Take a risk

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Abro os olhos devagar. No início, não consigo enxergar direito, tudo parece embaçado demais. Então pisco algumas vezes, e logo percebo que não estou no hotel.
- Mas que porra... – Resmungo, tentando me sentar e sendo impedida por um acesso em meu braço.
- SA?! GRAÇAS A DEUS!
Cerro os olhos, tentando focar a imagem à minha frente, mas sinto uma leve tontura enquanto fecho os olhos.
- Não, não, não, pode deitar aí.
Deito novamente e depois de alguns segundos, abro os olhos e consigo enxergar com mais nitidez, identificando Jaque. Sem mexer um músculo, reviro os olhos, tentando enxergar mais alguma coisa, mas só vejo paredes brancas, uma poltrona do lado esquerdo, um sofá do lado direito mais à frente, e uma porta também branca. Olho para mim mesma e vejo um pijama branco, como um avental.
- Onde eu tô? – Minha voz soa baixa e rouca.
- No hospital.
Jaque me olha com uma expressão indecifrável, e vejo sua bolsa na poltrona enquanto alguns copos e um recipiente estão numa mesinha. Acredito que ela esteja aqui há um tempo.
- O que aconteceu? – Fecho os olhos novamente, temendo outra tontura.
Antes de falar, Jaque respira fundo.
- Você estava discutindo com Bruno e então desmaiou, de repente.
Quando Jaque menciona o nome de Bruno, rapidamente me lembro do que senti antes de desmaiar. Coração disparado, dor no peito, tontura e fraqueza. Mas também lembro de suas palavras antes de tudo isso. Algo relacionado a... recomeçar? Suspiro, novamente sentindo tontura ao pensar.
- Você ouviu a discussão? – Pergunto, de olhos fechados.
- Mais ou menos. Eu estava dormindo e acordei ouvindo você gritar. Quando abri a porta, Bruno estava te pegando do chão.
Olho para Jaque e faço uma careta. Só agora consigo notar ao mesmo tempo a preocupação e o alívio em seu olhar.
- E estou há quanto tempo desacordada? – Pergunto, ainda com a voz baixa.
- 8 horas. – Jaque responde. – E ficará aqui até amanhã, em observação.
Levanto as sobrancelhas, agora me sentindo completamente surpresa.
- Tá todo mundo muito preocupado com você, sabia? – Ela diz, seus olhos agora marejando. – Quando te vi no chão fiquei tão desesperada...
Jaque segura em minha mão e consigo sentir o desespero em sua voz. Uma única lágrima cai de seu rosto. Não consigo dizer nada, apenas me sentir completamente confusa. Como isso foi acontecer?! Ela respira fundo e parece mais séria ao falar.
- Desculpe, eu só estava mesmo muito preocupada. Poderia ter acontecido uma coisa muito pior com você, sabia?
- Como assim? – Franzo as sobrancelhas.
Jaque novamente respira fundo antes de falar.
- Você chegou aqui quase desidratada, com 2 quilos a menos que o essencial e vítima de uma arritmia.
- Arritmia?! – Arregalo os olhos, me sentindo completamente surpresa. Agora entendo por que senti o coração bater mais rápido abruptamente e toda aquela dor no peito.
- Pois é. Sua saúde não anda das melhores, e o nervoso contribuiu para que desencadeasse isso... – Jaque aponta para mim, depois, respira fundo. – Sa, você não parece ter se alimentado bem nos últimos dias, e além disso, sofre com mudanças climáticas, viagens cansativas e trabalho intenso o tempo todo. Pelo que o médico disse não foi algo tão grave, mas poderia ter sido...
Jaque cola os lábios, parecendo segurar o choro. E então me sinto a pessoa mais fraca e idiota que já existiu.
- Eu... sinto muito. – Digo, a voz ainda mais baixa. – Não é intencional.
- Eu sei que não, mas... – Dessa vez, Jaque respira fundo de novo, mas parece fazer isso para segurar o choro. – Por favor, independentemente do que aconteceu entre você e Bruno, não deixe isso te destruir. Não deixe isso acabar com você aos poucos como está acontecendo. – Jaque segura um pouco mais firme em minha mão, e quando percebo, uma lágrima escorre do meu olho. – Você sabe que pode contar comigo sempre que quiser, Sa, então, por favor, quando se sentir triste, mal, ruim, ou qualquer merda que for, me liga que eu vou aonde você estiver. Só não quero que algo pior aconteça com você, ok?
Dessa vez as lágrimas vencem Jaque, e ela chora. E eu também. Mesmo um tanto desengonçadas, nos abraçamos. É aquele abraço carinhoso, cheio de ternura, amizade e amor. Um dos meus preferidos.
- Obrigada. Eu te amo. – É o que eu sussurro para ela, agora olhando-a nos olhos.
- Eu também. – É o que ela diz, agora se afastando um pouco e secando as lágrimas. – Ok, agora chega disso. Alto astral! Alto astral! – Jaque faz uma careta engraçada, que me faz rir.
- Não sei se estou nessa vibe...
- Pois vai estar, afinal, seu aniversário já é depois de amanhã!
- Argh, tinha até esquecido disso... – Comento, revirando um pouco os olhos. Depois olho ao redor, notando o quanto o quarto de hotel parece... luxuoso. Devo estar num dos melhores, com certeza. – Minha nossa, imagina a conta desse hospital no final do dia. Depois de pagar, não terei um centavo para festas de aniversário... – Digo, rindo.
