Versace On The Floor

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- Bem-vinda ao Havaí.
É o que Bruno diz quando, depois de horas de voo e muita ansiedade, chegamos em Honolulu. Pude ver um pouco pela janela do carro, e é um lugar... mágico. Há prédios, vendinhas, casas, além de muita gente com roupa de praia. O clima é como o do Brasil, quente, mas mais úmido.
- É... lindo. – Pareço encantada, e realmente estou. Me sinto assim até chegarmos à casa do pai dele, situada num bairro luxuoso, perto da praia.
Arregalo os olhos quando saímos do carro. A casa é enorme, com um portão gigante protegendo a entrada. Entramos e fico ainda mais impressionada. É aquele tipo de casa cheia de vidros, aberta, arejada, com um extenso campo muito bem cuidado e várias plantas aqui e ali.
- Uau... – Deixo escapar enquanto seguimos para a porta.
Posso enxergar o pai de Bruno parado ali, com as mãos para trás, nos esperando com um sorriso e óculos de sol no rosto.
- Bruno, meu filho! – Diz Pete, quando chegamos. Ele puxa Bruno para um abraço. – Como está?
- Ótimo, pai. Lembra da Saphira? – Ele aponta para mim e Pete me olha sorrindo.
- Claro que sim. Como vai, querida? É muito bom rever você. – Ele me abraça também, e posso sentir um aroma cítrico misturado com fumaça. Cigarro.
- Muito bem, e o senhor? – Sorrio.
- Por favor, "senhor" é muito formal. Pode me chamar de Pete.
- Claro, Pete. – Faço que sim com a cabeça.
Olho para ele e reconheço alguns traços de Bruno. Os olhos e as bochechas um pouco fundas. Fora isso, mais nada. Na verdade, o pai de Bruno lembra muito Zé Bonitinho. Talvez uma versão mais rica e menos pitoresca. Droga, por que estou pensando isso agora?!
- Entrem, fiquem à vontade! – Diz ele, abrindo a enorme porta e nos revelando o interior de sua casa.
Como pensei, é muito bonita, mas, de certa forma, mais simples por dentro. Há luminárias com um estilo contemporâneo, além de sofás e poltronas da mesma cor, sem estampas. Alguns retratos de Bruno com suas irmãs e com Eric estão sobre a mesa de centro, além de algumas fotos de Pete com seus netos e uma com Bernadette. A casa é muito arejada, e, de certa forma, convidativa. Na verdade, parece ter saído de uma revista com o tema "casas havaianas" ou "como ser simples e sofisticado".
- Querem alguma coisa? Água? Suco?
- Nada, pai. Se não for pedir muito, gostaríamos de um lugar para descansar. O voo foi longo e...
- Oh, claro. – Diz ele. Prontamente aponta para as escadas e começa a subir. – Imagino que estejam exaustos... Venham comigo.
Pete então nos mostra o quarto de hóspedes. É grande, com uma cama enorme de casal.
- Fiquem a vontade. Descansem. – Ele sorri para mim. – Depois vamos conversar, certo? Estou ansioso para conhece-la melhor, Saphira.
- É claro. – Digo, sorrindo.
Bruno e eu agradecemos, e, depois dele fechar a porta, caímos na cama, sentindo o cansaço nos consumir.
- Seu pai é muito simpático. – Digo, já aconchegada em seu peito e sentindo os olhos pesando.
- Sim, ele é, mas não deixe se enganar. Ele consegue ser muito irritante, quando quer.
- Todos os pais conseguem... Acho que não é intencional. – Solto uma risada e Bruno também.
- Foi por ele que comecei a fumar... – Bruno diz, quase sussurrando. – Não exatamente por causa dele, óbvio, mas porque me inspirei nesse mau costume. Na verdade, me inspirei em várias coisas de meu pai, desde que sou criança. A pior delas foi o cigarro...
- Sinto muito... – Digo, acariciando seu peito. – Mas agora isso não é mais um problema para você, certo?
- Graças a você. – Ele diz, de repente. Franzo as sobrancelhas.
- Como?
- Não percebe?! Depois de você eu parei com tudo isso. Me sinto... um homem melhor. É claro que me esforço muito, principalmente quando a maldita vontade de fumar toma conta de mim. – Bruno parece extremamente angustiado ao dizer isso, e tento imaginar o quanto deve ser difícil largar esse vício. Depois, ele sorri. – Mas você me inspira a melhorar. Sempre.
Olho para seu rosto e percebo que ele está sorrindo. Meu coração pula dentro de mim.
- Não sabe o quanto fico feliz em saber isso, em por poder... te ajudar.
- Você fez muito mais que isso, meu amor. – Bruno me puxa ainda mais perto, e estamos praticamente colados. – Muito mais que isso...
É a última coisa que ele diz antes de cair no sono. Eu demoro um pouco mais, mas, em questão de minutos, estou dormindo com um sorriso no rosto.


- Bom dia! – Diz Pete, quando eu e Bruno descemos para o café. Dormimos a tarde e a noite toda, obviamente muito cansados. Em compensação, acordamos agitados e cheios de energia.
- Bom dia. – Respondo, sorrindo.
- Bom. – Responde Bruno, também sorrindo.
- Venham, coloquei a mesa na varanda.
Pete parece animado com nossa presença. Eu e Bruno, de mãos dadas, o seguimos. Há um café da manhã cheio de frutas, sucos, pães e bolos, todos postos em uma mesa redonda de madeira com um guarda-sol acoplado.
- Sentem-se, fiquem à vontade. Bruno, fiz suco de goiaba. Sei que gosta... – Ele sorri, parecendo feliz. Bruno sorri de volta.
- Obrigado, pai. – Diz, puxando a cadeira para mim e depois sentando.
Ele coloca suco no seu copo e depois no meu. Estamos perto da piscina, e a brisa úmida e refrescante que chega até nós é revigorante.
- Então... Como vai a vida? Faz um tempo que não vem visitar seu velho. – Diz Pete, todo sorrisos. Bruno toma um gole de suco e se serve de um pedaço de bolo.
- Droga, esse suco é tão bom quanto me lembro... – Bruno faz uma careta exagerada, e rio. – Vai tudo muito bem, pai. Eu e Saphira estamos ótimos.
- É, é um pouco óbvio. – Diz ele, rindo. Sorrio. – Ótima escolha, filho. É uma mulher adorável.
- Obrigada. – Digo, sorrindo e depois tomando o suco. Doce e fresco.
- Mas e você, pai? Como tem andado? – Bruno conversa com Pete como aqueles filhos prontos para ajudar caso algo esteja errado. Realmente parece interessado.
