Te espero

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- Minha nossa, o que ele estava pensando?! – Resmunga Jaque, me acompanhando. – Ele acha que pode fazer tudo o que quer?! O que ele está fazendo aqui?!
Não consigo responder. Meus olhos ainda estão arregalados e eu ainda estou pensando no que está acontecendo. Bruno. Na minha casa. Minha nossa... Apoio a mão no peito, sentindo-o disparar e doer.
- Sa? – Jaque me olha, segurando em meu braço. – Tá tudo bem?
- Eu só... – Chacoalho a cabeça e fecho os olhos, tentando respirar. – Acho que é muito pra minha cabeça.
- Argh! É claro que ele tinha que vir até aqui e estragar sua noite de Natal. – Jaque resmunga.
- Tá tudo bem, amiga. – Respiro fundo. – Só... me ajuda a manter as coisas em ordem, por favor.
Jaque bufa, revirando os olhos.
- Só irei fazer isso por você. – Ela cerra os olhos, depois sorri, quase de forma maquiavélica. – Porque, por mim, já sabe que o jogaria no meio da multidão.
- Você é má. – Comento, agora rindo.
- Vingativa, talvez. – Ela me dá o braço e levanta as sobrancelhas, como qualquer vilã da Disney. Rio outra vez, mas ainda pensando no que irei fazer.
Chegando na cozinha, percebo que não há ninguém pronto para comer. Tenho certeza que minha mãe usou seu inglês "fluente" com Jaqueline e acabou dando instruções erradas a ela. Ao contrário do que minha amiga disse, a casa ainda está muito movimentada, com algumas pessoas à mesa, mas não prontas para comer. De qualquer forma, ajudamos minha mãe a organizar tudo. Passamos cerca de 20 minutos arrumando mesa, pondo talheres e organizando panelas, o que acaba ocupando minha mente e me faz sentir menos nervosa. Então sorrio ao ver meu irmão se aproximando. Mais uma vez noto o quanto ele cresceu, e o quanto está bonito.
- Sa, pode me emprestar seu carregador portátil?
- Claro, está na gaveta da minha escrivaninha. – Sorrio, esticando o pano de mesa.
- Valeu. – Ele corre, subindo as escadas.
- Onde ele vai? – Pergunta Jaque enquanto segura vários pratos na mão. Seus olhos estão um pouco arregalados.
- Pediu meu carregador emprestado.
- E onde está?
- Na minha escrivaninha.
- No seu quarto?
Levanto lentamente a cabeça e olho para Jaqueline. Seus olhos estão arregalados, e, quando entendo seu desespero, também arregalo os meus. Meu coração dispara.
- Porra... – Resmungo antes de sair correndo.
Subo as escadas de dois em dois degraus, o mais rápido que eu consigo. Corro até o corredor e vejo Gabriel abrindo a porta.
- GABRIEL! – Grito, mas ele já está entrando.
Corro até o quarto e me choco contra ele, parado como uma estátua na entrada. Ele olha Bruno, que está deitado na cama, as pernas cruzadas e as mãos também cruzadas. Gabriel se vira para mim, fazendo uma careta.
- Quem é ele? – Agora ele se vira para Bruno, rindo um pouco. – Nossa, cara, você é muito parecido com o Bruno Mars.
Ninguém diz nada. Fecho os olhos e faço uma careta, me xingando mentalmente por ter mandado meu irmão até aqui. Como eu pude vacilar desse jeito?! Gabriel olha para mim e ri de novo.
- Cara, ele é muito parecido!
Colo os lábios, novamente numa careta. Gabriel me olha, agora, desconfiado. Ele alterna o olhar entre Bruno e entre mim. Então Bruno fala, quebrando o silêncio.
- O que está acontecendo?
Quando ele fala em inglês, Gabriel arregala os olhos. Ele parece ficar sem palavras.
- Ã... Er.... Ã... – Ele demonstra estar totalmente confuso. – Nossa, você parece... Er... Esse é...
- É ELE. – Acabo gritando, sentindo como se meu peito fosse explodir. Gabriel me encara com olhos arregalados. Respiro fundo. – É Bruno Mars.
Gabriel não diz nada. Apenas volta a olhar para Bruno, em câmera lenta. Bruno acena para ele, sorrindo. Então ele volta a olhar para mim, e eu poderia rir da situação se eu não estivesse tão nervosa. Gabriel, por sua vez, ri. Ri alto, como se tivesse ouvido uma piada. Olho para ele com uma careta em meu rosto.
- Ah, tá! É Bruno Mars. AHAM! – Gabriel aponta para ele e para mim e ri novamente. – É claro...
Novamente, ninguém diz nada. Eu e Bruno encaramos Gabriel até ele parar de rir, aos poucos. A situação se torna constrangedora, então meu irmão parece cair na real.
- Sa, que porra está acontecendo? – Ele diz, agora parecendo... nervoso. – É alguma pegadinha?
- Olha a boca, moleque! – Dou um tapa leve em seu ombro. Depois, suspiro. – Eu bem que queria que fosse...
- Caralho... – Ele sussurra, parecendo... impressionado. – Não pode ser verdade...
- Eu sei. – Comento, cruzando os braços.
- Por que ele está aqui?! – Gabriel arregala os olhos, completamente desacreditado.
- Ã... – Tento pensar em uma resposta, mas Bruno me interrompe.
- Saphira, será que dá pra dizer o que está acontecendo? – Ele diz, sorrindo um pouco. – É muito chato ficar fora da conversa.
Suspiro, me sentindo um tanto... cansada. Então Gabriel me olha, seus olhos brilhando.
- Se quiser, posso conversar com ele. – Ele diz, talvez como uma criança pedindo presentes.
Levanto as sobrancelhas, pensando na ideia. Sorrio.
- Por favor, faça isso.
Então Gabriel volta a olhar para Bruno e, dessa vez, sorri. Posso perceber seu corpo tremendo um pouco
- Oi, Bruno. Sou Gabriel, irmão da Saphira. – Diz ele, num inglês perfeito. Bruno arregala os olhos, obviamente surpreso.
- Gabriel! Que prazer te conhecer! Finalmente alguém que eu possa conversar... – Diz Bruno, realmente parecendo animado.
- Ã... – Gabriel sorri, um tanto sem graça. – Quer jogar videogame?
- Eu adoraria! – Bruno sorri, sinceramente. – Estava morrendo de tédio aqui, sozinho.
- Tá, já volto. – Gabriel sorri demais, correndo para seu quarto.
Bufo, esfregando minha testa, novamente me sentindo cansada.
- Tudo bem? – Bruno pergunta, me analisando.
- Uhum. – Respondo, andando para lá e para cá. – Olha, espera só mais um pouco, tá bom? Eu preciso descer e ajudar minha mãe, mas logo eu vou voltar. Está com fome?
- Fique tranquila. – Ele sorri. – Não se preocupe, tá tudo bem. E eu realmente estou feliz por ter alguém que fala minha língua além de você.
