Party monster

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Bruno ON

Estou sentado no sofá me sentindo inundado por pensamentos. E claro, a maioria deles a ver com Saphira. Respiro fundo, pensando no quando odeio toda essa situação. Então ouço batidas na porta. Bufando, me levanto e a abro. Quando o vejo, arregalo os olhos.
- Doutor Cromwell? – Pergunto, piscando forte para ter certeza de que estou realmente vendo-o a minha frente.
- Posso entrar? – Ele pergunta, sorrindo.
Faço uma careta, demonstrando minha confusão. Então me afasto um pouco da porta para que ele entre. Ao fechá-la, continuo confuso.
- O que está fazendo aqui? – Pergunto, franzindo as sobrancelhas.
- Como você não compareceu na consulta e não atendeu nenhuma de minhas ligações, tive que arrumar uma forma de te encontrar. Desculpe por vir sem avisar, mas é... urgente.
Dessa vez, sinto um calafrio percorrer toda minha espinha. E fecho a cara, sabendo do que ele irá falar.
- Sei do que veio falar, e tenho que dizer que não tenho interesse. – Digo, me dirigindo ao pequeno bar.
- Bruno, preciso que me escute. – Ele diz, me seguindo, agora parecendo preocupado. – Precisamos conversar sobre seu caso.
- Sobre o câncer. – Digo, sendo direto.
Ele não diz nada, apenas afirma positivamente com a cabeça. Reviro um pouco os olhos.
- Acho que já sei tudo o que precisava saber... – Resmungo, tomando um gole de whiskey.
- Na verdade, não sabe. – Ele diz.
O encaro, contraindo o maxilar, esperando que ele diga algo.
- Seu caso é... muito diferente. – Ele diz, franzindo as sobrancelhas. – Atípico, com certeza.
- Porque? – Pergunto, apenas.
- Só pelo fato de ainda conseguir performar em cima de palcos já te torna um caso completamente fora do normal. Pacientes com o mesmo tipo de câncer não conseguem sequer caminhar sem precisar de oxigênio.
Olho para ele e cerro os olhos, tentando entender o que está querendo dizer.
- Não tenho certeza, mas acho que os medicamentos que formulamos para você pode ter alguma coisa a ver com isso. Precisamos de mais exames e mais estudos para termos certeza.
- Não tenho tempo pra isso. – Digo, tomando outro gole. – Além do mais, tratamentos são ineficazes a essa altura, certo?
Ele não diz nada, apenas me encara.
- Sei que agora não adianta mais eu investir em tratamentos. Mesmo se eu fizesse, é tarde demais para isso, não é?
Mesmo parecendo desgostoso, ele afirma com a cabeça. Contraio o maxilar, bebendo para sentir menos angústia.
- Mas ainda podemos considerar a cirurgia. – Ele diz, levantando as sobrancelhas, parecendo me oferecer esperança.
- Aquela de risco altíssimo? – Pergunto, levantando uma sobrancelha.
- Toda e qualquer cirurgia tem riscos, Bruno. Desde uma extração de dente até um transplante de órgãos.
- Mas não é de uma simples extração de dentes que estamos falando.
- Sei disso, mas...
- Qual é a chance de eu sobreviver depois dessa cirurgia? – Pergunto, diretamente.
- Alta. – Ele responde.
- E qual a chance de eu morrer? – Cerro os olhos.
Antes dele responder, parece engolir em seco, procurando palavras. Então respira fundo.
- Proporcional. – Ele diz, apenas.
- Pf. – Resmungo, tomando outro longo gole. – Dentre as opções de morrer numa maca ou fazendo o que eu amo, prefiro a segunda.
- Bruno, você n...
- Os tratamentos já não adiantam mais. – O interrompo, me sentindo irritado. – A única opção que eu tenho é a cirurgia?
- Como eu disse, precisamos de mais exames e estudos para...
- Sim ou não? – Pergunto, interrompendo-o novamente.
Ele respira fundo, e, sem escapatória, me responde.
- Infelizmente sim, Bruno.
Respiro fundo também, novamente sentindo a angústia. Finalizo o copo de bebida.
- Obrigado por ter vindo até aqui. – Digo, enchendo o copo novamente. – É só isso?
Noto minhas mãos tremendo enquanto encho o copo. Respiro fundo e sinto meus olhos queimando. Me sinto... abalado.
- Noto que você precisa de um tempo para digerir isso... – Ele diz, me analisando. Depois, tenta sorrir. – Estarei te esperando em meu consultório quando estiver pronto para conversar. Só... não demore, ok?
Não consigo responder. Doutor Cromwell percebe e, dizendo boa noite, sai pela porta. É quando solto o ar que nem percebi que estava segurando. E sinto desespero. Tanto que minhas mãos continuam tremendo. E algumas lágrimas caem de meus olhos.
Bebo mais um pouco, sentindo tanta angústia que chega a doer o peito.

Too Good To Say GoodbyeOnde histórias criam vida. Descubra agora