Jealous

307 17 5
                                    

Acordo lentamente. Meus olhos abrem de forma preguiçosa enquanto sinto feixes de luz perpassarem meu rosto. Por algum motivo, estou sorrindo. Ao sentir um cheiro tão masculino e conhecido me envolver, imagino o porquê. Abro os olhos de uma vez, sorrindo mas... não há ninguém aqui. Franzo as sobrancelhas, tentando entender o que está acontecendo. Me sento na cama e a dor de cabeça que me atinge é tão forte que gemo de dor. Então, imediatamente, flashes da noite passada me atingem como um raio. Me lembro de estar na boate, dançar, jogar cartas, estar no carro de Bruno e... Ai, minha nossa. Ele dormiu comigo?
Olho novamente para a cama e para o quarto, mas não enxergo ninguém. Então, quebrando o silêncio, ouço barulhos vindo do banheiro. Imediatamente, meu coração acelera. Devagar, me levanto, ouvindo a torneira aberta. Tento espiar pela porta, mas não consigo. Então, a abro devagar, e...
- AH!
- AH! – Grito, me assustando também.
- Que susto, Sa! – Diz Jaque, fazendo uma careta enquanto escova os dentes.
- Desculpa, eu... – Digo, me sentindo atordoada e pensando no que falar. Eu o que? Achei que fosse Bruno aqui? Pigarreio. – Desculpa, estou meio desnorteada.
- Depois do que aconteceu ontem, eu também estaria. – Ela diz de forma quase incompreensível enquanto escova os dentes.
- O que aconteceu ontem? – Pergunto num sussurro, talvez com medo de saber a resposta.
Jaque não diz nada por um tempo. Apenas termina de escovar os dentes e me observa com uma expressão irônica.
- É uma longa história. Vem, eu te conto enquanto comemos.
Então, enquanto almoçamos, arregalo os olhos ao ouvir tudo o que Jaque diz. Sobre a boate, sobre eu dizer coisas em português, sobre Bruno ter nos trazido para casa, sobre eu ter... chorado.
- Minha nossa... – Apoio a mão na testa, me sentindo envergonhada. – Não acredito que fiz isso.
- Você não sabe beber, já te disse isso. – Jaque diz, levantando as sobrancelhas. Depois, parece suavizar sua expressão. – Mas, sabe... Ele até que cuidou de você.
- Bruno? – Faço uma careta.
- Sim. – Ela dá de ombros. – Ele tirou seus sapatos, te ajudou a deitar, te... acalmou.
Jaque diz isso com uma careta, como se não acreditasse no que ela própria está dizendo. Ela olha para o chão, como se estivesse pensando.
- Você estava desesperada, não sei porque. Chorava muito. – Ela faz uma careta de novo, parecendo encabulada.
Engulo em seco, agora lembrando um pouco. Me lembro de sentir desespero por Bruno. De talvez ter dito, ou tentado dizer algo sobre ele se tratar. Imediatamente sinto o peito apertar.
- Bruno ficou com você o tempo todo. – Jaque quase sussurra, ainda olhando para o chão. – Fui até o quarto pensando que você poderia precisar de ajuda, mas... ele parecia ter tudo sob controle. Não sei como, mas... ele parecia saber do que você precisava.
Quando ela diz isso, sinto meu corpo todo arrepiar. Engulo uma garfada de comida sentindo dor na garganta ao fazê-lo.
- Então, depois de algum tempo, ele saiu do quarto, dizendo que você tinha dormido. – Ela dá de ombros, agora voltando a comer.
Não digo nada por algum tempo. Apenas encaro a mesa, para nada em específico, sentindo as palavras de Jaque reverberarem em minha mente. Volto a sentir a sensação de Bruno comigo, o calor do seu corpo no meu, suas mãos acariciando meu cabelo até eu dormir. De repente, sinto o coração quente. De uma forma... boa.
- De qualquer forma, ainda não gosto dele. – Jaque diz, me tirando de meus pensamentos. Ela dá de ombros enquanto come.
- Eu até que gosto de sua implicância com ele. – Digo, sorrindo. – Além de ser engraçado, me mantém com juízo. Uma de nós precisa odiá-lo para que eu não faça tanta besteira.
- Um trabalho que eu adoro, se posso dizer... – Jaque faz uma careta tão engraçada que acabo rindo.
Então, sorrio, lembrando do que ela me contou.
