Apenas me divertir

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- Preparada para seu último dia? – Pergunta Jaque enquanto calço meu tênis.
- Na verdade, não. – Respondo um tanto melancólica. – Vou sentir muita falta.
O mês passou rápido, tanto que já estamos no último dia de agosto. Bruno não tentou se aproximar de mim novamente, o que me deixou aliviada e... triste. É ótimo que ele tenha feito isso, afinal, eu mesma quis que isso acontecesse. Mas é inevitável perceber que me sinto frustrada, além disso, pensando no que disse para ele da última vez. As palavras simplesmente jorraram da minha boca, sem que eu sequer pudesse pensar antes de falar. O que será que ele achou do que eu disse? Será que ele também pensa sobre isso? Bom, não importa. Mesmo assim, com o tempo, percebo que estou esquecendo-o, aos poucos. É claro que não consigo ignorar as batidas mais fortes que meu coração ainda dá quando ele sorri para mim. É também triste pensar que meu contrato com a Atlantic Records acaba hoje, mas ao mesmo tempo me sinto feliz sabendo que na mesma data, o álbum 24k Magic está oficialmente pronto. Trabalhamos tão duro nele, e no final, Bruno só deixou nossas vozes em Chunky, o que, na verdade, acabou sendo a melhor escolha. Ele realmente sabe o que fazer quando se trata de música. De qualquer forma, pensar que não o verei mais é um misto de alívio e tristeza.

- Eu sei, amiga. Mas pensa no quanto você cresceu nesse emprego... Com essa experiência, qualquer gravadora vai querer te contratar!
- É, talvez...
- Bom, estou indo. – Jaque me dá um beijo. – Qualquer coisa me liga. – E assim ela sai pela porta.
Aproveito o dia ensolarado e vou correr. Sinto minha saúde e meu físico melhorarem em 100%, e uma ponta de orgulho cresce em mim. Quando volto para casa, tomo um banho e falo com meus pais e meu irmão pelo Skype; por causa do fuso horário, está noite no Brasil, mas eles não parecem se importar. Ficamos cerca de 2 horas conversando. Logo percebo que estou atrasada e me troco às pressas, me despedindo deles e vestindo um vestido longo qualquer, uma rasteirinha e o cabelo solto. Hoje ele está um ondulado quase cacheado muito bonito. Espero Jaque no restaurante, almoçamos juntas e depois ela me deixa no prédio. Chego exatamente à meio dia e meia.
- Ei, pessoal. – Digo entrando. São segundos para eu perceber que todos já estão no estúdio, parecendo... felizes.
- Só faltava você. – Diz Phil, sorrindo.
- Ih, nem vem que hoje eu nem estou atrasada. – Todos riem enquanto sento no sofá, ao lado de Amber. Bruno me acompanha com os olhos.
- Ok, já que Saphira chegou, vamos começar. – Diz ele, sorrindo. – Como vocês já sabem, hoje é o último dia de gravação e produção do álbum, e também, infelizmente, o último dia das meninas trabalhando conosco. Só quero... agradecer a vocês duas. Trabalhar com vocês foi... incrível. – Todos os meninos da banda sorriem e concordam enquanto Bruno fala. – Hoje eu chamei vocês aqui para, finalmente, ouvirmos o álbum 24k Magic pronto. Sei que já ouvimos as músicas várias e várias vezes, mas acreditem em mim, não dá para comparar a satisfação de quando você se senta e ouve, por completo, o trabalho finalmente pronto.
Eu e Amber nos entreolhamos, sorrindo, alegres, e principalmente ansiosas.
- Peço a todos que relaxem e curtam nosso novo álbum. – Bruno sorri para nós, se dirige para a mesa de gravação e nos apresenta o álbum.
O álbum inicia com 24k Magic, e quando ouço os arranjos, as vozes e o instrumental, percebo que Bruno tem total razão. As músicas foram passando e a satisfação e o orgulho de um trabalho bem feito crescem cada vez mais em mim, e percebo que em Amber também. Ouvimos tudo com atenção, mas também com emoção, e percebo mais uma vez o quão Bruno é incrível como músico, o quanto o álbum está... impecável. Não consigo ficar parada em Chunky, Perm, That's What I Like, Finesse, e Straight Up & Down. Me arrepio com Versace On The Floor. Quase choro ao ouvir novamente Halle Berry em Calling All My Lovelies. O álbum termina com Too Good To Say Goodbye, e ao final, batemos palmas. Além de satisfeita, me sinto... realizada. Estou ouvindo em primeira mão o que será, com certeza, um dos melhores álbuns já lançados. Como profissional na música, fazer parte disso é... surreal. Seco uma lágrima que cai de meus olhos, sentindo como se um filme passasse pela minha cabeça. Participar disso foi, no mínimo, um sonho.