- Vai, sim, pois Bruno já arcou com todas as despesas daqui.
- O quê?! – Se eu tivesse forças, gritaria.
- Pois é. Enquanto você estava aqui, ainda inconsciente, resolvi sair para ligar para Liza. No caminho encontrei Bruno conversando com uma das secretárias e ouvi ele dizendo que seria o responsável por todo e qualquer custo do hospital. – Jaque dá de ombros, indiferente. – O mínimo, eu acho.
Não digo nada, apenas reflito sobre a informação que acabei de receber. Jaque continua falando, e tento prestar atenção.
- Só de pirraça não dei notícia nenhuma sua para Bruno depois que ele saiu daqui. Ao considerar o desespero e o medo estampados no rosto dele ao te carregar até o carro para te trazer aqui, tenho certeza que ele deve estar arrancando os cabelos agora...
- Me carregou até o carro?! – Minha mente tenta lembrar de algo assim, mas não consigo pensar em nada. Óbvio, eu já estava inconsciente.
- Sim, e a julgar pelo seu nervosismo, tenho certeza de que te carregaria até o hospital se fosse preciso. Ele nem sequer esperou o elevador chegar, simplesmente saiu com você nos braços pela escada enquanto eu corria atrás dele.
Meu coração, não intencionalmente, pula dentro de mim ao ouvir as palavras de Jaque ao pensar que Bruno se preocupou comigo, mas imediatamente cesso esses sentimentos, dizendo pra mim mesma que Bruno, na verdade, não se importa nem um pouco.
- Incrível o que o peso na consciência pode fazer a uma pessoa. – Digo, rindo um pouco.
- Não sei se é só isso... – Jaque diz, parecendo refletir enquanto olha para nada em específico. – Bruno parecia realmente preocupado. Ele teve que ir embora para fazer o show, mas acho que se dependesse dele, continuaria aqui. Me disse diversas vezes para atualizá-lo sobre você, mas, como já disse, não o fiz. – Jaque empina seu nariz, o que me faz rir um pouco. – De qualquer forma, ele ficou aqui o tempo todo. Não comeu e nem dormiu, esperando você acordar. Foi chato dividir o quarto com ele porque ele não dizia nada, só te observava, o que quase me fez morrer de tédio... – Jaque revira os olhos, mas dessa vez não rio. – Como eu já disse, ele foi fazer o show direto daqui. Parecia cansado, mas mesmo assim não saiu daqui nem por 1 minuto.
Engulo em seco ouvindo Jaque falar. E, inevitavelmente, sinto o coração... dançar. Respiro fundo, não sabendo o que dizer. Então, decido contar o que aconteceu antes disso.
- Ele disse que quer recomeçar comigo. – Digo, a voz ainda baixa. – Quando estávamos discutindo... Ele disse que... disse que faria qualquer coisa por mim.
Jaque não diz nada por um tempo, apenas analisa meu rosto, uma expressão indecifrável em seu rosto. Quando ela fala, sua voz também é baixa.
- Acha que ele está sendo sincero?
- Eu... – Engulo em seco, sabendo que, uns dias atrás, eu teria a resposta certeira na ponta da língua. Agora, depois de tudo, só o que eu consigo responder é: - Não sei.
Novamente Jaque não diz nada, apenas acaricia minha mão. O sorriso em seu rosto me demonstra que não preciso falar sobre isso se não quiser. Então decido conversar sobre outra coisa. E assim ficamos, conversando e rindo durante um tempo, e me sinto melhor rapidamente. Mas, claro, Bruno sempre em meus pensamentos, mas agora de uma forma... intrigante. Ele fez muito por mim todos esses dias... Será que isso realmente quer dizer que ele se importa? A dúvida não sai de minha mente, assim como Bruno.
Quando consigo me sentar com a ajuda de Jaque, sinto meu corpo se acostumando aos poucos, e a tontura não existe mais. Olho novamente ao meu redor, agora enxergando tudo com mais clareza. Realmente o quarto é luxuoso, com sofás e poltronas, armários, banheiro, mesa de centro, e até uma cama para o acompanhante. Ainda correndo os olhos pelo local, vejo uma pequena mesa ao lado da janela. Ao ver o que está em cima dela, cerro os olhos.
- O que é aquilo? – Digo, apontando.
Jaque não responde nada, apenas me ajuda a sair da cama. Apoiada no suporte para o soro, sinto agora o gelado do chão nos pés. Imediatamente sinto um arzinho entrar por esse pijama ridículo do hospital, o que me faz arrepiar um pouco. Ao chegar mais perto da tal mesinha, consigo enxergar melhor e encontro um vaso enorme, totalmente recheado com rosas vermelhas, e um cartão no meio delas, além de um pequeno pacote muito bem embrulhado ao lado. Me aproximo para cheirar e imediatamente sinto o perfume das rosas. Quando pego o cartão em mãos, noto que não há nome no envelope. O cartão é bege e perfumado, e só pelo perfume, já sei de quem é. Pegando-o e abrindo-o, reconheço imediatamente a letra um tanto garranchada que já li algumas vezes, e que faz meu coração acelerar.

Too Good To Say GoodbyeOnde histórias criam vida. Descubra agora