- Jaque fala sua língua também.
- Pf... – Bruno revira os olhos, numa expressão muito engraçada. Não aguento e rio, me sentindo, de repente, mais à vontade.
Gabriel, então, chega com o videogame na mão e dois controles. Ele corre instalá-lo na televisão.
- Gabriel, preciso que você mantenha segredo sobre a presença dele aqui, ok?
- Ok. – Ele responde, parecendo não prestar muita atenção.
- Estou falando sério... – Caminho até ele e seguro em seus ombros. Ele, agora, parece focar em mim. – Não conte para ninguém e seja discreto. E, se quiser, pode ficar aqui fazendo companhia para ele. – Sorrio, olhando para Bruno. – Acho que ele gostou de você.
- Ok. – Gabriel faz um joia e sorri largamente. Sorrio também.
- Se comporte, ok? Não seja inconveniente, por favor.
- Só o farei chorar ao ganhar todas as disputas de videogame.
Sorrio, pensando no quanto amo esse menino.
- Ok. – Beijo o topo de sua cabeça e olho para Bruno. – Já volto.
Bruno apenas acena positivamente com a cabeça e se senta na cama ao lado de Gabriel. Ao fechar a porta, consigo ouvir os dois conversando e já rindo. E tudo o que eu peço é que essa noite acabe bem. Por favor, meu Deus. Que acabe tudo bem.

- Amiga... – Vejo Jaque arregalar os olhos quando a encontro na cozinha – Está tudo bem?
- Sim. – Suspiro. – Gabriel está jogando videogame com ele.
- Ah, bom, então agora ele está com alguém com a mesma maturidade que ele.
- Isso foi um elogio ou uma ofensa ao meu irmão?
- O que acha? – Jaque levanta uma sobrancelha, o que me faz rir.
- Amiga, porque tanta... implicância?
- Ainda pergunta?! – Jaque se vira para mim com uma expressão de obviedade no rosto. – Ele... foi bom com você, mas ao mesmo tempo foi... terrível. Olha... – Ela encosta na parede. – Qualquer pessoa que fizer mal a você, também faz a mim. É a lei da amizade. O que Bruno fez para você, me atingiu também. Eu simplesmente... não consigo encara-lo sem ter vontade de asfixia-lo lentamente.
- Jaque! – Dou um tapa de leve em seu braço. Ela sorri.
- Tô brincando. Ou talvez nem tanto... – Minha amiga sorri, ironicamente, e não consigo conter uma risada.
Inesperadamente, a abraço tão forte que sinto seu fôlego se esvair.
- Eu te amo, Jaque. Muito. Nossa amizade é a coisa mais especial da minha vida. Obrigada por existir e ter me encontrado nessa vida. – Digo essas palavras ainda agarrada nela, e, incrivelmente, ela me aperta ainda mais.
- Eu também te amo, muito. Pra sempre.
Olho para ela e sorrio, vendo seus olhos marejados. De repente, o ambiente está muito sentimental. Talvez seja a data comemorativa, ou eu e Jaque apenas esgotadas e com sentimentos aflorados.
- Minha vida é menos solitária com você. – Ela comenta, e, dessa vez, uma lágrima corta seu rosto. – Acho que nunca disse isso, mas as vezes sinto falta de ter... – Ela aponta para a cozinha. – Isso. Uma... família.
Engulo em seco, me surpreendendo ao ouvir Jaque dizer isso. Acho que o espírito natalino realmente faz milagres. Pego em suas mãos.
- Não se esqueça de que você também tem família. – Digo, sorrindo.
Jaque me encara, e outra lágrima corta seu rosto.
- Sabe o que estava escrito naquela carta? – Minha amiga me pergunta, de repente.
- Que carta? – Franzo as sobrancelhas, não entendendo.
- Não precisa disfarçar. Aquela que meus pais me enviaram no meu aniversário... Tenho certeza de que você viu pelo menos algumas folhas rasgadas...
- Ah, sim! É... eu vi mesmo. – Digo, lembrando.
- Pois então... Não quis te dizer no dia por que, sei lá, eu não estava bem... Mas eles escreveram que sentem minha falta, e que, independentemente de tudo o que eles tem, eu sou tudo o que importa pra eles.
- Jaque, isso é lindo. – Digo, olhando em seus olhos. Ela abaixa a cabeça e cruza os braços.
- Seria, se não fosse uma mentira. – Ela ri amargamente.
- Por que acha isso?! – Levanto seu queixo. Sua expressão é pura tristeza e frustração.
- Por que é! – Jaque agora parece nervosa. – Se fosse verdade, eles não teriam feito o que fizeram.
Franzo os lábios, sentindo a dor de minha amiga. Passo meus braços pelos seus ombros e apoio nossas cabeças.
- Olha, se isso fosse mentira, com certeza eles não iriam mais te procurar. – Suspiro. – Seus pais te amam e não desistem de você. Tenho certeza que até o dia de suas mortes, eles irão continuar insistindo. Só não deixe esse dia chegar antes de ceder de toda essa mágoa e deixá-los te amar, de pertinho... – Passo a mão pelo cabelo de minha amiga e vejo outra uma lágrima caindo. – Por que não manda um Feliz Natal para eles?
Jaque me fita, séria, com olhos brilhando de lágrimas. Sorrio, secando-as com o dedo.
- Tenho certeza de que não irá se arrepender...
Jaqueline continua me encarando, mas enxergo um fio de esperança em seu olhar.
- Desculpe por te atrapalhar no Natal... – Diz Jaque, fungando. – Hoje é dia de festa, e eu aqui chorando... – Ela ri, mas, dessa vez, um pouco alegre.
- Você nunca me atrapalha. – A agarro num abraço. – Você sabe que pode contar comigo a qualquer momento.
- Obrigada. – Ela sussurra, secando a última lágrima e sorrindo.
De repente, ouço passos correndo rápido pelas escadas. Um garoto que não conheço, provavelmente um dos vizinhos, ao chegar na sala, parece... eufórico. Seus olhos estão arregalados, e ele se posiciona no meio do cômodo. Então, grita.
- VOCÊS NÃO SABEM QUEM ESTÁ LÁ EM CIMA!
Eu e Jaque nos entreolhamos ao mesmo tempo, ambas de olhos arregalados.
- É O...
Antes que ele fale, pulo em cima dele e tapo sua boca. Por ser uma criança, consigo facilmente mobilizá-lo, mas todos imediatamente me observam, parecendo assustados. Tento dizer alguma coisa, mas ele morde o meu dedo, me fazendo ver estrelas.
- AH! – Grito, chacoalhando a minha mão ao sentir a dor. Olho para ele com toda minha raiva. – Seu filho da...
- BRUNO MARS! – Grita ele, a plenos pulmões.
Todo o ambiente fica em silêncio. Pessoas que estavam do lado de fora entram, e todos nos encaram. Meu coração dispara e parece querer rasgar o peito. Olho para Jaque e ela parece confusa, obviamente sem entender nada mas provavelmente imaginando o que seja. Minha nossa, preciso fazer alguma coisa. Me sentindo totalmente desesperada, começo a... rir. Rio alto. Então, alguns também riem.