- Como sempre. Um velho sozinho não tem muito o que fazer, para falar a verdade. – Eu e ele rimos, mas Bruno só sorri.
- Eu imagino... – Ele passa geleia no pão mais devagar que o normal. Talvez seu pai dizer que anda sozinho o tenha afetado.
Pete dobra a perna, olhando agora para o horizonte. Está vestindo uma calça social, dobrada nos tornozelos, além de mocassins e uma camisa simples. Seu estilo lembra o de Bruno. Ou seria o contrário?
- Tem visto as meninas? – Bruno pergunta.
- Sempre que posso. Tem que ver como Nyjah está crescido! E Selah, então...
- Parece que faz anos que não os vejo.
- Eles vão adorar sua visita. Sempre adoram. – Um sorriso orgulhoso toma conta do rosto de Pete, e posso ver Bruno sorrindo, também. Com o silêncio, aproveito para conversar.
- Sua casa é incrível. – Digo, sorrindo.
- É como eu sempre quis: confortável e silenciosa.
- Bom, então, se um dia pensa em se mudar, não vá para o Brasil... – Digo, mordendo um pedaço de bolo. Pete levanta uma sobrancelha. – Silêncio é a última coisa que encontrará lá.
Ele ri e posso ver Bruno sorrindo.
- Você é bem-humorada. Gostei disso.
- Sabe como é, está no nosso DNA... – Dou uma piscadela e Pete ri de novo.
- Bernadette gostava muito dos brasileiros. Do Brasil, num todo.
- É, eu fiquei sabendo... Eu adoraria ter tido a oportunidade de conhece-la.
- Foi uma grande mulher... – Ele diz, parecendo perdido em pensamentos. Bruno, agora, não tem expressão alguma.
Passamos o café da manhã assim. Eu e o pai de Bruno conversando, nos conhecendo melhor, e Bruno, às vezes, intermediando. Pete também me levou para conhecer seu "santuário". Há várias fotos de Bruno em shows, além de notícias e alguns prêmios que Bruno conquistou. Realmente Pete sente muito orgulho de Bruno, enquanto o mesmo revirava os olhos ao ouvir o pai falando sobre como ele é incrível. Uma cena cômica.
Quando terminamos, Bruno e eu nos despedimos de seu pai e seguimos até a casa de praia de Bruno. Andamos um tanto com o carro, e, ao chegar no que parece ser uma pequena praia, descemos. Com as malas nas mãos, ele nos guia até uma casa não muito grande, praticamente toda feita de madeira. Com os olhos brilhando, caminho até lá, já com as sapatilhas nas mãos e sentindo a areia nos pés. Consigo ver um cais atrás da casa, indo direto para o mar.
- Isso é... lindo demais. – Digo, me sentindo... atônita.
Bruno sorri e me empurra para a entrada, subindo as escadas até a varanda. Ele me dá as chaves e, quando abro a porta e entro, sinto que terei um infarto. É tudo decorado conforme o Havaí. Há flores aqui e ali, além de alguns quadros com palavras havaianas. Suspeito disso porque vejo uma escrita Ohana, e obviamente Lilo & Stitch me ensinaram que quer dizer "família". Uma prancha de surfe está encostada numa das paredes, e um pequeno balcão feito de madeira, assim como os bancos, está no fundo da sala. Frutas enfeitam a mesa da cozinha, assim como as luminárias feitas, do que parece, palha. É uma casa arejada, simples, mas muito linda e convidativa. Bruno coloca as malas no chão e sorri.
- Gostou? Pedi que ajeitassem para quando chegássemos...
- É... linda! Bruno... – Digo, seguindo para a cozinha que é ao lado da sala. Fico sem palavras. – Nem sei o que dizer... Parece um sonho!
- É a casa mais simples que tenho, mas a mais especial. Algo nela me traz... tranquilidade.
- Sim, traz, sim. – Sorrio. – Estamos numa praia particular? – Pergunto por estranhar o fato de estar vazia.
- Sim. As crianças amam esse lugar.
- Nossa, nem dá pra imaginar o porquê! – Rio e Bruno sorri. – Não vejo a hora de conhece-los.
- Eles irão chegar... – Bruno olha para o relógio em seu pulso. – Agora.
Como num passe de mágica, ouço carros estacionando e portas batendo. Logo, vozes e alguns gritos ecoam pelo lugar. Passos apressados correm as escadas da entrada, e, em segundos, há batidas na porta. Bruno sorri enquanto olho para ele com olhos arregalados.
- Não me disse que eles viriam agora! Eu nem preparei nada! – Passo a mão no cabelo, arrumando-o. Bruno levanta as sobrancelhas e segura uma risada.
Então ele abre a porta, e, como um raio, um garotinho de talvez uns 5 anos entra, correndo.
- Zyah, espera! – Ouço uma voz feminina gritando, e, em seguida, uma das irmãs de Bruno subindo as escadas e negando com a cabeça. – Ele é tão teimoso... Parece com você. – Diz ela, sorrindo para Bruno e abraçando-o. Deve ser Tahiti, a que considero mais parecida com Bruno. – Senti tanta saudade...
- Eu também, Ta. – Sim, é Tahiti. – Como estão as coisas?
- Ah, tirando essa barriga enorme e o mau-humor matinal, está tudo bem.
Com calça preta e uma regata branca, a barriga de grávida fica mais que evidente. Tahiti parece reluzente, com seus olhos escuros e cabelos também.
- Vai passar, irmã. Vai passar. – Ele apoia a mão no ombro dela como consolando-a, e ambos riem.
Mais dois meninos entram, um maior, com talvez uns 7, 8 anos, e outro menor, com no máximo 3.
- Meninos, já disse para não correrem! Nyjah, fica de olho em seus irmãos!
- Tá, mãe! – Ouço-o gritando do fundo da casa. Como Bruno disse, realmente devem adorar esse lugar.
Tahiti então entra completamente na casa enquanto apoia a mão na barriga. Por que será que grávidas tem esse costume?
- Oi, Tahiti. – Digo, sorrindo. Ela me olha de cima a baixo, me analisando, depois, me dá um sorriso.
- Oi, Saphira.
- Como está?
- Bem, obrigada.
Depois de responder, ela segue para o fundo da casa sem dizer mais nada. Espero ela sumir de vista e olho para Bruno, traumatizada.
- Droga, ela me odeia, né?
- Não! – Bruno ri. – Claro que não. É que Tahiti é assim mesmo. Ela é a mais, digamos... difícil das irmãs. Não se preocupe, você vai perceber o quanto ela é incrível.
