Escolhas

304 14 18
                                    

Saphira ON

Ouço, de repente, o que parece ser meu celular tocando. Abro os olhos com dificuldade, acostumando-os com a claridade. Estico meu braço até o chão, tentando tatear onde ele está. O encontro dentro da minha bolsa, embaixo do sofá. Ainda com dificuldade, tento ver quem está ligando. Não reconheço o número. Ao atender, faço uma careta.
- Alô? – Minha voz soa como um sussurro rouco. Horrível.
- Saphira?! Onde você está?!
- Trisha? – Faço uma careta ao reconhecer a voz dela. Por alguns segundos, penso por que caralhos ela está me ligando. – O que foi?!
- Onde você está?! – Ela repete. – Vamos sair daqui 3 horas e você ainda nem deu as caras!
De repente, a ficha cai. A noite anterior volta em minha mente de uma vez, me fazendo sentir tontura. Arregalo os olhos, olhando ao redor. Pisco forte e vejo várias meninas deitadas nos outros sofás, algumas outras deitadas no carpete. Há copos por todo lado, além de garrafas. O local é enorme, com lustres pendendo e luxo por todo canto.
- AH! – Tapo a boca num susto.
De repente, a ficha cai novamente e me lembro de onde estou. Caralho, estou no apartamento do The Weeknd. Eu dormi aqui! Caralho, caralho, caralho...
- Saphira? O que foi?!
- Eu... eu... – Tento me localizar, mas me sinto completamente confusa, sem saber o que dizer. – Minha nossa, eu estou na França. – É o que eu digo. É óbvio que não diria especificamente apartamento do The Weeknd.
- Caralho... – Trisha pragueja. – Você precisa vir pra cá, agora! Já, já, vamos pegar o voo.
- Puta que pariu... – Praguejo também, sentindo um pouco de dor de cabeça e desespero.
- Eu te encubro aqui. – Ela diz. – Só vem logo!
Então, a ligação encerra. E olho ao redor novamente. Não ouço nada a não ser respirações pesadas de várias pessoas dormindo. Minha nossa, o que deu em mim, porra?! Não era pra eu ter dormido aqui! Caralho!
Rapidamente e silenciosamente, me levanto. Caminhando por aqui, encontro um banheiro. Então faço o básico, somente para não parecer uma louca completa andando pela rua. Meu rosto está horrível por conta da maquiagem borrada, e o máximo que consigo fazer é tirar o excesso. Prendo meu cabelo agora todo embolado. Eu ainda estou horrível, mas antes estava pior.
Então, na ponta dos pés, vou até a porta, segurando meus saltos nas mãos. Antes de sair, olho ao redor, procurando por The Weeknd. Não o vejo por aqui, então, tentando ser silenciosa, abro a porta e a fecho com todo o cuidado. Decido pegar as escadas, afinal, a chance de alguém me ver nesse estado é maior se pegar o elevador. Desço como um raio, finalmente chegando ao hall de entrada. É tão luxuoso quanto o apartamento. Todos os funcionários imediatamente me encaram, alguns disfarçando bem, outros nem tanto. Sorrindo completamente sem graça, caminho para a saída, ansiando em sair daqui.
Quando finalmente estou na rua, um senhor me aborda, e grito de susto.
- Saphira?
- AH! – Grito, logo tapando minha boca.
O analiso duas vezes e chego à conclusão de que não o conheço. Seguro firme em minha bolsa, temendo ser um louco ou um ladrão. Porém, pensando bem, pelo uniforme que está vestindo, não parece ser nenhum dos dois.
- Quem é você?! – Pergunto, talvez um tanto rude. Não é pra menos, afinal, esse homem por algum motivo sabe meu nome e eu não faço ideia de quem seja.
- O senhor Abel me deu instruções de te levar até ao aeroporto. Toma, suas passagens. – Ele se move para retirar algo do bolso e pulo para trás, temendo ser uma faca.
Já vivi muito nas ruas do Rio de Janeiro pra saber que não pode dar mole. Porém, contrariando tudo o que penso, ele apenas estica sua mão, segurando uma folha de papel. Faço uma careta, encarando-o por alguns segundos. Então, devagar, sem sair do lugar, apenas estico minha mão, pegando-a rapidamente. Olho para a passagem e realmente parece real. Volto a olhar para ele.
- Vamos? – Ele diz, abrindo a porta de um carro para mim.
Continuo com a careta no rosto, analisando a situação. Então, de repente, me lembro de que Abel realmente me disse algo sobre providenciar tudo para minha volta, inclusive carro e passagens. Mesmo assim, não conheço esse homem. O analiso novamente, agora notando que está com o uniforme do hotel e um pequeno crachá com o nome "Robert". Ele sorri afetuosamente, esperando que eu entre. Mesmo um tanto desconfiada, entro no carro. Durante todo o caminho fico de olho nele e na rota em que está fazendo, preparada para talvez ter que pular em seu pescoço ou pular do carro com ele ainda em movimento. Porém, depois de alguns minutos, estou no aeroporto. Ao sair do carro, me sinto aliviada por não ter sido desmembrada por um estranho, mas também cansada e envergonhada por andar aqui nesse estado. O agradeço, sem graça, e caminho para dentro. Quando finalmente estou no avião, tento relaxar. Penso em tudo o que aconteceu e sinto uma confusão na minha mente. Mas não consigo pensar por muito tempo, porque apago em segundos, e só acordo quando chego.


- Ah, olha quem chegou! – Diz Phil, quando finalmente entro no corredor do meu quarto de hotel.
Ele caminha até mim seriamente. Imediatamente me lembro do que Trisha disse sobre me "encobrir". Minha nossa, é claro que ela deve ter contado que eu estava dormindo em outro país e por isso me atrasei. Talvez deva ter até aumentado algumas coisas. Tento sorrir e já preparar um discurso de desculpas quando Trisha abre a porta do quarto, estica a cabeça para fora e me olha com olhos arregalados.
- Saphira! Graças a...
Antes que ela termine de falar, Phil chega até mim, sério. Ele me analisa por alguns segundos, suas sobrancelhas franzidas.
- Oi, Phil. – Digo, tentando sorrir.
- Está atrasada. – Ele diz, cerrando os olhos e me analisando com uma careta no rosto. Minha aparência deve estar ainda pior.
Respiro fundo.
- Eu sei, me d...
- Olha, está tudo bem. Trisha nos explicou que você teve seu voo atrasado e seu celular estava sem bateria, por isso demorou tanto e não nos deu notícias.
Arregalo um pouco os olhos e olho para Trisha. Ela não diz nada, apenas concorda positivamente com a cabeça. Então volto a olhar para Phil.
- Ã... sim. – Sorrio. – Foi isso mesmo que aconteceu. Me desculpe.
- Tudo bem, imprevistos acontecem. Aliás, parabéns pelo clipe. – Phil sorri. – Ficou ótimo.
- Obrigada. – Respondo, também sorrindo.
- Vamos? Já estão todos lá embaixo. – Ele olha para seu relógio. – Tem 20 minutos para estar pronta.
- Ok.
Então ele volta pelo corredor que entrou. Trisha olha para mim e solto o ar que nem sabia que estava segurando. Porém, estranho completamente seu comportamento. Esse era o momento em que ela iria me ferrar, como sempre faz. Mas não foi isso que ela fez, o que torna a situação ainda mais confusa. Ela sai do quarto com sua mala nas mãos e segue pelo corredor, e só o que consigo pensar é em que porra está acontecendo.

Too Good To Say GoodbyeOnde histórias criam vida. Descubra agora