Vibes

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- Ã... onde vamos, exatamente? – Pergunto para Liza enquanto entramos no carro.
Bruno já entrou em seu carro e saiu, antes de nós. Trisha senta atrás, ao meu lado. Respiro fundo e penso que preciso ser profissional. Não importa se não gostamos uma da outra, estou aqui para trabalhar e é isso que irei fazer. O que não me impede de revirar os olhos ao ver sua expressão debochada.
- Vamos para a casa do Bruno. – Diz Liza, sentando no banco da frente.
- O que?! – Eu e Trisha dizemos, ao mesmo tempo.
- Ele dará um almoço para vocês hoje, como recepção e comemoração pelo contrato. – Diz Liza colocando os óculos escuros enquanto o carro dá a partida. – Não se preocupem, já estão todos esperando vocês.
- Ele gosta de comemorar, né... – Comento, já olhando pela janela do carro.
- Hm... – Diz Trisha, com um rosto provocativo enquanto enrola no dedo uma mecha de cabelo.
É quando a observo e depois observo a mim mesma. Minha nossa, eu devo estar deplorável. Não tenho espelho no momento, mas sei que não preciso de um para saber que meu cabelo está todo frizzado por conta da chuva, minhas roupas agora apenas úmidas incomodam no meu corpo, e a calça jeans esfarrapada, sapatilha suja e blusa manchada me fazem sentir horrível. Ao olhar para o lado e ver Trisha toda arrumada e já com um sorriso malicioso nos lábios, me faz querer gritar. Não posso aparecer nessa festa nesse estado, com certeza não. Não sei o que vou fazer, mas com certeza não irei continuar desse jeito.
Quase meia hora depois, entramos pelo já conhecido portão da casa do Bruno. Ao percorrer a estrada pavimentada, consigo enxergar vários carros estacionados em seu gramado da frente. Trisha se apoia na cabeça do banco da frente para enxergar melhor, e vejo a excitação em seus olhos ao ver a casa de Bruno. Não a culpo, afinal, mesmo eu já a "conhecendo", me sinto enfeitiçada. Com a luz do dia, agora consigo enxergar melhor, e parece ainda mais bonita. E maior.
- Para o fundo, meninas. – Diz Liza quando saímos do carro.
Imediatamente ouço barulho de conversas, risadas, e o que parece... água. Piscina, com certeza. Hoje o frio pareceu dar uma trégua e o sol aparece. Não faz muito calor, mas acho que o suficiente para um refresco na piscina. Mais uma vez olho para mim, percebo o quanto estou horrorosa e faço um bico, provavelmente parecendo uma criança. Estou pronta para dizer a Liza que não irei participar quando ela me chama.
- Menos você, Saphira. – Liza me olha de cima a baixo, novamente com uma expressão de desgosto. – Você vem comigo.
Trisha me olha um tanto confusa, mas depois joga seu cabelo e segue para os fundos. Como Liza pediu, a sigo para dentro da casa, mesmo me sentindo desconfiada. Ao chegar na já conhecida sala, consigo ver algumas pessoas pela extensa janela de vidro. Liza, como se estivesse em sua casa, sobe as escadas. Franzo as sobrancelhas, estranhado e pensando que nunca vi essa parte da casa de Bruno. Na verdade, conheci somente a sala, que já parecia ser grande demais. Enquanto subo as escadas, é inevitável não me sentir ainda mais impressionada.
- Aqui. – Diz Liza, parando em frente a uma porta do que parece ser um banheiro. Ela estende o braço e me oferece uma mala pequena.
- O que é isso? – Pergunto, fazendo uma careta.
- Roupas e mais algumas coisinhas pra você. – Ela diz, da forma mais natural possível.
Enquanto ela estica o braço para mim, continuo com as sobrancelhas arqueadas, não entendendo. Liza revira os olhos e bufa.
- Você acha mesmo que eu iria deixar você aparecer nessa festa estando deplorável desse jeito? Vai, pega logo isso.
- Mas... como.... – Gaguejo enquanto pego a maleta da mão de Liza. Ela sorri, presunçosamente. Minha ficha cai e meus olhos arregalam. – Você sabia que eu iria hoje, não sabia?! Você sabia que eu iria aceitar a oferta para o contrato!
- O que você acha? – Diz ela, ainda sorrindo. – Na verdade, pra ser muito sincera, eu não tinha muita certeza. Eu sabia que você ficaria na dúvida e que, se aceitasse, iria aceitar de última hora, talvez chegando no prédio... – Ela aponta para minha camisa manchada. – Desse jeito, e claro, não sabendo desse almoço. Então, antes de sair de casa, já arrumei roupas pra você.
