Hold my hand

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Acordo antes dele. Abro os olhos devagar e, ao olhar para o lado e sentir seu cheiro, sorrio por saber que não é um sonho. Olho para a janela e percebo que o sol está nascendo. Assisto, sentindo a respiração de Bruno em meus ouvidos, enquanto seu braço continua firme, me segurando. Nunca poderei descrever o quanto essa sensação é incrível. Minha mãe diz que quando assistimos ao nascer do sol nosso dia vai bem, e, ao olhar para Bruno, tão sereno, percebo que nunca tive tanta certeza de que, sim, não importa o que aconteça, esse dia será maravilhoso, principalmente ou justamente por ter Bruno ao meu lado.
Devagar, tento me desvencilhar do braço dele. Meu corpo implora por um banho e, bem, eu jamais teria coragem de acordá-lo para qualquer coisa, principalmente por vê-lo dormir tão bem. Aliás, hoje não temos show, então ele pode dormir até a hora que quiser, por isso, o deixo à vontade. Com muito esforço me desvencilho de seu braço e, andando de mansinho, vou até o banheiro. Seguro um riso ao ver todas nossas roupas jogadas pelo chão enquanto tropeço no que parece ser a cueca de Bruno. Antes de entrar no banheiro, olho mais uma vez para ele, concluindo que parece estar tudo bem. Sorrio ao vê-lo tão à vontade, parecendo tão tranquilo, dormindo com um anjo.
Então entro no cômodo, abro o chuveiro e sinto a água quente penetrar meus cabelos e descer até minhas costas. Fecho os olhos, sentindo o relaxamento mágico que isso oferece. Enquanto passo o sabonete pelo corpo, penso em mim e Bruno. Obviamente um sorriso toma conta de meu rosto, e ainda não consigo acreditar. Olho para a aliança reluzindo em meu dedo, tão bonita, e sinto vontade de chorar de felicidade. Tenho certeza de que nunca fui tão feliz em toda minha vida, e, bom, estamos juntos há... dois dias. Só dois dias. Mas não paro de pensar no quanto foi... perfeito. No quanto Bruno é perfeito. Tão amoroso, tão atencioso, e tão bom na cama. É safado e ainda por cima é carinhoso. O tipo perfeito. Ele sabe onde me tocar, onde incitar, e sempre faz coisas incríveis no momento adequado. Sinto minha pele arrepiar ao lembrar das sensações. Algo inexplicável e que quero sentir todos os dias de minha vida.
Ainda absorta em pensamentos, sinto um ar gélido entrar pelo box do banheiro. Instantaneamente olho para a porta de vidro e me assusto.
- AH! – Grito.
Bruno tapa minha boca, entrando completamente no boxe. Ele fecha a porta e me empurra para a parede que está o chuveiro. Meu corpo fica fora do jato de água, mas o de Bruno começa a ficar ensopado, com a água caindo de seus cabelos para seu corpo nu. Meu coração ainda está acelerado quando ele tira a mão de minha boca e me observa, dos pés à cabeça, com uma empolgação, admiração e excitação no rosto como de quem nunca tivesse me visto nua. Olho para ele, à minha frente, e, no momento, tenho certeza de que ele está pronto para mais. Mordo o lábio inferior enquanto vejo-o me observando com os olhos famintos.
- Você me assustou... – Sussurro. Só quando digo alguma coisa é que ele parece acordar do transe. Quando olha em meus olhos, sorri.
- Desculpe, não foi a intenção. – Ele diz, sorrindo um pouco.
- E qual é a intenção, então? – Pergunto, mordendo um lábio. – Por mais óbvio que possa parecer, tenho quase certeza de que não é um banho.
- Menina esperta... – Ele comenta, sorrindo maliciosamente.
Ainda tenho tempo de vê-lo morder o lábio antes de me virar de costas e me prensar contra a parede. O frio da parede contra meu corpo quente só serve para me deixar mais excitada. Bruno encaixa seu corpo contra o meu enquanto sinto sua ereção, e sua mão vagueia pela frente de meu corpo, os dedos deslizando com facilidade, devido à ajuda do sabonete. Ele beija minha nuca e, com uma das mãos, encontra meu seio, quando gemo baixinho, já sentindo meu corpo corresponder aos seus carinhos.
