𝐛𝐮𝐭 𝐢 𝐭𝐫𝐮𝐬𝐭

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𝐦𝐚𝐬 𝐞𝐮 𝐜𝐨𝐧𝐟𝐢𝐨

AS ÚLTIMAS SEMANAS FORAM NO MÍNIMO INTERESSANTES, posso dizer que me senti quase sufocada pela atenção exagerada que recebi de ambas as espécies que se propuseram a me manter segura. Eu sempre precisava avisar quando queria sair e para onde queria sair, dependendo da minha resposta deveria sair acompanhada também. Era como ganhar novos pais, mas muito mais exigentes e controladores.

De certa maneira, eu me sinto agradecida pelo cuidado que lobos e vampiros tem empenhado em minha segurança e da minha família. No entanto, passei a me sentir levemente perseguida. Imagine só, toda vez que você olha pela janela encontrará pares de olhos de lobisomens ou de frios. Você não pode julgar meu descontentamento.

Aproveitei a distração dos lobos quando notaram a presença de algum Cullen chegando para trocar o turno e atravessei a rua, adentrando a floresta sem ser notada. Essa é a única parte que ainda não parece completamente resolvida, nenhuma das espécies parece disposta a abrir mão de tamanha rivalidade.

Me perdi em pensamentos enquanto caminhava por entre a mata da floresta, era como se eu me lembrasse daquele caminho de cor, mesmo que não passasse por aqui a bastante tempo. O céu já tomava uma coloração escura, além das nuvens densas que cobriam o pouco de sol por entre as copas de árvores. Uma chuva forte se aproximava, e também não demorou para que a primeira gota tocasse a minha pele.

─ Coraline? ─ alguém chamou de cima do morro que eu subia, a voz encoberta pelo som da cachoeira a poucos metros de mim. ─ Cora, o que está fazendo aqui?

─ Oi, Jasper. ─ sorri, levemente envergonhada. ─ Eu... não sabia que estaria aqui.

─ Bem, eu moro aqui.

Permaneci em silêncio enquanto analisava o grande campo antes florido. A grama ainda parecia verde, mas o jardim de begônias antes vermelhas e fortes agora estava seco, consequência da falta de cuidado por tanto tempo. Jasper segurava um regador e seus joelhos estavam sujos de terra por cima das calças jeans azul desbotado.

Ele me levou para dentro, preocupado que eu ficasse doente com a chuva que se aproximava. Passou a esquentar água no fogão para me preparar um café, eu ainda nunca entendi porque ele sempre tem comida quando ele nem se quer come.

─ Você vinha muito aqui, quando... depois de irmos embora?

─ Nem pensar. ─ respondi imediatamente, nós trocamos olhares e eu me sentei na primeira cadeira da mesa redonda de madeira. ─ Seriam lembranças demais.

Eu olhei ao redor, procurei por qualquer móvel que tivesse mudado de lugar, mas tudo parecia exatamente igual. O sofá continuava contra uma das paredes e acompanhava uma mantinha para quando eu sentisse frio. A televisão permanecia apoiada contra o painel de madeira e o controle remoto no mesmo lugar que eu deixei pela última vez. Era quase como se ele não tivesse mexido em nada.

Exceto pela parede antes vazia atrás do sofá. O quadro que antes decorava a parede do seu quarto na casa dos Cullen, agora ocupava o espaço central na sala de estar da sua cabana. As fotos que mais se destacavam sempre tinham a minha presença, e eu sorri levemente ao notar isso. O dia em que conheci seus pais oficialmente, o dia do baile, o meu aniversário.

─ Eu guardei o quadro aqui para não ter que levar na mala e ficar revendo você. ─ Jasper explicou, surgindo atrás de mim. Ele me estendeu uma xícara de café, e dessa vez aceitei sem me importar se não conseguiria dormir a noite. ─ Eu também não gostava das lembranças.

─ Bem, foi você quem escolheu ir embora. ─ dei os ombros, a resposta na ponta da língua saiu com facilidade.

─ Você acha que eu estava feliz em ir embora, Coraline? ─ seu tom de voz me causou arrepios. Tudo o que eu queria agora era seu toque, não uma discussão. ─ Doeu ir embora pelo simples fato de que eu achava que aquilo te manteria segura. Pela primeira vez em quase duzentos anos, eu senti dor de verdade.

𝐃𝐄𝐀𝐃𝐋𝐘 𝐓𝐎𝐔𝐂𝐇, 𝑗𝑎𝑠𝑝𝑒𝑟 ℎ𝑎𝑙𝑒 Onde histórias criam vida. Descubra agora