BET Awards

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Abro os olhos de repente e logo depois sorrio. Vejo o lustre enorme pendendo do teto, cheio de cristais, e me lembro de onde estou. Cama do Bruno. Quarto do Bruno. Casa do Bruno. Segundo ele, nossa cama, nosso quarto e nossa casa, mas minha mente ainda se recusa a raciocinar isso. Sentindo a preguiça, estico as pernas e os braços, e, quando olho para o lado, só encontro o lençol amarrotado, além de 3 travesseiros e o que parece um pequeno bilhete. Franzo as sobrancelhas e estico a mão, pegando o papel. Sei que é de Bruno antes mesmo de ver sua letra garranchada.

"Fui comprar pão. LOL. Brincadeira. Preciso assinar uns papéis no prédio da AR. Burocracia chata e entediante. Talvez eu demore um pouco. Aproveite para sair ou curtir a casa, você quem sabe. Beijos".

Sorrio e suspiro ao ler o bilhete. Corro os olhos pelas palavras mais uma vez e fecho os olhos, respirando fundo. Quando os abro novamente, minha mente viaja. Está tudo tão... perfeito. Quer dizer, eu e Bruno estamos tendo os melhores momentos de nossas vidas, um ao lado do outro, e tudo isso é quase inimaginável. Rio sozinha, sentido o amor e a felicidade fluindo em mim. Então ligo para Jaque, combinando de sair com ela, como prometi ontem.
Estou me levantando para me arrumar quando ouço, ao longe, patinhas frenéticas correndo. Levanto um pouco a cabeça e posso ouvir ruídos na porta. Levanto com lençóis no corpo e abro uma frestinha. Como um raio, uma bola de pelos dourados entra correndo no quarto, quase me derrubando. Fecho a porta e rio enquanto vejo Mel largando um pedaço do que parece ser um pano e, logo depois, mordendo e puxando a ponta do cobertor da cama, quase rasgando-o.
- Não, não, não! – A pego nas mãos e subo na cama. Imediatamente ela começa a pular e correr em cima do colchão, e, logo depois, sobe em minhas pernas. – Não pode destruir coisas! Não, não! – Ela morde meu braço e quase não sinto nada. Rindo, a pego nas mãos e encostando seu focinho em meu nariz. – Você é fofa demais, sabia? Fofa demaaaaais. Dá vontade de apertaaaaar.
Mel me cheira, passando seu focinho pelo meu rosto, e rio de novo ao sentir ele gelado. Então ouço algumas batidas na porta e logo meu coração acelera. Pulo da cama, enrolando um lençol em mim, e abro a porta já sorrindo.
- Brun... AH! – Grito de susto quando encontro uma senhora sorrindo para mim. Olho para ela com o coração acelerado. – Ah, desculpe, achei que fosse Bruno... – Digo, sem graça.
Me repreendo mentalmente. Tinha esquecido do fato de Bruno ter funcionários em sua casa. Como acostumar com isso sendo que minha vida inteira a única pessoa que batia na porta do meu quarto era minha mãe praticamente me puxando para fora da cama?! E por que Bruno bateria na porta antes de entrar?! Ele está na própria casa! A ansiedade de vê-lo não me deixa pensar direito.
- Tudo bem. – A senhora de pele clara e cabelos um tantinho grisalhos presos num coque sorri para mim afetuosamente. Algo em sua expressão me agrada muito. – Só vim avisar que o café da manhã está posto, caso queira descer...
- Ã... Só vou me trocar e já vou. – Digo, sorrindo.
- Como quiser. – Ela sorri mais uma vez, simpática. – Meu nome é Rita, pode me chamar quando quiser.
Sorrio e a analiso. Então essa é a tal Rita... Algo em seu sotaque me faz lembrar do Brasil.
- Obrigada. – Sorrio.
Rita corre os olhos pelo quarto rapidamente. Vejo seus olhos pequenos arregalarem um pouco.
