Dádiva

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O cheiro de chá mais uma vez está se espalhando pelo lado de fora da nossa casa.

É estranho dizer "nossa casa", porque apesar de realmente ser nossa, ela só existe nessa realidade.

Independente de qualquer coisa, é nossa. Totalmente nossa e nada mais importa.

Eu subo os degraus quase pulando de 2 em 2, pronta para vê-la.

Depois que a Denise aprendeu como sempre me encontrar e ter consciência nos sonhos, ela nunca mais parou.

— Você se atrasou — minha namorada caminha até mim, me dando um selinho e pegando o ramo de hortênsias, margaridas e dentes-de-leão da minha mão para colocá-las em um vaso.

— Quanto tempo? — eu olho para a mesa, cheia de comidinhas caseiras, a fumaça do chá subindo, o cheiro ficando cada vez mais forte.

Nunca me canso de chamar esse lugar de lar, porque é o que é, porque Denise está aqui, ela faz parte disso.

Ontem foi eu quem preparou a mesa e mesmo que eu faça essa tarefa um milhão de vezes, a Denise sempre consegue deixar a decoração dela mágica, como se tivéssemos vivendo entre fadas.

— 3 minutos — coloco minha mão no meu peito, onde está localizado o coração e faço uma carinha de cachorro-pidão.

— Muito tempo. Me desculpe, meu amor — Denise ri revirando os olhos e coloca as flores no vaso para enfeitar a mesa.

— Está tudo bem. Como foi seu dia hoje? — ela pergunta, mas eu não consigo responder.

Sinto uma dor aguda na minha cabeça, junto com um zumbido muito forte nos meus ouvidos. Tudo começa a girar e preciso me sentar.

Flashes de memórias invadindo a minha mente em uma velocidade que não consigo controlar. Muitas coisas acontecendo. Essa mesma casa, o campo, animais de estimação, Denise, mas outra época, outras memórias.

Denise se aproxima de mim e se ajoelha na minha frente, tenta olhar nos meus olhos, mas a minha dor é tão grande que eu coloco minha mão na testa tentando aliviar a dor e fecho meus olhos.

Eu sinto o toque das mãos de Denise apoiadas nas minhas coxas, mostrando que está presente que está comigo, que não vai embora. Mas com meus olhos fechados, eu ainda tenho a visão dela sorrindo para mim no meio do campo de flores.

— Eu já estive aqui antes — eu sussurro.

Pelo silêncio temporário de Denise eu sei que ela entendeu o que eu quis dizer. Tiro calmamente minha mão da minha testa e abro meus olhos, olhando em seus olhos em seguida, Denise está me fitando com seus lindos olhos preto, tão pretos que consigo ver meu próprio reflexo neles.

Seu olhar é intenso e eu a conheço o suficiente para entender o que esse olhar quer dizer.

— Eu disse que nos conhecíamos de outras vidas.

Outro flash de memória invade a minha mente, esse é mais vívido.

Sou eu mesma, segurando o rosto de Denise entre minhas mãos, olhando em seus olhos.

"Vamos nos reencontrar novamente"

É uma promessa, eu estou prometendo isso a Denise.

— Nós conseguimos — ela sorri com seus olhos brilhando pelas lágrimas.

— Sim, nós conseguimos, minha fênix.

Eu seguro o rosto da Denise entre minhas mãos como se ela fosse a flor mais delicada do mundo. Minha maior dádiva bem na minha frente.

Eu beijo Denise e ela me beija de volta.

Por todos os segundos em que estivemos separadas, por cada pétala do nosso campo que caíram no chão para florescer de novo, por cada batida do meu coração, eu a beijo.

Eu amo a Denise Hawdenser, por toda minha existência. 

Submersão de FênixOnde histórias criam vida. Descubra agora