- Ok... – É o que eu digo, torcendo para que Bruno tenha razão.
Então vejo mais alguém entrando. Passo as mãos pela roupa. Droga, estou nervosa.
- Hey, Bruno. – Um homem alto, branco e musculoso aperta a mão de Bruno. Seu cabelo está cortado como num topete, e sua barba está um tanto por fazer. Muito bonito. Os dois se cumprimentam. – Como está?
- Ótimo, cara. Quero que conheça Saphira. – Ele aponta para mim e o rapaz com roupa de surfe caminha em minha direção. Nos abraçamos.
- Prazer, Saphira. Sou Billy, marido de Tahiti.
- É um prazer. – Sorrio um tanto sem graça enquanto ele também vai até os fundos da casa.
- Oiiinnn, Brunooooo... – Ouço, de repente, uma voz feminina quase gritando. Tiara. Ela chega abraçando-o, pulando em seu pescoço, e rio com a cena. – Nem acredito que veio! Como é bom te rever...
- É ótimo te ver também, mana. – Ele diz isso acariciando seu cabelo. É uma cena linda.
- Saphiraaaa! – Ela praticamente corre e me puxa num abraço. Tão diferente da experiência anterior. Está usando calças jeans rasgadas, além de uma cropped azul. Seu cabelo é um pouco mais claro que o de Tahiti.
- Tiara, como é bom rever você!
- Eu que o diga! Menina, você está linda! Como faço para ter essas pernas bronzeadas?! – Rio enquanto ela me analisa por completo, segurando em meus braços. Ela abre um sorriso enorme, tão simpática. – Como vocês estão? Bruno está se comportando?
- Eu ouvi isso. – Diz Bruno com os braços cruzados. Tiara ri e encosta no braço do sofá.
Logo, mais passos, e, assim, Presley aparece segurando a mãozinha de uma garotinha de talvez um ano. Está a coisa mais fofa, com um biquíni rosa e laranja de frufru.
- Ok, isso é covardia! – Bruno pega a criança nas mãos e a levanta, jogando-a no ar. A mesma ri, mostrando os dentinhos. É uma cena encantadora.
- Droga, como Tahiti ainda consegue praticar exercícios?! Subi alguns degraus e já perdi o fôlego. – Diz Presley, apoiando sua mão na barriga enorme de grávida e outra mão nas costas. Bruno larga a menininha, que começa a correr em volta da mãe, e, assim, abraça Presley. – Como vai, irmão?
- Ótimo. Sua barriga parece que vai explodir. – Delicado, como sempre.
- É porque não sou fitness como Tahiti. A barriga dela de grávida parece a minha no auge da adolescência.
Todos rimos da piada de Presley, e, assim, ela vem até mim. Seu vestido longo com estampas de flores a deixa esplêndida. Seu cabelo está preso num coque, e percebo um pouco de maquiagem em seu rosto, assim como no de Tahiti.
- Saphira, é um prazer revê-la.
- O prazer é meu, Presley. – A barriga dela dificulta nosso abraço.
- Essa é Selah.
- Oi, coisa linda! – Agacho, brincando com a menininha. Selah ri, parecendo se divertir.
- Selah! Selaaaah! Sel... Droga, você está aí.
Me levanto um tanto assustada por ouvir os gritos masculinos. Um homem alto, um tanto musculoso e com alguns dreads presos num rabo de cavalo entra na casa. Uma vibe diferente da de Billy, meio hippie, mas não menos bonito. Ele parece aliviado ao ver Selah.
- Pres, por que não me disse que estava com ela? Fiquei procurando-a como louco...
- Eu disse. Você que não me ouve. – Ela revira os olhos e depois cochicha para mim. – Os homens tentam, mas nunca conseguem ser como uma mãe seria. – Colo os lábios enquanto o homem ri, negando com a cabeça.
- Bruno, é bom te ver! – Os dois se cumprimentam num abraço. – Sua irmã me deixa louco.
- Eu te avisei, cara... – Ele diz, e os dois riem. – Essa é Saphira.
- Olá. – Diz ele, caminhando em minha direção. Depois me de abraçar, sorri. Muito simpático. – Sou Kealoha.
- É um prazer.
- Jamie chega daqui a pouco. Problemas com o trânsito. – Diz Bruno, fechando a porta. Nisso, Tahiti e Billy aparecem. – Ta, apresente os meninos à Saphira.
- Ah, claro, me desculpe. – Ela diz, piscando forte. – Ok, não acreditem quando disserem que a gravidez não atrapalhará sua eficácia. Eu esqueço as coisas a todo momento.
- Você sempre esquece as coisas, Ta. – Diz Tiara, agora sentada no sofá de forma confortável, com as pernas dobradas.
- Isso é verdade, mas a gravidez acentua, pode crer. MENINOS! – Ela grita, de repente, o que me faz assustar um pouco. Em segundos os três aparecem de sei lá onde. O mais alto segura o pequeno pelas mãos. – Quero apresentar a vocês Saphira, namorada do tio Bruno.
- Oi, Saphira. – Dizem os três, como se fossem treinados para terem esse tipo de respeito. O mais novo parece tropeçar nas palavras.
- Oi, garotos! Podem me dizer seus nomes?
- Eu sou Nyjah. – Diz o mais velho, com uma bermuda tactel e um colar com um tipo de gancho como pingente. O mesmo estilo de seu pai. – Esse é Zyah. – Ele aponta para o do meio. – E esse é Haze Eric. – Ele mexe as mãos do pequeno, que ri. Os três são bem diferentes um do outro, mas, ao mesmo tempo, alguns traços coincidem.
- É um prazer conhecer vocês. – Sorrio, passando a mão no cabelo de Zyah. Os três sorriem, e, depois de um aceno de cabeça positivo da mãe, voltam correndo para dentro, falando algo sobre videogame e surfe.
- Ok, pessoal. – Diz Presley, prendendo o cabelo. – Hora de começar a preparar o almoço.
Tahiti vai direto para a cozinha enquanto Tiara permanece sentada. Presley olha para ela levantando uma sobrancelha, e a mesma revira os olhos.
- Droga, eu odeio cozinhar.
- Gosta de comer? – Pergunta Presley, levantando as sobrancelhas.
- Argh. – Resmunga Tiara, como uma criança. Ela levanta e vai até a cozinha. Quando Presley olha para os homens, os três levantam as sobrancelhas.
- É a minha casa, então eu meio que tô fora disso. – Diz Bruno, cruzando os braços. – Além disso, eu propus contratarmos um chefe para cozinhar. Você é que não quis.
- Não acredito que negou um chefe! – Diz Tiara, encarando Presley com olhos arregalados.