- Essas crianças... – Digo, obviamente menosprezando-o. – Inventam cada coisa! Imagina só, Bruno Mars por aqui... – Rio novamente.
- É verdade! Ele está aqui! – O garoto diz, ofendido e um tanto bravo.
Felizmente, ninguém parece acreditar. Alguns riem e outros fazem piadas. Penso por alguns segundos que estou a salvo, porém, Gabriel desce as escadas correndo, afobado.
- SA! Ele viu! Não tive como...
Então, ao perceber a multidão toda olhando para ele, ele fecha a boca. Seus olhos se arregalam e ele olha para mim como se pedisse socorro. Mordo a língua, meu coração disparando novamente. Agora, ninguém mais ri. Todos parecem... intrigados.
- Quem está lá em cima, Saphira? – Pergunta uma de minhas tias, cerrando os olhos.
- Ninguém! – Digo, rápido demais, talvez demonstrando estar apavorada.
- É mentira! – Diz esse moleque do caralho. Xingo ele mentalmente com tantos palavrões que até eu me surpreendo. Ele apenas sorri, debochado. – Se não acreditam, subam lá e vejam!
Penso que ninguém irá dar ouvidos, afinal, é uma criança falando. Nem se um adulto me dissesse que Bruno Mars está no quarto de uma casa no Rio de Janeiro eu acreditaria. Porém, por incrível que pareça, minha tia se levanta.
- É melhor eu ver o que está acontecendo...
- NÃO! – Grito, agora esticando os braços e bloqueando a escada com meu corpo.
Todos, imediatamente, me olham ainda mais desconfiados. Tento manter a neutralidade, mas, a esse ponto, é impossível.
- Você trabalha com Bruno Mars, não é? – Pergunta um tio, me analisando.
- Não mais. – Respondo, nervosa, tentando sorrir. Rio, ainda tentando manter o controle da situação. – Pessoal, pelo amor de Deus, não tem ninguém lá em cima.
- Então me deixa ver... – Minha tia diz, cerrando os olhos.
- Não. – Respondo, meu peito subindo e descendo bruscamente.
- Saphira... – Minha tia chega mais perto, cerrando os olhos. – Me deixa subir.
- Não. – Estico ainda mais meu corpo.
Então todos me encaram. No exato momento, sei que o irão fazer. Antes que façam, corro pela escada acima. Corro o mais rápido que eu posso, sentindo todos correndo atrás de mim. Pulo os degraus de dois em dois, e, quando chego no corredor, estou sem ar. Estico os braços na frente da porta do meu quarto, impedindo que alguém entre. Não importa o que eu tenha que fazer, ninguém vai entrar aqui e ver Bruno. Não vou permitir que ele passe por isso.
- Vocês não podem entrar. – Eu digo, minha respiração totalmente desregulada.
Sinto como se uma multidão estivesse a minha frente, o que é verdade, considerando a quantidade de pessoas. Nem todos cabem aqui, no corredor, mas eles parecem se espremer para caberem.
- Quem está aí? – Minha tia pergunta, a minha frente.
- Já disse que ninguém!
- Então por que não nos deixa entrar?
- Porque o quarto é meu! – Arregalo os olhos, sentindo o desespero e também raiva. – E ninguém vai entrar!
Todos começam a falar ao mesmo tempo, e não consigo prestar atenção em ninguém. Sinto como se minha cabeça fosse explodir com tanto barulho. De repente, alguém grita lá de baixo. Todos, imediatamente, ficam em silêncio. Alguns segundos depois e vejo minha mãe vindo até mim, se espremendo entre todas as pessoas para passar. Sinto como se um anjo viesse me salvar do inferno.
- O que está acontecendo aqui?! – Ela diz, brava. – Por que todo esse furdunço?!
- Saphira está escondendo alguém aí dentro. – Diz minha tia, fazendo um sinal com a cabeça. – E não quer dizer quem é.
- Eu já disse que é Bruno Mars! – Ouço, ao longe, provavelmente lá de baixo, aquele moleque do caralho gritar.
- Minha nossa, tanto tempo fora me fez esquecer de como vocês CUIDAM DA VIDA DOS OUTROS! – Grito, intencionalmente irritada.
Todos voltam a falar ao mesmo tempo. E minha mãe volta a gritar, então todos ficam em silêncio de novo.
- Saphira, o que está acontecendo? – Minha mãe pergunta, tranquila.
Não digo nada, apenas tento expressar através do meu rosto o quanto a situação é complicada. Tento fazer uma expressão que minha mãe entenda, e, por incrível que pareça, ela parece entender. Quase choro ao lembrar do quanto minha mãe me conhece e o quanto ela sempre parece me compreender. Pigarreado, ela se vira para todos.
- Saiam daqui. – Ela diz, afastando-os com as mãos. Ninguém parece obedecer. Então, ainda mais brava, ela grita. Me arrepio, lembrando o quanto minha mãe pode ser autoritária quando quer. – Saiam daqui ou não tem ceia hoje!
Bufando e reclamando, um por um desce. Minha tia, obviamente contrariada, faz uma careta e os acompanha. Quando finalmente só há minha mãe e eu, ela volta a me olhar.
- É melhor você me explicar o que está acontecendo. – Ela diz, apoiando suas mãos na cintura.
Respiro fundo, pensando que não tenho escapatória. Então, abro a porta, devagar. Minha mãe entra e logo depois faço o mesmo. Fecho a porta e tranco. Quando ela vê Bruno sentado na cama, franze as sobrancelhas e olha para mim.
- É aquele seu amigo que você me apresentou mais cedo, não é? Peter, certo? – Ela olha para Bruno e parece estar confusa. – Qual o problema em ele estar aqui?
Antes que eu possa falar, minha mãe arregala os olhos. Quando olha para mim, é como se fosse me bater.
- Você está tendo um caso com ele?!
- O QUÊ?! – Grito, surpresa pela pergunta e sentindo o coração disparar.
- Trouxe ele aqui em cima pra fazer... pra fazer... SAFADEZA?!
Por alguns segundos, não consigo dizer nada. Apenas a encaro, meus olhos arregalados e tentando processar o que acabei de ouvir.
- Saphira, na noite de Natal?! – Minha mãe faz uma careta, demonstrando desgosto. – Você não tem vergonha?!
Ainda não consigo dizer nada. Eu com certeza riria se fosse em outra situação, porém, me sinto muito nervosa e perplexa para rir agora.
- Mãe... – Consigo dizer, depois de respirar fundo. Ela me encara, esperando uma resposta. Decido falar logo de uma vez. – Peter é mais conhecido como Bruno. – Olho para ela, séria. – Bruno Mars.
Quando digo isso, minha mão franze as sobrancelhas, parecendo... não entender.
