Eguisheim

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- Estão prontas? – Diz Liza entrando no apartamento, exatamente à meia-noite, como prometido, e de novo, sem bater.
Estou na sala mexendo no notebook enquanto Amber e Jaque terminam de se arrumar.
- Eu, sim. – Respondo.
- Ei! Não vou esperar! – Grita Liza para as meninas. Elas saem correndo do quarto.
- Estamos prontas.
- Ok, vamos. – Desligo o notebook, pego minha bolsa e me encaminho para a porta.
Todas elas saem na minha frente e fico para trás, fechando a porta. Olho de relance para o fundo do corredor e me assusto ao perceber alguém chegando, no escuro. Justamente pela falta de iluminação e do completo silêncio a não ser por Liza, Amber e Jaque tagarelando sobre alguma coisa, não consigo reconhecer quem é. Quando a luz automática do corredor se acende, meu coração acelera, e penso se não estou vendo coisas.
- Saphira? – Diz Bruno, chegando perto de mim, sua expressão demonstrando surpresa. – Estava vindo para cá agora... – Ele franze as sobrancelhas, parecendo me analisar. – Para onde vai?
- Ã... – Faço uma careta, me sentindo ainda atordoada por ver Bruno aqui e agora. – Vou sair com Liza e as meninas.
- Para onde?
Penso em responder que não é da conta dele, mas acho que não há necessidade de ser tão rude.
- Eguisheim. – Respondo sorrindo e terminando de trancar a porta.
Bruno, de repente, segura em meu braço. Só agora que está mais perto consigo perceber que ele está com olheiras, obviamente cansado e com um leve cheiro de bebida. Whiskey, talvez.
- Podemos conversar? – Ele pergunta, seus olhos fixos nos meus, mas de uma forma... estranha. Será que está bêbado?
- Eu... sinto muito. – Olho para o outro lado do corredor, vendo as meninas já sumindo de vista. – Não dá, Liza está me esperando.
- Por fav...
- Não dá! – Digo, mais agressiva do que quis ser.
Bruno parece se assustar. Ele tira a mão de meu braço, parecendo... desapontado. Imediatamente me arrependo de ter falado assim. Na verdade, nem eu mesma sei porque fiquei tão irritada.
- Bruno, me desculpa...
- Não, tudo bem. – Ele sorri sem graça, erguendo as mãos e andando para trás, se afastando. – Liza está te esperando.
E assim, ele some. "Caralho", é o que consigo pensar enquanto fico estagnada. Não acredito que falei assim... Argh! Percebo alguém chegando pelo outro lado do corredor.
- Saphira! Já disse que não vou esperar! – Liza me puxa pelo braço. – Vamos logo, que saco!
Sigo ela e entro no elevador com as meninas. Elas tagarelam sobre alguma coisa mas não consigo prestar atenção. Ainda me sinto... incomodada pelo que acabou de acontecer. É claro que eu gostaria de conversar com Bruno, mas acho que estou criando uma armadura tão forte contra ele, que as vezes acabo... exagerando. Ou talvez não? Talvez, se eu baixar um pouco a guarda, ele aproveite a oportunidade e faça tudo de novo. Minha cabeça parece esquentar com tantos pensamentos, tantas dúvidas. De qualquer forma, eu ainda não entendi porque ele parece estar tão cansado, preocupado, tão... misterioso. Sei que o trabalho o consome, mas ele parece estar pior. Tem alguma coisa acontecendo, disso eu tenho certeza.
De qualquer forma, de uma coisa eu sei: ficar sozinha com Bruno é a última coisa que posso pensar em fazer. Perco o controle quando estou com ele, minha mente não responde mais por mim, e isso é algo que não posso me dar ao luxo de acontecer. Nunca mais.

- Jaque, Amber, chegamos. – Balanço as duas ao meu lado, acordando-as.
Passei quase a viagem toda acordada, com meu pensamento viajando. Bruno, família, música, e tantas outras coisas. Mas, claro, Bruno em quase todas elas. Acabei dormindo somente umas 2 horas. Chegando, o motorista estaciona em frente ao que parece um pequeno restaurante. Por ainda estar um tanto escuro, não consigo enxergar com clareza.
- Acordeeeem! – Grita Liza no banco da frente, o que faz as meninas pularem de susto. Rio alto ao vê-las com o rosto inchado e assustadas.
- Que susto, Liza! Credo! – Reclama Jaque, esfregando os olhos.
Saímos do carro e rapidamente um casal de idosos baixinhos vem nos atender com um sorriso enorme no rosto. Penso em perguntar quem são, mas logo que os enxergo melhor, dispenso a pergunta. Liza é a mistura exata dos dois: os olhos escuros do homem e o cabelo loiríssimo da mulher. Deduzo na hora serem seus pais. Eles começam a falar em francês e Liza vai abraça-los.
- Meninas... – Diz ela no meio dos dois. – Esses são meus pais: Lorena e Oliver.
Os dois vem até nós nos abraçar, bem carinhosos e receptivos.
- Por favor, se sintam à vontade! Nosso inglês não é tão bom mas tenho certeza que dá pra entender. – Ela sorri, suas palavras carregadas de sotaque. Todas nós sorrimos também. – Venham, subam, tenho um quarto para vocês descansarem depois dessa longa viagem!
Nos cumprimentamos e seguimos a senhora, enquanto Liza fica para trás conversando com seu pai. Lorena nos guia para dentro do restaurante e, subindo as escadas, entramos em um quarto com duas beliches. Sem pensar demais, eu e as meninas nos ajeitamos rapidamente e esticamos o corpo. O cansaço me pega de jeito e, dessa vez, caio no sono rapidamente.

Too Good To Say GoodbyeOnde histórias criam vida. Descubra agora