- Eu gosto de quando cozinhamos juntos... Mamãe também gostava, lembram?
De repente, o silêncio se instaura no ambiente. Não de uma forda pesada, mas... saudosa.
- Tudo bem, meninos... – Diz Tahiti, quebrando o silêncio. – Enquanto cozinhamos, vocês vão ficar de olho nas crianças e depois lavar toda a louça e deixar a cozinha brilhando.
Bruno revira os olhos e Billy e Kealoha afirmam com a cabeça. Sigo ela e vou até a cozinha. As três começam a conversar, a rir, e admiro a amizade e fraternidade que possuem. Um laço tão forte assim é algo bom de se observar.

Jaime, que mora mais longe das irmãs, não demorou muito para chegar, e trouxe consigo Jaimo, seu filho de uns 11, 12 anos. O pai de Bruno apareceu também, logo depois. Enquanto os homens levaram as crianças à praia, eu e as garotas ficamos dentro da casa, fazendo o almoço. Elas possuem um talento incrível para isso, até Tiara, que diz não gostar de cozinhar, fez um frango assado lindo. Depois de tudo pronto, todos almoçamos na varanda da casa. Houve muita conversa, piadas e risadas, e foi incrível conhecer um pouco mais a família de Bruno. As crianças simplesmente o amam, óbvio, já que mima elas o máximo que pode.
Depois disso, como combinado, os meninos lavaram a louça, limpando a cozinha e cuidando das crianças, e nós, mulheres, resolvemos ir à praia. Estamos em cadeiras de piscina, uma ao lado da outra, com guarda-sóis nos protegendo do intenso sol. O barulho do mar e a brisa me acalmam por completo. Olho para o lado e percebo Tiara olhando para mim, me observando. Ela pisca forte e faz gestos com as mãos enquanto se senta na cadeira. Está linda com um biquíni tomara-que-caia verde, florido em tons de laranja, azul e vermelho.
- Ok... Como conseguiu esse corpo? Foi tipo deep web ou o quê?
- Quê?! – Rio enquanto tiro os óculos de sol.
- Acha que já não percebemos sua barriga negativa, Saphira? – Pergunta Jaime, intacta sobre a cadeira enquanto sorri. Seu biquíni preto e sua saída de praia azul escura a deixam ainda mais bonita.
- Qual é, gente. – Rio.
- A última vez que usei um biquíni desse e fiquei bem foi nos auge dos meus 20. – Diz Presley, com os óculos de sol no rosto. Está usando uma saída de praia verde e um short jeans. Sua barriga parece brilhar de tão grande. Está linda, com certeza. – E, como eu já disse, parecia a de Tahiti, agora.
- Parem com isso. Vocês estão ótimas. – Rio. – Sua barriga a deixa ainda mais reluzente.
- Reluzente e inchada. – Diz Presley, rindo.
- Eu, não. – Diz Tahiti, deitada ao meu lado. Está com um chapéu de praia e óculos escuros, além de um biquíni branco. Parece a mais estilosa e geniosa das quatro. – Me sinto ótima.
- Você não conta. Seu filho vai nascer com os braços do Sylvester Stallone. – Diz Tiara, caçoando. Rio alto.
- E as pernas do Arnold Schwarzenegger. – Completa Jaime. Todas rimos ainda mais.
- Talvez ele nasça lutando, como eu. – Diz Tahiti, parecendo orgulhosa enquanto levanta o queixo. – Sabem se bebês podem praticar boxe?
- Pratica boxe? – Pergunto, sem querer.
- Sim. – Diz ela, cerrando os olhos por detrás dos óculos.
- Eu também. Adoro boxe. – Digo, sorrindo. Tahiti levanta as sobrancelhas, e não sei dizer se ela gostou ou não o que acabei de dizer.
- Deveríamos lutar. Mas depois que Liam sair daqui. – Ela dá tapinhas em sua barriga.
- Combinado. – Digo, rindo.
- Tá, mas, nos conte... – Agora Tiara apoia as mãos nas coxas. – Como Bruno é com você?
- Ã... – Me surpreendo um pouco com a pergunta e penso nas palavras certas para dizer. – Ele é... incrível. – Um sorriso enorme estampa meu rosto, e sei que agora estou com cara de boba.
- Ah, droga, olha a cara de satisfeita dela! – Diz Presley, apontando para mim. – Por que Bruno sempre causa isso nas mulheres?
- Em mim era mais difícil. – Diz Tahiti, parecendo orgulhosa enquanto empina o nariz, de novo. – Bruno sempre me irritava quando jogava a droga daquela bola de basquete na minha cabeça quando criança.
- E quando ele pegou meus chinelos e fez uma entrevista com eles? UMA ENTREVISTA! – Tiara começa a rir e as meninas fazem o mesmo. Me lembro dele me contar que pegou os chinelos dela e depois brigaram.
- Ele tinha 4 anos, Ti. – Diz Jaime, ainda rindo.
- E já era um pestinha! – Tiara nega com a cabeça, e acabo rindo também. – Mas eu nunca consigo ficar brava com ele por muito tempo.
- Nenhuma de nós consegue. – Completa Jaime, sorrindo. – Nem mamãe conseguia.
- Ele sempre conseguia escapar das surras com aquele olhar de Gato de Botas e aquelas bochechas enormes com aquelas covinhas... – Diz Tahiti, negando com a cabeça e rindo. – Nasceu para brilhar, com certeza.
- Como se conheceram? – Tiara deita novamente na cadeira, apoiando seu cotovelo. Coloco os óculos escuros e respiro fundo, sorrindo.
- Foi num dia de testes para backing vocal. Bruno estava procurando duas mulheres para sua equipe.
- Então você entrou lá e... tcharaaaan? – Tiara faz um gesto com as mãos. Rio.
- Mais ou menos. Tirando o fato de eu ter invadido a sala de testes, ter corrido o risco de ser presa e ter cantado sem que pedissem, sim... tcharaaan!
- Tá brincando... – Diz Presley, agora tirando os óculos escuros, me encarando e rindo. – Você vai contar isso direito, e vai ser agora!
- Ok, ok. – Digo, rindo e levantando as mãos. – Por onde eu começo...?
Ficamos cerca de uma ou duas horas assim, conversando. As meninas riram um bocado sobre essa história entre mim e Bruno, e várias outras que contei. Elas me contaram tudo o que ele aprontava quando criança, e mais uma vez penso no quanto ele devia ser um pestinha impossível de não gostar. Conversamos sobre roupas, moda, comida, trabalho, crianças, filhos e outras coisas. As quatro são incríveis. Tiara é a mais divertida e extrovertida. Tahiti é a mais fechada, e a mais irônica também. Jaime é como uma mãezona sábia e ajuizada, e Presley a mais carismática. Todas elas juntas formam um quarteto incrível, mesmo sendo, de certa forma, tão diferentes umas das outras.
