É o suficiente

294 19 1
                                    


Bruno ON

Saphira está, como sempre, absurdamente linda. Está usando um vestido curto que mostra suas pernas e marca suas curvas. A abertura nas costas revela sua cintura, e seu cabelo solto a deixa mais sexy. Enquanto ela anda, como sempre, chama a atenção de todos. Não sei o que é, mas Saphira tem algo... diferente. Especial, com certeza. Não é só sobre aparência, mas também presença. É como se ela captasse a atenção de todos em todo lugar, e no meu caso não é diferente. Quando ela aceitou o convite para jogar com Kameron, foi irresistível para mim. Eu tinha que participar disso. E, óbvio, com a intenção de ganhar o jogo. E, como sempre, Saphira surpreendeu a todos. Além de ganhar o jogo, conseguiu nos humilhar durante a partida e o final dela. Ao fingir que não sabia jogar, convenceu a todos, inclusive Kameron, de que seria um jogo fácil. Por mais que seja estranho, eu gostei ainda mais dela depois disso. Mesmo perdendo o jogo e tendo que suportar zoações o tempo todo, me senti... enfeitiçado por ela. Saphira é... ousada e confiante. Ela é como uma caixa de surpresas. Sinto que não sei nada sobre ela, e isso apenas me instiga a querer saber mais. Muito mais.
Disfarçadamente, a observo dançando, tão... bonita. Talvez ela não perceba, mas com certeza é a mais bonita de todas ali. Ela dança muito bem também, o que me deixa encantado. Vejo vários homens a abordando, mas ela dispensa todos. Parece apenas querer... se divertir. Ao mesmo tempo, parece encher seu copo de bebida o tempo todo. Talvez seja isso que me deixa mais alerta enquanto a observo. É então que percebo mais um homem chegando perto dela, do lado mais afastado da pista, onde não há quase ninguém. A diferença é que esse a agarrou pela cintura e ela pareceu não gostar. Ele avança e percebo que Saphira o rejeita várias vezes. Percebo, então, o desespero dela, enquanto ele a tenta beijar contra sua vontade. Sem que eu perceba, raiva começa a tomar conta de mim e não penso duas vezes para descer até lá. Odeio aparecer em público e odeio chamar a atenção, mas nesse momento, não me importo nem um pouco.
Vou me desviando rapidamente de todos enquanto tento chegar perto, o que não é tão fácil, afinal, tenho que ultrapassar uma multidão enquanto tento continuar discreto. Quando chego mais perto, ouço o que parece Saphira gritando. Corro até a situação e, quando a vejo, arregalo os olhos. O homem está com as mãos no meio das pernas, gemendo de dor. Imediatamente, deduzo o que aconteceu. A ouço gritar palavras em português, mas não consigo entender o que diz.
Logo em seguida Saphira soca o homem no meio do rosto, o que o faz cair no chão. Arregalo ainda mais os olhos, completamente surpreso pela situação que acabei de presenciar. Depois, sorrio. É inevitável sentir prazer ao ver Saphira socando um babaca no rosto. Porém, a percebo um tanto... pálida. Chego perto dela, me sentindo preocupado.
- Tá tudo bem?
Saphira me encara, parecendo um tanto surpresa. E também bêbada. Penso imediatamente que preciso ajuda-la. Porém, ouço um grito atrás de mim. Quando me viro, vejo o mesmo homem, agora em pés e parecendo tentar agredir Saphira. Imediatamente, soco seu rosto. Ele cambaleia para trás e tenta se aproximar novamente. Sem pensar duas vezes, o soco novamente, o que faz, dessa vez, seu nariz sangrar. Ele parece desmaiar, caindo no chão. Olho ao redor rapidamente e percebo que ninguém viu a cena, a não ser o segurança da boate que caminha até nós. Antes de me virar, consigo ouvir Saphira sussurrando.
- Eu não tô bem...
