Mente ou coração?

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Bruno ON

Não acredito.
Ela veio.
Ela aceitou estar na turnê conosco. Comigo!
A felicidade é tão grande em mim que não consigo me conter. Vou dirigindo de volta para casa sorrindo como um idiota, mal percebendo o tempo passar. Qual é, terei Saphira comigo, o tempo todo. No palco. Nas viagens. Nos ensaios. É... demais pra mim. Novamente, sorrio, sentindo a excitação em imaginar todo o tempo que passaremos juntos. Não consigo parar de pensar em como ela estava linda hoje. Realmente, não consegui tirar os olhos dela. Novamente, me sinto enfeitiçado, amaldiçoado... não sei o que é, não sei qual o efeito de Saphira sobre mim, só o que sei é que... quero mais.
Chegando em casa, como sempre, Geronimo está me esperando. Brinco rapidamente com ele, rindo e me sentindo divertido. Leve. Com certeza a companhia de Saphira sempre me faz sentir assim, feliz demais. Ao finalmente abrir a porta de casa, levo um susto tão grande que apoio a mão no peito.
- Puta que pariu... – Praguejo ao ver Liza sentada no sofá, com as pernas cruzadas e me encarando enquanto meu coração está disparado. – Mas... que...? Como conseguiu entrar aqui?!
- Você sabe que tenho uma chave reserva de sua casa. – Diz ela, sorrindo.
- Sim, eu sei, mas é para emergências! – De repente, arregalo os olhos, sentindo certo desespero. – Aconteceu alguma emergência?!
- Não, nenhuma emergência. – Ela sorri, demonstrando... tranquilidade.
- Então que porra você está fazendo aqui?! – Faço uma careta.
Nesse momento, Geronimo vai até Liza, pedindo carinho, e ela o acaricia.
- Olha, Geronimo, o seu amiguinho aqui está muito mal educado... – Diz ela, sorrindo enquanto passa a mão por ele. Gernomino balança o rabo e se esfrega.
- Geronimo! – Digo. Rapidamente ele paralisa. – Hora de dormir. – No colo de Liza, ele me dá um olhar tristonho. – Vamos!
Derrotado, ele sai, com a cabeça baixa. Fecho a porta.
- Que horror... – Diz Liza, me olhando incrédula. – Isso é jeito de tratar seu amigo?!
- O que você está fazendo aqui?! – Levanto as sobrancelhas, ignorando sua pergunta e tentando demonstrar minha confusão e impaciência.
- É rápido. – Ela responde, rapidamente. – Só quero... te dar um recado.
- Você está sentada aí há quanto tempo? – Faço uma careta, analisando a situação.
- Tempo suficiente de você levar Saphira para a casa dela.
Levanto as sobrancelhas, me sentindo... surpreso.
- E, bom... – Liza checa o relógio. – Talvez tenha dado tempo para alguns beijos.
Fazendo uma careta, a encaro. Ela levanta as sobrancelhas, como se fosse dona da razão. O que quase sempre é. Como ela está certa no que disse, decido ficar quieto. Ela respira fundo.
- Olha, Bruno... – Diz ela, se levantando do sofá e caminhando até mim. Ela me encara com olhos profundos. De repente, sinto o ambiente sério demais. – O recado, além de ser rápido, é simples e direto: Não machuque Saphira novamente.
- O que? – A pergunta sai tão rápido que penso se não pensei alto. Faço uma careta.
- Isso mesmo que eu acabei de dizer. – Ela, de repente, está muito séria, o que me causa arrepios. – Olha... Eu não sei qual foi o papinho da vez que você lançou para ela e que a faz aceitar o convite para a turnê, e, pior, cair babando em cima de você de novo. O que quer que seja, ela caiu direitinho... – Liza está bem próxima de mim, um tanto... ameaçadora. – Já parou para pensar no que pode acontecer com ela quando você simplesmente decidir que não a quer mais por perto? Ou quando a afastar seja lá por qual for o motivo?
Me sinto... paralisado. Surpreso. Nocauteado pelo que estou ouvindo. Engulo em seco, absorvendo as palavras de Liza, me sentindo incapacitado de dizer algo.
- Pense no que está fazendo, Bruno. – Ela cerra os olhos, me analisando. Esse olhar que me faz sentir nu, como se ela estivesse lendo minha alma. – Tenha responsabilidade com os sentimentos dela. Você deve saber o quanto ela gosta de você... – Liza levanta uma sobrancelha, ainda me encarando. – Então pense bem no que está fazendo.