- Ã... Me perdoe, mas acredito que sua cachorrinha está comendo o travesseiro. – Ela diz, apontando para a cena.
Olho para trás e vejo Mel destruindo a cama.
- Droga... Mel! – Corro até ela e a pego em meus braços. Na hora ela espirra e algumas penas do travesseiro que estavam presas em sua boca saem voando. Rita ri baixinho.
- Quer que eu arrume, senhorita?
- Não, pode deixar. – Sorrio com Mel nas mãos enquanto tento deixar o lençol ainda em meu corpo. – E pode me chamar de Saphira... "Senhorita" é formal demais. – Sorrio.
- Como quiser. – Rita sorri de novo e, assim, fecha a porta. Tento manter Mel quieta.
- Mel, eu disse que não pode destruir as coisas! Isso é muito feio! Vou ficar brava com você!
Ela me olha como se não estivesse nem aí com o que estou falando. Então, desistindo de um sermão, a largo no chão e vou até minhas malas. Estão uma bagunça, e penso no trabalho que terei para organizar tudo isso. Um trabalho que irei adorar fazer, é claro. Encontro algo para vestir e rapidamente desço para comer. É estranho comer sozinha nessa casa tão grande, então decido fazer isso rápido. Minutos depois e eu e Big Joe estamos chegando na casa de Jaque.
- Ai, meu Deus, teremos motorista?! – Ela quase grita, ainda fora do carro, o que me faz rir.
Ao entrar, ligamos o rádio e ouvimos nossas músicas pop preferidas o caminho inteiro. Big Joe não abre a boca em nenhum momento, permanecendo quieto, como sempre. Já eu Jaque cantamos, conversamos e rimos o tempo todo. Só quando chegamos ao centro e pego o cartão em mãos é que sossegamos. Pelo menos por enquanto.
- Minha nossa, ele é tão bonito... – Jaque diz, admirando o cartão preto enquanto o seguro em frente ao rosto. – Fazia tempo que eu não via um desse.
- Eu nunca nem vi... – Digo, também... enfeitiçada. – Tem tantas possibilidades que nem sei por onde começo...
- Eu sei. – Ela diz, sorrindo um pouco. Depois, fala com Big Joe. – Primeira parada: Gucci.
Como imaginei, eu e Jaque passamos uma tarde incrível. Chego a conclusão de que talvez não haja nada melhor no mundo que fazer compras com sua melhor amiga. Ela me ajudou a escolher roupas, acessórios e sapatos, tanto que perdi a conta de quantas vezes fui ao provador de tantas lojas. Almoçamos, conversamos, rimos mais um pouco e continuamos na caminhada. Comprei algumas roupas para Jaque também, como presente, mesmo que ela tenha negado várias e várias vezes. Em todo o tempo Big Joe nos acompanhou, levando as compras para o carro. A sensação de ter um segurança ao meu lado é a mais estranha que já senti na vida, mas adoro Big Joe desde que o conheci no início da turnê, então não me senti nem um pouco incomodada.
- Amiga... – Jaque sussurra enquanto tomamos um sorvete. Ela aponta para o outro lado da rua. – Acho que tem alguém nos seguindo...
Mesmo com óculos escuros, consigo enxergar uma pessoa do outro lado da rua com uma câmera em mãos. Ela nos acompanha, andando, e as vezes tira algumas fotos. Reviro os olhos.
- Eu odeio isso... – Sussurro, voltando a olhar para a frente e bufando.
Ignoro o que está acontecendo e volto a caminhar pela calçada. Porém estaciono quando vejo Jaque para trás, fazendo poses. Faço uma careta.
- Amiga, que porra você está fazendo?! – Sussurro, agora mais perto dela.
- Dando conteúdo pro pobre coitado. – Ela diz, agora sorrindo enquanto apoia uma mão na cintura. – Ele com certeza acha que Bruno irá aparecer por aqui. Para não o deixar triste, vou posar para ele.