Ao olhar para ela percebo-a ainda mais pálida, seu corpo tremendo. Então, ela parece desmaiar. Rapidamente a seguro, impedindo-a de cair no chão. Meu coração acelera, e tento pensar no que fazer. Como vindo dos céus, ouço a voz de Phil.
- Bruno, o que está acontecendo?!
Vejo ele, Dwayne e Kameron observando a cena, obviamente tentando entender o que aconteceu. O segurança tenta ajudar o tal rapaz a levantar, mas ele não aceita ajuda, levantando sozinho, obviamente furioso, indo em direção ao banheiro. O acompanho com os olhos, pronto para revidar a qualquer momento, se for preciso. Explico rapidamente para o segurança o que acabou de acontecer. Sem dificuldades, ele entende e caminha até o banheiro também, seguindo o rapaz.
- Vou levar Saphira embora. – Digo, olhando para Phil. – Por favor, encontre Jaqueline e diga a ela que estamos indo.
- Precisa ser discreto. – Sussurra Phil, olhando ao redor. – Tem muitas pessoas aqui. Foi muita sorte ninguém ter notado nada.
- Vou pelos fundos.
Com Saphira nos braços, corro para os fundos da boate. Noto que a maioria das pessoas estão entretidas demais, ou bêbadas, ou drogadas demais para perceber alguma coisa. Quando finalmente chegamos no estacionamento, ajudo Saphira a se sentar no banco do carro e colocar o cinto. Ela parece acordar aos poucos, me olhando com olhos perdidos. Meu coração acelera de preocupação. Ouço seu celular tocar incessantemente em sua bolsa e decido atende-lo.
- SA?!
- É o Bruno falando. – Respondo, ainda ajeitando Saphira no banco.
- ONDE VOCÊS ESTÃO?!
- Acha melhor leva-la ao hospital ou para casa? – Ignoro a pergunta de Jaqueline. Não tenho tempo para explicação agora.
São alguns segundos de silêncio até ela falar algo.
- Aconteceu algo a mais ou ela só está bêbada?
- Acho que só bêbada... – Analiso Saphira, tentando ver se tem algum machucado. – Apesar que estamos sendo modestos ao dizer "só".
- Leva ela pra casa, sei o que fazer quando ela está assim.
Sem responder, desligo o celular e coloco de volta na bolsa. Depois de conferir se Saphira está segura, entro no carro e começo a dirigir. Ela dorme um pouco no caminho, e vou em silêncio, observando-a. É inevitável começar a pensar, por exemplo, em como eu sinto a falta dela, todo dia; não por não vê-la, mas por querer tê-la e não... poder tê-la. Sinto falta da sua risada, do seu senso de humor, do seu jeito carinhoso, do seu cheiro... Ela anda tão distante que é como se eu estivesse do lado de fora de sua vida. Vejo-a dormindo e penso no quanto sentirei falta de vê-la todos os dias.
- Ei, Saphira. Chegamos...
Ela me olha com os olhos perdidos, ainda meio dormindo. Pego sua bolsa e procuro alguma chave. Vou até à frente de sua casa e, depois de tentar quase todas as chaves, consigo abrir a porta. Volto para o carro e a pego em meus braços. Ela agarra em meu pescoço e encosta a cabeça em meu peito. A deito no sofá e vou acendendo as luzes da casa. Logo encontro seu quarto. Tiro algumas coisas de cima da cama e deixo um espaço livre para ela poder se deitar, então a levo até lá. Deito ela na cama e logo ela agarra o travesseiro, já dormindo.
Percebo que Jaqueline ainda não chegou, o que talvez demore um pouco considerando a pequena confusão da boate. É claro que não deixarei Saphira sozinha aqui, então decido fazer um chá para ela. Vou até a cozinha e abro os armários, procurando. Depois que encontro tudo, faço seu chá e coloco numa xícara. Chego no quarto e ela está encolhida, agarrada no travesseiro. Deixo a xícara num canto, tiro seus sapatos, coloco-os no chão e puxo o cobertor até suas coxas. Começo a observá-la. É incrível como consegue ser tão linda mesmo quando não tenta. Sem querer, acabo sorrindo.
