Just a dream

117 12 0
                                    

- Alguma coisa? – Pergunto, talvez ansiosa demais.
- Não... – Responde Liza, apoiando a mão em meu ombro depois de acabar de sair do quarto de Bruno. Ela não faz aquela expressão que todos agora fazem para mim, algo como pena e um "sinto muito" no olhar. Liza é mais como dureza e carinho, ao mesmo tempo.
- Ok. – Respondo, olhando para o chão.
Já se passaram 4 dias desde o acontecimento com Bruno. É ainda inacreditável e lastimável perceber o quanto minha vida virou de ponta cabeça em questão de instantes. Passo a maior parte do dia no hospital, dentro do quarto, ou conversando com as pessoas que vem visita-lo, ou só sentada mesmo. Percebi que, na verdade, eu só quero estar por perto caso alguma coisa aconteça. Qualquer coisa. Mas, até agora, nada aconteceu. Bruno continua no mesmo estado, e a cada segundo isso me mata. É angustiante ficar pensando que ele pode acordar a qualquer momento, e assustador pensar na possibilidade de isso nunca acontecer. Não, Saphira. Não pode pensar assim. Bruno vai voltar, eu sei disso. Não posso deixar o pessimismo me atingir. Preciso ser forte, mesmo que isso esteja me matando. Literalmente. Depois que voltei ao hospital, não saí mais. Estou me sentindo um... zumbi. Não consigo comer, beber e nem dormir. Estou horrível, mas isso é o que menos me importa, agora.
- Saphira!
- Ah, oi. – Saio do transe. – Desculpe, Liza. Falou comigo?
- É claro que falei com você! – Ela revira os olhos enquanto segura a bolsa em seu antebraço.
- Desculpe. Estava... avoada. – Pego um copo d'água e me sento num dos confortáveis sofás. Pelo menos o conforto que o hospital oferece é incrível. – Minha cabeça está explodindo.
- Precisa voltar para casa. – Ela diz, chegando ao meu lado e se sentando.
Não vi Liza chorar nenhuma vez, mas já a vi várias vezes com os olhos vermelhos. Não é característico de Liza chorar na frente dos outros, exceto naquela vez em que contou sobre Craig. Aliás, nunca mais a perguntei sobre isso. Droga, parece que minha cabeça não funciona mais.
- Estou bem, aqui. – Tento sorrir, mas tenho certeza de que mais pareceu uma careta.
- Você está horrível. – Ela me examina com uma careta no rosto.
- Obrigada, Liza. Minha vida tem sido tão boa, está tudo tão certo, por que será que estou horrível, não é mesmo? – Sorrio enquanto sinto a ironia em minhas palavras. Liza me olha um tanto surpresa. Suspiro. – Desculpa. Olha, eu só...
- Você precisa dormir, Saphira. Parece um zumbi mal transformado e desnutrido.
- Nossa, obrigada, essa doeu. – Digo, tomando um gole d'água.
- Eu só estou dizendo que precisa ir para casa. Se continuar assim, vai pirar aqui dentro. – Ela chega mais perto. – Olha, eu sei que para você é difícil ficar longe dele, mas você precisa se recompor! Ficar aqui o dia todo não vai ajudar. Você sabe que Bruno tem uma equipe médica 24 horas e que tem pessoas o visitando sempre. Entendo sua preocupação, mas como irá conseguir se manter em pés quando nem se alimenta direito?
- Não sei se consigo ficar em casa, sozinha.
- Sabe que sempre estaremos lá com você. E, além do mais, você tem Rita! E Pip! Tenho certeza de que você gosta do ridículo bom humor de Pip.
- É... – Solto um riso e dou de ombros. – Eu gosto, sim.
- Então! Tenho certeza que eles irão fazer de tudo para te ajudar, e não tenha medo de estar lá por tudo lembrar Bruno. Acho que deveria justamente estar lá por isso.
- Como assim? – Franzo as sobrancelhas.
- Lembre de todos os seus momentos juntos, dê risada, chore, grite... não importa. Apenas tenha um pouco daquele Bruno em seu dia a dia para te fortalecer, porque logo ele irá acordar e vamos voltar a não suportar esse baixinho.
