Amiga, irmã

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Saphira ON

Agora andando pelo corredor no qual até uns 20 minutos atrás eu estava correndo, começo a pensar em tudo o que acaba de acontecer.
É simplesmente... inacreditável.
Não consigo conter a empolgação. Estou sorrindo e meu coração continua batendo forte. Só o que penso é que não vejo a hora de contar isso pra Jaque. Ela vai surtar!
Abro a porta do salão discretamente, mas é impossível não chamar a atenção das garotas que continuam aqui. Elas me olham de formas diferentes, algumas com curiosidade, outras com indiferença, e posso jurar que outras com raiva. Decido ignorar, afinal, isso não importa. Consegui o que queria, fiz a audição e agora estou competindo com todas elas. O mais importante agora é eu saber se a secretária, que descobri se chamar Liza, já está em seu posto novamente ou se Jaque conseguiu segurá-la.
Saio pela porta em direção à mesa de Liza, porém, pelo caminho, uma das garotas me se levanta bruscamente e para em minha frente. Assusto, paralisando no lugar. Ela cruza os braços e me encara, nada simpática.
- Por que saiu correndo? – Ela pergunta, levantando uma sobrancelha.
Por um momento eu congelo, e não sabendo que era possível, meu coração bate ainda mais forte. Meu cérebro demora pra raciocinar o que está acontecendo.
- O quê?! – É o que consigo dizer, mesmo sabendo que obviamente sou eu.
- Sim, você! – Ela quase grita. – De repente a secretária some, você aparece e corre para lá sem ser chamada. O que está acontecendo?!
Penso em perguntar a mesma coisa. Que porra está acontecendo? De repente ela está falando alto demais, e só o que consigo pensar é que isso pode chamar ainda mais a atenção. Liza pode aparecer aqui a qualquer momento, e eu nem sequer sei o que está acontecendo!
Me mantendo calma, sorrio e respondo na voz mais simpática que consigo.
- Não está acontecendo nada, querida. Só fui para a audição como várias garotas também acabaram de ir.
Ela parece não estar satisfeita com a resposta.
- Não, não... Você não me engana, não! Foi para lá sem ser chamada, não é mesmo? Eu ouvi a secretária dizendo que sua inscrição não era válida! – Ela me encara, e fala mais alto a cada segundo. – Ao invés de ir embora teve a audácia de passar na frente de todas nós e invadir aquela sala. Se não fez a inscrição o problema é seu, respeite quem fez!
Ok, agora entendi. Respiro fundo e fecho os olhos. Decidida a ir embora daqui logo e não perder a paciência, viro as costas e começo a caminhar em direção à saída. Não posso dar motivos para chamar ainda mais a atenção. Mas, para minha infelicidade, ela não para de falar. E, dessa vez, não consigo continuar indiferente.
- Ei, eu tô falando com você! Certeza que nem cantar você sabe... Foi até lá para divertir os garotos no intervalo, não é? Vadia!
No mesmo instante paro de caminhar. Fico alguns segundos parada, e me viro em direção a ela. Não sei como está minha expressão, mas com certeza a intimida. Ótimo, porque minha paciência está esgotando.
- Do que você me chamou? – Começo a caminhar até ela. Minha voz soa baixa, intimidadora. – E o que você disse?
- V-v-você não ouviu? – Percebo seu nervosismo imediato quando gagueja.
Chego bem pertinho dela, e mesmo percebendo que é ligeiramente mais alta que eu, não sinto nem um pingo de medo. Na verdade, só o que sinto é raiva. Ela passou dos limites ao me chamar de vadia.
Abaixo ainda mais o tom de voz, quase como um sussurro. Estou tão perto que nossos narizes quase se encontram. Seus olhos estão um tanto arregalados. Sorrio.
- Não, não ouvi, querida. Por favor, repete. – A encaro nos olhos, um sorriso estampando meu rosto. – Mas antes pensa bem se vai querer mesmo repetir.
Sinto raiva em todo meu corpo, mas a controlo. Mesmo nervosa, sei que não posso fazer um escândalo. Mesmo irritada, sei que preciso continuar discreta. Mas não abaixo a cabeça. Não quando alguém fala comigo assim. Decidi há muito tempo que nunca ninguém iria me humilhar. Por isso continuo com meus olhos fixos nos dela, demonstrando minha apatia. Quando ela bufa, sei que perdeu toda a coragem que parecia ter.
- Esquece! – Ela diz, ainda arrogante.
Ela volta e se senta em seu lugar, ainda me encarando. Também a encaro por mais alguns segundos antes de sair. É então que viro de costas e volto a caminhar. Respiro fundo, ainda sentindo raiva em mim. Que mulherzinha arrogante! Não tomei o lugar de nenhuma delas, não precisei prejudicar nenhuma para conseguir fazer a audição. A única que estava se arriscando era eu. Eu e Jaque.
- Jaque! – Arregalo os olhos e quase grito quando me lembro de Jaqueline. – Merda!
Corro até à mesa de Liza e vejo que ela não está. Rapidamente encontro os cartões, pego uns três e saio. Fico encostada em frente à entrada. Envio uma mensagem para Jaque e a espero chegar, me sentindo cada segundo mais ansiosa.

Too Good To Say GoodbyeOnde histórias criam vida. Descubra agora