Longa viagem

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- Ai, não! Como vou viver sem você?! – Jaque praticamente grita e literalmente chora quando chegamos ao aeroporto.
Dormi apenas algumas poucas horas e finalmente estamos no aeroporto. Minhas malas já estavam feitas há alguns dias, mas Jaque me ajuda a relembrar de tudo antes de sairmos de casa. Contei rapidamente para ela sobre a gravação do clipe, mas não sobre Bruno. Não achei que fosse... necessário. De qualquer forma, ela surtou quando contei detalhes de gravação. Ambas estamos muito ansiosas para saber como ficou o resultado.
- Jaqueeee, olha o escândalo!
Olho para as poucas pessoas ao nosso redor e comprovo mais uma vez que estamos chamando a atenção. Ao voltar os olhos para Jaque, a vejo chorando tanto que, imediatamente, choro também. A minha ficha finalmente parece cair. Entendo que ficarei muito tempo fora, viajando, e penso no quanto irei sentir falta dela. Não demora para as lágrimas caírem e nós duas nos abraçarmos pela milésima vez. Continuamos abraçadas e chorando de soluçar por muito tempo. Quando nos afastamos e olhamos uma para a outra, de repente... rimos. Minha nossa, talvez nós duas estejamos enlouquecendo.
- Por favor, se cuida, tá bom? – Jaque diz, sua voz embargada e seus olhos vermelhos de tanto chorar.
- Tá bom... – Respondo, minha voz também embargada e meus olhos marejando novamente.
- Não esqueça de comer todas as refeições, não dormir com o cabelo molhado e não beber tanto quando sair... – Ela chora e ri ao mesmo tempo.
- Tá bom... – Digo, também rindo e chorando.
- E, por favor... – Jaque pega em minha mão, lágrimas voltando a rolar. – Aproveita muito, ok? Você merece tudo isso. Estou triste por ficar sem você mas muito feliz por conquistar todas essas coisas. Você merece tudo isso e muito mais. – Ela olha em meus olhos e a cor de mel deles parece brilhar por conta das lágrimas. – Eu te amo demais.
A encaro por alguns segundos e volto a chorar copiosamente. Nos abraçamos de novo, e sinto o peito apertar tanto que chega a doer.
- Vamos combinar de conversar todo dia. Todo dia, entendeu? Eu nunca vou saber os fusos horários mesmo, então independente do horário, você me chama e eu respondo. Sempre. – Seguro em seus ombros e olho em seus olhos. – Sempre, entendeu?
Jaque não diz nada, apenas afirma com a cabeça e volta a me abraçar. Choramos por mais um tempo e tentamos manter a calma. Sinto que irei desidratar. De repente percebemos um movimento diferente, pessoas andando rapidamente para lá e para cá. Ao olharmos para a direção do barulho, a porta se abre, e imediatamente reconheço a banda. Os meninos vêm na frente, acompanhados de Trisha, e, no final, Bruno, com um sorriso no rosto, provavelmente autografando alguma coisa. Depois dos seguranças conseguirem trazer Bruno e fechar a porta, eles se aproximam. Não consigo conter um sorriso no rosto ao ver todo mundo ali, prontos para viajar. Então, de repente, a ansiedade dá as caras. Novamente, é como se a ficha caísse só agora. Quando Bruno vem ao meu encontro, sinto que meu coração irá parar. Como sempre, está com óculos escuros, seu cabelo ainda raspadinho dos lados, mas já crescendo. Ele tira os óculos, sorri e me abraça, e sinto minhas pernas moles. Como irei resistir a isso, céus?!
- Pronta? – Diz ele, ainda com a mão em minha cintura.
Todos aqui olham para nós, enquanto Trisha cerra os olhos. Bruno parece não perceber enquanto sorrio para ele, pigarreando e me afastando um pouco.
- Bom, eu acho que sim, o problema é a Jaque. – Olho para minha amiga que está cumprimentando todos aqui enquanto chora de novo.
- Nunca vou perdoá-los por tirá-la de mim, ouviram? Nunca! – Jaque diz, chorando, enquanto todos riem.
- Vamos? – Diz Phil, checando seu relógio. – Já está na hora.
- Podem ir na frente, estou logo atrás. – Digo.