Rio da piada de Liza enquanto seco uma lágrima. Olho para ela e não consigo parar de chorar.
- Certo. Obrigada, Liza.
Ela sorri e nos abraçamos. Liza parece mais sentimental depois do acontecido, mas nada tão relevante. O máximo é o abraço. Ela suspira, e parece cansada quando o faz.
- O mundo está caindo em cima da Atlantic Records atrás de respostas. – Ela bufa. – Já viu o Instagram de Bruno?
- Vi, sim. Está congestionado.
Há tantas pessoas mandando mensagens e comentários na conta de Bruno que nem sequer consigo acompanhar. É óbvio que o cancelamento dos shows, a notícia vazada e seu sumiço despertou não só a curiosidade de todos, mas também a preocupação. Todos querem um pronunciamento e esclarecimentos sobre isso, principalmente os fãs, que parecem estar... surtando.
- O que faremos? – Pergunto, apoiando as mãos no rosto, também me sentindo cansada. Exausta, na verdade.
Se já não fosse tão difícil lidar com a situação de Bruno, ainda é preciso segurar a barra da pressão midiática. O vazamento da informação aconteceu no pior momento possível, e agora temos que lidar com tudo de uma vez. Suspiro, pensando no quanto minha vida está um inferno.
- Nada, por enquanto. – Liza diz. – A boa notícia é que Bruno sempre foi low profile, então os fãs não vão estranhar muito o fato de estar ausente das redes, mesmo depois dessa notícia. Na verdade, alguns nem estão levando a sério, acham que é só mais uma fake news sobre Bruno. Então vamos esperar, ver como as coisas irão rolar.
- Tudo bem. – Suspiro.
- Tenho que ir, e você também. – Diz ela, já se levantando e apontando para mim. – Bye!
- Bye!
Quando Liza sai, fico sozinha na sala de espera. Todas as irmãs de Bruno estão no Havaí com Tahiti, que deu à luz hoje. Os meninos estão revezando as visitas, sendo Phil o que mais aparece, porém, dessa vez, levou as crianças para um passeio no parque. Então olho em volta e noto que estou... sozinha. Sinto a solidão e, sem querer, começo a chorar. Gostaria de estar com Bruno agora, mas não posso entrar fora dos horários de visita estabelecidos. Na verdade, gostaria de estar com Bruno em casa, rindo de suas piadas, ou vendo-o brincar com Mel. Ou qualquer outra coisa. Não importa, só gostaria que ele estivesse ao meu lado, saudável e sendo incrível como sempre é. Esse pensamento me deixa ainda mais angustiada, fazendo as lágrimas encherem meu rosto. Automaticamente as palavras de Liza ecoam em minha mente. Óbvio que ela tem razão. O que ficarei fazendo aqui enquanto espero o horário da visita? Preciso aproveitar esse tempo para descansar. Infelizmente não posso estar 24 horas com Bruno. Detesto essa ideia, mas sei que tenho que ir para casa, para pelo menos dormir um pouco e comer alguma coisa. Olho em volta, respiro fundo e tento me acalmar.
Depois de tomar outro copo d'água, finalmente saio do hospital e vou embora. Chegando em casa, sou recepcionada por todos, que, ao mesmo tempo que parecem ansiosos para fazerem perguntas, parecem também receosos em falar. Sem muito rodeio, vou tomar banho. Depois de comer um sanduíche preparado por Rita, deito para dormir, com o celular ao meu lado para tocar o mais alto possível. O medo de perder uma ligação do hospital ou de qualquer outra pessoa não me deixa ficar muito tempo longe do aparelho. Depois de um certo tempo, choro de novo e pego no sono.