- Eu adoro esse som, sabia? Não tem noção do quanto é delicioso te ouvir assim, gemendo pra mim... – Ele sussurra, beijando minhas costas e agora deslizando seus dedos até minha intimidade. Novamente acabo gemendo ao senti-lo me massageando. – Acabo de perceber que você é meu vício...
Inesperadamente ele me vira de frente para ele novamente. Rio enquanto passo as mãos pelo seu cabelo, ajeitando-os debaixo da água. Quando eu o puxo para mim e arranho suas costas com uma das mãos, vejo seus olhos incendiarem. Ele levanta uma das minhas pernas, abrindo caminho para entrar em mim. Quando acontece, reviro os olhos, novamente sentindo essa sensação tão maravilhosa.

Depois de um tempo, estamos mortos de fome, então Bruno prepara o café. Visto um pijama confortável e sento na banqueta, vendo-o cozinhar.
- O cheiro está ótimo. – Digo, tomando água.
- Espera só pra sentir o gosto... – Ele diz, concentrado mas sorrindo.
O ambiente parece... íntimo. Nós dois, depois de um banho, pele cheirando a sabonete e cabelos úmidos, vestindo pijama e meias nos pés. O clima é calmo e tranquilo. Apoio o queixo em minha mão e sorrio.
- Me fala um pouco sobre sua mãe... – Digo, de repente.
- Minha mãe? – Ele franze as sobrancelhas, obviamente não entendendo a pergunta repentina.
- É, sua mãe. Vi você olhando para uma foto dela ontem... Me fale sobre ela. Eu adoraria ouvir.
Tomo outro gole de água, sentindo a necessidade de repor a hidratação em meu corpo. Sei que falar sobre sua mãe pode não ser um assunto fácil para Bruno, mas tenho muita curiosidade em saber mais. Ele foca os olhos na comida e começa a falar.
- Ela era a mulher mais incrível que já conheci. – Ele diz, sério. – Cuidou de nós de uma forma sem igual. Mesmo passando por infinitas dificuldades, ela sempre tentava dar o seu melhor, e sempre conseguiu, de sua maneira. Por um tempo, ela foi a única a acreditar em meu sonho na música...
- Ela deve ter sido incrível. – Sorrio.
- Era mesmo. – Ele diz, ainda concentrado no fogão. – Sempre estava comigo. Minha mãe... – Bruno parece divagar um pouco em pensamentos, e apenas o observo. – Se quer saber, foi por isso que tive uma viagem de emergência, ano passado. Fui visita-la em sua lápide e, bem, acabei demorando mais que o esperado. – Bruno parece estar se esforçando para manter a voz neutra.
- Eu... sinto muito. – Minha voz soa como um sussurro. Ele finalmente olha para mim com seu sorriso caloroso.
- Não sinta. Eu sempre converso com ela quando vou até lá... Demorei essa última vez porque falei de você.
- De mim?! – Arregalo os olhos, totalmente surpresa.
- Sim. Eu tinha que dividir meus sentimentos com alguém, e, bem, minha mãe era a melhor opção no meio do caos... – Ele diz, rindo um pouco. Meu coração aperta tanto que me seguro para não chorar. Ele ri. – Ok, pode me chamar de louco agora.
- É claro que não. – Faço uma careta. – Você não é nem um pouco louco por fazer isso. É uma atitude... inspiradora, até.
Bruno sorri para mim e suas covinhas se revelam.
- Naquele dia eu disse a ela que tinha encontrado a mulher certa, mas que não tinha coragem de seguir com isso... – Ele ri um pouco, e seus olhos estão brilhando. – Sei que pode parecer loucura, mas eu juro que senti como se ela falasse comigo. Não por ouvir sua voz, mas por... senti-la. Era como fechar os olhos e imaginá-la conversando comigo perfeitamente. – Ele suspira. – Naquele dia, posso jurar que ela me disse para seguir meu coração.
- Bruno... – Meu coração acelera e meus olhos arregalam, logo depois marejando. – Foi praticamente a mesma coisa que minha mãe disse sobre você, antes de voltar para o Brasil.
- Eu sempre soube que as mães sabem de tudo. – Bruno sorri afetuosamente, e sinto uma lágrima caindo de meu olho. – Sei que é inútil pensar isso porque ela já sei foi, mas vezes penso que eu daria tudo para tê-la de volta. Eu... trocaria a música por ela, sem pensar.