- Vem aqui.
Arregalo os olhos ao ouvi-la falar. Penso se não está sonhando. Ela abre os olhos devagar e bate de leve na cama.
- Vem aqui, comigo.
Me sinto... confuso. Mas, depois dela insistir novamente, vou até lá. Tiro o resto das coisas da cama e, delicadamente, me deito ao seu lado. Ela se vira para mim e abre seus olhos devagar. Perante essa cena, me sinto... enfeitiçado.
- Por que você faz isso? – Ela pergunta, a voz um sussurro.
- Quis te ajudar. Não está confortável?
- Não é isso. Por que você faz isso? Por que me aproxima de você, e depois me faz afastar? Por que fez aquilo? – Ela começa a despejar as perguntas e percebo mais uma vez que não está sã. – Você não gosta de mim tanto assim, não é? Eu sou uma idiota mesmo...
Penso em dizer que ela está bêbada, que está dizendo besteira, mas ao invés disso, decido entrar na conversa. Tento olhar em seus olhos, quase fechados.
- Eu gosto, sim.
- Não parece... – Ela resmunga, quase rindo. – Mas tá tudo bem, não é sua culpa. Nem minha. Foi só um beijo... Só isso. – Dessa vez, ela ri. – A porra de um beijo que não sai da minha cabeça.
Me esforço para tentar entender o que ela diz, e quando entendo, sinto meu coração apertar e acelerar. É inevitável sorrir ao saber que ela pensa nessa noite tanto quanto eu. Mas é também inevitável sentir a tristeza dominar meu peito ao pensar em tudo.
- Acredite em mim, eu queria que fosse diferente... Me perdoe. – Sussurro também, na esperança dela não lembrar dessa conversa quando acordar.
- Então faça ser diferente. – Ela diz isso fechando os olhos e dormindo novamente.
Fico alguns segundos a observando, sem saber o que dizer. Dou um beijo em sua testa e começo a me levantar, suavemente.
- Fica. – Ela diz, com a voz baixa, ainda de olhos fechados. – Por favor, fica. Quero aproveitar esse momento enquanto estou bêbada e não quero socar sua cara.
Acabo rindo e, obedecendo-a, volto a me deitar ao seu lado. Ela sussurra algumas palavras provavelmente em português. Tento reconhecer alguma das que ela me ensinou, mas não consigo entender nada. Ela parece falar sozinha, até rindo do que fala. Nunca quis tanto entender português como agora.
- É provável que você não lembre disso quando acordar... – Digo, rindo.
- Assim espero. – Ela resmunga, agora em inglês, finalmente ficando quieta e parecendo realmente pegar no sono.
Espero mais alguns minutos, observando-a, e me pego sorrindo sozinho. Passo a minha mão levemente em seu cabelo e meu coração se aquece só por estar perto dela. Inesperadamente, ela chega mais perto e aconchega sua cabeça em meu peito. Nesse momento... droga, nesse momento meu corpo inteiro estremece sentindo seu toque e sinto vontade de ficar aqui para sempre, ao seu lado, deitados juntos, ouvindo sua respiração e sentindo seu calor e seu cheiro em mim.
Só isso, é o suficiente.
Mas, de repente, ouço um barulho de carro estacionando, e meu conto de fadas termina.
Levanto da cama cuidadosamente e acabo vendo o boné que dei a ela em cima de uma mesa de canto. Sorrio ao lembrar daquela noite. Pego a xícara de chá e levo para a cozinha, enquanto Jaqueline entra desesperada em casa.
- SAPHIRA? SA? – Ela parece procurar em todo canto, desesperada.
- Ei, calma. – Sussurro ao vê-la na cozinha. – Ela está no quarto, dormindo. Assim vai acordá-la.
De uma forma surpreende, Jaqueline me olha com... raiva? Ela me ignora completamente e segue para o quarto. Sigo ela e escoro na porta.
- Ei, Sa? Sa? – Chama Jaqueline cutucando Saphira enquanto agacha no chão ao lado da cama.