Acordo com dor de cabeça e muita ânsia de vômito. Isso tem acontecido muito comigo depois do que aconteceu a Bruno. Sinto dores pelo corpo, dor de cabeça, indisposição, enjoo e tontura. Óbvio que não comer e dormir mal faz com que meu corpo reaja dessa forma, além da tristeza que me deixa... deprimida. É o tempo de correr até o banheiro e colocar todo o sanduíche para fora. Fico algum tempo ajoelhada, esperando, mas logo sinto que estou melhor. Me recomponho, jogo água no rosto e me olho no espelho. Me assusto um pouco. Já estou com olheiras mais fundas, e meu cabelo parece... ressecado. Minha pele não tem brilho, e pareço ter mais linhas de expressão. Pisco forte, e sinto que a dor de cabeça irá explodir meu crânio. É como como se agulhas estivessem por todo lugar de meu cérebro. Liza tem razão. Estou parecendo um zumbi desnutrido e mal transformado.
Quando deito de volta na cama, ligo para minha mãe. Depois disso, converso um pouco com Jaque. Depois, silêncio. Olho para o quarto, o lustre reluzindo acima de mim e noto o quanto pareço... sozinha. Automaticamente olho para meu lado esquerdo. Vazio. De novo, o desespero me pega. O lugar de Bruno. O lugar que ele tanto insiste em dormir, e que eu sempre insisto em tomar dele. Na verdade eu não me importo nem um pouco com o lugar, mas sim em provoca-lo para, logo depois, nos amarmos. Sinto o quente das lágrimas em meu rosto, e meu nariz totalmente congestionado. Passo a mão na cama, no lugar de Bruno, como torturando a mim mesma. Soluço e sinto o peito doer.
Então sento na cama, olhando para nada em específico quando ouço patas arranhando a porta. Me levanto e, quando abro a porta, uma bola de pelos dourada passa por mim como um foguete, correndo direto para a cama. Mel pula e morde os travesseiros. A pego no colo e sorrio.
- Oi, coisa linda. – Encosto seu focinho no meu nariz e ela espirra. Rio um pouco e, logo depois, a solto novamente. Ela cheira o lugar de Bruno na cama, como também o travesseiro, e, depois olha para mim. Meu coração aperta. – Ele ainda não voltou, Mel. – Sorrio, tentando segurar o choro. Minha nossa, uma cachorra está me fazendo chorar. Ela pula da cama e corre até o closet. Quando arranha a porta, sei o que quer. – Mel, não iremos entrar aí... – Digo, olhando para ela enquanto continuo sentada na cama. Ela continua arranhando, olhando para mim e choramingando. Mel corre até mim e morde meu pijama, puxando-o. Então reviro os olhos, a pego no colo e levanto. – Ok, ok... vamos ver as roupas do papai. – Mel, imediatamente, se agita em meus braços e pula para o chão.
Sei que ela ama cheirar as roupas de Bruno e passear pelo closet. Não sei o motivo, mas sei que gosta. Quando chego até a porta, meu estômago embrulha. Não consegui mais olhar para as coisas de Bruno. Tenho medo do que irei sentir, então evito. Claro que já tive que entrar para pegar roupas, mas sempre fiz o mais rápido que pude, ignorando tudo o que me lembra Bruno. Agora, respirando fundo, abro a porta do closet.
Imediatamente Mel corre até o fundo. O aroma amadeirado, tão característico de Bruno, atinge meu olfato. Acendo as luzes e consigo enxergar. Roupas de Bruno e minhas penduradas. Seus chapéus. Relógios. Joias. Sapatos. Chegando mais perto, percebo que o cheiro dele está misturado com o meu, e, novamente, aquele aperto no coração. Caminho pelo closet como se pudesse encontrar um monstro a qualquer momento. Passo a mão pelas roupas, e, sem escolher muito, pego uma camisa. Dos Hooligans. Olho para ela e sorrio, lembrando de nossos shows. Sem pensar direito, tiro o pijama de meu corpo e a visto. Olho no espelho. Sei que Bruno adora que eu use as roupas dele. Mel olha para mim e late.
- O que achou? Ã? – Dou outra olhada e volto para as roupas, me sentindo um pouco mais confiante. Pego uma bermuda de Bruno e um de seus chinelos. Quando olho no espelho de novo, rio. Ele, com certeza, riria disso. Corro até a cama, pego o celular e volto para o closet, então começo a me filmar na frente do espelho. – Oi, amor. Só quis filmar isso pra você poder ver o quanto suas roupas continuam ficando extremamente engraçadas em mim. Sei que rirá disso quando ver. – Tento fazer uma careta engraçada, mas, quando vejo, estou chorando de novo. – É isso. Tchau. – Termino a gravação.