- E daí? – Pergunta ela. – O que tem que ele tem dois nomes?
Faço uma careta, pensando o que se passa na cabeça da minha mãe. Antes que eu possa responder, ela arregala os olhos novamente, dessa vez ainda mais.
- ELE É UM CRIMINOSO, POR ACASO?! – Ela grita, o que me faz assustar. – CRIMINOSOS TEM VÁRIOS NOMES! VOCÊ TROUXE UM CRIMINOSO PRA MINHA CASA?!
- Mãe, pelo amor de Deus... – Bufo, mas, dessa vez, sorrio, achando graça. – Bruno Mars é meu chefe! Lembra quando te falei dele?! Gravamos na Victoria's Secret, aquele desfile importante que te falei! O álbum 24k Magic, lembra? É dele! – Aponto para Bruno, que nos olha com uma incógnita no rosto. – Ele é a porra do Bruno Mars!
Depois de alguns segundos estagnada, minha mãe arregala os olhos e escancara a boca.
- Ai, meu Deus. – Ela tapa a boca, desacreditada. – Ele é... ele é... Bruno Mars? – Ela olha para ele, depois volta a olhar para mim. – Aquele que era seu chefe? Aquele do clipe, aquele do... aquele... aquele que é...
- Sim, mãe. – Bufo. – Ele.
São mais alguns segundos de silêncio. Acredito que minha mãe está processando a informação. Compreendo-a totalmente, afinal, eu até agora ainda não consegui acreditar completamente.
- E você nem me avisou que ele vinha?! – Minha mãe, de repente, dá um tapa em meu braço.
- Eu também não sabia! – Resmungo, massageando onde ela bateu.
- E por que não me disse que era ele logo de início?!
- Porque fiquei com medo de acontecer o furdunço que acabou de acontecer! – Reviro os olhos.
- Mas o que ele está fazendo aqui?!
Penso em responder que não sei, mas isso só levantaria mais perguntas. Perguntas essas que não posso responder.
- Ele está dando uma entrevista exclusiva no Brasil e decidiu passar aqui. – É a melhor mentira que consigo pensar. – Como não tem família por aqui, ele pensou que seria uma boa ideia passar a ceia com alguém.
Minha mãe, agora, parece... feliz. Estranhamente, ela sorri. Faço uma careta ao percebê-la ajeitar o cabelo.
- Minha nossa, eu devia ter preparado algo mais chique para comer. Um pato com laranja, talvez... Do que ele gosta? – Minha mãe parece se segurar para não gritar. – Ai, meu Deus, tem um famoso na minha casa!
- Mãe... – Massageio minha testa novamente, pensando nas rugas que esse estresse vai me causar.
- "Rái"... – Ouço minha mãe dizer e acenar para Bruno.
- Ah, não.. – Sussurro, já sentindo o constrangimento na pele.
- Oi! – Bruno responde, também sorrindo. Então, caminha até nós. Sinto como se minha mãe fosse ter um treco. Bruno olha para mim. – Saphira, pode resumir o que aconteceu, por favor?
- Descobriram que você está aqui. – Digo, rapidamente.
- Sim, eu notei... – Bruno cerra os olhos e olha pela porta. – Aparentemente um menino bateu na porta e, quando Gabriel foi abrir bem discretamente, ele simplesmente empurrou e caiu aqui dentro, achando que Gabriel estava escondendo o videogame. – Bruno ri. – Ele estava certo, mas também me viu, e... bom, aconteceu o que aconteceu.
- Esse moleque do caralho... – Digo, bufando, novamente me sentindo cansada.
- É um prazer te conhecer, Silmara. – Bruno fala o nome de minha mãe, o que a faz corar as bochechas. Então, ele a abraça.
- "Naissi txu mitxi iú!" – Minha mãe fala.
Bruno, então, sorri para ela. E é aí que sei que ele a ganhou. Como eu já mencionei, Bruno tem algo que faz as mulheres se renderem. No meu caso, até demais.
- Mãe... – Digo, cutucando-a no ombro.
- Sim? – Ela está sorrindo demais, o que me faz quase rir.
- Acredito que Bruno esteja com fome, mas... Você sabe, ele não pode descer até lá, e...
- Pode deixar comigo. – Ela me interrompe. – Já entendi tudo. Vou trazer até aqui tudo o que vocês precisam para comer.
- Tem certeza? – Franzo as sobrancelhas. – Não vai ficar incomodada se eu não participar da ceia com vocês?
- Nesse caso, não. – Minha mãe olha para Bruno e sorri. – Ele precisa de uma companhia, e acho que ninguém melhor que você, já que já se conhecem. – Ela olha para mim e sorri. – Pode deixar comigo, filha. Vou te ajudar.
Num momento, tenho vontade de chorar. Me lembro de um dos motivos de amar tanto minha mãe. A abraço.
- Obrigada.
- Eu já volto. – Ela sussurra.
Então, nos próximos 20 minutos, minha mãe e Gabriel transferem uma parte da ceia para meu quarto. Gabriel se desculpou mil vezes, dizendo se sentir decepcionado por ter deixado isso acontecer. O acalmei, dizendo que estava tudo bem, mas ele só acreditou quando ouviu da boca de Bruno. Ao que parece, eles realmente se deram bem, e Bruno demonstrou muito carinho por ele.
Agora, estamos a sós, sentados um de cada lado da escrivaninha improvisada como mesa. Porém, há de tudo aqui. Minha mãe fez questão de que tudo que tem lá embaixo estivesse aqui em cima, talvez até algumas coisinhas a mais.
- O que é isso? – Bruno pergunta, apontando para um dos pratos.
- Escondidinho. – Tento falar a palavra em inglês, mas é quase impossível uma tradução. Então, ele tenta reproduzir a palavra em português. Ao ouvi-lo, não consigo segurar uma risada. – Vou te ajudar. Posso fazer seu prato?
- Claro. – Ele diz, sorrindo.
Então, ouço muito barulho lá embaixo, além de sons de fogos de artifício. Olho para o relógio e vejo. 00:00. Olho para Bruno e sorrio.
- Feliz Natal. – Digo, talvez um pouco sem graça.
- Feliz Natal. – Ele diz, sorrindo.
Então, faço seu prato. Explico tudo o que temos aqui, até os ingredientes utilizados. Bruno então come e parece... maravilhado. Ele elogia a comida diversas vezes, comendo com gosto. Rimos diversas vezes juntos, ao ouvir uma piada ele, ou ao me ouvir contando histórias engraçadas da família. Conversamos sobre o álbum, sobre as entrevistas que ele tem dado e sobre os hooligans. Comemos sobremesa e bebemos caipirinha. Só um pouco, afinal, não posso abusar disso. Pelo menos não agora. Também dei a ele uma escova de dentes nova. Depois de comer, fui escovar meus dentes na suíte e ele fez questão de também escovar os seus. A sorte era que eu tinha várias novas, na caixa, então dei uma a ele, o que foi muito estranho.
