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🌪

"Meus passos rangiam contra o chão amadeirado, um trovão ecoou pelo corredor e me encolhi enquanto me segurava pelas paredes indo para seu quarto. Um prato de sopa equilibrado em minha mão, eu tinha que ir mais rápido mamãe não gosta de tempestades tenho que ficar com ela.

Girei a maçaneta e empurrei a porta.

— Te trouxe sopa mãe, eu sei que você ainda não consegue comer. Mas está a muito tempo dormindo e quando acordar vai estar com fome. — Susurrei encarando as letrinhas que flutuavam junto com as verduras.

Um relâmpago que clareou todo o quarto, me sobresaltei com o susto o que fez a sopa derramar um pouco. Encarei a janela as gotas escorrendo pelo vidro e então olhei para a cama, que estava vazia. Uma gota de esperança brilhou no fundo da minha alma, caminhei depressa a chamando mas parei assim que meus olhos foram aos pés da cama.

O cintilar do prato de prata, as gotas quentes respingando pela minha pele. O pavor que senti ao ver seu corpo ao chão, um frasco perto do seu rosto sem cor e comprimidos espalhados. Um caminho de pétalas amarelas e então gritei, o choro entalado conforme o quarto diminuia de tamanho. Tentei correr para perto do seu corpo mas não saia do lugar e então, algo se partiu. "

Acordei com meu próprio grito, o ar me faltando e as costas suada. Levei a mão ao peito apertado com o pesadelo que me fez reviver aquele dia, a primeira coisa que meus olhos focaram foi o quadro e meu coração se partiu em saudades e angústia. Passei as mãos no cabelo e corri para o banheiro, me segurei na borda da pia e lavei meu rosto mas a imagem ainda estava presa em minha mente.

Encarei meus olhos fundos e desesperados através do espelho.

— Um patinho. — Engoli em seco com os lábios trêmulos. — Dois... dois... patinhos. — arfei.

Não estava funcionando, minhas pernas fraquejaram enquanto minha mente me sabotava com lembranças.

— Por favor para, para de lembrar! — bati com a testa contra a porta do banheiro enquanto meus olhos inundavam.

Foi automatico lembrar dos comprimidos, minha boca secou enquanto segurava a maçaneta com as mãos trêmulas. Eu estava mais que viciado, me tornei dependente deles.

Você não precisa disso Burton.

Levei os dedos até a chave.

Sua mãe terei vergonha de quem se tornou.

Meu choro entalado, sufocado pelo desespero. Segurei meu pescoço para afastar a sensação de estar sendo garguelado.

Não gosto da ideia de você tomar essas coisas, te faz tão mal quanto você acha que faz bem. Precisa parar.

Preciso parar.

Eu.

Preciso.

Respirar.

Joguei a chave na pia e escorreguei até o chão, minhas unhas gravando contra a madeira da porta como se pudesse perfurar.

preciso parar, preciso parar.

Eu.

Não preciso.

De

Pílulas.

Seu corpo sem vida, seu sorriso ao me chamar de anjinho, os bips que escutava noite após noite do meu quarto, o Som da sua risada. Eu estava esquecendo de como era, de como seus olhos sorriam junto de como me sentia seguro com ela.

Mãe, minha mãe.

[...]

— Você está com uma cara péssima.— Michael comentou do outro lado da mesa do refeitório.

— Tive uma noite de merda.

Gus mexeu em seu prato, seu nariz quase normal diferente do rosto de Michael que tinha uma grande mancha vermelha perto do olho.

— E quem não?

— Depois do jogo de ontem a noite dormir pareceu impossível. —Mike disse. — Fiquei repassando as coisas que eu podia ter dito na discussão.

Sua expressão quase me arrancou um riso, mas minha cabeça doía demais pra isso.

— Mas você parece ter tido bem mais que uma noite de sono perdida está tudo bem? — Ergui uma sobrancelha. — Sem ser sobre a confusão do jogo.

 — São só as coisas de sempre. — Murmurei fechando o livro, sei que aqui é um péssimo lugar para assuntos pessoais a escola muitas das vezes pode ser o seu inferno. Ou sua salvação.

Agradeci mentalmente quando as meninas chegaram nos fazendo mudar completamente de assunto.

— Eu não sou maluca, eu juro ter reconhecido aquele lugar e eu nunca fui pra Itália.  — Sophie disse. — Gente eu tô falando, tem alguma coisa errada com a Kitty.     
 
Engoli com dificuldade o suco e observei a reação do Gus, nada. Então ele não a conheceu... inconscientemente apertei as mãos da Ross, desde que ela senyou ao meu lado foi automático minhas mãos procurar pelo seu calor.

Seu polegar acarenciou o meu por baixo da mesa enquanto ela estava focada conversando com Sophie e Michael já que Gus parecia no mundo da lua. Afastei minha mão apoiado as duas na mesa e encarei meu amigo.

— Acho que sei do que você precisa. — Murmurei pra ele que me encarou. 

— De um beijo seu?

Bufei.

 — Fico contente em saber que ainda consiga fazer brincadeiras mesmo com essa cara.

— É a única que eu tenha Burton.

Franzi a testa.

— Talvez você precise mesmo de um beijo meu, ele tira o mal humor de qualquer um.— pisquei pra ele que sorriu, seus ombros relaxando um pouco.

— Vou por seu nome na lista.

Convencido de merda!

Revirei os olhos. Mas mantive um sorriso aliviado quando ele começou a comer mesmo que ainda não tivesse prestando atenção. Observei a bandeja de Sophie com frutas picadas, ela sempre pedia a mesma coisa e no fim acabava pegando o bolinho de todo mundo. Observei o meu no plástico e joguei em sua bandeja.

Ross me encarou, e fitou minhas mãos acima da mesa. Ela fez uma cara de reprovação e agarrou minha mão a colocando em baixo da mesa entrelaçando com a sua, deixei um sorriso escapar. Pelo menos não sou o único a sentir falta das suas mãos, não me incomoda o fato dela não querer que ninguém veja. Eu confio nela, se a fadinha tomou essa decisão foi por algum motivo maior... mesmo que ela não me conte. 

Continue...

   

Ao som do desejo.Onde histórias criam vida. Descubra agora