Agora, depois de brincar com as crianças e passar uma tarde incrivelmente gostosa, estamos numa roda de violão, em volta de uma fogueira, ao lado do início do cais, com a lua brilhando sobre nós. Bruno e suas irmãs cantam enquanto ele toca. Tomo uma garrafa d'água enquanto observo encantada toda essa cena. As irmãs de Bruno cantam muito bem. Billy e Kealoha tomam conta das crianças, ajudando-as a assar o marshmallow no fogo.
- Vem, Saphira. – Diz Tiara, depois que terminaram de cantar uma versão acústica de We Are Family. – Sua vez.
Elas, sorrindo, abrem espaço, e, assim, me levanto e vou até ao lado de Bruno. Ele está vestindo uma regata, e posso notar que sua pele já está consideravelmente bronzeada. Seu cabelo está um tanto bagunçado, provavelmente pelo sal da água do mar. Ele começa a dedilhar as cordas do violão, fazendo acordes e melodias aleatórias enquanto fixa seus olhos nos meus. Estão um tanto nublados, intensos. Sinto minha pele arrepiar.
- "Aint' no sunshine when she's gone..."
Bruno canta Ain't No Sunshine, uma de minhas músicas preferidas. Sua voz é doce, suave, quase um sussurro enquanto canta e sorri para mim. Sorrio, apoiando os cotovelos nas coxas enquanto todos mexem no ritmo da música, parecendo encantados assim como eu. Até as crianças estão prestando atenção. Quando ele termina a primeira estrofe, dá um sinal com a cabeça para mim, e, assim, entro cantando a segunda parte. Fecho os olhos e ouço o barulho do mar misturado ao som do violão.
- "Wonder this time where he's gone, wonder if he's gone to stay. Ain't no sunshine when he's gone, and this house just ain't no home anytime he goes away." (Me pergunto para onde ele foi desta vez, me pergunto se ele se foi para sempre. O sol não brilha quando ele vai embora, e essa casa não é um lar cada vez que ele se vai).
Olho para Bruno enquanto canto, sorrindo. Não há nada de shows, plateia, figurinos e iluminação. Só nós. Família. Todos cantando juntos. As irmãs de Bruno estão encostadas umas nas outras enquanto algumas crianças já dormem em seus colos. Os rapazes e outras crianças continuam com seus marshmallows no fogo, sorrindo e cantando junto, baixinho. A sensação é tão incrível que não consigo descrever. Quando a música termina e todos batemos palmas, agarro no braço de Bruno e apoio minha cabeça, sorrindo. Ficamos assim durante mais uma hora, e, depois disso, todos foram embora, só restando eu e Bruno ao redor dos resquícios da fogueira.
- Vem. – Ele diz, colocando o violão de lado e me pegando pela mão.
Penso que entraremos na casa, mas, surpreendentemente, Bruno caminha um pouco e deita na areia, me puxando para fazer o mesmo. Deito ao seu lado e damos as mãos.
- O que estamos fazendo? – Pergunto, rindo.
- Observando as estrelas. – Ele diz, apontando para o céu. Olho para cima e quase perco o fôlego. Vários pontinhos brilhantes e prateados pintam o céu escuro. A lua, enorme, o deixa ainda mais inacreditável.
- Uau... – Deixo escapar. – Nunca vi um céu tão bonito...
- Lindo, não é?
- Parece uma obra de arte.
- Esse foi um dos motivos para que eu escolhesse esse lugar. Aqui é sempre calmo, sereno, e a noite é sempre iluminada. Uma paisagem e tanto.
Ficamos alguns minutos em silêncio, só observando o céu. Um avião, bem ao longe, passa, piscando. Fico olhando para Bruno, agora, observando-o. Sua mandíbula marcada, suas bochechas um tanto fundas, seus olhos grandes, sua boca média, combinando perfeitamente com seu nariz, seu cabelo volumoso, formando cachos. Bruno é perfeito, pra mim. Não só esteticamente. Ele tem algo lindo dentro de si, algo como paixão, talento, força e determinação. Não é à toa que é reconhecido mundialmente por todo seu trabalho e admirado por toda sua família. Sorrio, pensando, como sempre, no quanto sou sortuda.
- Eu te amo. – Digo, sussurrando.
Ele, agora, olha para mim, parecendo ser interrompido de seus pensamentos, e sinto que meu coração irá explodir. Quando sorri, percebo mais uma vez que sou totalmente dele, que Bruno me tem nas mãos, e que adoro essa sensação.
- Sabe... Tudo isso significava muito para mim, antes. – Ele diz, fazendo um sinal com a mão, mostrando a praia. – O dinheiro, a fama... Mas hoje, nada disso faz sentido se você não está comigo. – Ele diz isso olhando em meus olhos e apertando ainda mais minha mão. Sinto meus olhos marejarem enquanto o encaro. Ele sorri mais uma vez. – É como se as coisas perdessem o valor quando você não está. Percebe o quanto nossa casa parece muito mais viva e quente com você por lá? – Não sei se Bruno está me perguntando isso realmente, então decido continuar calada. Uma emoção intensa toma conta de mim. – Você é tudo o que faltava pra mim. Você é... meu tudo.
Ele diz, agora colocando uma mecha de meu cabelo atrás da orelha. Uma lágrima cai ao sentir a veracidade de suas palavras, e meu coração acelera 10 vezes mais. Nunca pensei que me sentiria assim somente com algumas palavras ditas por alguém. Sem saber o que dizer e seguindo meus instintos, selo nossas bocas num beijo enquanto o abraço.
- Te amo tanto... – Digo enquanto roço meu nariz no seu.
Ele sorri enquanto desliza as mãos pela minha saída de praia. Bruno me contempla, observando cada detalhe meu, e, inesperadamente, puxa um pouco a alça do biquíni para baixo, revelando minha pele contrastando com o bronzeado em meu corpo.
- Você é tão linda... – Ele diz, sussurrando e realmente me admirando.
Seu dedo desliza pelo meu seio, desencadeando uma corrente elétrica pelo meu corpo. Ele olha em meus olhos sorrindo, parecendo... apaixonado. Meu corpo todo esquenta, assim como meu coração. Ele me puxa para mais perto, cheirando meu pescoço e meu cabelo. A areia está grudada por todo nosso corpo, e o som do mar, das ondas quebrando, é nossa trilha sonora. Olho para o céu, para as estrelas, para a lua, enquanto Bruno continua me acariciando de uma forma tão carinhosa. É como se os astros soubessem do nosso amor e o guardasse em segredo. O momento é perfeito, assim como o lugar, e, principalmente, a pessoa que está comigo. Estamos só nós dois, e o céu acima de nós. Só nós dois e todo o amor que temos para dar.
