Aceita jantar comigo?

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- Jaque? Jaqueline... – Sento na cama ao lado dela e tento acordá-la.
Inacreditavelmente acordei sozinha e decidi preparar o café da manhã e levar na cama para minha amiga.
- Oi, Sa. Bom dia. – Diz Jaque despertando. O rosto dela ainda está inchado por causa da noite anterior. – Que horas são? – Ela começa a levantar assustada, obviamente preocupada.
- Calma, ainda são seis e meia. – A acalmo, o que a faz deitar novamente. – Trouxe seu café da manhã.
Um tanto desajeitada, ela se inclina e pega algo para comer. Depois, tenta sorrir.
- Obrigada, Sa. Olha... me desculpa por ontem... – Ela começa a falar, mas interrompo.
- Não precisa se desculpar, ok? Sei que é uma situação difícil. Saiba que quando quiser conversar comigo sobre isso, estarei aqui. – Dou um sorriso e ela retribui.
- Obrigada. – Ela sussurra, com muita sinceridade no olhar.
Sorrindo, a deixo sozinha no quarto e vou arrumar a casa. Depois de meia hora ouço alguém batendo na porta. "Às 7 da manhã, fala sério!", resmungo.
- Bom dia! – É o que ouço quando encontro Liza à porta.
- Liza?! – Cerro os olhos por conta do sol. – O que está fazendo aqui?
- Normalmente se retribui o "bom dia" quando alguém te deseja um. – Diz ela já entrando.
Fecho a porta e a observo, pensando se ainda estou sonhando. É incrível como Liza está sempre bem vestida, parecendo sempre elegante. Hoje está usando um vestido bege que modela seu corpo esbelto.
- Ã... – Esfrego os olhos, tentando agir como um ser humano normal. – A que devo a honra?
- Não vai nem me oferecer algo para comer? – Ela sorri, e não sei se está sendo irônica ou não.
- Quer algo para comer? – Sorrio ironicamente, tentando acompanhar a conversa.
- Não, obrigada. – Ela sorri, gentil.
- Qual o seu problema?! – Faço uma careta, ainda pensando se estou sonhando. Nesse caso, um pesadelo.
- Nenhum. Só como blueberries pela manhã e já comi hoje.
Faço outra careta, sentindo vontade de esganá-la por alguns segundos.
- Sa, quem tá aí? – Ouço Jaque caminhando até nós. Quando ela vê a pessoa a sua frente, faz a mesma expressão que fiz quando a atendi. – Liza?! O que você tá fazendo aqui?!
- Minha nossa! Garota, você está horrível! Não dorme há quantas noites? – Eu e Jaque nos entreolhamos, ambas confusas. – E aliás, vocês têm uma péssima maneira de receber visitas. – Liza olha ao seu redor, de cima a baixo. – Mas eu gostei da casa, parece.... aconchegante.
Eu e Jaque, ainda de pijama, nos entreolhamos mais uma vez, e antes que eu pense em fazer algum comentário, inevitavelmente percebo que minha amiga realmente está péssima. Está com olheiras fundas, seu cabelo seco e embaraçado, a pele que já é branca, parece estar mais pálida. Fico preocupada.
- Enfim... – Continua Liza, ainda olhando a casa e passando o dedo em alguns móveis. – Vim falar com você, Saphira. Fecharemos nossa agenda de compromissos por enquanto. Bruno Mars terá que fazer uma viagem de emergência e ficará alguns dias fora. Depois que voltar, irá trabalhar melhor os arranjos musicais e instrumentais de Chunky, então digamos que você terá... um tempo de férias.
- Férias?! – Quase grito, surpresa pelo que acabei de ouvir. – Mas eu só tive um dia de trabalho!
