20. Tudo Ficou Escuro

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POV Ana Carla


Humilhante.

Nada no mundo poderia ser mais humilhante do que aquele momento.

O momento em que eu encontrava o homem que eu estava ridiculamente apaixonada e ele me via naquela situação deplorável.

Ele não podia ter me encontrado mais cedo? Enquanto eu procurava por um emprego? Ou então não podia ter ido até mim enquanto estava na boate?
Por que tudo tinha que dar tão errado para mim? O que eu tinha feito de ruim para merecer tudo isso?

Engoli um suspiro.

- 50 dólares.- dei meu preço tentando parecer firme.

A expressão dele antes indecifrável passou para um choque extremo que eu quase sorri com o efeito que causei. Viu, Robert Pattinson, foi isso que você me fez, pensei amarga.

Vi que ele ia responder,não sei se com um palavrão ou qualquer coisa mas ele foi interrompido quando outra garota se inclinou sobre a janela ao seu lado.

- Então, meu bem,estou vendo que está difícil de desenrolar com a novata- disse ela tentando soar sexy- Tempo é dinheiro,eu faço pra você pela metade do preço dela.

Claro,a situação não estava ruim o suficiente. Não bastava eu estar numa esquina imunda, usando um perfume barato, uma maquiagem pesada e um vestido que revelava mais do que eu precisava ainda teria que disputar com uma vadia qualquer a noite dele.

Eu me vi dividida por partes iguais de mim mesma. Parte de mim queria entrar correndo na caminhonete vermelha e apertar o acelerador para nós tirar daquele lugar, outra parte queria esfregar a cara daquela vadia no asfalto por ela ter audácia de querer furar meu olho e a terceira parte de mim queria virar as costas e ir embora. Deixando ele com apenas uma opção que não era eu.

Ele se virou para a própria janela ainda relutante em tirar os olhos de mim e com certa brutalidade vociferou para minha rival.

- Tira as mãos do meu carro.- grunhiu fazendo a menina se erguer e sair ofendida me olhando com certa superioridade. – E você entra aqui agora.

O que?

Ele achava mesmo que tinha esse poder sobre mim?

- São 50 dólares.- repeti.

Ele bufou alto,tirando o cinto de segurança e erguendo o quadril do banco, enfiou a mão no bolso detrás da calça e puxou a carteira.

Apressado ele puxou algumas notas e enfiou no decote do meu vestido, me assustando com a sua proximidade.

- Entra no carro.-mandou destravando a porta.

O que eu faria? Claro que eu podia recusar,mas uma quarta parte de mim, a masoquista e doente, queria muito ir para onde ele ia me levar.

Nem que fosse para sentir mais uma vez, apenas mais uma vez o seu toque e seu carinho.

Eu ia me arrepender? Ia. Mas abri a porta do carro e me sentei no banco do carona.

Robert arrancou com o carro e se manteve em completo silêncio por todo trajeto.

Observei as ruas passarem por nós enquanto o incomodo passava a pesar toneladas sobre minha cabeça.

O que eu estava fazendo?

O que ia acontecer?

Só ele poderia me dizer.

Reconheci o bairro Beverly hills  pela placa na entrada. Eu nunca tinha ido para aquele lado da cidade. Robert parou em frente a um portão branco entre duas cercas vivas tão altas e expressas que era impossível ver o que tinha atrás dela.

Ele apertou um botão no controle na ignição e o portão se abriu revelando uma grande mansão.

Um belo jardim, com árvores e flores de todos os tipos, algumas esculturas gregas pintadas de branco. A estrutura da casa era no melhor estilo “casa branca”.

Fiquei três vezes mais apreensiva quando ele parou o carro na porta da frente e desceu apressado,batendo sua porta com força,vindo para o meu lado.

Sai do veículo sem olhar para ele,puxando meu vestido para baixo.

Robert abriu a porta da frente com uma chave que não era chave, era uma porta eletrônica pude perceber depois. E se eu achei a parte externa da casa linda, nada me preparou para o que encontrei lá dentro.