- Qual é... – Digo, sorrindo e com os olhos ainda arregalados, não acreditando. – Isso não pode ser possível.
- Aceite isso como uma recompensação pelo... presente de aniversário. – Diz ela, com um sorriso doce. Imediatamente me lembro do porta-retratos que dei a ela, e sorrio de volta. – Realmente foi um presente muito clichê, mas... é um dos melhores que já recebi.
Liza quase nunca demonstra carinho, ela sempre é corporativa demais para essas demonstrações, então aproveito. Olho para ela e sorrio, sentindo meus olhos marejarem. Só não a abraço porque ainda estou um tanto molhada e ela me mataria por isso.
- Minha nossa, você e Jaqueline choram por qualquer coisa! – Ela diz, rindo, mas posso ver seus olhos brilhando, talvez um pouco marejados também. – Agora vai, vai. Não temos o dia todo.
- Você é um anjo! – Grito enquanto ela desce as escadas.
- Eu sei! – Ouço ela respondendo.
Rindo, fecho a porta do banheiro. Então levanto os olhos para analisar o lugar. Como imaginei, é... maravilhoso. Mesmo sendo provavelmente um banheiro de hóspedes, deve ser maior que meu quarto. Tem uma banheira incrível, um chuveiro também, com uma pia tão linda quanto os detalhes do piso. Penso que casas de ricos deveriam ser pontos turísticos. Tudo é tão... lindo.
Acordo de meus devaneios e me lembro de que preciso me arrumar. Liza, graciosamente, providenciou dentro da mala tudo o que eu preciso para um banho. Então, tomo uma ducha rápida. Talvez nem tão rápida se levar em conta de que até lavei o cabelo. E relaxei com a água quente caindo em minhas costas. Um luxo merecido depois de ter corrido debaixo da chuva.
Agora com a toalha no cabelo, desdobro a roupa que Liza trouxe. Ela escolheu para mim um vestido longo florido em tons rosa queimado, preto e azul escuro, formando uma estampa muito bonita. Seu tecido é leve, mas ao mesmo tempo encorpado. Ao vesti-lo, noto que marca muito bem minha cintura, e as alças amarram no pescoço, o que me faz sentir livre por poder usá-lo sem sutiã, me deixando mais à vontade e talvez até um pouco mais sexy.
Com muita paciência, penteio meu cabelo em frente ao espelho e seco com o secador que encontrei em um dos armários. Por um milagre ele fica lindo, volumoso e comprido, até as costas. Faço uma maquiagem rápida com produtos que estão na necessaire que Liza disponibilizou, calço uma sandália também disponibilizada por ela e de uma forma ousada, utilizo o perfume que encontrei no armário do banheiro. Ao senti-lo em minha pele, imediatamente percebo que é o cheiro de Bruno. Não sei o que isso está fazendo aqui, mas não me importa, já usei mesmo.
Olho no espelho e me sinto... renovada. Feliz. E bonita. Minha nossa, obrigada, santa Liza. Não posso me esquecer de agradecer a ela novamente e mais milhões de vezes.
Agora seguindo pelas escadas que anteriormente subi, olho para baixo, para meus pés, admirando a sandália incrível que Liza me emprestou. Realmente é linda, com detalhes em pérolas. Quando levanto a cabeça, alguém se choca comigo tão bruscamente que acabo caindo, junto com a pessoa.
- Ai, meu Deus, me desculpe. – Ouço uma voz feminina dizer. Depois de me levantar e ajudar a moça também a se levantar, congelo ao, talvez, reconhecer quem é. – Você está bem? – Ela diz, parecendo preocupada.
- Sim, sim. – Digo, arrumando meu vestido. – E você?
- Sim, sim. Desculpe, eu sou tão desastrada...
- Imagina! Eu que estava distraída. – Sorrio.
- Você é Saphira, não é? – Diz ela, sorrindo e estreitando os olhos. Olhos tão parecidos com os de Bruno.
- Sim, eu mesma. E você, se não me engano, é Tiara, certo?
- A própria. – Diz ela, sorrindo e esticando a mão. – É ótimo conhecer você.
- Digo o mesmo. – Aperto sua mão e sorrio, imediatamente me sentindo captada por ela. Além de ser linda, é também muito simpática. A irmã de Bruno, com certeza. – Me desculpa a pergunta, mas, como sabia quem eu era? – Pergunto, sorrindo e um tanto sem jeito.