Colo os lábios, sentindo a intensidade de suas palavras.
- Você deve ter sofrido tanto... – Digo, me referindo a morte da mãe dele. – E ainda estava em turnê... Deve ter sido um pesadelo.
- Foi horrível quando ela partiu... – Ele diz. – Num momento estou me sentindo no topo do mundo, com a carreira finalmente decolando, mas, de repente, me sinto no fundo do poço... – Ele pigarreia, talvez para segurar o choro. – Perdê-la foi como perder um pedaço de mim. Sei que nunca mais vou ser o mesmo que eu era, e não desejo esse sentimento para ninguém.
- Eu sinto muito, Bruno. – Digo, novamente, ainda sentindo algumas lágrimas cortando meu rosto. Bruno fala dela com tanta nostalgia e amor que é impossível não sentir sua dor.
- Tudo bem. Eu tenho ótimas memórias com ela. – Ele sorri. – Eu adorava sua comida. E também adorava quando ela dançava na banda de meu pai. Mesmo sendo uma criança, cantar enquanto minha mãe dançava era a minha parte favorita do show...
- Queria tê-la conhecido... – Digo, sorrindo, sentindo outra lágrima cair. – Parece ter sido um ser humano maravilhoso...
- Quem sabe, se você quiser, algum dia te levo você para conhece-la...
Sei que Bruno está se referindo ao túmulo da mãe, mas seus olhos brilham tanto de emoção que parece que ele está falando como se ela ainda estivesse viva. É como se não fosse a morte que os separam, mas somente alguns quilômetros. Tento entender a dor que emana em seus olhos, mas é impossível. Quando percebo, estou chorando um pouco.
- Eu adoraria. – Digo, por fim.
- Ela também te adoraria, sabia? Ela sempre gostou dos brasileiros... – Bruno ri e sinto o clima ficando mais leve.
- Tenho certeza de que nos daríamos bem... Afinal, é minha sogra! Eu jamais arrumaria problema com minha sogra...
- Bom, ainda bem que Silmara me adora, não é mesmo? – Ele diz, levantando as sobrancelhas.
- Modéstia à parte, ela realmente gosta de você. – Sorrio e Bruno sorri também.
- Ela tem suas razões...– Sua expressão se torna presunçosa, o que me faz rir. – Um homem tão bonito como eu deixaria qualquer sogra feliz, não é mesmo?
- Convencido... – Resmungo, o que o faz rir.
Então finalmente ele traz tudo o que cozinhou para a mesa, além de algumas outras coisas do hotel. Tudo parece... delicioso. Enquanto comemos, olho para ele, admirando-o um pouco. Seus cachos tão lindos combinam perfeitamente com sua pele dourada. Sua boca é do tamanho ideal, e sustenta dentes brancos e alinhados. Seus olhos são amendoados e grandes, e seu nariz simétrico. Tudo nele me chama a atenção, tudo nele me agrada de uma forma... incomparável.
- Eu... terei que sair, hoje. – Ele diz, de repente, me tirando de meus devaneios.
- Sair? – Faço uma careta. – Mas é nosso dia de folga!
- Eu sei, mas preciso ir para Los Angeles.
- Porque? – Quando faço a pergunta, me sinto estranha, como se eu estivesse sendo invasiva ao querer saber sobre sua vida dessa forma. Porém rapidamente raciocino que não somos mais apenas colegas de trabalho. Temos um relacionamento, e sei que posso fazer esse tipo de pergunta. É tudo tão novo pra mim que as vezes me sinto confusa.
- Eu... tenho uma consulta. – Ele diz, sorrindo torto.
Quando ele diz isso, um arrepio percorre minha espinha.
- Sobre... aquilo? – Pergunto, sabendo da resposta mas mesmo assim perguntando.
- Sim. – Bruno responde sem olhar para mim, parecendo... constrangido.
Contraio o maxilar, observando-o. Então respiro fundo, sabendo que terei que conversar sobre isso uma hora ou outra.
- Bruno, precisamos conversar... – Digo, olhando para ele e depositando meus talheres em cima do prato. Bruno faz o mesmo, esperando eu falar. – Pode... me explicar melhor sobre seu caso? Por exemplo, sobre os remédios que você consome... Você já me disse que toma alguns medicamentos para disfarçar os sintomas... Como eles funcionam, mais especificamente? Porque eu nunca ouvi falar nisso em toda minha vida.