Jaque continua sorrindo e posando como se fosse... louca. Cerro os olhos, pensando o que se passa na cabeça da minha amiga. Então, deixando o mau humor de lado e rindo, a acompanho. Eu e ela posamos para as fotos na calçada, várias pessoas passando por nós e nos encarando. Então voltamos a caminhar e rimos, exatamente como duas loucas. Abraço Jaque, pensando que é a minha louca favorita.


Depois de passar a manhã toda fora, volto para... casa. Ainda é estranho pensar que, agora, essa é minha casa. Ou pelo menos a casa em que irei morar. De qualquer forma, entro na sala rindo enquanto vejo fotos minha e de Jaque já nos sites de fofoca. Eles tentam exagerar no contexto, dizendo que estávamos provocando o paparazzi, ou estávamos bêbadas. Rio muito da cena, vendo as fotos de nós duas fazendo caretas e posando. Mando os links das notícias para e ela surta tanto que rio ainda mais, secando as lágrimas dos olhos de tanto rir. Me sinto bem por conseguir rir de algo que detesto tanto. Ser seguida por paparazzis é horrível, mas com Jaque acabou me rendendo ótimas risadas.
Rapidamente noto que Bruno ainda não chegou, então, depois subir as compras para o quarto, decido explorá-lo melhor. Me sentindo tentada, vou até o closet de Bruno. Penso se não estou invadindo seu espaço, mas, conhecendo Bruno, sei que ele não se importaria nem um pouco. Além disso, estou morrendo de curiosidade para fuçar.
Abro uma porta, entro, e, encontrando-o, imediatamente me sinto em algum filme. O closet é enorme, com ambas as extremidades das paredes repletas de roupas, e, embaixo, de sapatos. Há uma parte cheia de bonés e chapéus, além de gavetas que não faço ideia do que tenham. Talvez os anéis, ou as correntes... Chego mais perto e pego um chapéu em minhas mãos. É um que Bruno usou por bastante tempo, cinza com uma fita preta em volta e um tipo de pena enroscada nela, vermelha, amarela e cinza. Imediatamente o reconheço pelo clipe de Just The Way You Are e Billionaire, no qual Bruno o utilizou em ambos os clipes. Sei disso porque acompanho seu trabalho desde o início, e o chapéu é ainda sua marca registrada, mesmo que não o use mais com tanta frequência. Vejo que, mesmo já estando um pouco surrado, Bruno por algum motivo decidiu não se livrar dele.
Então coloco de volta no lugar e, mais à frente, encontro um tipo de sala ampla, com um pufe redondo bem no meio, além de um espelho gigante e um sofá encostado no canto. Impressionada seria pouco para me definir, agora.
- Isso que é closet... – Sussurro, correndo os olhos pelo espaço.
Não sei porque, mas, por algum motivo, sinto muita curiosidade em vestir as roupas de Bruno. Ele sempre se gaba e faz piadas sobre a maciez da seda. Então, me sentindo divertida, procuro algumas peças. Visto uma camisa de manga curta, branca e com estampas de folhas verdes. Noto que ficou um pouco apertada nos seios, mas mesmo assim... confortável. Talvez ele tenha razão quanto a seda, afinal...
Volto para o quarto e olho para Mel, tão espoleta, arranhando a porta, parecendo ansiosa para conhecer toda a casa, e sorrio. Bom, pensando bem... Não vou ficar presa no quarto até Bruno chegar. Tenho uma casa enorme para explorar, e por que não fazer isso agora? Mesmo que talvez eu me perca, será uma aventura e tanto. Volto no closet e tiro minhas sandálias, logo após pegando um dos chinelos de Bruno. Incrivelmente eles me servem, ficando só um pouquinho grandes. Sempre suspeitei de que Bruno tem pés pequenos. Olho no espelho e rio de mim mesma, mas não nego que essa porra de camisa de seda é realmente confortável.
- E então? O que achou? – Pergunto para Mel, que me responde coçando sua orelha com a pata. – Vou levar isso como um "ótimo". Agora vem, vamos. – Pego Mel nas mãos e abro a porta do quarto. Olho para o corredor e não vejo ninguém, então, saio.