O silêncio se estabelece por alguns segundos. Olho para Liza, pensando que porra está acontecendo. Faço uma careta, me sentindo confuso, mas ao mesmo tempo... baqueado.
- Ã... – Tento dizer alguma coisa mas nada sai. Me sinto paralisado, sem conseguir pensar em uma resposta. Mas que merda está acontecendo?! – Por que está me dizendo isso? – É o que eu consigo dizer.
- Porque eu me importo com ela. – Diz Liza, ainda séria.
Por suas palavras e pelo seu olhar, entendo imediatamente que ela e Saphira devem ter cultivado certo tipo de amizade. O que não me surpreende, afinal, sei muito bem o quanto Saphira é realmente cativante, alguém fácil de se gostar.
- Saphira é uma mulher incrível, Bruno. – Continua Liza, ainda me encarando. – Ela lutou por aquela vaga como ninguém e a mereceu como ninguém. Não desperdice e muito menos prejudique isso. – Ela cerra os olhos, o que me faz arrepiar. – Se você machucar ela de novo, não serei tão gentil com você, e, acredite, eu sou ótima, mas também posso ser terrível.
A encaro com olhos arregalados. Acho que nunca vi Liza falar assim comigo. Tento dizer algo, mas, novamente, não consigo.
- Era só isso. – Diz ela, se esquivando de mim e indo em direção à porta. – Tenha uma boa noite. – Me olhando com um último olhar mortal, ela se vira e vai embora.
Não sei por quanto tempo fico estagnado no lugar, digerindo tudo o que acabei de ouvir. Geronimo entra na sala e pede carinho, mas nem consigo dar atenção. Eu até tentaria se, de repente, uma crise de tosse não tomasse conta de mim. Tusso tanto que sinto o peito doer. Olho para minha mão e sinto desespero ao vê-la com um pouco de sangue. Corro para o banheiro e vomito, sentindo enjoo. Então lavo meu rosto e finalmente a tosse dá uma trégua. Olho para o espelho e vejo meu rosto agora tão... cansado. E de repente me sinto muito... triste. É como se a alegria que senti alguns minutos atrás evaporasse e tudo o que sinto agora é frustração. E raiva. Quase nunca me lembro dessa doença maldita, apenas nesses momentos. E são esses momentos que parecem me fazer voltar para... a realidade.
Caralho, mas que merda...
O que eu estou fazendo?!
Eu não posso... não posso continuar com isso.
Eu já machuquei Saphira uma vez. Já feri seus sentimentos uma vez. Talvez Liza não esteja errada, afinal de contas. Pf, é claro que não. Ela nunca está. Mesmo com meus motivos, acabei ferindo Saphira, e no fundo eu sei que não posso dar a ela o que ela quer. Por mais que doa, eu sei que não. Como posso ainda pensar em continuar isso com Saphira quando eu sei que só o que irei fazer será machucá-la? Como posso continuar com isso estando na situação em que estou?
Não.
Não posso fazer isso.
Não posso correr o risco de machucá-la, de magoá-la novamente.
Saphira, como Liza disse, é uma mulher incrível, que provavelmente quer um homem com quem possa estar e contar a vida toda. E eu, bem, não sei quanto tempo vou... estar aqui.
Não.
Não posso fazer isso com ela. Simplesmente... não posso.
Droga!
Tento pensar em uma solução, pensar na melhor opção para lidar com tudo isso, e, no meio da batalha entre mente e coração, decido que a mente deve prevalecer, que o mais óbvio deve ser feito. A partir de hoje, ficarei o mais longe possível de Saphira, por mais difícil que seja. Não posso estar perto dela, não quando sei o quanto isso pode prejudica-la. A curto e, principalmente, a longo prazo. Sei que ela gosta de mim, e ao mesmo tempo, amo e odeio isso. É muito bom, mas ao mesmo tempo torna tudo muito... difícil. Preciso ser responsável, pelo menos uma vez na vida. Preciso cortar isso pela raiz, e tem que ser agora.
Por mais que doa, tenho que fazer. Para o bem dela.

Too Good To Say GoodbyeOnde histórias criam vida. Descubra agora