- Bem... – Ele respira fundo antes de falar. – Eles, basicamente, disfarçam os sintomas. Consigo controlar minha falta de ar, me sinto mais disposto, as tosses diminuem muito, além de diminuir as dores musculares também, mas, claro, meu corpo sente demais o... câncer.
Minha garganta aperta, sinto um nó nela, mas disfarço enquanto Bruno continua.
- E, bem, esses medicamentos não estão disponíveis no mercado, por isso você e nem ninguém conhecem... Eles são novos, criados recentemente por um grupo de cientistas liderado pelo doutor Cromwell. Sou uma das cobaias que está testando antes de ser aprovado e lançado.
- Cobaias?! – Quase grito, arregalando os olhos e sentindo o peito apertar. De que porra Bruno está falando?!
- É como se fosse um... experimento. Eu soube que havia um novo tipo de medicamento para isso e decidi... testar. Era isso ou me entregar para o câncer de uma vez. E testando não seria a palavra certa... Falando assim parece que sou um rato de laboratório. – Bruno ri, mas não movo um músculo sequer, me sentindo chocada demais para isso. – É como ser o primeiro a utilizar a novidade ainda não disponível.
- Bruno... – Não consigo falar direito, já que sinto a garganta apertar tanto que minhas palavras soam estranguladas. – Eu não estou entendendo... Isso não parece bom...
- Mas é. – Ele diz, sorrindo um pouco. – Por incrível que pareça os medicamentos reagiram muito bem em mim. É impressionante como consigo viver uma vida quase normal, e, além disso, não tinha outras opções. Outros medicamentos não eram o suficiente, eles não me ajudavam em nada. Eu precisava de algo mais forte, novo, e, bem, encontrei. Eles podem não me curar, mas com certeza aliviam os sintomas.
- Não sei se confio nisso... – Digo, obviamente desconfiada e ainda chocada.
- Bom, só estou aqui, agora, conversando com você normalmente, porque tomo esses remédios. E isso é uma puta inovação. Não é a cura do câncer, mas quase isso. Se realmente der certo, isso vai poder ajudar muitas pessoas.
Pisco forte algumas vezes, digerindo o que ele disse. Então engulo em seco, tentando confiar.
- Tem certeza disso? – Pergunto.
- Absoluta certeza. – Ele diz, sorrindo um pouco. – É uma doença muito complicada, de qualquer jeito...
- Já pesquisei um pouco sobre, e, bem, dependendo do estágio do câncer, uma cirurgia pode resolver, não é? – Obviamente, minha voz emana esperança. – Quer dizer... você me disse que decidiu fazer a cirurgia, mas ainda me sinto um pouco confusa. – Engulo em seco, evitando dizer que na verdade me sinto muito nervosa. – Como isso vai funcionar?
Bruno respira fundo antes de falar.
- Como eu disse, os tratamentos se tornaram ineficazes a esse ponto. Foi muito tempo negligenciando minha saúde, e agora não tenho muitas opções. – Ele dá de ombros, desgostoso. – Na verdade, só uma opção. A cirurgia.
- E quais são essas preparações que você disse estar fazendo?
- Alguns remédios específicos para me ajudar. Na verdade, estou em observação. A consulta de hoje é só mais uma das várias que tenho pela frente... – Ele bufa, parecendo cansado. – E, bem, acho que já te disse que a cirurgia possui um alto risco, certo?
Não digo nada, apenas afirmo com a cabeça, sentindo o coração apertar. Imaginar algo acontecendo com Bruno me deixa tão nervosa a ponto de perder as palavras.
- Pois bem. Eu decidi fazê-la porquê... – Bruno dá de ombros. – Porque é a única opção que tenho para conseguir viver mais. Para viver... com você.
Apoio a mão no peito, sentindo-o doer um pouco. Meus olhos marejam, e novamente perco as palavras.
- Sei que é arriscado, mas se eu não fizer, tenho certeza do meu fim. – Ele tenta sorrir. – Fazendo, sei que tenho uma chance de viver. E prometo que vou agarrá-la com todas as forças. – Ele segura em minha mão. – Está de acordo com isso?