- Ah, isso é fácil! – Diz ela, rindo. – Me lembro de você naquele outro almoço no qual Bruno as apresentou. Faz um tempinho, mas também sei que você agora faz parte da equipe dos Hooligans...
- Ah, sim! Claro. – Sorrio, afetuosamente.
- Bom, se não se importa... – Diz ela, fazendo um sinal para passar.
- Ah, claro. – Digo, sorrindo e dando licença.
- Aproveite o almoço. – Ela diz, sorrindo enquanto sobe as escadas.
A observo e me sinto feliz ao sentir a simpatia da irmã de Bruno. Por já ter fuçado em seu Instagram, imaginei o quanto ela deve ser simpática. E acertei. Sorrio, de repente me sentindo muito bem.
Descendo as escadas, decido ignorar meus pensamentos. Sigo para fora e caminho até o quintal. Então, arregalo os olhos quando vejo o espaço. Há uma piscina enorme, com algumas pessoas dentro, das quais só reconheço Eric. Do lado há uma piscina menor, para crianças, na qual está quase cheia. No gramado, há várias mesinhas espalhadas com várias pessoas sentadas, conversando, comendo e rindo. Há uma mesa extensa, cheia de comida, das mais variadas possíveis, e há música tocando. Noto que Brody vem até mim.
- Saphira! Quanto tempo! É ótimo te ver de novo. – Ele sorri e me observa. – Está linda!
- Obrigada! Que saudade! – O abraço.
- Fique à vontade. Sua amiga, Trisha, está sentada naquela mesa al...
- Ela não é minha amiga. – Digo, interrompendo-o. Mordo a língua ao perceber que falei sem pensar.
- Como? – Pergunta ele, franzindo as sobrancelhas, obviamente não entendendo o que eu disse.
- Ã... ela não é minha... – Suspiro e sorrio. – Deixa pra lá.
- Ok... – Ele cerra os olhos, me observando, o que me faz rir. – Trisha está lá, mas pode sentar onde quiser.
- Obrigada. – Digo, sorrindo.
Ele também sorri e agora se encaminha para uma mesa. Caminhando pelo gramado e passando perto das mesas, sinto as pessoas me observando e sorrindo. Retribuo e tento encontrar um lugar para me sentar, sentindo aquela sensação constrangedora de entrar num ambiente em que todos te observam, mas ao mesmo tempo é incrível perceber o quanto o clima está gostoso, leve, bem... familiar e diferente da outra vez em que estive aqui. Parece que há alegria e união, bem diferente do silêncio e da solidão que Bruno demonstrou naquela noite. Não há muitas pessoas, percebo que só o necessário, como família e amigos, mais especificamente os meninos da banda. Noto também um cachorro preto, enorme e lindíssimo correndo feito um louco pelo jardim enquanto brinca com as crianças. Depois de algumas pesquisas sobre Bruno, deduzo que deva ser Geronimo, seu cachorro. Logo reconheço também o pai de Bruno sentado com suas irmãs, e a banda bem espalhada, com suas esposas, filhos e namoradas.
Ainda andando pelo gramado, sinto uma mão tocar meu ombro, e pelo arrepio que sinto em todo meu corpo, já sei exatamente quem é, mesmo sem vê-lo.
- Oi. – Diz Bruno, quando me viro. Ele me olha da cabeça aos pés, duas vezes.
- Oi.
- Você está... – Seus olhos demoram alguns segundos mais quando encontram meu decote. Imediatamente sinto meu corpo esquentar. – Linda.
- Obrigada. – Digo, sorrindo. Ele volta os olhos para meu rosto, e, quando sorri, meu coração derrete.
- Trocou de roupa?
- Ã... sim. – Acabo rindo de sua pergunta óbvia.
- Ficou ótimo. – Diz ele, sorrindo e apoiando ligeiramente sua mão em minha cintura. Sinto queimar onde ele toca. – Vem, vou te apresentar às minhas irmãs.
Bruno caminha e o sigo. Sua mão agora repousa em minha lombar, logo acima de minha bunda, de uma forma... carinhosa. Respiro em fundo e engulo em seco, tentando me concentrar. Só é muito difícil fazer isso quando se trata de Bruno. Tudo nele me desconcerta.
- Passou meu perfume? – Ele pergunta, fazendo uma careta. Me finjo de desentendida.
- Claro que não, por que eu faria isso?!
- Hm... – Ele resmunga, me olhando de canto de olho e um início de sorriso no rosto, o que me faz segurar a risada.
Ainda com a mão em mim, ele me guia até a mesa de sua família. Imediatamente me sinto... nervosa. Posso jurar que todos estão nos olhando. Ao chegar, seu pai levanta os olhos do prato e olha para mim de forma simpática. Suas irmãs parecem.... desconfiadas.
