14. Minhas regras

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Jennie dá dois toquinhos na minha porta e eu me recuso a colocar meus pés no chão frio para abrir a porta, grito um "pode entrar" e ela abre. Minha melhor amiga me encara ainda perto do batente e faz uma careta, provavelmente por já ser duas horas da tarde e eu ainda estar deitada na cama com duas cobertas e a tv ligada na minha série favorita.

— Credo, Daki! Você chegou a sair da cama hoje? Não responde. Vim aqui e trouxe besteirinhas, mas agora só vou te dar se prometer que vai comer comida de verdade mais tarde- dou um sorriso malicioso para ela.

Finjo que vou tirar minha camisa.

— Mas você já pode me dar agora, pra que esperar?- ela joga a almofada que está na cadeira da escrivaninha na minha direção.

— Você não merece esse corpinho depois de ficar o dia todo na cama e para de andar com o Yan, ele faz mal para sua cabeça, vocês já estão até ficando com mesmo tipo de piadas- Jennie se senta ao meu lado, apoia as costas no encosto da cama e coloca as sacolas com as besteirinhas de comer por cima de nossas pernas.

— Pode ir me contando sobre o que está rolando entre você e a Denise, eu vi os olhares que vocês estavam trocando- dou risada e coloco uma bala de gelatina de sabor ácido na boca.

— A gente se beijou depois da apresentação de dança. Ela me puxou para o palco e começamos a dançar, Denise pediu para eu imaginar a música e imaginei Eat Your Young do Hozier, aí balancei meu corpo e ela acompanhou meus movimentos e eu senti, nesse exato momento, que ela era mágica de verdade, foi incrível, então nos beijamos e ela me arrastou até os bastidores e tivemos que parar se não íamos começar a fazer coisinhas e ficar presas lá- Jennie cai na gargalhada.

— Primeiramente, você é uma safada. Segundo, ela é um amor! Te chamou para dançar? Uau- sorrio me lembrando daquela noite.

— É, foi legal. Tirando a parte que ela quis que eu comesse cachorro-quente com purê- mudo o assunto de propósito para não ficar pensando e relembrando do que aconteceu.

Reviro os olhos e faço uma careta, Jennie ri e mistura dois sabores de bala de gelatina na boca. Faço a mesma coisa.

— Você é a única louca que não gosta de cachorro-quente com purê, todo mundo concorda com isso, até o Tom concorda com isso, não é possível que sejam irmãos- ela ri e mostra a língua colorida pra mim, a dela está verde.

Mostro a minha e está roxa. Temos essa mania desde criança, misturamos balas na boca e mostramos a cor que fica.

— Isso não é verdade, o Yan também não gosta- Jennie olha pra mim com sua famosa expressão de "não é óbvio?"

— Desde quando o Yan conta? Ele e você são praticamente a mesma pessoa, coisa estranha. Se eu furar seu braço agora mesmo ele vai sentir lá da casa dele e olha que ele já tem o Ivan de gêmeo- nós duas nos encaramos sérias por alguns segundos, mas caímos na gargalhada.

Será que a Jennie já percebeu alguma coisa e não quis falar? Será que eu e o Yan realmente não estamos demonstrando o que aconteceu? Porque, pra mim, parece que toda hora que nos olhamos sai faíscas.

— Pensando em que?- desvio o meu olhar para ela.

— Em qual episódio da série paramos para voltar a assistir, porque dormi e não lembro- ela encolhe os ombros, pega o controle e começa a procurar.

∞∞∞

Desço com a Jennie na ponta dos pés até a cozinha, Tom está lá só de calça moletom e meias brancas, dançando e fingindo que a colher é um microfone.

E eu sei que o meu amor por você vai vencer qualquer barreira- ele canta a plenos pulmões.

Porque eu sou trapaceira e farei de tudo para vencer esse jogo- Jennie completa e Tom se assusta, mas continua cantando.

Submersão de FênixOnde histórias criam vida. Descubra agora