Sorrio, e uma única lágrima corta meu rosto. Inevitavelmente penso num futuro em que eu e ele estejamos juntos, e a emoção toma conta de mim. Nunca pensei que o ouviria dizer isso para mim, algum dia. Ele disse que mudaria, e realmente está fazendo isso. Por mim. Por nós. Sorrio enquanto choro.
- Estou. – Digo. – Vamos passar por isso, juntos.
- Não precisa chorar... – Ele diz, tentando sorrir, mas obviamente também um pouco emocionado.
- Desculpe, eu só... – Respiro fundo. – São muitas emoções de uma só vez.
Rio um pouco e ele ri também. Então, volta a falar.
- Olha, como é nosso dia de folga, eu pensei muito se iria realmente te pedir isso, mas... – Ele cola os lábios e tenta sorrir. – Você pode me acompanhar na consulta? Sei que é seu dia de descanso e vou entender caso queira realmente descansar... – Ele ri um pouco. – Mas eu gostaria muito que você fosse comigo.
Olho para ele, sorrindo. Então apoio minha mão na sua.
- É claro que eu vou com você. – Digo, sorrindo e sentindo os olhos um pouco marejados ao notar mais uma vez o quanto deve ter sido difícil para Bruno lidar com tudo isso sozinho. – Não precisa me pedir. Quando tiver uma consulta ou o que quer que seja, é só me dizer que estarei lá, com você.
- Obrigado. – Ele diz com os olhos brilhando, parecendo realmente agradecido. – O que acha de...
Bruno iria dizer alguma coisa, mas, de repente, começa a tossir muito. Meu coração dispara, e dou um pulo na cadeira que me faz cair no chão e bater a bunda com força. Rapidamente me levanto, ignorando a dor.
- Bruno! BRUNO! – Grito seu nome enquanto agarro em seus ombros.
Sua respiração fica descompassada, e ele parece ter muita dificuldade para respirar. Penso que meu coração irá sair pela boca. Com muito esforço ele consegue pronunciar a palavra "bolsa" para mim, e, sem pensar duas vezes, corro para dentro do quarto com as mãos tremendo. Encontro no canto direito uma mochila preta, e, sem pensar direito, a pego e levo até ele. Tento manter a calma enquanto Bruno abre o zíper com dificuldade, tirando de lá um aparelho pequeno, branco. Só quando ele o coloca na boca e inspira é que entendo.
- Bruno! Amor, ei, fala comigo, por favor! – Minha voz soa como uma súplica. Aos poucos, inspirando o ar da bombinha, ele parece se recompor.
- Está tudo bem, fica calma. – Ele inspira mais uma vez, e, assim, depois de um tempo que parece ser uma eternidade, parece se recuperar. Meu corpo está tremendo, e sinto ânsia de vômito. – Vem, está tudo bem. – Bruno, ainda sentado na cadeira, pega em minha mão e me puxa até seu colo. Meu desejo de tocá-lo é tanto que não recuso. Sento e agarro em seu pescoço, como uma criança com medo. Ele passa seus braços em mim, me segurando enquanto agora choro. Consigo ouvir meu coração batendo forte dentro de mim, enquanto tento controlar, agora, minha respiração.
- Não, não está bem. Não está nada bem, Bruno. – Seguro o choro o máximo que consigo enquanto o calor do corpo de Bruno aquece o meu. Seu cheiro amadeirado inunda meu olfato, o que me faz apertá-lo ainda mais. Seguro firme em um abraço, como se, a qualquer momento, algo pudesse chegar e arrancá-lo de mim. Um câncer, talvez.
- Vai ficar. Prometo, vai ficar.
Ele beija o topo de minha cabeça enquanto acaricia meu cabelo. No momento, parece que sou eu quem está doente, eu quem precisa de ajuda. Sinto medo e angústia. É incrível como quando o assunto é Bruno, meus sentimentos são muito mais intensos. Sentada, em seu colo, me sinto protegida, como num porto seguro, mas quando penso que esse porto seguro está em perigo, que talvez eu o perca, meu coração aperta, minha garganta dá um nó, e simplesmente não sei o que fazer. É como se o medo de perdê-lo tomasse conta de meus sentidos. Estou lutando contra as lágrimas, tentando manter o controle quando Bruno levanta minha cabeça e me faz o olhar em seus olhos. Quando os vejo, algo cresce em mim. Algo forte e inesperado. Imediatamente entendo que, mais que nunca, tenho que ser forte, tenho que ser resistente para enfrentar tudo isso. Por mais que seja difícil, preciso manter o controle, preciso mostrar que estou com ele, e que tudo irá dar certo. Tenho que dar apoio, encorajá-lo, e é isso que eu vou fazer.