- Pessoal, essa é Saphira. Ela já trabalhou conosco na gravação de 24k Magic e estará conosco novamente na turnê. – Bruno sorri, apontando. – Saphira, esse é meu pai, Peter.
- Saphira, é um prazer. – Diz o pai de Bruno, limpando a boca com um guardanapo e se levantando para me cumprimentar.
- O prazer é meu. – Digo, abraçando-o e sorrindo.
- E essas são Presley, Jamie, Tahiti... – Bruno cerra os olhos, olhando o gramado como se procurasse alguém. – Onde está Tiara? Ah, aí está ela! – Diz ele, sorrindo ao ver sua irmã chegar.
- Oi de novo, Saphira! – Diz Tiara, sorrindo e se sentando.
- Já se conhecem? – Pergunta Bruno, franzindo as sobrancelhas.
- Mais ou menos. – Digo, sorrindo. – É um prazer conhecer vocês.
- Igualmente. – Responde Jamie sorrindo. Ou seria Tahiti? Elas me confundem.
- Heeey, Saphira! – Diz Phil, chegando, nada discreto.
- Oi, Phil! Que saudade! – Me afasto de Bruno e praticamente pulo para abraçar Phil. Ele retribui o abraço, rindo.
- Como se sente agora sendo definitivamente uma Hooligan? – Phil pergunta, cerrando os olhos e me olhando.
De repente, é como se a ficha caísse. Estarei em turnê com os meninos e sou, oficialmente, parte da banda. Sou uma Hooligan. Minha nossa. Sorrio, me sentindo... emocionada.
- Tô feliz pra caralho!
Todos ao redor riem, inclusive Bruno. Phil me puxa para outro abraço.
- Senti falta desses palavrões...
Então, passo uma tarde mais que agradável com todos. Conversei, ri e me diverti demais. Conheci alguns amigos de Bruno, conversei com todos da banda, até brinquei com as crianças, algumas delas filhas das irmãs de Bruno. A banda, como também Bruno, parabenizou a mim e Trisha, e nos deu as boas-vindas. Foi uma tarde... incrível.
Quando quase todos já foram embora, cerca de 7 horas da noite, estou parada na frente da piscina, olhando, pensando. Sinto então alguém chegando ao meu lado. Bruno. Ele está com um sorriso encantador.
- Bom, parece que você aceitou meu pedido... – Ele coloca as mãos nos bolsos. Tão... lindo.
- É, parece que sim. – Digo, sorrindo disfarçadamente e olhando para a água à minha frente.
- O que te motivou? – Ele pergunta depois de segundos de silêncio. Viro para ele com um sorriso de canto.
- Talvez um dia você descubra.
Ele, ainda olhando para a frente, sorri. Volto a olhar para a frente também. A água da enorme piscina, já limpa, está tão cristalina que chega a ser encantador.
- Bom, acho que já vou... – Comento, me sentindo um tanto... cansada.
- Espera. Preciso te apresentar alguém antes.
Franzo as sobrancelhas, olhando ao redor e notando que não há mais ninguém aqui.
- Quem? – Pergunto.
Bruno sorri para mim como uma criança.
- Espera aqui.
Assim como ele pediu, espero, e, segundos depois, ouço patas pesadas correndo em minha direção. Quando me viro, um cachorro enorme pula em mim enquanto me seguro para não cair. Me agacho e, como um bebê, ele se deita e vira a barriga para eu fazer carinho. Imediatamente me sinto... apaixonada.
- Geronimo, cuidado! – Diz Bruno, chegando perto de nós. Ele se agacha também.
- Então você é mesmo o Geronimo... – Digo, acariciando sua barriga.
- Já o conheceu? – Bruno pergunta, franzindo as sobrancelhas.
- Não oficialmente. Só... deduzi que fosse ele. – Sorrio, ainda acariciando-o. – Você é muito fofo!
Geronimo está todo animado, com a língua pra fora enquanto recebe carinho na barriga. Bruno ri.
- Ele está muito mal acostumado, isso sim. – Bruno também o acaricia, sorrindo. – Geronimo é meu companheiro há anos.
- Ele parece ser uma ótima companhia. – Digo, ainda acariciando-o.
- Sim, ele é... – Diz Bruno, olhando para ele e sorrindo.
De repente, ouço meu celular tocando e, rapidamente, me levanto e vou até minha bolsa em cima de uma das mesas. Mensagem da Jaque.

Too Good To Say GoodbyeOnde histórias criam vida. Descubra agora