Esfrego o nariz e soluço um pouco, depois, olho para meu reflexo. Tenho cada vez mais certeza de que Liza estava certa sobre minha aparência. Pareço ainda mais magra com essa roupa larga. Um tanto incomodada, decido sair do closet. Estou pronta para voltar para a cama quando algo me chama atenção. Numa das prateleiras de bonés de Bruno, está quase escondida sua câmera, se não fosse pela alça escorrendo para fora. Com cuidado, a puxo e a pego. Ele a utilizou diversas vezes, registrando momentos nossos. Novamente a curiosidade e o desespero tomam conta de mim. Quando percebo, meu dedo já deslizou para o botão, e a câmera liga, acendendo sua tela. Aperto em outros botões e, quando a primeira foto aparece, meu coração dispara. Eu e Bruno, uma noite antes de tudo acontecer. Eu comendo pizza e ele apontando para a TV a nossa frente, em que está congelada uma imagem minha em Versace On The Floor. Seus olhos estão brilhando e a careta que está fazendo com a língua pra fora deixa tudo ainda mais engraçado. Estávamos tensos nesse dia, preocupados, mas tudo ainda estava... sob controle, talvez. Bruno ainda estava comigo. Ainda está, só que da forma mais cruel que poderia existir. Sem poder conversar comigo, ou tocar em mim.
Sem escolher muito, abro qualquer vídeo, e imediatamente o dia em que Bruno me ensina a dirigir pela primeira vez passa pela tela, enchendo o closet com o som. Meus olhos se enchem de lágrimas e minhas pernas fraquejam, então corro até a cama. No vídeo, Bruno está rindo enquanto me filma, totalmente nervosa, pegando no volante. Memórias e lembranças me atingem forte, e perco o fôlego. Ouço as risadas de Bruno e as minhas enquanto Alaric, agora, chega no vídeo. Na gravação, estou sorrindo, feliz, morrendo de rir com a situação enquanto Bruno, também rindo, continua me filmando. Ao mesmo tempo em que me sinto emocionada ao poder ouvir sua voz novamente, me sinto desmoronando a cada segundo. A dor da nostalgia e da saudade não podem se comparar a nada. Penso de novo em como seria a vida sem Bruno. A angústia e desespero são tão grandes em mim que penso que irei desmaiar.
Enquanto isso, Bruno continua rindo no vídeo. Tão diferente de agora, que estou me debulhando em lágrimas. Minha cabeça está estourando de dor. Meu coração dói, fisicamente. Quando percebo, estou chorando de soluçar novamente. Bruno parece tão vivo no vídeo... quando ouvi sua voz, senti o corpo tremer. Parece que faz anos que não o ouço mais falar comigo. Podem ter se passado somente alguns dias do acontecido, mas a cada minuto isso me mata um pouco mais. É diferente quando você tem a certeza de algo em mãos, mas no caso de Bruno... Viver na incerteza tem acabado comigo. É claro que a cada segundo do meu dia eu espero vê-lo acordando, ou talvez ver doutor Stuart vindo em minha direção e dizendo que Bruno reagiu, ou talvez receber uma ligação dizendo para eu ir correndo ao hospital porque Bruno está de volta, e, bom, como todos dizem, essa é a esperança que nos motiva, porém, quando percebo que isso não está acontecendo, é como se voltasse para o fundo do poço de novo. Depois, reascendesse a esperança. Depois, fundo do poço. E de novo. E de novo. E de novo. Como uma maldita montanha-russa de emoções que está me esgotando.
Coloco a câmera ao lado, sem forças e disposição para ver mais nada. Deito e choro. Ensopo o travesseiro. A última coisa que lembro é de Mel lambendo carinhosamente meu braço e se deitando comigo.

Too Good To Say GoodbyeOnde histórias criam vida. Descubra agora