Não assinem ainda

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- Acorda, pelo amor de Deus! – Diz Jaqueline, me remexendo.
Mal sabe ela que não consegui pregar os olhos a noite toda, chorando, pensando, relembrando cada momento. Com dificuldade, me viro para ela, e, pela expressão surpresa em seu rosto, acredito que minha aparência deva estar deplorável, como imaginei.
- Credo, que isso?! Festejou a noite toda?!
- Ã... não. Só... cansada. – Esfrego os olhos e bocejo. O bocejo é pura encenação, claro, já que inacreditavelmente o sono nem sequer deu as caras. Vejo Jaque já desconfiando e começo a puxar papo antes de ela começar a perguntar alguma coisa. – Maaaaaas, não fui eu quem festejou a noite toda, não é mesmo?! – Digo isso com um rosto divertido e percebo Jaque esquecendo – provavelmente temporariamente – qualquer que fosse a preocupação comigo, e uma expressão ansiosa e feliz toma conta de seu rosto. Tento sorrir também. – Vai, me conta logo!
- Hm, não sei se merece saber, afinal, você nem me esperou ontem... – Diz Jaque, fazendo um bico.
- Sei que você não vai aguentar não me contar... – Digo, cerrando os olhos. Jaque também cerra os olhos, como uma criança.
- É, não mesmo. – Diz ela, rindo. Acabo rindo também. – Adivinha onde fomos jantar?!
- Fala logo, mulher! – Digo rindo enquanto sento e cruzo as pernas para ficar de frente para ela.
- Palace's!
- Ai, meu Deus! Dizem que esse restaurante é o melhor da Califórnia! – Digo, arregalando os olhos.
- Sim! – Diz Jaque, sorrindo demais. – Fala sério, eu sei que aquele lugar é chique, mas não me lembrava do quanto! Se dinheiro tivesse gosto de comida, com certeza seria o de lá! – Eu e Jaqueline rimos de seu comentário.
- Tá, tá, mas e depois?! – Pergunto, ansiosa.
- Depois... transamos no carro.
- O QUE? – Grito tão alto que Jaqueline tapa os ouvidos.
- Ai, Saphira, que isso?! Quer me deixar surda?!
- E VOCÊ QUER ME DEIXAR LOUCA? Que merda é essa de transar no carro? E toda aquela preparação?! Lingerie e etc?!
Jaque me olha corada, tímida, mas bem à vontade ao mesmo tempo.
- Não sei explicar. Durante o jantar todo eu e Brian... bem... ficávamos provocando um ao outro, com olhares, toques, pés roçando nas pernas...
- Fala sério! – Rio alto.
- Ei, para de rir! – Diz Jaque, fazendo totalmente o contrário do que me pediu, rindo também. – Mas é sério! Eu e Brian estávamos, sei lá, muito atraídos um pelo outro. Era como se a excitação fosse palpável. Quando finalmente saímos do restaurante e fomos para o carro, trocamos olhares e é como se ele lesse minha mente. Ele dirigiu até a sua casa, mas quando o portão da garagem fechou, nos olhamos e... bem, no segundo seguinte ele estava subindo meu vestido e ajustando o banco do carro.
- AI, MEU DEUS! – Grito, os olhos extremamente arregalados. – AMIGA!
- EU SEI, EU SEI, EU SEI! – Jaque pula no lugar, o que me faz rir. – Estávamos tão loucos um pelo outro que não conseguimos aguentar o tempo de entrar em sua casa e subir as escadas. Foi tudo ali no carro mesmo. – Jaqueline agora cora mais ainda. – E, bem, depois na casa dele também.
- SUA SAFADA! – Grito, batendo de leve em seu braço. Jaque ri. – Eu quero saber de tudo, agora!
E assim Jaqueline me conta todos os detalhes de sua primeira vez com Brian. O que aconteceu no carro e depois na casa dele. Minha amiga diz ter sido maravilhoso, ou ainda, "sua melhor transa". Por um momento me sinto totalmente entretida na história de Jaque. Temos uma sintonia excepcional, e muita facilidade em rirmos juntas. Mas, mesmo assim, Bruno, como nunca, não sai da minha mente. Em todas as falas de Jaque, algumas palavras sempre me faziam lembrar Bruno. Mesmo que sem sentido nenhum, eu simplesmente me lembrava dele, e, automaticamente, o desespero toma conta de mim.
Minha nossa, o que eu faço agora?!