Então de repente paro para pensar que passamos a ceia de natal juntos pela primeira vez e de uma forma completamente inusitada, porém, muito boa. Comer com Bruno e me divertir com ele devem ser, provavelmente, uma das minhas coisas preferidas a se fazer.
Depois de tudo isso, aquele clima um tanto constrangedor se instaura. Pigarreio, sabendo que uma hora ou outra terei que entrar nesse assunto. Então, decido ser agora.
- Acho que agora é uma boa hora pra você me dizer o que está fazendo aqui. – Digo, depois de empilhar os pratos.
- Comemorando o Natal, não é óbvio?! – Ele sorri, mas, dessa vez, não rio. Apenas o encaro seriamente. Ele parece perceber e também fica sério.
- Estou falando sério, Bruno. Por que está aqui?
- Eu... preciso conversar com você. Precisamos, na verdade.
- E veio até aqui só pra isso?! – Faço uma careta. – Poderia ter me ligado!
- Não é algo que eu gostaria de conversar por telefone.
       De repente, ele fica muito sério. E eu também. Sinto a intensidade de suas palavras.
- Bom... – Cruzo os braços. – Estou aqui.
- Não, aqui também não.
- Como assim?! – Faço uma careta. – Está brincando comigo?!
- Preciso conversar com você, mas na minha casa.
Quando ele diz "minha casa", sinto minhas pernas bambearem. Me sinto aliviada por estar sentada e não correr o risco de cair no chão.
- Você está louco?! – Acabo dizendo, sem pensar.
- Deveria saber que sou quando aceitei para minha equipe uma mulher que invade propriedades privadas... – Ele diz isso com um sorriso no rosto. – E foi a melhor decisão que eu já tomei.
        Engulo em seco, novamente sentindo a intensidade de suas palavras. Pigarreio, não me deixando ser levada por elas.
- Não mude de assunto.
- Não estou mudando. – Ele sorri, sinceramente. – Quando voltar de viagem, vá até minha casa. É... muito importante. Muito mesmo – Agora, ele parece mais sério. – Realmente precisamos conversar.
- E por que não agora?! – Estendo as mãos, demonstrando minha indignação.
- Porque... – Ele bufa, parecendo um tanto impaciente. – Porque aqui não dá. Em minha casa é melhor.
- Me dê uma boa razão. – Digo, agora com os braços cruzados novamente.
- Já iria te dar antes mesmo de me pedir. Aliás, é também por isso que vim... – Ele mexe em seu bolso da calça e pega alguma coisa em sua mão. – Acho que isso é seu... – Ele leva a mão fechada em minha direção.
Olho para ele, desconfiada, mas ele dá um sinal para que eu estique um dos braços. Obedeço e abro uma das minhas mãos. Quando ele a coloca lá, meu coração acelera. Observo a já conhecida pulseira de safiras em minha mão. Ele sorri.
- Eu ainda não havia te dado seu presente de Natal. Esse é especial por que já é a segunda vez que te dou. E, dessa vez, é definitivo.
- Bruno. – Engulo em seco. – Eu não quero iss...
- Prometo esclarecer o que você quiser. – Ele me interrompe. – Se me prometer que irá.
O olho fixamente, séria. Não sei o que dizer. Me sinto tentada a aceitar, afinal, ele disse esclarecer o que eu quiser. E, por Deus, há muitas coisas que quero esclarecer. Mas, ao mesmo tempo, me sinto... incomodada. Intrigada. Irritada.
- Argh! – Me levanto da cadeira e caminho para o outro lado do quarto.
- O que foi? – Ele pergunta, ainda sério e um tanto confuso.
- Você, Bruno. – Digo, sentindo as emoções transbordarem. – Por que você está fazendo isso?!
- Fazendo o quê?!
- ISSO! – Aponto para ele por inteiro. Meu corpo treme, e sinto a raiva me consumir. – Você me faz essas coisas e... e... – Me sinto sem ar, pensando no que falar, as palavras apenas jorrando de mim. – Por que caralhos você veio até aqui?! Só pra me dizer isso?! Queria o que? Uma massagem no ego?! – Meus olhos estão um pouco arregalados e meu coração disparado. Talvez eu chore. – Você gosta de brincar comigo, é isso?! Gosta de....
- Eu vim porque queria te ver. – Ele diz, me interrompendo, agora se levantando, sério demais. Enquanto fala, caminha até mim. – Eu vim porque senti desespero ao ver você indo embora daquele jeito. Eu vim porque eu não aguento a dor de ver você magoada. Eu vim porque eu sinto necessidade em te ver perto de mim. Eu vim porque... – Ele respira fundo, agora seu rosto quase colado ao meu, parecendo tão nervoso quanto eu. – Eu vim porque eu queria te ver, e no momento, nada mais importa.
Engulo em seco ao ouvir o que acabei de ouvir. Minhas mãos tremem. Meu corpo todo treme e arrepia. Meu coração parece rasgar o peito. Minha mente entra em curto circuito. Vejo o olhar de Bruno, tão intenso, e sua expressão tão séria. Tão perto de mim...
- Eu vou me arrepender disso... – Sussurro, sentindo meu coração acelerar.
- Do que? – Bruno pergunta, franzindo as sobrancelhas.
Então, o beijo. No exato momento, sinto que terei uma parada cardíaca. A lembrança de seus lábios nos meus me invade como uma avalanche, e uma única lágrima escorre de meu olho. Chega a ser... nostálgico. Me lembro do quanto seu beijo é bom e parece encaixar perfeitamente no meu. Deus, como senti falta disso.
Bruno imediatamente retribui o beijo, o intensificando ainda mais, parecendo ansiar por isso tanto quanto eu. Ele segura meu rosto, como se me quisesse ainda mais perto. Nossas línguas dançam juntas enquanto ele me empurra até a parede. Me choco contra ela abruptamente, mas não me importo. Na verdade, me sinto ainda mais incentivada. Bruno parece desesperado enquanto me beija. Ele morde meu lábio, puxa meu cabelo e aperta minha coxa. Não é nada gentil, pelo contrário. Ele parece... faminto, sem controle de suas ações. E eu adoro isso.
Ele levanta meus braços e os segura acima da minha cabeça, enquanto a outra mão percorre meu corpo. Também me desespero, me soltando em segundos e o agarrando por todos os lugares, sentindo... urgência. Ele me segura pelas coxas e me levanta, então cruzo as pernas em volta de seu quadril e sou guiada para a cama. Bruno se senta e sento em cima dele. Enterro meus dedos em seu cabelo, sentindo novamente a maravilhosa sensação de seus cachos roçando minha pele. Ele morde meu pescoço, e sinto como se eu estivesse em ebulição, como se estivesse... pegando fogo. Meu coração bate tão forte que temo parar, mas não me importo. Nada me importa, agora. Não consigo pensar em mais nada a não ser saciar o tesão e desejo incontroláveis que estou sentindo.