- Não sei porque reclama, mas... não serão exatamente férias. – Liza começa a mexer em sua bolsa e tira um pen drive de dentro. – Aqui estão algumas demos que Bruno gravou, e uma delas é o backing vocal de Chunky que você e Amber gravaram. As outras são algumas ideias para outras músicas e também os backing vocals para músicas antigas de Bruno, tanto do primeiro como de seu segundo álbum, e outros hits de fora também, como Uptown Funk. Você deve ouvir, estudar essas demos, entender e memorizar, pois quando Mars voltar, você e Amber participarão de um pocket show com a banda. Os meninos querem aquecer, então farão uma playlist de hits já lançados. Mas, cá entre nós... – Liza olha pra mim, um sorriso malicioso em seus lábios. – É claro que Bruno quer fazer um teste, ver como vocês se saem no palco.
Fico muda por um tempo, tentando entender todas as informações que acabei de receber. Férias? Show? Teste? Por incrível que pareça, a única coisa que consigo perguntar é:
- Não teremos ensaio?
- Não terão ensaio. – Repete Liza, com um sorriso no rosto. – Bom, para quem invadiu uma sala de testes, isso não deveria te deixar intimidada.
- Não estou intimidada. – Imediatamente me coloco na defensiva.
- Ótimo. – Ela responde, ainda sorrindo. – Bom, você deve saber que no seu contrato não estão inclusos shows, certo?
- Sim, foi o que Craig disse. – Quando cito o nome de Craig, Liza muda rapidamente sua expressão, de uma forma estranha. Franzo as sobrancelhas.
- Sim, é o que Craig disse. – Ela repete o que eu disse e logo após volta a sua expressão normal. – Bom, se vocês aceitarem, assinarão um contrato e receberão um cachê pelo show também.
- Tipo um extra?! – Não consigo conter meus olhos brilhando e minha empolgação. Liza quase revira os olhos.
- Sim, tipo um extra. – Sinto a indiferença em seu olhar e em seu sorriso. – Te enviarei um e-mail com o dia do show e também o dia da volta para o trabalho. Trabalhe bastante esses vocais, mas também aproveite esses dias em casa. Depois disso as coisas ficarão... corridas.
Mesmo me sentindo empolgada pelo dinheiro extra, pelo show, pelas férias não férias, a única coisa que passa em minha mente e me incomoda é a pergunta: "por que Bruno Mars fez uma viagem de emergência?". Sinto uma coceira que me incomoda, como quase me forçando a perguntar. Por algum motivo, sinto necessidade em saber. Sinto certa... preocupação? Minha nossa, ok. Para, Saphira. Não seja intrometida. E nem louca.
- Bom, respondendo sua pergunta: Bruno está bem. – Diz Liza, olhando a sua volta, como novamente analisando a casa.
Sinto meu coração parar. Olho para Liza, estarrecida, e depois para Jaque, que me olha também sem entender nada. Será que pensei alto?
- Eu não te perguntei nada. – Digo, a voz mais baixa do que planejei.
- Tem certeza? – Liza me encara com um sorriso.
- Tenho.
- Mesmo? – Ela cerra os olhos, como se estivesse lendo minha mente. Me arrepio.
- Ã... – A insegurança reflete em minha voz. – Tenho... acho que tenho.
A encaro como se estivesse vendo um bicho cheio de chifres. E me sinto extremamente exposta. Tudo isso com apenas um olhar de Liza. Ela não é normal, não pode ser.
- Bruno viajou por problemas pessoais, mas ele está bem, fique tranquila. – Ela sorri, gentilmente, enquanto continuo arrepiada.
- Aham. – É o que consigo dizer, ainda a encarando assustada.
- Bom, agora estou indo. Estou cheia de compromissos, como sempre. – Diz ela abrindo a porta da casa e colocando seus óculos escuros. Ela se vira para mim abruptamente, o que me assusta. – Ah, faz uma xícara de chá verde para sua amiga, nada melhor que isso depois de uma noite difícil.
E assim ela vai embora, sem me dar tempo de resposta ou de raciocínio. Só o que consigo pensar é no quanto ela é... boa. Incrivelmente e assustadoramente boa.

Too Good To Say GoodbyeOnde histórias criam vida. Descubra agora