- Promete que nunca vai me deixar? – Ele pergunta, de repente, sussurrando.
- Por que está perguntando isso? – Franzo as sobrancelhas e acaricio sua bochecha.
- Não sei... – Ele franze as sobrancelhas também.
Bruno de repente parece... encabulado com alguma coisa. Não sei o que, mas algo o incomoda. Sorrindo, continuo acariciando-o e olhando em seus olhos, tentando demonstrar todo meu amor somente com meu olhar.
- Eu nunca vou te deixar... – Sussurro, olhando para ele. – Assim como eu nunca te deixei antes. – Apoio a mão em seu peito. – Eu sempre fui sua, Bruno.
Repito as palavras que disse a ele em nossa primeira noite juntos. Bruno sorri, lentamente, e seus olhos brilham. Ele roça nossos narizes e, mesmo com os olhos, agora, fechados, continuo vendo estrelas. Quando abro os olhos, ele está olhando para mim, sorrindo. Um olhar intenso, cheio de segredos e promessas que guardo em meu coração.



- Ok, se prepare para comer o melhor camarão de sua vida! – Diz Bruno, andando de mãos dadas comigo pelas ruas de Honolulu.
Estamos perto da praia, e há alguns restaurantes próximos que parecem sair de um filme. O dia está quente, e o aroma do mar me traz uma sensação incrível.
- Heeey, Kai! – Diz Bruno, entrando num restaurante.
- Ah, não acredito! – Diz um senhor de talvez uns 60 anos quando entramos num pequeno restaurante, "Aloha". Ele está usando um avental branco, e sua barriga redonda dá a ele uma característica de paizão. Ele abre um sorriso maior que ele por inteiro enquanto sai detrás do balcão e vai até Bruno. – Eu não acredito...
- Quanto tempo! – Bruno abraça-o, e o senhor quase o levanta do chão.
- Como tem passado, Peter? – Os dois parecem ter uma intimidade de tempos. Eles se separam do abraço, e o homem, Kai, continua sorrindo.
- Estou ótimo, Kai. – Diz Bruno, sorrindo. Depois, pega em minha mão. – Na verdade, nunca estive melhor...
Kai olha para mim e continua sorrindo.
- Mas é claro que não... – Ele pega minha mão e deposita um beijo leve. A simpatia nele é adorável. – Kai, chefe e cozinheiro do Aloha há 30 anos. A quem devo a honra?
- Prazer, Saphira. – Respondo, sorrindo. Ele olha para mim levantando uma sobrancelha.
- Nome forte. A energia em você é intensa. – Ele diz, olhando em meus olhos. Franzo as sobrancelhas e olho para Bruno, que está rindo.
- Ok, Kai, nada de papo espiritual agora. Viemos provar do incrível camarão.
- Senhorita. – Ele diz, agora sorrindo e parecendo empolgado. – Se prepare para provar o melhor camarão de sua vida!
- Preparada. – Respondo. Ele sorri.
- Venham, venham. Peter, ainda tenho aquela mesa que você gosta.
Atravessamos o local. Não há muitas pessoas, e as que estão presentes estão muito envolvidas em suas conversas para sequer prestarem atenção em quem entra e quem sai. Parece ser um lugar familiar, tradicional, histórico, talvez frequentado por clientes antigos. Tudo é bem aberto, com um balcão e talvez umas 10 mesas espalhadas, todas de madeira envernizada. As portas da frente e dos fundos ficam abertas, e o aroma de sal do mar invade o local, além de ser muito fresco. Colares havaianos estão pendurados nos pescoços de alguns clientes, além de todo o restaurante ser nesse estilo. Um espaço simples, mas ao mesmo tempo muito convidativo e confortável. Um lugar que traz paz, com certeza.
- Kai é... único. – Diz Bruno, rindo.
- Qual a história de vocês? – Pergunto, tomando um gole de suco de laranja.
- Eu e minha família frequentávamos esse restaurante desde... bem, dede sempre. – A iluminação natural que vem de fora deixa os olhos de Bruno muito castanhos. Quando olha para mim, sinto borboletas no estômago. Nunca vi um olhar tão intenso. – Sempre, depois de um show, vínhamos aqui comer camarão e batata-frita. Kai meio que nos adotou e uma amizade incrível nasceu entre ele e minha família. Me lembro que ele me pegava no colo enquanto eu ainda estava com a roupa do Elvis, e, se eu fizesse a "boca do Elvis" para ele, ganhava uma cestinha de batata-frita. Nem preciso dizer porque minhas bochechas eram tão grandes, não é? – Bruno parece se divertir com as lembranças. Rio, a mão apoiada no rosto. – Bom, depois de um tempo as coisas mudaram, e minha família não frequentava mais o Aloha. Me mudei para Los Angeles, mas sempre que venho para cá, visito Kai. É um dos meus lugares favoritos.
- Isso é lindo. Sua vida parece um filme. – Digo, tomando mais um gole do suco. Bruno ri. – E Kai é um homem com muitas histórias, tenho certeza.
- Não viu nada, ainda. – Bruno me encara, como me analisando, e, sorrindo, pego em sua mão.
Ele sorri, e penso que estou, realmente, vivendo num filme. Estamos tendo experiências incríveis um com o outro, viagens, muita felicidade... Sempre tenho medo de pensar que tudo isso é bom demais pra ser verdade. Que, no final, talvez, tudo isso compense algo ruim. Talvez eu seja louca, mas já passei por tantas coisas com Bruno que é fácil pensar que, em algum momento, alguma coisa pode dar errado.
O camarão chega e me tira de meus devaneios. Ficamos cerca de uma hora comendo, conversando e rindo. Kai chegou e sentou-se conosco durante mais um tempo. Sua barba rala e branca e seu chapéu estilo chefe o deixam ainda mais carismático. Ri horrores ao ouvir histórias de Bruno quando criança, como roubar um saco de batatas-fritas do congelador de Kai, ou ainda fazer charme para mulheres mais velhas, passando em suas mesas e cantando músicas para elas. Bruno pareceu se divertir tanto quanto eu relembrando tudo isso, e, ao ver seu rostinho iluminado, feliz, tenho certeza que essa viagem realmente está fazendo bem para ele. Sempre percebi que Bruno gosta de relembrar seus tempos de criança, e acho que estar aqui, para ele, é como reviver os bons tempos. Fico feliz que esteja feliz. Além disso, quando fui ao banheiro, pude ver no corredor do restaurante retratos pendurados na parede, e, entre eles, está um de Bruno, com uma pose absurdamente fofa, cantando em cima de um palco e utilizando o figurino Elvis. Em outro, está toda sua família no restaurante, sorrindo para a foto com decorações de festa ao fundo, como bexigas e um bolo enorme na mesa com o número 5 em cima. Pelo rostinho de Bruno, deduzo que a festa era para ele.