- Isso está... – Minha voz está um pouco embargada. Sorrio, sentindo outra lágrima cair. – Isso está perfeito. Droga, estou até chorando!
Todos riem por um instante enquanto Bruno me observa, sorrindo.
- Só quero dizer obrigada pela oportunidade de fazer parte disso. – Sorrio novamente, sentindo a satisfação me invadir. – Vocês são bons pra caralho.
Falo "caralho" em português, e sorrio ainda mais ao perceber que todos já conhecem a palavra, graças a mim. Uma das melhores partes de trabalhar com eles foi ensiná-los a falar várias palavras em português. Outra vez eles riem e aplaudem. Amber também diz algumas palavras, parecendo estar tão emotiva quanto eu. Quando Bruno irá dizer algo, Liza entra pela porta.
- Eles chegaram. – Ela diz com um sorriso simpático. Bruno sorri de volta.
- Ok. Pessoal, vamos nos dirigir à sala 21, por favor.
- Antes, uma foto. – Diz Phil, se levantando assim como todos os meninos.
Todos nos reunimos, um ao lado do outro. Estou indo para a ponta quando vejo Bruno fazendo um sinal para que eu fique do seu lado. Sorrindo um tanto sem graça, vou até lá. Ele passa seu braço pelos meus ombros e posa para a foto. Sorrio, sentindo meus olhos ainda marejados. E meu corpo arrepiar ao sentir o perfume de Bruno tão perto de mim.
Recebo a foto em meu celular e choro ao vê-la. Ficou perfeita, com todos os meninos, um ao lado do outro. Posto em meu Instagram com a legenda contendo apenas um emoji de coração, resumindo tudo o que vivi durante esse tempo com eles. Phil passa seu braço pelo meu ombro e me puxa para um abraço. Sorrio, tentando parar de chorar. Saímos do estúdio e alguns andares depois entramos numa sala grande, com uma mesa também grande recheada de comida e várias pessoas por perto. Há vários pufes espalhados pela sala, como também alguns sofás. Um ambiente muito confortável, com certeza. Me acomodo em um dos sofás enquanto Amber se aproxima com alguns pãezinhos nas mãos.
- O que tá acontecendo? Por que estamos aqui? – Pergunto, quase sussurrando.
- Não faço ideia. – Diz ela colocando alguma coisa na boca. – Só sei que a comida tá ótima.
Corro os olhos pelo espaço e rapidamente percebo Bruno cumprimentando algumas pessoas. Depois de uns 10 minutos, pede a atenção de todos.
- Pessoal... Quero agradecer a presença de todos aqui nessa tarde. Como vocês sabem, hoje é o último dia de gravação do meu novo álbum. – Quando ele fala, várias pessoas batem palmas, algumas até gritando. – Então, quero que se sintam à vontade e, como meus convidados especiais, peço que se sentem e apreciem, em primeira mão, 24k Magic!
Todos gritam e 24k Magic começa a tocar. Durante todo o tempo, as pessoas pareciam estar hipnotizadas pela música. Algumas dançando, outras apenas ouvindo, ou apreciando... Quando ela acaba, todos batem palmas, inclusive eu. Sorrio, percebendo a alegria de todos aqui.
- Obrigado, obrigado. O álbum lança em novembro, aguardem. Agora, aproveitem essa mesa e comam!
Depois de mais palmas, todos voltam sua atenção para a mesa.
- Ei, ei, Phil! – Grito seu nome quando ele está passando perto.
- Oi.
- O que tá acontecendo?
- Bruno convidou sua família e alguns amigos íntimos para virem aqui hoje ouvir, exclusivamente, 24k Magic.
- Ah, sim. – Sorrio, observando o ambiente. Depois, cerro os olhos. – Então, tipo, por hoje é só?
- Sim.
- Então... acabou?
- Sim, acabou. – Diz Phil, me olhando, meio sério e meio sorrindo.
- Bom, então, até mais... – Sorrio, sentindo meus olhos marejando. – Eu só quero dizer que foi... incrível trabalhar com você. Uma experiência única que levarei para o resto da vida. Você é incrível. Obrigada por tudo.
Phil sorri para mim, o que faz uma lágrima cair de meu olho novamente.
- Você é incrível, Saphira. Sei que tem um futuro lindo pela frente. – Ele me abraça, um abraço com muito carinho. – Obrigado.
Phil diz obrigado em português, o que faz meus olhos marejarem ainda mais. Sorrio.