O quarto de Bruno fica no andar de cima, assim como vários outros cômodos que não faço ideia do que sejam. Quartos de hóspedes, talvez. A casa está silenciosa, a não ser pelo barulho do vento lá fora. Decido seguir pela direita e rapidamente encontro nas paredes várias fotos de Bruno com a família, com alguns famosos, alguns amigos e com os meninos da banda. Dou atenção a uma em especial, na qual Bruno e Phil levantam taças de champanhe, provavelmente em alguma festa. Eles parecem muito mais novos na foto, além de demonstrarem uma excitação e empolgação nítidas no rosto, com línguas para fora e dedos levantados. Deve ter sido tirada no início da carreia, talvez em Billionaire. Ambos estão engraçados na foto, e parecem se divertir. Volto a caminhar e, quando vejo o último retrato, meu coração acelera e um sorriso enorme toma conta de meu rosto. Chego mais perto para ter certeza de que estou vendo corretamente. Passo o dedo no vidro, sentindo muita nostalgia. É simplesmente a foto que minha mãe deu para Bruno quando ele foi em casa, no Natal. Está toda minha família reunida, além de Bruno ao meu lado. Rio ao lembrar de como fiquei surpresa naquele dia, e o quanto me esforçava para continuar indiferente para com Bruno. Também me emociono ao perceber que ele realmente gostou da foto, tanto que a colocou em sua parede. Ele realmente foi sincero quando disse que gostou...
Com uma última olhada, sigo em frente, secando uma lágrima do meu rosto, fazendo carinho em Mel e percebendo que a mesma aquietou, pelo menos um pouco. Encontro uma porta um tanto diferente, parecendo um pouco mais simples que as demais, mas, de certa forma, mais reforçada. Receosa, a abro. Imediatamente reconheço um tipo de... estúdio. Entro completamente, fecho a porta e arregalo os olhos. Eu e a banda já ensaiamos no estúdio de Bruno, mas obviamente ele tem mais de um, já que esse é diferente, muito mais... intimista, talvez. Há várias guitarras e violões um ao lado do outro em suportes, alguns dos quais já vi Bruno tocando em shows, além de contrabaixos, alguns teclados, duas baterias, caixas de som, microfones, fones, mesa de som e vários fios.
- Uau... – Digo, olhando para o local.
Não sei se Bruno ensaia aqui também, mas agora, olhando esse lugar, penso no quanto ele e os meninos devem gostar de trabalhar aqui, se é que o fazem. É um local intimista, tranquilo, muito bonito e confortável, com equipamentos profissionais. O outro estúdio também é lindo, mas esse parece mais... particular. Meus olhos reluzem com tudo isso. É como um paraíso para qualquer músico. Tudo me surpreende, mas sou totalmente capturada pelo piano preto, enorme e reluzente. Chego perto e passo as mãos pelas teclas brancas e pesadas.
Um pouco receosa, sento no banquinho do piano e deixo Mel em meu colo. Com os dedos tímidos, toco um acorde, e o som que emana do instrumento me comove. É algo grave, pesado, tão... lindo. Faço uma escala, subindo, e o som vai ficando cada vez mais agudo, mas não menos firme. Respiro fundo e tento Grenade, de Bruno. Gosto do feeling, e, assim, me empolgo. A melodia do início de algumas frases que escrevi há um tempo me vem à cabeça, e, assim, começo a arriscar mais uma vez alguns acordes. Nunca mais trabalhei em cima disso, afinal, escrevi enquanto passava por momentos difíceis com Bruno, logo depois de nossa última discussão, e não cheguei a harmonizar. Da outra vez que tentei montar a cifra, tinha pensado em um tom menor, mas agora, ouvindo melhor, arrisco outra coisa. Faço um fá sustenido maior, e, ouvindo-o ressoar, sorrio. Perfeito. Arrisco a começar a cantar as frases.

Too Good To Say GoodbyeOnde histórias criam vida. Descubra agora