Saphira OFF

Bruno ON

- Ok, vamos começar? – Diz Craig.
Já se passaram 30 minutos desde que chegamos na sala de contratos da Atlantic Records e, por incrível que pareça, nenhum sinal de Saphira. Enrolei Liza para adiar a contratação, mas depois de tanto tempo de atraso, acredito que já não é mais possível. Mesmo assim, ainda tento.
- Ã... podemos esperar mais um pouco?
- Acredito que não será possível, Sr. Mars. – Diz Liza, numa completa formalidade diante de Craig e os advogados.
- E por que não? Estão com pressa? – Digo numa tentativa de fazer uma piada.
Quando ninguém ri, percebo que o tempo esgotou. Provavelmente não conseguirei adiar por mais algum tempo. Apoio as mãos atrás da cabeça e reclino na cadeira. Todos na sala me encaram, inclusive a outra moça da qual não lembro o nome que entrará em turnê conosco. Liza me olha nos olhos com uma expressão impaciente, logo depois pigarreia.
- Hm, Sr. Mars, pode me acompanhar, por favor? – Ela pergunta num sorriso forçado.
Reviro os olhos e me levanto da cadeira, seguindo-a para fora, em direção ao corredor. Sei que foi uma ordem disfarçada de pergunta.
- Por favor, chatice não, chatice não, chatice não... – Digo baixinho, com a cabeça abaixada e as mãos na testa, mas com plena intenção de Liza ouvir. Obtenho sucesso em meu plano e, quando levanto os olhos, ela me encara furiosa.
- Bruno, mas que merda é essa?!
- Nossa, onde foi parar o "Sr. Mars?". – Levanto as sobrancelhas, cínico. Liza continua totalmente séria.
- Cala essa boca. Você sabe que essas pessoas não tem o dia todo, não sabe?!
- Hm, na verdade, não sei não. Que tal perguntarmos? – Digo com um sorriso no rosto e voltando para a sala. Liza segura em meu braço e me puxa com tanta força que penso se não é um brutamontes me segurando.
- Para com essa infantilidade, Bruno! Você sabe que estamos atrasados para dar início a essa turnê, os ensaios já deviam ter começado!
- Eu sei, só não podemos esperar mais... – Olho para o relógio em meu pulso. – 5 minutos?
Liza me encara por alguns segundos e então desfaz sua careta e lança um olhar de pena para mim, que me deixa irritado.
- Bruno, olha... Saphira não vem. Sei que quer acreditar que ela vem, mas não. Esquece. Só... esquece, tá bom? – Liza me encara, e, por um segundo, me sinto uma criança perto dela.
- Liza, eu não estou... – Tento disfarçar, mas ela me interrompe.
- Bruno. – Diz ela, colocando a mão em meu ombro e me olhando com aquele olhar que odeio. Ela suspira. – Por favor.
Eu não poderia estar mais irritado. Com muita dificuldade contei tudo para Saphira, confiei nela, e ela simplesmente... não vem. Sei que ela não me prometeu nada, e que não é obrigada a aceitar, mas... no fundo do meu coração, eu ainda sentia uma esperança. Uma esperança de que ela iria aceitar meu convite e estaria na turnê comigo. Agora, me sinto... frustrado.
Encarando Liza e o fim do corredor pela última vez, entro novamente na sala, abrindo a porta sem bater, e logo após a fechando, deixando Liza lá fora. Todos me encaram, assustados, e ficamos alguns segundos em silêncio. Finalmente reúno as palavras em minha boca.
- Vamos assinar isso logo.
- Hm, ok, er... – Diz o advogado, remexendo os papéis. – É só assinar... aqui. – Lane entrega para a moça uma folha de contrato, enquanto Craig explica.
- Bom, antes de assinar, só gostaria de deixar claro algumas especificações do contrato...
- Já li esse contrato 3 vezes durante o tempo que estamos aqui. – Diz essa mulher, ao mesmo tempo arrogante e tentando parecer simpática. Preciso me lembrar de decorar o nome dela. – Estou ciente de todos os pontos. Se não se importa, gostaria de assinar já.
Eu, Craig e Lane olhamos para ela, e, assim, Craig faz sinal para que ela continue. Assim, ela assina o contrato e, quando passa a caneta para mim, sinto meu coração apertar. Se eu assinar isso agora, Saphira estará fora da equipe, e terei que procurar outra backing vocal para substitui-la, e isso, obviamente, não é o que eu quero. Não mesmo. Não só por eu querer estar perto dela, mas por saber que existem poucos talentos como o de Saphira por aí. A contratei por seu talento único, e, no fundo, sei que todo esse trabalho de 24k Magic não teria sido o mesmo sem ela. Saphira é muito profissional, e sei que não encontraria outra como ela em lugar nenhum.
- Bruno? – Chama Craig, interrompendo meus pensamentos. – Podemos?
- Sim. – Digo, sério e... angustiado.
Pego a caneta da mão da moça e puxo a folha para mim. Já li esse contrato milhões de vezes e praticamente sei as cláusulas de cabeça. Dessa vez, a Atlantic Records não estará envolvida diretamente com as contratações, já que, por ser uma turnê, a responsabilidade será nossa, de acordo com o lucro. Mas, claro, toda a equipe e estrutura serão da Atlantic Records, então por isso Craig e os advogados estão presentes.
Encarando mais uma vez todos nessa sala, pego a caneta em minha mão. Será que errei em confiar em Saphira? Será que toda essa verdade despejada foi demais para ela? Será que colocar esse peso em suas costas foi o certo, foi o... correto? Será que...?
Chega.
Não dá mais pra pensar nisso. Não agora.
Pego a caneta e, apoiando o punho sobre a mesa, começo a assinar.
Mesmo contra minha vontade, eu realmente teria assinado se Liza não abrisse a porta abruptamente, gritando, parecendo assustada e apressada. Todos assustamos, pulando da cadeira. Ela está um tanto descabelada, e seu semblante está... alegre?
- PAREM! NÃO ASSINEM AINDA! – Grita ela, com a mão na maçaneta e a porta entreaberta. Todos nos assustamos, principalmente Craig, que se vira na cadeira.
- Mas, que... – Craig começa a falar, obviamente já estressado. Observo ainda com a caneta na mão.
- Ã... – Diz Liza, se recompondo. Ela passa as mãos pelo terninho e pelo cabelo, se ajeitando, então entra na sala por um vão na porta, não abrindo-a totalmente. – Quero dizer... Senhores, por favor, não assinem ainda.
- Qual o motivo?! – Pergunta Craig, a irritação presente em sua voz. Mas que merda Liza está fazendo?
Quando Liza abre o restante da porta, sinto que meu coração irá sair pela boca.

Bruno OFF

Too Good To Say GoodbyeOnde histórias criam vida. Descubra agora