Tudo era minimalista, em tons brancos e pretos. No hall de entrada tinha um cabide com três arestas, um espelho de corpo, que eu evitei olhar, na parede oposta um visor de led de 5 polegadas mostrava quatro telas e em uma delas eu vi o carro lá fora.

Descendo dois degraus a frente me deparei com uma sala de estar ampla, com dois sofás brancos, um tapete felpudo beje no chão, um raque comprido preto e uma tv enorme suspensa na parede. Um aparador espelhado seguia todo comprimento da parede lateral e ali tinha alguns portas retratos que eu não consegui ver direito pois Robert virou a esquerda subindo pela escada. Ainda vi duas portas de baixo dessa mesma escada.

Entramos num corredor com 4 portas de cada lado. Ele entrou na segunda a direita. Parei ali.

Uma cama grande com edredom e travesseiros grossos e brancos, um bidê de cada lado, um baú estofado nos pés, uma tv na parede da frente, uma porta ao lado da tv e uma ao lado do bidê direito.

Robert parou e me olhou.

Sua expressão era dura e fria. A mesma expressão de quando eu o vi pela última vez meses atrás. Uma expressão carregada de raiva, rancor e uma quase imperceptível culpa.
Ele respirou fundo enquanto tentava nitidamente não explodir e enfim quebrou o silêncio.

- Aqui é o banheiro- apontou para a porta ao lado da Tv-, Tome um banho, tira essa roupa vulgar e esse perfume para gente conversar.

Mas era muita audácia!

Cruzei meus braços e ergui meu queixo.

- O que você quer?- perguntei fingindo que não estava com certo medo do que ia acontecer.

Eu poderia manda-lo a merda? Poderia! Mas me contive.

- Por favor, faça o que eu te pedi... eu só quero conversar.

- Pois pode ir falando...

- POR FAVOR!?

- NÃO! EU NÃO SOU SUA PROPRIEDADE, VOCÊ NÃO PODE ME OBRIGAR A FAZER O QUE EU NÃO QUERO- gritei enfiando a mão no decote do vestido e joguei as notas que ele tinha me dado em sua direção, Robert não fez nenhum movimento para pega-las, ele tinha seus olhos cravados nos meus, sua fúria contida.- Eu vou sair daqui...
- Não, não... Por favor... você precisa ficar aqui- ele pareceu desesperado , balançando as mãos, passando as mesmas no rosto. Totalmente perturbado.- Por que você está assim?

- Por que eu sou uma puta.

Ele parou. Suas palavras repetidas por mim deixando ele em completo choque.

- Não diga isso...

- Por que? Só você pode?- debochei.-  É o que eu sou, não é? Uma puta e agora sou uma de verdade.

Robert puxou o ar algumas vezes antes de voltar a falar.

- Por favor, Ana, faça o que eu estou pedindo.

O que ele queria? Me ver como eu era antes? Mas aquela Ana não existia mais,ele tinha acabado comigo. Não tinha mais volta.

No entanto, sabe Deus por que, depois de olhar naquele seu imenso mar azul e ser invadida por uma pena infundada, fui em direção a porta que me foi indicada,fechando ela nas minhas costas.

Como toda casa o banheiro também era muito branco e amplo. Tirei meu calçado,colocando em um canto do vaso sanitário, pendurei meu vestido atrás da porta e fui para de baixo do chuveiro.

Quando a água quente e forte bateu em meus ombros e meus músculos relaxaram eu me permiti chorar copiosamente. Talvez ali, de baixo d’água eu poderia esconder minhas lágrimas. Deixaria para ser firme apenas na frente dele.

Eu odiava o que estava fazendo.
Na boate ainda era difícil, mas nas ruas era triplamente pior.

Encontrei uma bucha no porta shampoo a minha frente e me esfreguei com força. Sentindo repulsa de mim mesma por estar daquele jeito. Por precisar estar daquele jeito. E tudo era culpa dele.

Me sequei com uma toalha branca e grossa atrás da porta, e me enfiei em um roupão que eu não sabia de quem era,mas não devia ser dele pelo tamanho.