- Oi, amiga. – Saphira responde, sonolenta e com a voz embriagada. – Eu estou dormindo agora, podemos nos falar mais tarde?
Acabo rindo pelo modo que Saphira fala e Jaqueline volta a olhar para mim, dessa vez seu olhar tão duro que me faz arrepiar. Fico sério na hora. Ela volta a atenção para a amiga.
- Saphira, você está bem?
- Não.
- O que você fez? – Pergunta Jaqueline, me olhando como se quisesse me matar.
- EU?! – Quase grito, me sentindo ofendido. – Nada! Quer dizer, eu a trouxe até aqui no meu carro, carreguei ela até o quarto, a deitei na cama, tirei seus sapatos e fiz um chá... – Decido encobrir a parte que deitei ao seu lado, Jaqueline poderia interpretar errado. – Ia dar para ela agora.
- O que você tá sentindo? – Jaqueline volta a atenção para Saphira.
- Sono.
- E o que mais?
- Minha garganta...
- O que tem ela?
- Tem alguma coisa subindo.
- Merda. – Resmunga Jaqueline.
- Minha nossa, por que tantas perguntas? – Pergunto para Jaqueline. – Ela está bem, só está bêbada.
- Não é tão simples assim quando se trata de Saphira. – Jaqueline me fuzila com os olhos, de novo. – Saphira é sensível a bebida. Não aguenta beber tanto.
- Então por que ela bebeu tanto?!
Quando Jaqueline me encara com puro ódio no rosto, decido mudar de assunto.
- Tá, e agora? – Pergunto, preocupado.
- Agora você vai embora para eu poder cuidar da minha amiga. – Jaqueline me diz, raivosa, e depois se vira para Saphira. – Ei, amiga, vamos. Acorda, você precisa tomar um banho.
- Não, não vou embora agora. – Digo. – Saphira claramente não está bem e quero fic...
- Olha aqui... – Jaqueline, de repente, me interrompe e levanta, ficando de frente para mim. Há tanta raiva e preocupação em seus olhos que me sinto um tanto intimidado. – Primeiro: eu não gosto de você. Segundo: Sua reputação te precede e fui uma idiota por não perceber isso antes. Terceiro: Você simplesmente leva Saphira para uma noite perfeita e depois de um dia se atraca com outra mulher... Eu aguentei minha amiga deprimida e triste durante todo esse tempo enquanto você saía por aí curtindo, e agora, depois que acabou com tudo, quer ajudar?! Quarto: Você vai embora agora.
Jaqueline me encara, sua pele vermelha e sua respiração descompassada. Consigo sentir a raiva em suas palavras e seu olhar. Na verdade, ainda tento processar tudo o que ela acabou de dizer. Ao saber que Saphira ficou tão mal com tudo isso, sinto ainda mais... culpa. Olho para ela e depois para Saphira.
- Como assim minha reputação me precede? – Cerro os olhos, observando-a. – O que quer dizer com isso?
- Não vai gostar da minha resposta.
Contraio o maxilar, respirando fundo. Sei o que ela quer dizer, e sei que não devia ter perguntado. Pigarreio.
- É muito... complicado. – Resmungo, sério. – Você não entenderia.
- A única merda que eu não entendo é por que caralhos você não foi embora ainda!
- Parem de brigar, por favor. – Resmunga Saphira, com os olhos fechados.
- Escuta aqui, Bruno. – Jaqueline sussurra. – Você vai sair da minha casa, agora.
- Mas...
- Eu não vou pedir de novo. Agradeço que a tenha trazido até aqui, mas agora é comigo.
- Jaquelin...
- VAI EMBORA! – Jaqueline grita e praticamente me fuzila com os olhos. Logo depois volta a atenção para Saphira.
Decido não insistir e saio. Entro no carro e a raiva e angústia começam a crescer em mim. "Mas que porra" é a única coisa que consigo dizer enquanto bato no volante e vou embora.

Too Good To Say GoodbyeOnde histórias criam vida. Descubra agora