibe meio gótica mesmo- encosto minha cabeça em seu ombro.

— Já chegou a dormir aqui?- Denise faz carinha no meu cabelo.

— Já sim, várias vezes. Por quê? Quer dormir?- concordo com a cabeça e ela sente meu movimento em seu ombro.

— Pode dormir. Precisa de uma história?- dou risada e um tapa de leve em sua coxa nua.

— Você contaria a história mais chata do mundo- Danny coloca a mão em seu peito se fingindo de ofendida.

— Calúnia! Eu conto as melhores histórias- nego com a cabeça sorrindo, já sonolenta.

— Você trabalha fazendo truques de mágica, suas histórias são ruins sim- Danny tenta não gargalhar para não me despertar, mas seus ombros ainda chacoalham.

— Você é má, Dakota. Alguém já te disse isso?- ela não gargalhou, mas eu gargalho por nós duas.

— Jennie me fala isso o tempo inteiro ou pelo menos falava, já faz um tempo que não diz- dou de ombros e Danny ri.

— Não consigo acreditar como existia uma vida antes de você- encolho os ombros e rio.

— Talvez não existisse, era só sua mente de mágica pregando uma peça- sinto o corpo de Denise se arrepiar e não parece ser de frio.

— Esse é o maior medo de um mágico, estar vivendo sua própria ilusão- sinto meu corpo se arrepiar dessa vez.

Eu entendo o medo de Denise.

Eu consigo entrar no sonho das pessoas onde isso tudo é real e onde começa a ficção?

Mas nós somos reais.

Não suportaria viver em um mundo onde não sejamos de verdade.

Levanto minha cabeça abruptamente ignorando a tontura e seguro o rosto de Denise entre minhas mãos.

— Você é real, tá bom?- pego a mão dela e coloco entre meus seios, para Danny sentir meus batimentos.

— Nós somos reais- selo nossos lábios e volto a encostar minha cabeça em seu ombro.

∞∞∞

Acordo com a luz solar entrando pelas janelas do carro e demoro alguns segundos para me acostumar com a claridade.

Não devíamos ter bebido aquela garrafa de vinho inteira no segundo round. Minha cabeça parece que vai explodir e já sinto a vergonha surgir sobre o papo de ser ou não ser real de ontem à noite.

Apoio minha testa na mão esquerda e solto um suspiro frustrado.

— Arrependida?- dou um sobressalto e olho para Denise.

Não havia reparado que ela já estava acordada.

— De transar com você? Não. De beber sem me importar com as consequências? Sim. Com certeza sim- ela ri.

Escuto meu celular começar a tocar.

Procuro pelo carro, mas não acho até o terceiro toque.

Atendo a ligação.

— Daki, vem para casa agora. Os tios estão na televisão, acharam os corpos- meu corpo inteiro gela.

Eu preciso piscar meus olhos algumas vezes para voltar a realidade.

— Eu- eu já, já estou indo- desligo a ligação e olho para Danny.

— Acharam os corpos- a reação de Denise é como meu reflexo no espelho.

Nos vestimos, juntamos nossas coisas e corremos para minha casa.

Ainda bem que tenho a Denise ao meu lado para dirigir, porque não estou em condições nenhuma.

Estava tudo tão perfeito, até meu sonho tinha sido perfeito, mais uma vez sonhei com a Denise, mas claro que alguma coisa tinha que acontecer.

Quando é que eu tinha paz?

Solto um suspiro cansado e Denise dá um aperto de consolo na minha coxa, mostrando que está aqui por mim.

Esse é o problema, não posso manter a Denise na minha vida. É perigoso.

Entro em casa sem bater na porta, sem me anunciar, vou direto como um furacão até a sala onde está todo mundo.

— O que meus pais estavam fazendo na tv?- meus olhos desviam da tv para todos.

— Eles estão cuidando do caso das irmãs- uma voz diferente responde.

Meu olho passa rapidamente por todos para identificar de onde veio o som, tenho certeza de que já ouvi essa voz antes, mas não é dos meus amigos. A própria pessoa me ajuda a indetificá-la dando um passo para frente.

— Foi eu quem falou. Sou a Carol, trabalho com o Rodrigo e a Catrina- reviro os olhos, tentando não demonstrar nenhuma reação, já que ela mesma não demonstrou.

— Trabalha para meus pais, isso que quer dizer. Por que eles estão nesse caso?- Carol dá mais um passo para frente ficando cara a cara comigo.

O clima fica tenso para todos os presentes, mas ninguém ousa se intrometer.

— É confidencial- reviro os olhos e a encaro.

— Confidencial é o caralho. Sabe por quê? Eles estão envolvidos no mesmo caso faz anos, nunca largaram, isso é só mais uma extensão desse caso!- Carol também me encara, sem piscar, nem hesitar.

— Já avisei, Dakota! Fica fora disso- era quase possível ver o fogo em seus olhos.

— A decisão não é sua, Caroline- ela semicerra os olhos para mim e sai da minha casa.

— É impressão minha ou...?- Ivan deixa a frase no ar e leva um olhar de repreensão de Carla e Tom.

— Bom dia, gente... Não imaginava que iria começar o dia assim já. Mas tá bom, como foi encontrado o casal?- Yan nega com a cabeça sem querer falar, sua expressão triste.

— Uma rua deserta, a quase uma cidade daqui. O carro pegou fogo- sinto um arrepio percorrer por todo meu corpo.

— Eu preciso de um tempo sozinha, gente. Me desculpem- Danny tenta segurar minha mão sem ninguém ver, mas deslizo meus dedos pelos seus dedos, largando sua mão e saio da sala.

Entro no meu quarto e tranco a porta.

Me deito na minha cama e reprimo a vontade de chorar.

Não foi só um sonho...


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