Quando sai do banheiro encontrei Robert sentado na ponta da cama,com os cotovelos apoiados nos joelhos e a cabeça apoiada nas mãos. Os olhos que antes estavam no chão se ergueram para mim.

- Pronto. Estou de banho tomado. Agora você vai usar o que pagou?- debochei abrindo meu roupão,mas ele foi rápido. Se erguendo e prendendo minhas mãos,mantendo o roupão fechado.

Ofeguei com a proximidade,seu perfume me atordoando.

- Por que saiu da boate?-perguntou me encarando, nossos narizes quase se tocando.

- Porque foi preciso.- eu disse apenas, tensa... trêmula... ele estava perto demais.

- O que aconteceu de tão grave pra te fazer escolher ir para as ruas se vender por míseros 50 dólares?- agora ele grunhiu com os dentes cerrados .

- Escolher?- eu não estava acreditando.- Você acha que eu escolhi me prostituir? Você não tem noção pelo o que eu passei!

Robert fechou os olhos, afrouxando o aperto em minhas mãos.

- Você não era assim.- murmurou.

- Eu tive que mudar.

- Por que? Eu não gosto de te ver assim...

- Ah, desculpa te decepcionar...

- Não, não... eu não estou te julgando eu só não entendo o que aconteceu...

- ACONTECEU VOCÊ!- Gritei. Empurrando seu peito para que ele me soltasse.

Robert caiu sentado na cama, os olhos esbugalhados.

- Ana...

- Não. Não me diga nada.- grunhi. Meu autocontrole evaporando.- Você. Isso tudo é culpa sua. Desde que você apareceu na minha frente tudo mudou e quando eu comecei acreditar que era para melhor você me matou por dentro, gritando pra todo mundo que eu sou uma puta...

- Ana... – ele tentou de novo, mas se calou com meu olhar furioso.

- Sabe o que é pior? Eu sei disso. Eu sei que eu sou uma puta, mas ver você, que sempre foi tão carinhoso comigo, falar isso foi como... como... – tentei segurar meu choro, mas um barulho surdo rasgou meu peito subindo pela minha garganta me deixando sufocada.-  como...

Não consegui, fechei meus braços em volta do meu corpo e me apertei,tentando conter o buraco que se abria bem ali.

Um soluço chamou minha atenção e só então percebi que Robert chorava ajoelhado a minha frente.

- Me perdoa.- ele disse curvado.- Por favor, me perdoa por ser tão covarde.

- Do que você está falando?

- Eu tive medo- começou a explicar ainda sem me olhar.-, eu tive muito medo.

- Medo do que?- eu não estava entendendo.

- Medo de admitir que você era mais do que devia ser.

- É mentira!

- Não é menti...

- É mentira sim! Sabe quanto tempo você desapareceu? Sabe a quanto tempo eu estou pelas ruas sozinha? Procurando um emprego, tentando ser alguém?

Ouvi sua respiração inconstante como se ele estivesse perdendo o controle.

Eu não vi sua expressão pois não estava olhando para ele, minhas lagrimas escorriam livremente,caindo pelo queixo e pingando no roupão, eu não queria encara-lo para que ele não visse toda fragilidade que eu queria esconder.

Eu não podia me dar ao luxo de ser frágil, nunca mais.

- Você não sabe das coisas! Não sabe pelo o que eu passei!

Sua voz atingiu um tom de desespero inconfundível.

- Há! E pelo o que você passou senhor “astro mais bem pago de Hollywood”?- debochei ofendida por ele estar comparando as situações.

- Olhe para mim,Ana.- pediu desesperado. Fiz que não, uma nova onda de lágrimas caindo.- Por favor, anjo...

De repente eu voltei a sentir suas mãos em mim,subindo pelos meus braços, me fazendo arrepiar ao seu toque. Me encolhi por puro reflexo.

- Você está com medo de mim?-ele perguntou confuso.- Por que está com medo de mim?

Eu não consegui responder, meus nervos se repuxaram e minha cabeça pareceu explodir.

De repente, tudo ficou escuro.



ElisaMesquita0
umalufanazinha

ROBERT PATTINSON | Apaixonado por um AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora