And i'm feeling good

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Bruno ON

No início, eu estava empolgado com os testes. Realmente esperava encontrar duas mulheres que me impressionassem. Mas ao contrário do que pensei, não está acontecendo. Não que elas não sejam talentosas; algumas demonstraram técnicas vocais perfeitas, mas... ainda não encontrei o que eu quero. Mesmo que sejam somente para backing vocal, estou procurando algo... diferente. Algo forte, que de certa forma me toque. Como já disse várias vezes, estamos procurando os melhores. Normalmente, em gravações e outros projetos, não sou eu quem as escolho, e em algumas vezes eu nem sequer chego a conhecê-las pessoalmente. Somente gravam e vão embora. Mas, dessa vez, quero que tudo seja perfeito. Mesmo que demore o dia todo, preciso encontrar duas backing vocals perfeitas. Estou apostando todas as minhas fichas nesse projeto, e preciso dos melhores comigo.
De qualquer forma, certa preocupação começa a tomar conta de mim quando penso na possibilidade de não as encontrar hoje.
- Ei, cara. O que você achou da Candice? – Pergunta Phredley, parecendo empolgado. – Achei ela muito boa! Pra mim, já está classificada.
- É, até que é boa... – Respondo com pouca animação.
- "Até que é boa"? – Phredley faz uma careta. – Qual é, cara. Deixa disso. Acho que você não está falando da mesma pessoa ou dormiu o teste todo.
Não respondo nada, apenas respiro fundo, sentindo o cansaço invadir meu corpo. Me sinto cansado para formular uma resposta e explicar porque não gostei de Candice. Se eu disser "porque não" será o suficiente ou irei parecer muito rude?
Percebendo minha indiferença quanto ao assunto, Phredley sai e me deixa só. Esfrego os olhos, imaginando o quanto devem estar fundos e com olheiras. Desenvolver esse projeto está sendo cansativo demais. Poderia ser menos cansativo se eu deixasse outras pessoas cuidando disso pra mim, mas não consigo. Não quando quero que tudo seja perfeito. E sei que para ser assim, preciso estar presente em todos os processos do projeto, até mesmo para a escolha de backing vocals. Sei que só assim o realizarei da forma que quero.
Olho no relógio e percebo que já se passaram aproximadamente três horas em que estou sentado numa cadeira e apoiado numa bancada juntamente com todos da banda e os produtores, um ao lado do outro, inclusive Mark. Não sei porque todos quiseram estar aqui. Talvez estejam animados e envolvidos no projeto tanto quanto eu. Me sinto aliviado e feliz por um momento ao perceber que todos estão mergulhados, junto comigo, nisso tudo.
Respiro fundo. Começo a me sentir entediado e resolvo recostar na cadeira para talvez tirar um cochilo enquanto os outros curtem o intervalo.
De repente, ouço um barulho tão alto e estrondoso que faz meu corpo saltar. Pulo na cadeira, sentindo meu coração querer sair pela boca. Não consigo conter um palavrão que sai na hora do susto.
- Mas que porra?!
Levanto minha cabeça e vejo uma mulher, parada, segurando na maçaneta da porta. Pisco forte, tentando entender que porra está acontecendo.
E então, depois de alguns segundos encarando-a, meu coração continua batendo forte. Por algum motivo, temo que não seja somente pelo susto.

Bruno OFF

Saphira ON

Ainda sentindo falta de ar e a adrenalina correndo em mim, consigo levantar a cabeça e olhar para onde finalmente estou.
É uma sala de tamanho médio, na verdade lembra um pequeno auditório, mas com poucas cadeiras e sem palco. Sentindo meu corpo tremer, olho à frente e consigo enxergar uma bancada com vários homens, todos sentados um ao lado do outro. Não consigo reconhecer nenhum. O nervoso não me deixa sequer pensar direito.
- Quem é você? – Diz um dos homens, com uma voz autoritária. Cerro os olhos e consigo perceber que é branco e baixinho. – Ei, eu perguntei quem é você!
Congelo. De repente me sinto tão nervosa que não consigo responder nem meu próprio nome.
- Vou chamar a segurança. – Diz outro homem, já mexendo em alguma coisa, talvez um celular.
- Não! – Grito, sem querer.
Todos me encaram, parecendo incrédulos. Engulo em seco e tento sorrir, reformulando minha fala.
- Quer dizer... – Acalmo minha voz. – Não precisa chamar a segurança.
Finalmente consigo dizer alguma coisa. Respiro fundo e engulo em seco. Concentra, Saphira. Concentra e relaxa.
- Ã... meu nome é...
Nunca achei que teria que fazer tanto esforço para dizer meu nome. Sei que se continuar assim, além de chamarem a segurança, irão pensar que sou louca. Pensando bem, talvez eu seja. Mas não importa. Eu quis isso, não quis? Cheguei até aqui, e preciso continuar, não importa o que pensem.
Me recomponho, ajeitando minha blusa. Pigarreio e levanto a cabeça, sentindo a confiança retornando aos poucos.
- Meu nome é Saphira. Eu vim para o teste.
Na mesma hora vejo dois homens se entreolhando, e um deles me chama a atenção. Sinto que já o vi em algum lugar.
- Ainda não chamamos a próxima garota, e não tem nenhuma Saphira para o teste de hoje. – O mesmo homem folheia alguns papéis, parecendo desconfiado. Os demais me olham dos pés à cabeça, também obviamente desconfiados.
Penso que preciso chegar mais perto para tentar reconhecer quem são todos esses homens, mas por alguns segundos temo ter esquecido como se anda. Qual é, um pé depois do outro. Respiro fundo e finalmente me aproximo. Cerro os olhos, tentando reconhecer alguém.
É então que finalmente os reconheço.
Meu coração quase sai pela boca. Percebo que, além de eu estar na frente dos The Smeezingtons, dos Hooligans e de alguns outros produtores como Mark Ronson, reconheço o homem que me era familiar, e que no momento em que chego mais perto, me encara firmemente.
Eu não estou acreditando.
Caralho...
É Bruno Mars!

Fico extasiada. Embasbacada. Desacreditada. E todos os sinônimos possíveis.
Finalmente descobri a banda e o cantor misteriosos, e, porra... Com certeza superou minhas expectativas. Eu simplesmente estou na frente de um dos maiores nomes da música atual: Bruno Mars! Cantor, músico, compositor e também produtor.
Pensar em tudo isso faz minha cabeça girar. Percebo também minhas pernas bambas. Minha nossa, é Bruno Mars. É Bruno Mars. Não posso acreditar. Será que isso está realmente acontecendo? Será que não estou sonhando?
- Mocinha, é o seguinte – Uma voz grave me faz assustar e voltar a mim. Quando olho, reconheço imediatamente Philip Lawrence. Ok, talvez eu tenha um treco. – Precisamos que você se retire imediatamente. Seu nome não está na lista e ainda não chamamos a próxima garota. – Ele franze as sobrancelhas. – Falando em chamar, onde está Liza?! Ela não pode permitir isso! – Phil levanta e imagino que irá procurar essa tal Liza, ou talvez chamar a segurança. Enquanto isso, Bruno Mars continua em silêncio, me olhando.
Percebo imediatamente que preciso tomar uma atitude se não quiser ser despejada ou até parar numa delegacia. E tem que ser agora.
- Espere, calma, não precisa cham... – Tento amenizar a problemática da situação, mas Phil não parece dar ouvidos e se direciona até um interfone ao lado da porta. Ouço o "bip" e entendo que ele irá chamar alguém.
Ok, é agora. Preciso fazer isso. Cheguei até aqui, não posso parar.
Fecho os olhos, respiro fundo e reúno toda a esperança e confiança que ainda restam em mim.

"Birds flying high, you know how I feel,
Sun in the sky, you know how I feel..."


Não sei como, mas começo a cantar. Me esqueço de tudo o que está acontecendo e canto. Afinal, é o que eu faço de melhor.
Fico alguns segundos de olhos fechados, temendo abri-los e perceber que já estou sendo algemada e arrastada pelo corredor. Mas, quando os abro, percebo que, lentamente, Phil retira seu dedo do botão do interfone. Parece estar... intrigado. É isso. Consegui a atenção deles.
É quando volto a fechar os olhos e cantar, agora mais confiante.

"...Breeze driftin' on by, you know how I feel,
It's a new dawn, It's a new day, It's a new life for me...
And I'm feeling good".


Abro os olhos. Percebo que Phil volta ao seu lugar com passos lentos, me observando. Então percebo todos me observando atentamente, principalmente Bruno. Alguns estão com uma expressão de: "o que você está fazendo?!". Instantaneamente, começo a perder a confiança. Talvez eu esteja louca, mas Bruno parece perceber. Ele me dá um pequeno sinal com a cabeça, um leve afirmativo, que me faz entender que ele quer que eu continue. E, bem, talvez seja impressão minha, mas enxergo um começo de um sorriso em seu rosto. É então que retomo toda a coragem e continuo a música, chegando em seu ápice.

"...Fish in the sea, you know how I feel,
River running free, you know how I feel,
Blossom on the tree, you know how I feel..."


Enquanto canto as melodias, sinto uma confiança extrema. Em cada frase utilizo diferentes melismas, técnicas, agressividade, suavidade. Aplico tudo o que sei em apenas uma música. Percebo que em toda minha vida nunca tinha sentido tanta confiança em tão pouco espaço de tempo. Dou meu melhor nessa audição. Dou tudo de mim. E, com uma nota grave e crescente para o agudo, fecho os olhos e termino a música.

"...Oh freedom is mine, and I know how I feel,
It's a new dawn, It's a new day, It's a new life for me...
And I'm feeling good!"


Abro meus olhos.
Silêncio.
É tudo o que consigo ouvir.
De todas as expressões estampadas nos rostos de todos, com certeza a minha preferida é a de Bruno: os olhos brilhando, um sorriso enorme no rosto e depois quebrando o silêncio com uma mesma frase que ouvi a uns 5 minutos atrás, mas que dessa vez me fez sentir bem:
- Mas que porra!
É quando percebo que, talvez, realmente, eu tenha uma chance. Que essa doideira valeu a pena. Que não sairei daqui algemada. Que talvez eu tenha acertado nisso tudo.
Mas percebo também que, somente com um sorriso, Bruno consegue fazer meu corpo estremecer. 

Too Good To Say GoodbyeOnde histórias criam vida. Descubra agora