Concordando com a cabeça, Bruno sorri e caminha com o pessoal. Então, olho para Jaque, e ela ainda está chorando. Também chorando um pouco, a abraço forte. Penso que não terei esse abraço tão breve, então aproveito. Sei que essa é a maior oportunidade e experiência da minha vida, mas também sei que irei sentir muita, mas muita falta de Jaque. Meus dias serão incríveis, sei disso, mas não tão incríveis se minha melhor amiga estivesse por perto.
Jaque me abraça tão forte que quase perco o fôlego. Ouço alguém gritando para eu ir rápido, e finalmente a solto. Minha amiga me olha já com saudade nos olhos.
- Promete que vai se cuidar? – Ela diz, chorando.
- Prometo.
- Sei que você detesta cozinhar, mas promete que não vai ficar sem comer?
- Prometo. – Rio um pouco, secando as lágrimas.
- Promete que não vai beber e ficar louca?
- Prometo... que vou tentar. – Digo, cerrando os olhos. Jaque ri um pouco.
- Promete arrasar nos shows?
- Prometo.
- Promete ficar longe do idiota do Bruno?
Faço uma careta, talvez um bico, que faz Jaque rir e bater em meu braço.
- Se você precisar de alguém para socar esse baixinho, pode me chamar. Eu vou onde estiver. – Ela chega pertinho de mim e sussurra. – O fato de eu ser mais alta que ele me dá mais coragem, sabe?
Dessa vez, rio alto.
- Jaque, você é só 3 centímetros mais alta que ele. – Digo, ainda rindo um pouco.
- E você 3 centímetros mais baixa. Eu com certeza sairia melhor numa briga com ele.
- Ok, eu concordo. – Rio novamente.
- Por favor, se cuida. – Novamente, seus olhos estão marejados.
- Prometo. E nunca se esqueça: sempre estaremos juntas.
Como que se lesse meus pensamentos, Jaque aproxima seu colar de três corações, aquele que é igual ao meu, e juntamos os pingentes, enquanto sorrimos e encostamos nossas testas.
- Tá, ok, já entendemos que irão sentir saudade, mas precisamos ir. – Diz Jamareo, parado a certa distância, provavelmente não querendo invadir nosso espaço.
Rindo, pego minhas malas, e Jamareo me ajuda a carregar. Com um último olhar e lágrimas nos olhos, sussurro um "eu te amo" para Jaque e sigo para o avião. No caminho a ouço gritando coisas como "te amo", "linda", "melhor amiga", "arrasa", e Jamareo não para de rir enquanto caminha ao meu lado. Aproveito e grito um "cuide bem das plantinhas!" na intenção de irritá-la, já que ela sabe que não me dou bem com seu mini jardim nos fundos de casa.
Ao chegar no avião, antes de entrar pela porta, olho uma última vez para minha amiga, já distante, com sua calça branca, seus scarpins bege perfeitamente polidos, sua camisa rosa clara e seus cabelos loiros cor de mel esvoaçando com o vento. Damos tchau uma para outra, então finalmente entro no avião e a porta se fecha. Todos já estão sentados, mas não consigo enxergar ninguém especificamente. Coro para qualquer lugar que esteja livre para a janela, e olho por ela. Jaque ainda está lá, em pé, olhando o avião. Quando começamos a decolar, dou tchau pela janelinha enquanto choro, assim como ela. Depois de já estarmos no ar e perde-la totalmente de vista, me ajeito na cadeira e choro ainda mais. Penso que para qualquer um isso pode parecer um drama dos infernos, mas só nós sabemos de nossa conexão e da dor de nos afastarmos uma da outra. De ter que, depois de anos, quebrar nossa rotina. Eu não tenho família aqui, e Jaque não é próxima da dela, então, formamos nossa própria família. Cuidando uma da outra. Sendo confidentes, amigas, irmãs. Me afastar dela é como deixar um pedaço de mim pra trás.
Em meio ao choro, ainda consigo sorrir ao pensar que, com toda certeza, nada irá mudar entre nós. Jaque será sempre minha melhor amiga, independentemente de onde eu estiver, e, mesmo que a distância atrapalhe, sei que nossa amizade continuará forte, indestrutível até. Seguro os pingentes do colar com os dedos, sentindo as lágrimas queimando meu rosto, e continuo olhando pela janela, vendo a imensidão do céu e as nuvens nos cercando, até que não vejo mais nada, só o escuro.

Too Good To Say GoodbyeOnde histórias criam vida. Descubra agora