𝐩𝐞𝐭𝐞𝐫 𝐞 𝐜𝐡𝐚𝐫𝐥𝐨𝐭𝐞
EM MEU PONTO DE VISTA, a pior parte da vida após a morte seria não me aproveitar das minhas comidas e guloseimas favoritas. Acho que essa era a minha parte predileta em ser humana. Adoro doces, salgadinhos, refrigerantes, bebidas alcoólicas e qualquer coisa que apresente uma quantidade absurda de componentes exagerados e capazes de matar alguém aos poucos com o uso excessivo ao longo dos anos. Felizmente, essas coisas não me matam mais, então me sinto livre e sem peso algum na consciência para comer o que eu quiser, na quantidade em que eu quiser e na hora em que eu quiser. A parte ruim, com certeza, é ter que lidar com as expressões enojadas e indignadas de Jasper enquanto eu me deleito com alguma porcaria humana.
Estávamos na cozinha da mansão, juntos enquanto ele me assistia comer muito animadamente. Eu estava sentada sobre a ilha de mármore escuro no centro do cômodo, já Jasper se apoiava em um dos banquinho de bar que Alice escolheu para melhorar a decoração ultrapassada da casa. Ontem, caçamos cervos juntos, nas montanhas mais afastadas da população local, tentando ser os mais discretos possível. Mesmo assim, após matar a sede vampira, cheguei em casa e senti vontade de comer doces. Meu loiro então, esperou que eu entrasse no banho e aproveitou o entardecer cobrindo o sol para voltar até a vila e comprar alguns chocolates e porcarias prejudiciais à saúde humana.
─ Tem certeza que isso não tem gosto de cinzeiro velho? ─ o loiro a minha frente perguntou, segurava meus tornozelos, onde meus pés apoiaram em suas pernas. Jasper olhou para mim com certo fascínio e curiosidade, ele ainda duvidava dos meus gostos estranhos. Apenas neguei com a cabeça, soltando uma risadinha e achando graça de sua indignação. ─ Eu não entendo. O que há de tão diferente em você?
─ Eleazar disse que eu ainda tenho vida, lembra? Meu coração ainda bate, meu sangue ainda pulsa. Talvez eu ainda seja parte humana, uma híbrida. ─ ele pareceu ponderar, mesmo que obviamente inclinado a negação. Suas palmas acariciam os meus tornozelos, subindo e descendo pelo vão entre a minha calça de moletom escura e minha pele. ─ Tem certeza de que não quer provar? Acho que esse é meu doce favorito desde criança.
─ Amor, toda comida humana tem um gosto parecido a areia para mim. ─ Jasper disse, com um tom de desculpas.
Apenas dei de ombros, apreciando o gosto exageradamente doce do chocolate branco. Sentia muito por ele e todos os outros vampiros que não podiam aproveitar de sua imortalidade para ter alguns prazeres humanos como a comida.
─ Já existia chocolate na sua época? ─ perguntei, ainda distraída lambendo os dedos. Jasper me encarou por alguns segundos, parecia não acreditar na minha pergunta, como se ela fosse algo muito absurdo. Dei os ombros novamente, sem entender o motivo da ironia presente em seu olhar. ─ O que? Não é minha culpa se na sua época, as pessoas tomavam banho de canequinha e nem sequer pensavam em criar a tão famosa “energia elétrica”.
─ A energia elétrica já existia na minha época, engraçadinha. Infelizmente, as instalações eram muito caras. Inclusive, a assisti ser criada, já tinha sido transformado a cerca de uns 20 anos antes. ─ o vampiro se defendeu, apertando meus tornozelos. Sorri para ele e seu tom de voz sarcástico ─ E chocolate também, mas era algo visto como muito luxuoso e caro. Apenas os ricos de verdade tinham fácil acesso a esses produtos importados como o cacau, que geralmente era produzido nas colônias e processado em fazendas grandiosas dos Estados Unidos.
Ficamos em silêncio por mais alguns segundos para que eu terminasse de mastigar mais um pedaço de chocolate, tentando pensar em um motivo para que eu ainda fosse parte humana, se é que eu ainda era parte humana por causa dos meus batimentos cardíacos. Sinceramente, não era algo ruim ainda poder comer, e claro, nunca perder as forças de uma recém-criada, já que meu corpo continua bombeando meu próprio sangue nas minhas próprias veias. Mesmo assim, tenho a curiosidade de entender o porque eu. Porque de tantas transformações em todo o mundo, eu teria essa rara incompatibilidade com a morte.
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𝐃𝐄𝐀𝐃𝐋𝐘 𝐓𝐎𝐔𝐂𝐇, 𝑗𝑎𝑠𝑝𝑒𝑟 ℎ𝑎𝑙𝑒
أدب الهواة𝐓𝐎𝐐𝐔𝐄 𝐌𝐎𝐑𝐓𝐀𝐋, 𝑗𝑎𝑠𝑝𝑒𝑟 ℎ𝑎𝑙𝑒 | Ao voltar com sua irmã gêmea não idêntica para sua cidade natal, Coraline Swan não espera muitas novidades da pequena e pacata cidade do condado de Washington. Bem, ela também não esperava encontrar um...