- O que será que eu disse em português? – Pergunto. – Sempre que isso acontece eu nunca me lembro o que disse. Acho que é porque, na minha cabeça, eu estou falando em inglês, mas, de alguma forma, digo em português. – Rio.
Jaque, então, ao invés de rir, arregala os olhos. Ela levanta e corre para algum lugar. Franzo as sobrancelhas, tentando entender o que está acontecendo. Rapidamente ela volta com seu celular na mão, seus olhos fixos na tela.
- Me lembrei de que eu fiz uma coisa... – Ela diz, se sentando novamente. Segundos depois, ela apoia seu celular no meio da mesa e me encara com olhos ansiosos.
De repente, ouço o que parece minha voz e muito barulho, como conversas e música. Quando raciocino, arregalo os olhos.
- Você me gravou ontem?!
- Sim! – Ela afirma, feliz demais. – Você disse que eu poderia gravar se acontecesse de novo. Além disso, eu quero finalmente matar minha curiosidade para saber o que você fala quando está bêbada.
Não digo nada. Apenas cerro os olhos e tento ouvir. De repente, ouço minha voz um tanto embriagada dizendo "Oi, Bruninho". Arregalo os olhos e olho para Jaque. Ela não diz nada, apenas ouve também, colando os lábios para não rir. Bruno, na gravação, parece perguntar alguma coisa, e eu digo que é um apelido carinhoso. Então, eu digo coisas como Bruno ser gostoso e me esforçar para não subir em cima dele.
- Minha nossa. – Arregalo os olhos e tapo a boca, como se eu pudesse evitar falar algo que já está gravado. Meu coração acelera e sinto medo de ouvir o resto.
E tenho razão em sentir medo, porque minhas próximas palavras são como eu adoro quando ele toca guitarra mas adoraria ainda mais se tocasse em mim. Ou que seria apenas uma noite para eu ficar mansa. Minha nossa... Qual o meu problema?!
A conversa continua com Bruno e Jaque dizendo algumas coisas, e eu dizendo outras. Então, o áudio finaliza. Meus olhos ainda estão arregalados e minha mão ainda está em minha boca. Me sinto... chocada.
- E aí? O que você disse? – Jaque pergunta, parecendo ansiosa demais. – E nem ouse dizer que não é nada! Pela sua expressão deve ter sido tudo! Se você não me disser juro que peço para algum tradutor traduzir isso pra mim....
Olho para Jaque, meus olhos ainda arregalados. Sentindo o coração acelerado, decido falar tudo de uma vez.
- Eu disse que se eu sentar nele ninguém me tira de cima, que ele é muito gostoso, que estava me esforçando para não subir em cima dele, que adoro ele tocando guitarra mas que adoraria ainda mais se tocasse em mim.
Quando termino de dizer, Jaque me olha com olhos arregalados também. Ela me encara por alguns segundos, parecendo... chocada. Depois, grita e ri alto.
- Amiga! – Ela bate na mesa e gargalha com vontade. Eu, por outro lado, me sinto envergonhada demais para isso. – Eu não acredito nisso! Você... – Ela tenta falar, mas ri ainda mais. – Você simplesmente se declarou para ele em português. Quer dizer, declarou seu tesão em português! Minha nossa, não acredito nisso...
Ela continua rindo, tanto que algumas lágrimas escorrem de seus olhos. Depois de alguns segundos, devagar, começo a rir também. Imagino a cena: eu na boate, bêbada e falando em português enquanto Bruno fica totalmente confuso. Não aguento e rio juntamente com Jaque. Nós duas gargalhamos por muito tempo. Só depois de respirar fundo é que consigo voltar a falar.
- Minha nossa, eu nunca mais vou beber...
- Eu duvido. – Diz Jaque, secando seus olhos com os dedos. – Mas prometo que, quando você beber, eu sempre irei gravar. Minha nossa, isso aqui tá bom demais...
Ela volta a ouvir o áudio, e nós duas voltamos a rir. Me sinto feliz demais, mas, ao mesmo tempo, incomodada. Bruno, por algum motivo, continua estranho comigo, mas, ao mesmo tempo, parece... se preocupar. Pelo menos pelo que Jaque me contou, ele pareceu... atencioso. Respiro fundo, pensando que preciso descobrir o que está acontecendo, senão irei enlouquecer.

Too Good To Say GoodbyeOnde histórias criam vida. Descubra agora