- Foi uma honra poder ensinar um pouco de português para vocês. – Rio, secando uma lágrima. Phil sorri.
- Foi uma honra aprender, gatinha. – Phil diz gatinha também em português, o que me faz rir mais uma vez e sentir o coração quentinho.
Então me despeço de um por um. Todos os meninos demonstram muito afeto, o que me deixa ainda mais emocionada. Exceto Eric, que parece estar sempre desconfiado de mim, por algum motivo. Talvez por ter me conhecido enquanto cometia o crime de invasão... É, pode ser. Quando reencontro Amber, ela está chorando.
- Ei, o que foi?
- Nada, só queria dizer que foi ótimo trabalhar com você, você é... incrível. Droga, eu sempre me emociono em despedidas. – Amber faz uma careta, o que me faz rir e abraça-la forte.
- Você também é incrível. E olha, isso não é um adeus, ainda iremos nos ver mais vezes, certo?
- Certo. – Responde ela sorrindo e secando as lágrimas. – Olha, eu sei que trabalhamos bem juntas, mas não posso deixar de reconhecer o trabalho que você fez na produção das músicas. Você foi demais e, cá entre nós. – Ela se aproxima e sussurra. – O álbum não teria ficado tão bom sem a sua ajuda e suas ideias.
- Obrigada, Amber. Agora sou eu quem está chorando. – Rio e seco lágrimas de meu rosto. – Obrigada, de verdade. Foi maravilhoso conhecer e trabalhar com você. – Ela me abraça mais uma vez, sorri e vai embora.
Seco mais lágrimas de meu rosto e olho para a frente. Bruno está conversando com um casal, e parecem estar bem entretidos. Resolvo não os atrapalhar, afinal, seria até melhor sair sem uma despedida. Ter que me despedir dele pode ser muito difícil. Mesmo depois de tudo, sei que ainda sinto algo por ele. Algo que ainda não sei o que é, mas que agora não importa mais. Quanto mais longe eu estiver, melhor.
Já estou saindo da sala quando ouço uma voz familiar me chamar. Sinto um calafrio me atingir, e a única coisa que raciocino é que não posso olhar para ele. Não, seria muito difícil para mim. Começo a andar mais rápido e sinto Bruno mais perto, me chamando pelo nome. Desesperada, não penso duas vezes e saio correndo. Ouço ele me chamando mais algumas vezes, mas alguns segundos depois, sua voz some. Corro até as escadas e as desço rapidamente. Chegando no hall de entrada, sinto que meu coração irá sair pela boca. Encontro Liza conversando com outra secretária. Imediatamente me lembro do que ela disse para Jaque quando jantou em nossa casa. Como Jaque, eu também tenho que esquecer o passado. Tenho que resolver isso, botar um ponto final. Ainda arfando, chego perto dela e abro minha bolsa.
- Liza... oi. – Digo, um tanto apreensiva. Ela me olha, sorrindo, parecendo ignorar o fato de eu estar arfando.
- É uma despedida? Porque se for, preciso dizer que odeio despedidas.
- É, mais ou menos... – Sorrio, um tanto sem graça. Mexo em minha bolsa, pego a pulseira e a estendo para Liza. – Preciso que entregue isso para Bruno.
Ela me encara por alguns segundos, sem dizer nada.
- Tem certeza?
- Absoluta.
- Olha, Saphir...
- Liza, você disse para Jaque que ela precisava resolver coisas do passado, não disse? É exatamente isso que eu estou fazendo. – Respiro fundo, tentando controlar minha respiração. – É nítido que Bruno não quer nada comigo, e mesmo ainda sentindo algo por ele, não posso insistir. Preciso deixar isso no passado.
Liza me encara por algum tempo, séria.
- Você disse bem. Eu disse aquilo para a Jaqueline, não para você.
Ficamos nos olhando por algum tempo, e quando percebo, uma lágrima cai em meu rosto.
- Liza, por favor... – Minha voz está embargada. – Só faz isso para mim.
Ainda parecendo contrariada, ela pega a pulseira de minha mão.
- Obrigada. – Digo quase num sussurro. Sorrio e volto a andar, indo embora. Então, estaciono no lugar. – Liza! – A chamo quando estou quase na saída. Ela me olha e sorrio. – Sentirei muito a sua falta.
- É claro que vai. – Diz ela sorrindo, e depois volta a atenção para a secretária.
Rindo e secando algumas lágrimas, chamo um táxi e entro. Olho para trás, vendo o prédio da Atlantic Records sumindo de vista, e sinto um aperto no peito. Inesperadamente, outra lágrima desce pelo meu rosto, e ela está carregada de dor e já de uma saudade imensa de todos, principalmente... de Bruno.

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