Bruno aperta minha bunda enquanto rebolo em cima dele, descaradamente. Beijo seu pescoço e sinto seu perfume. Ele geme baixinho, me apertando ainda mais, então me joga na cama e deita sobre mim, me beijando ferozmente. Sinto o peso do seu corpo em cima do meu e penso no quanto adorei essa sensação. Mordo seu lábio com força e acho que o machuco um pouco, mas Bruno não parece se importar. Na verdade, é como se estivéssemos fora de controle, totalmente sem controle de nossas ações. Não fazemos nada ensaiado, na verdade, é como se não soubéssemos onde tocar, como se fôssemos uma confusão de beijos e toques. Minha respiração está totalmente desregulada, assim como a dele. Ele beija e chupa meu pescoço, o que me faz gemer. Depois, se levanta um pouco e segura uma de minhas pernas. Ele a beija de leve, e depois morde minha coxa, num ponto muito sensível.
- Ah, meu Deus... – Consigo dizer, a voz um tanto estrangulada, sentindo sensações por todo meu corpo.
Enfio minha mão por dentro de sua camiseta, arranhando suas costas.
- Caralho... – Ele diz, a voz baixa, intensa. – Porra, Saphira, você é gostosa demais...
O agarro com minhas pernas e o puxo mais para perto, sentindo necessidade em tê-lo grudado em mim. O beijo novamente, de forma descarada, lasciva talvez. Me sinto extremamente excitada somente pelo seu beijo. Penso ser impossível estar mais excitada que isso, mas então ele beija meu pescoço, e depois meu colo, e então morde de leve aquele ponto sensível em meu seio. É nesse momento que penso que irei explodir, e agradeço a mim mesma por não estar usando sutiã.
- Ai, caralho... – Não consigo abafar o gemido que escapa dos meus lábios.
Sinto a fricção de seus dentes contra o tecido do vestido sobre meu mamilo, e penso que terei um colapso. A sensação é tão intensa que a sinto em meu âmago. Tanto que acabo gemendo outra vez. Então rapidamente sua mão encontra a alça do meu vestido. Num puxão só, ele rasga a fina alça. Arfo com a agressividade, sentindo como se agora eu fosse explodir de tesão. Bruno volta a beijar meu pescoço e depois meu colo. Sei o que ele vai fazer a seguir quando sua mão encontra o fino tecido que separa seus dedos dos meus seios. Só a ideia me deixa louca.
Fecho os olhos, pronta para sentir a sensação quando ouvimos batidas agressivas na porta. Imediatamente me assusto, assim como ele. É como acordar de um sonho.
- SAPHIRAAAAA! – Ouço a voz de Jaque. – Está tudo bem aí?! Vou entrar.
- Está trancada, certo? – Bruno sussurra, sua respiração descompassada, assim como a minha.
Não consigo dizer nada, apenas afirmo com a cabeça.
- Sua mãe me deu a chave reserva, estou entrando...
Então Jaque gira a maçaneta. Imediatamente me levanto para sair da cama, completamente desesperada. Porém, na pressa, enrosco o pé no lençol e caio direto no chão, causando um estrondo.
- Minha nossa! – Diz Bruno, os olhos arregalados, se levantando e indo até mim. – Você está bem?!
- Sa...? – Diz Jaque, provavelmente já entrando.
Dispenso a ajuda de Bruno e agacho no chão, somente meu rosto a mostra, atrás da cama. Bruno, rapidamente, pega um travesseiro e o posiciona à frente do quadril. Jaque olha para a cena com olhos arregalados.
- MAS QUE PORRA ESTÁ ACONTECENDO AQUI?! – Ela quase grita, sua voz demonstrando seu desespero.
- Tinha que ser você... – Ouço Bruno bufando, e juro que posso vê-lo revirando os olhos.
- O quê?! – Jaque faz uma careta. Depois, olha para mim. – Sa, o que aconteceu?! Sai daí!
Devagar, me levanto. Seguro o tecido rasgado do vestido para que não caia de uma vez e eu fique nua. Jaque, ao ver minha situação, arregala ainda mais os olhos.
- Meu Deus... – Ela então fecha os olhos e aperta o ponto entre eles.
Não digo nada por um tempo. Me sinto envergonhada demais para dizer. Devo estar... uma bagunça. Além do vestido rasgado, sinto meu cabelo todo bagunçado e meu corpo ainda extasiado. Engulo em seco.
- Preciso trocar de roupa. – Minha voz é como um sussurro. Olho para Bruno. – Pode ir até a suíte para eu trocar, por favor?
Ele não diz nada, apenas se vira para mim, de costas para Jaqueline, e joga o travesseiro na minha cama. Então vejo o volume entre suas pernas. Meus olhos se arregalam e me afogo, sem querer. Tossindo, tento mandar para longe essa imagem, mas é claro que isso é impossível. Sinto medo de agora sonhar com isso.
Ele rapidamente caminha até o banheiro da suíte e fecha a porta.
Então, fingindo que Jaque não está aqui, vou até minha gaveta procurar qualquer outra peça de roupa, afastando pensamentos intrusos. Mas é claro que Jaque não fica quieta. Pelo contrário, pula em mim como se eu fosse uma presa.
- Amiga, o que aconteceu?! – Ela sussurra, obviamente para Bruno não ouvir.
- Eu não posso ficar a sós com ele. Não posso... – Resmungo, separando as peças de roupa e me sentindo agitada. – Eu... eu perco a porra do controle.
- Amiga, mas... – Jaque parece engolir em seco. – O que aconteceu?! Rolou ou não rolou?
- Não, não rolou. – Retiro o vestido, ou o resto de vestido, e visto um short. – Você chegou bem na hora.
Pela expressão de Jaque, ela parece não saber se encara isso como algo bom ou ruim. Suspiro.
- Que bom que você chegou. – Digo. – Ou eu teria feito alguma besteira.
- Eu... – Jaque respira fundo, parecendo não saber o que dizer. – Sinto muito.
- Eu... odeio isso. – Digo, de repente me sentindo irritada. – Ele tem algum efeito sobrenatural sobre mim. Não pode ser possível. Eu não sei o que ele tem, mas é... intenso demais. Eu, eu... eu não consigo resistir. Eu tento, mas não consigo. Ele disse coisas tão bonitas e de repente estava tão perto, e então... – Me sento na cama, já vestindo também uma regata. Enterro minha cabeça entre minhas mãos. Bufo, me sentindo... esgotada. – Eu sempre resisto, mas hoje... Hoje eu não consegui. Me sinto... derrotada.
- Tá tudo bem, amiga. – Jaque diz, sentando ao meu lado e acariciando minhas costas. – Tá tudo bem, ok?
Não digo nada. Jaque percebe minha frustração e volta a falar.
- Sua mãe pediu para que eu viesse te chamar. Parece que os convidados estão indo embora e ela queria saber se você quer se despedir.
- Ok... – Respondo, bufando. – Vou descer.
Nos próximos minutos, aviso Bruno que irei descer, vou até lá e me despeço de todos. O que me toma certo tempo, afinal, é como se toda a rua estivesse dentro de casa. Alguns ainda parecem desconfiados, mas nem minha mãe nem Gabriel disseram nada a respeito, então eles não têm outra opção a não ser ir embora com a curiosidade. Depois disso, aviso Bruno e o mesmo desce as escadas que subiu há horas atrás. Agora, pensando bem, imagino como foi para ele ficar trancado dentro desse quarto por todo esse tempo. Com certeza não era o que estava em seus planos, mas eu não tive outra escolha. Ou era isso ou a terceira guerra mundial dentro da casa dos meus pais.
Ao chegar na cozinha, ainda sentindo resquícios dos toques de Bruno, quase rio da cena. Meus pais e Gabriel um ao lado do outro, sorrindo. Meu pai nem tanto. Jaque, por sua vez, está sentada no sofá, revirando os olhos. Traduzo para Bruno algumas coisas ditas pela minha mãe. Meu pai, por outro lado, quase não diz nada. Parece muito... desconfiado. De qualquer forma, antes de Bruno ir embora, minha mãe pede uma foto de todos. Estava pronta para negar quando ele aceita, vendo minha mãe já pegar o celular em mãos. Então tiramos uma foto em conjunto, com Jaqueline ao meu lado esquerdo e Bruno ao meu lado direito, enquanto Gabriel faz chifrinhos em mim e meu pai cruza as mãos atrás do corpo.
- "Plis, weiti a... minutxi" – Diz minha mãe, sorrindo para Bruno quando ele já está na porta.
Ele apenas afirma com a cabeça, sorrindo. Então, ela some pela casa. Bruno, agora, me olha. Engulo em seco e tento evitar olhá-lo nos olhos. Imagens de nós dois alguns minutos atrás passam pela minha cabeça, e é inevitável sentir vergonha. E também o corpo queimar.
- Seu irmão é incrível. – Ele diz, de repente.
- Claro, ele é meu irmão. – Digo, talvez tentando quebrar o gelo. Ele ri.
- Mas ele não é convencido...
- Claro, ele é meu irmão. – Repito, o que o faz rir novamente.
- Olha, eu... – Bruno pigarreia, parecendo procurar as palavras. – Eu quero me desculpar por... por ter causado esse transtorno pra você hoje.
Agora, olho para ele. Franzo as sobrancelhas enquanto ele continua falando.
- Eu... eu não pensei direito. Eu só... vim. – Ele dá de ombros, sorrindo um pouco. – O que é estranho porque eu nunca faço nada por impulso. Eu... sempre penso antes de fazer qualquer coisa. E nunca, em hipótese alguma, viajo para outro país sem pelo menos um segurança. – Ele sorri novamente, e agora me olha nos olhos. – E eu fiz tudo isso em uma só noite. Eu... realmente não sei o que se passou pela minha cabeça. Me senti desesperado e só pensei em vir até aqui. Me desculpe por isso.
Não digo nada, apenas o encaro por alguns segundos. Então ele sorri mais largamente, o que significa que irá fazer alguma piada.
- Acho que estou passando muito tempo com você. Mais alguns dias e estarei invadindo propriedades privadas por aí...
- Você fez isso. – Levanto uma sobrancelha. – Hoje.
- Tem razão. Droga... – Ele finge estar chateado, o que me faz rir.
- Bruno, Bruno! – Ouço minha mãe chamando-o de repente. Ele sorri ao vê-la chegando. Me viro e vejo um embrulho em sua mão. Franzo as sobrancelhas.
- Olha, como você não ganhou presente e teve que passar todo o tempo dentro de um quarto... Toma esse aqui. É simples, mas entregue com todo carinho. Espero que goste. Em meu nome, de Roberto e de Gabriel. – Minha mãe estende um pequeno embrulho retangular na direção de Bruno. Ele, um tanto confuso, pergunta se ele é para ele e minha mãe afirma. Ela mantém um sorriso forçado no rosto, como se tivesse congelado, o que me faz rir escandalosamente. Ela dá um tapa em meu braço. – Saphira, que isso?!
- Manhêeee, ele não fala português, quantas vezes tenho que repetir?! – Digo, ainda rindo.
- Ah, é verdade! Ai, meu Deus, me perdoe, Bruno! – Diz ela, como se ele fosse entender pelo menos seu pedido de desculpa. Rindo mais ainda, traduzo para Bruno.
- Bruno, é um presente para você. Ela disse que é simples, mas entregue com muito carinho.
Bruno sorri, abrindo o embrulho.
- Já quero deixar bem claro que, independentemente do que seja, não tenho nada a ver com isso. – Digo.
Rio junto com ele, realmente sentindo nervoso ao pensar o que minha mãe está tramando. Ao finalmente abrir o presente, vejo um pequeno porta-retratos, já com a foto que acabamos de tirar com minha família. Franzo as sobrancelhas e aponto para minha mãe.
- Como você conseguiu fazer isso em minutos?!
- Gabriel me ajudou. – Ela sorri, genuinamente. – Eu tenho vários porta-retratos por aqui. Só queria entregar uma lembrança desse dia.
Volto a olhar para a foto e, sem querer, sorrio. Não sei onde minha mãe estava com a cabeça em entregar para um estranho uma foto com uma família que ele acabou de conhecer, mas, de qualquer forma, a foto ficou muito bonita.
- Uau... eu... realmente amei isso. – Bruno diz, seus olhos correndo pela imagem e brilhando um pouco. – Com certeza amei isso. – Agora, ele sorri.
Não é um sorriso forçado, mas... sincero. Ele realmente pareceu gostar. Ou talvez saiba fingir muito bem. Decido acreditar na primeira opção. Traduzo para minha mãe e ela sorri, parecendo feliz.
- Que bom que gostou. – Diz ela. – Espero que tenha gostado da ceia improvisada. É simples e bem familiar, mas sempre feito com muito amor. E desculpe por antes, por ter dito que você era um criminoso e que Saphira te levou para cima pra fazer safadeza. Foi um mal entendido.
Arregalo os olhos e olho para minha mãe, agradecendo mentalmente por Bruno não entender nada do que ela diz. E também sinto novamente um calor pelo corpo, tentando imaginar o que ela diria se soubesse o que quase aconteceu nesse mesmo quarto alguns minutos atrás. Engulo em seco, afastando essas lembranças.
- Ah, e feliz natal! – Minha mãe finaliza, agora olhando para mim, fazendo sinal para eu traduzir. Traduzo somente o conveniente, deixando a parte da safadeza para lá. Bruno sorri.
- Foi ótimo estar aqui. Não poderia estar em um lugar melhor...
- Que bom. – Diz minha mãe, sorrindo, feliz. – Tenha uma boa viagem de volta. É sempre bem-vindo.
- Obrigado, tudo estava ótimo. – Ele diz, sorrindo depois que traduzo para ele.
- Ah, antes de você ir, gostaria de dizer que suas novas músicas são... "amãizingui"! – Diz minha mãe, fazendo gestos com as mãos. Bruno faz uma expressão de quem está entendendo, mas tenho certeza de que não. – E... Ã... "tenquiu" por dar essa... ã... "oportuniti txu mai"... filha.
Apoio a mão na testa e colo os lábios para não rir ao perceber a confusão tomar conta do rosto de Bruno. Ele cerra os olhos e sorri, talvez tentando entender o que minha mãe quer dizer. Por um momento, sinto a vergonha do momento, mas depois penso que ele merece isso. Ele que se vire para se entender com minha mãe.
- Saphira... – Bruno se vira para mim. – Sua mãe está agradecendo à oportunidade que te dei ou está falando palavras aleatórias?
- Está agradecendo. – Digo, rindo. Minha mãe espera, sorrindo. – E também que suas novas músicas são incríveis.
- Ah, que bom. – Ele sorri. – Diga para ela que estou agradecido e que o prazer é meu em te ter ao meu lado.
Engulo seco ao ouvir essas palavras. Por um momento, não digo nada.
- Saphira! – Chama minha mãe. Pisco fortemente e me viro para ela. – E aí?
- Ã... ele disse que... está agradecido. – Decido não falar o resto. Ela sorri.
- Que bom. Fico feliz. Tchau, Bruno. Boa viagem de volta.
Então, acenando com a mão, minha mãe vai até a sala e começa a organizar a mesa, nos deixando a sós. Bufo, me sentindo cansada.
- Desculpa por isso, Bruno. Eu...
- Você vai? – Ele me interrompe. Franzo as sobrancelhas.
- Onde?
- Em minha casa.
Engulo em seco e não digo nada, pensando que já tinha esquecido disso. Quando irei abrir a boca para dizer que não, ele me interrompe.
- Vamos fazer o seguinte: promete que irá pensar com carinho, ok? E eu prometo que será somente uma conversa e que irei esclarecer tudo pra você. Pode ser?
Não digo nada, apenas o encaro, pensando no que dizer. Então ele parece entender meu silêncio. Sorrindo, ele pega minha mão e a beija, de leve.
- Até mais, Saphira. Te espero. Feliz Natal. – Ele diz isso já saindo de casa e correndo para fora, me deixando só, em pé, com o coração acelerado, os olhos brilhando, e com uma maravilhosa e tão conhecida pulseira de safiras em meu quarto.
Não sei por quanto tempo fico em pés, olhando para a rua. Só saio do transe quando Jaque encosta seu ombro no meu. Nossa amizade é tão íntima que sabemos quando uma não quer conversar. Jaque percebe que estou esgotada, então, ao invés de falar sobre tudo o que aconteceu, ela apenas diz:
- Feliz natal, amiga.
Jaque me abraça. A abraço forte.
- Feliz natal. – Uma lágrima escorre do meu olho. – Eu te amo.
- Eu também.

Saphira OFF

Liza ON

Primeiro de janeiro de 2017. Depois de uma festa agitada na casa de um dos cooperadores da Atlantic Records, finalmente já estou no carro, indo para minha casa. Meus pais me ligam como todo ano para desejar feliz aniversário, e sinto mais uma vez o coração apertado de saudade.
- Senhorita. – Diz Max, antes de eu sair do carro. – Isso aqui é para você. – Do banco da frente, ele estica o braço, e em suas mãos há uma sacolinha preta.
- O que é isso? – Franzo as sobrancelhas.
- Ã... não sei. Um presente, presumo.
Chego mais perto e olho, receosa, para dentro dela. Encontro um embrulho e o que parece ser um cartão.
- Quem mandou?
- Também não sei. Só sei que é para você.
- Tá ficando louco, Max?! – Faço uma careta. – Como não sabe de onde veio?! E se for uma bomba?!
- Tem razão... – Ele encara a sacola agora como se fosse uma inimiga. – Quer que eu me livre disso?
- Não, dá aqui. – Pego a sacola na mão e saio do carro.
- Ah, feliz aniversário, senhorita Liza. – Diz Max, antes de eu entrar.
- Obrigada. – Respondo, sorrindo.
Entro no prédio e pego o elevador. Chegando em meu apartamento, sigo direto para meu quarto, já com as sandálias nas mãos. Ao deitar em minha cama, pego o cartão de dentro da sacola. Ao ler, sorrio.

"O que é mais clichê que a data de seu aniversário ser 1 de janeiro? Tenho uma sugestão: Ganhar de presente um porta-retratos com uma foto! Mas acho que você vai gostar. Feliz aniversário, e agradeça a Max por mim!
Com amor, Saphira."

Rapidamente rasgo o embrulho em forma retangular e o que encontro aquece meu coração de uma forma que há muito não acontece. Um porta-retratos marrom, simples, suporta uma foto minha com meus pais, registrando um abraço tão íntimo e reconfortante que posso sentir agora, na pele. Saphira deve ter tirado essa foto quando estávamos indo embora de Eguisheim, sem que eu tivesse percebido.
Olho para a foto em minhas mãos durante alguns minutos, e uma lágrima rola. Ela representa exatamente o que meus pais sempre me deram: amor. Não importa o que aconteça, eles sempre estão comigo, sempre no meu coração. Incrivelmente, esse é um dos melhores presentes que já recebi, mesmo sendo tão simples e... realmente, muito clichê. Sorrio por ter a certeza de que foi uma boa escolha Saphira entrar na vida de Bruno, e também na minha. Realmente valeu a loucura de deixa-la invadir uma sala de testes. Não que eu não soubesse que Saphira fosse uma boa pessoa, já que meu sexto sentido nunca mente. Mas ver o quanto realmente acertei nessa, me deixa... em paz.
A campainha de casa toca, me tirando de meus devaneios. Imediatamente, não consigo conter um sorrio ao já saber quem é.
- Achei que iria esquecer... – Digo, me apoiando na porta e sorrindo ao abri-la.
- Como esquecer dessa data?! – Diz Craig, sorrindo de volta. – Você sabe que é nosso ritual todo ano tomarmos um bom vinho no seu aniversário.
- É, eu sei, sim. – Digo, ainda sorrindo.
É incrível como ele consegue me desconcertar. Eu sempre tenho respostas prontas na ponta da língua para qualquer um, mas quando o assunto é Craig... Minha mente se confunde. É o único que tem esse efeito em mim.
- Então... – Craig estica sua cabeça para dentro, olhando ao redor. Depois, sorri – Vai ficar aí parada ou vai me convidar para entrar?
- Entre, por favor. – Digo, rindo e desencostando da parede.
Craig entra em meu apartamento, como todo ano nessa data, com uma garrafa do meu vinho preferido nas mãos e, assim, percebo mais uma vez o quanto sou apaixonada por esse homem. Mesmo que não tenhamos nada além de uma amizade forte e profissional, Craig me cativa em cada momento. É incrível como ele me faz me sentir... viva.

Liza OFF

Too Good To Say GoodbyeOnde histórias criam vida. Descubra agora