Depois de um show particular de Bruno no restaurante, relembrando seus tempos de cover do Elvis, muitas risadas e diversão, estamos saindo, ainda rindo.
- Quando você fez a boca do Elvis, aquela senhora ficou tipo... – Digo, entre risos.
- Enlouquecida! – Completa Bruno, rindo também e segurando em minha mão. Quando ficamos em silêncio, ele me puxa para si. Encosto a cabeça em seu ombro e continuamos andando, já chegando à praia. – Droga, isso está sendo tão... bom.
- Pra mim também. – Digo, sorrindo.
- Não achei que seria, na verdade.
- E por que? – Pergunto, franzindo as sobrancelhas.
- Essa era a minha vida. As vezes não é fácil voltar ao passado... Mas, dessa vez, está sendo... ótimo.
- Que bom saber disso. – Sorrio. – Agora, me diz: o que mais o Havaí pode me oferecer? – Levanto uma sobrancelha. – Além do melhor camarão, claro. – Rio e Bruno para de andar. Ele, agora, olha para mim por inteira. Como surgindo uma ideia incrível em sua mente, ele sorri. – Ok, o que surgiu aí dentro? – Aponto para sua cabeça.
- Tenho uma ideia. Uma ideia incrível. – Ele levanta uma sobrancelha.
- Corro risco de vida?
- Talvez. – Bruno sorri.
- Bom, então, vamos lá. – Digo, rindo.
Ele, com os olhos brilhando, morde o lábio e depois ri. O que quer que seja, com certeza, o deixa animado.


- Vai doer? – Pergunto, sentindo o corpo tremer um pouco. Suor escorre em minha testa.
- É sua primeira vez?
- Sim. – Minha voz sai como de uma criança.
- A primeira vez sempre dói mais que as outras. – Responde ele. – Só... relaxe.
- Ok. – Respiro fundo.
- Qualquer tontura ou algo do tipo, me avise.
- Isso pode acontecer?
- Talvez.
- Ok... – Digo, olhando para a frente onde Bruno está sentado, observando a cena já com uma câmera em mãos.
Como sempre, diz querer filmar para a posteridade, o que seria, no caso, uma posteridade de Bruno e os meninos rindo e zoando de minha cara.
- Você está tensa. Não precisa ficar nervosa, vai acabar antes que você perceba.
- Aham. – Fecho os olhos quando ouço um zumbido de uma máquina ao fundo. – Droga, Bruno, dá pra parar de rir?!
- Não estou rindo. – Ele diz, me filmando e colando os lábios. – É que sua cara está muito engraçada!
- É porque estou pensando em como cheguei até aqui. Como concordei com isso?! – Digo, levantando as sobrancelhas e sentindo um arrepio cada vez que a cadeira ao meu lado arrasta.
- Você vai gostar. – Ele diz, focando a câmera em mim.
Estou sentada numa cadeira, o braço apoiado em um suporte. Novamente ouço o barulho do motor, e solto um pequeno grito. Bruno segura de novo a risada enquanto sinto gelado algo em meu braço. Respiro fundo e tento relaxar.
- Posso? – Pergunta Joe.
- Vai. – Digo, fechando os olhos. De repente, sinto como se pequenas agulhas estivessem sendo enfiadas ali. Sem querer, acabo gritando. – CARALHO, ISSO DÓI!
- É só no começo. – Argumenta Joe. – Depois você acostuma.
- Tá. Ok... – De novo, pareço uma criança, respirando fundo.
- Diga algo para a posteridade. – Diz Bruno, filmando a cena. Olho para ele fuzilando-o com os olhos, e o mesmo ri.
- Bom, estou sentada numa cadeira de um tatuador, sendo brutalmente agredida e torturada.
Joe solta uma leve risada, a primeira que ouço desde que cheguei. Sua careca reluzindo, sua barba, seus músculos e suas infinitas tatuagens pelo corpo o deixam intimidador.
- O que mais tem a dizer?
- Viva a América. – Reviro os olhos, e, agora, Bruno e Joe riem alto.
Sim, vir ao tatuador de Bruno para fazer minha primeira tatuagem parecia uma ideia incrível, mas, agora, sentada aqui e sentindo as agulhas baterem contra meu braço, penso se não estava dopada quando topei fazer isso. Dopada ou bêbada. O que tinha naqueles camarões, afinal?

- Pronto. – Fala Joe, os olhos analisando o trabalho.
Não sei quanto tempo se passou, mas, realmente, depois de um tempo, me "acostumei" com a dor. Por ser uma tatuagem pequena, não demorou muito, e, além disso, não senti nada de tontura ou algo do tipo. Quando finalmente posso levantar da cadeira, vejo o trabalho em frente ao espelho. Mesmo estando avermelhado na área, posso vê-la perfeitamente. Uma pequena e delicada clave de sol preta está desenhada bem na parte de baixo do meu braço, quase perto do cotovelo. Ficou tão perfeita e simétrica que me surpreendo.
- Uau... – Digo, colocando a mão. Está sensível e dói, além de um pouco inchado. – Ficou... linda.
- Eu disse. – Bruno e Joe dizem, ao mesmo tempo. Parecem admirados também.
- Ficou perfeita em você. Ainda não acredito que a ideia foi minha... – Bruno diz de forma exagerada, o que me faz rir. – Como não tinha pensado nisso antes?! Agora, sim, definitivamente, você não é mais virgem.
- Uhul... – Levanto as mãos num ato sarcástico, e Bruno ri.
- Não esquece de ficar com o plástico e passar a pomada durante umas três semanas. – Joe diz.
- Certo. – Digo, ainda encantada com o trabalho.
Não sei por quê, mas nunca tinha sentido vontade de fazer uma tatuagem. Agora que fiz, percebo porque as pessoas gostam tanto disso. Um desenho que representa algo especial para você, tatuado para sempre em seu corpo. Inspirador. Sem querer, sorrio de novo, passando a mão no braço.