- O que acha de nos arrumarmos para pegar o voo? – Ele diz, sorrindo um pouco e obviamente tentando me acalmar. – Temos uma consulta marcada.
- É uma boa ideia. – Digo, sorrindo e secando as lágrimas.
- Só preciso confirmar o horário na agenda... – Ele sussurra para si mesmo, sacando o celular do bolso.
O observo agora enquanto parece brigar com o aparelho. Sempre soube que Bruno não é dos melhores quando o assunto é tecnologia, e rio de sua dificuldade para encontrar a agenda.
- Detesto essas coisas... – Ele diz, irritado, enquanto rio.
- Quer que eu ajude?
- Toma. – Ele entrega o celular de uma vez para mim, realmente parecendo irritado.
Pego o celular de sua mão e a sensação é... estranha. Estou com o celular de Bruno na minha mão. O celular de Bruno Mars. Minha nossa, é ainda muito difícil me acostumar com esse tipo de coisa.
Noto que notificações chegam para Bruno a todo instante, de todas as redes sociais, o que atrapalha o uso dos aplicativos. Mensagens e avisos de compromissos aparecem enquanto eu só procuro a agenda. É uma loucura total, como se o celular não parasse por um milésimo de segundo. Talvez eu entenda a repulsa de Bruno por tecnologia, afinal, consegui me estressar só com alguns segundos. Quando enfim acho o que quero, arregalo os olhos. Há muitos compromissos agendados com Phil, Liza e os meninos, mas o que mais me impressionou foi um com o nome Beyoncé e Ed Sheeran, anotado para semana passada.
- Que tipo de compromisso você tinha com Beyoncé e Ed Sheeran? – Pergunto, sentindo a curiosidade me consumir. Não é pra menos, afinal, isso pode significar tantas coisas que sinto meu coração acelerar.
- Ela e Ed vão trabalhar juntos num dueto e queriam a opinião de alguém.
- O QUÊ?! – Arregalo os olhos.
Quão insano e inacreditável é seu namorado ser Bruno Mars e ainda por cima ser cogitado por Beyoncé e Ed Sheeran para dar sua opinião sobre um dueto?!
- Bom, sabe como é, sou um cara muito requisitado... – Ele diz, fazendo graça, como se lesse minha mente. Rio. – A música ficou incrível...
- E qual é?
- Um dueto de Perfect, do próprio Ed.
- Ai, minha nossa, deve estar incrível, mesmo! – Meus olhos brilham e ainda sinto o coração acelerado. – Já é muito boa com Ed, imagina com Beyoncé junto?! Meu Deus, eu talvez tenha um treco.
- Se quiser posso mostrar a demo para você depois.
- O QUÊ?! – Grito e Bruno ri. – COMO TEM UMA DEMO DISSO E AINDA NÃO ME MOSTROU?!
- Ok, ok, senhorita produtora musical. – Ele diz e rio ainda mais de sua fala. – Te mostro depois, mas, agora, se não for incômodo... – Ele aponta para seu celular, e me lembro do que estava fazendo. Volto a olhar para a agenda do dia de hoje.
- Hm... Confirmado para as 3 da tarde. – Digo, sorrindo. – Acho melhor corrermos.
- Hm... – Bruno desliza um dedo pela minha perna até minha coxa, e quando olho para ele, percebo-o me encarando com aquele olhar que me deixa desconcertada. – Acho que temos um tempinho para uma outra coisa...
Ele beija meu pescoço e depois morde minha orelha, me fazendo arfar e arrepiar. Penso em negar, em pensar racionalmente, mas quando percebo Bruno está tirando meu pijama e beijado minha barriga. Então simplesmente não consigo resistir. Não quando se trata de Bruno. Porém, mesmo assim, continuo um pouco nervosa. E preocupada. E fico assim até chegarmos em Los Angeles.

Too Good To Say GoodbyeOnde histórias criam vida. Descubra agora