- Sabia que iria gostar. – Bruno chega, falando em meu ouvido. Sorrio ainda mais. – Vem, vamos. – Ele pega em minha mão e se despede de Joe, agradecendo-o pelo trabalho, assim como eu.
Quando saímos do estúdio, aquela brisa incrível bate contra meu rosto. O Havaí parece ter um aroma próprio, e uma paz nata. Algo que fez se tornar um dos meus lugares favoritos no mundo. Chegando em casa, trocamos de roupa e vamos até a praia. Estou usando a saída de praia que Bruno me deu, e ele acabou de colocar uma flor atrás de minha orelha. Enquanto ele vai buscar alguma coisa dentro de casa, fico parada em frente ao mar, olhando-o, observando-o. O azul, a espuma, a forma como as ondas se formam e se quebram me encanta, prende minha atenção. Há algumas gaivotas voando no céu, e o barulho de carros e movimento é quase imperceptível, ao longe. É o lugar mais calmo e bonito que já estive, e acaba refletindo em minha alma.
A próxima coisa que penso é em Bruno, em nós. Sorrio sozinha. Nunca, em hipótese alguma, achei que encontraria a felicidade assim, por causa especialmente e unicamente de Bruno. Cada gesto, cada movimento, cada fala, cada olhar me conquista. Ele não precisa fazer esforços, só precisa... ser ele. Conhecer sua terra-natal, pessoas que fizeram parte de sua infância e me aproximar mais de sua família é algo inesquecível, como uma dádiva. Me senti ainda mais íntima, mais envolvida em sua vida.
Perdida em pensamentos, só percebo que estou sendo observada quando olho em direção à casa. Bruno está parado a alguns metros, com uma cesta em mãos, provavelmente cheia de comida. Ele olha para mim como se estivesse admirando algo, analisando. Sua camisa branca de praia está balançando com o vento, e sua pele está bronzeada, reluzindo. Sua bermuda dá a ele um ar totalmente havaiano, e seu cabelo, agora um tanto raspado dos lados, forma um topete de cachos. As tatuagens em seu corpo o deixam como uma obra de arte perfeita. Ficamos um tempo assim, olhando um para o outro, de longe. Depois, sorrio, e sussurro para ele as palavras que amo dizer.
- Eu te amo.
Pelo seu sorriso, mesmo longe, tenho certeza que entendeu o que acabei de dizer. Seus dentes reluzem, e meu coração pula dentro de mim. Sei que ainda estamos passando por dificuldades, mas sinto que sempre estaremos juntos, não importa o que aconteça. Vamos passar por tudo juntos, e, no final, tudo vai dar certo. Tem que dar.


Depois de infinitas despedidas e uma dorzinha no coração, voltamos para Los Angeles. Eu, Bruno e sua família fizemos diversas coisas juntas, como surfar – ou pelo menos tentar -, piquenique e brincadeiras com as crianças, além de muita conversa com as irmãs e Pete. Aliás, Bruno infernizou suas irmãs o tempo todo. É incrível o quanto ele consegue perturbá-las, e a mim também. Nos divertimos juntos, conhecendo o antigo lugar que morava e diversas outras atividades. As irmãs de Bruno choraram na despedida, assim como seu pai, o que acabou me emocionando também. A saudade que eles sentem de Bruno é algo mais que nítido. Houve também o momento em que ele, suas irmãs e Eric foram visitar o túmulo de sua mãe, como fazem todo ano. Bruno quis que eu fosse junto, então o acompanhei. Foi um momento... Intenso. 2 horas e 43 minutos depois, seus olhos estavam vermelhos, assim como seu nariz. Ele chorou por um bom tempo. Me lembro de ter o abraçado durante alguns minutos. Foi o momento mais triste e emocionante da viagem.

Saphira OFF

Bruno ON

- Oi, mãe. – É o que eu digo depois de um tempo encarando a lápide.
Está bonito por aqui. Algumas árvores estão floridas, e o túmulo parece bem cuidado. Coloco as mãos nos bolsos e vejo Saphira e os demais ao longe, parecendo me dar espaço para o momento. Volto a olhar para a lápide e sorrio.
- Estou muito feliz. Muito mesmo. Aquele seu conselho... Você estava certa, como sempre. – Rio um pouco. – Acho que nunca estive tão feliz. Saphira me faz muito bem.
Sinto o vento soprar contra mim, o que faz as árvores e as flores balançarem. O silêncio impera no ambiente. Engulo em seco.
- Sabe, eu... vou passar por uma cirurgia. – Digo, tentando sorrir. – Eu poderia dizer que não é nada demais, mas a verdade é que é sim. É... complicada, na verdade.
Respiro fundo, temendo ser vencido pelas lágrimas.
- E, sim, foi por causa do cigarro. Sei que você me dizia várias vezes para parar de fumar, mas você sabe que eu sempre fui teimoso... – Rio um pouco. Depois, minha expressão se fecha. – Mas ser teimoso me custou muito, sabe?
Engulo em seco, sentindo meus olhos marejarem. Chuto o chão de leve, me sentindo um tanto... triste.
- Sabe... Eu sei que digo isso várias vezes, mas eu gostaria que estivesse aqui. Mais que nunca, eu gostaria. – Dessa vez, minha voz parece embargada, e uma única lágrima corta meu rosto. – Gostaria de receber seu abraço mais uma vez e ouvir que tudo vai ficar bem. Porque tudo realmente ficava bem quando você estava por perto. Você fazia as coisas ficarem bem... – Colo os lábios, sentindo dor ao falar e mais lágrimas caírem. – Eu sinto sua falta. Todos os dias.
Me agacho, de repente me sentindo frágil demais. Chorando, encaro a lápide fria a minha frente, e tento me lembrar da sensação de ser abraçado por minha mãe.
- Eu só queria que estivesse aqui comigo... – Digo, chorando. – Só queria sentir seu abraço de novo...
Então, de repente, alguém me... abraça. Arregalo os olhos e vejo Saphira ao meu lado, também agachada, me abraçando. É quando me arrepio. Encaro a lápide de olhos arregalados. É claro que não é minha mãe me abraçando, mas é como se fosse alguém enviado por ela. Sei que pode parecer loucura, mas é isso que eu sinto. Saphira continua me abraçando, esquentando meu corpo, e, por mais que eu esteja triste, sei que é aqui meu lugar. Ao lado dela. E não sei se ela imagina o quanto isso representou para mim, agora. Decido não dizer nada, apenas chorar um pouco mais, mas, dessa vez, com alguém ao meu lado. Alguém que amo tanto.

Bruno OFF

Saphira ON

Too Good To Say GoodbyeOnde histórias criam vida. Descubra agora